terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Apagão ou não apagão, eis a questão

[A questão do nível de confiabilidade do sistema elétrico, mais uma vez exposto à execração e à preocupação públicas depois do apagão da noite de sábado 14, o sexto após setembro, começa a assumir ares de samba de crioulo doido e de tiroteio em asilo de cegos.

Vamos dar um pulinho p'ra trás na história, entrando no mantra petista (dirigir o país só olhando pelo retrovisor). O apagão e o racionamento do governo FHC -- este último transformado em alter ego negativo do NPA -- viraram uma das bandeiras de destaque do PT, o partido da ética e das coisas bem feitas. Nossa sempre afável e sorridente Dona Dilma, que foi ministra de Minas e Energia do NPA de 2003 a 2005 (e, desde então, se considera dona desse pedaço do governo), quando ministra-chefe da Casa Civil e mãe do PAC deu entrevista ao programa "Bom dia, Ministro" no dia 29 de outubro de 2009, na qual disse textualmente com aquele jeitinho dócil e carinhoso que a caracteriza:

"Então, nós também temos uma outra certeza, que não vai ter apagão, é que nós hoje voltamos a fazer planejamento. Então, nós olhamos, qual é a necessidade que o Brasil tem de energia nos próximos cinco anos? Nós ao olharmos isso, providenciamos as usinas que são necessárias para o Brasil. Se crescer a quatro, se crescer a cinco, se crescer a seis por cento ao ano tenha essas usinas disponibilizadas, é assim que funciona"

Quem tiver recurso de mp3 em seu computador poderá ouvir Dona Dilma, de viva voz, dizendo isso que está aí em cima : Clique aqui para obter o arquivo. 

Pouco mais de um ano depois, em 27 de novembro de 2010, o NPA (o Nosso Pinóquio Acrobata, Lula) ao inaugurar um parque termelétrico a gás natural em Manaus praticou uma vez mais seu esporte preferido, o de mentir, e assegurou "que nunca mais a capital amazonense viverá um "apagão" como ocorreu no final dos anos 90, no governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB)". Vejamos: em 18/9/2012 Manaus teve um apagão de 4 horas; em março de 2012 Manaus teve 2 apagões em menos de 24h; no dia 06/01/2012 Manaus teve um apagão de 3 horas; no dia 11/11/2011 Manaus teve um apagão de quase 5 horas; vou parar por aqui, mas a lista é longa.

Vemos, pois, que agora são dois os mentirosos do PT em termos de energia elétrica: o NPA e Dona Dilma.]

Hoje, o diretor-geral do ONS- Operador Nacional do Sistema, Hermes Chipp, admitiu que o País precisa conviver com certo nível de risco na segurança do sistema de transmissão de energia. Segundo ele, apesar das melhorias que tem sido feitas, a demanda por investimento é maior do que a possibilidade de execução rápida desses procedimentos. "É preciso haver um equilíbrio entre a segurança e o custo. As obras não podem ser feitas todas ao mesmo tempo, porque a tarifa da energia iria lá para cima. Por isso temos de correr risco em alguns lugares", completou Chipp, ao chegar ao Ministério de Minas e Energia para a reunião do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE).

"Se por um lado temos usinas com energia muito barata, como Belo Monte e outras que entrarão em operação, por outro esses projetos ficam muito distantes dos grandes centros, exigindo linhas de transmissão muito longas que, consequentemente tem maior risco. Essa situação é bastante diferente do que a que ocorre em outros países", completou.

[Pelas declarações atribuídas ao Hermes dá p'ra perceber que a pressão vinda do Planalto por causa do sexto apagão em 4 meses deve estar de tal monta, que começa a provocar afirmações que não se coadunam bem com a reconhecida competência de quem as emite. Admitindo que o Estadão tenha reproduzido corretamente a fala do Hermes, cabem pelo menos os seguintes comentários: - i) quem é do ramo sabe que não existe sistema elétrico absolutamente confiável e há risco estatístico universalmente aceito para falhas -- o problema é que o nosso sistema elétrico já saiu desse guarda-chuva; - ii) segundo o próprio ONS,  em sua "Nota à Imprensa" de ontem, a origem do apagão de sábado foi um defeito na subestação (SE) da usina de Itumbiara e não no sistema de transmissão a ela associado; - iii) nosso sistema elétrico há muito tempo se caracteriza por linhas de transmissão longas e de carga elevada, mas há muito tempo não se vê nele um desempenho tão precário como ultimamente, na década petista; - iv) muito estranha a declaração atribuída ao Hermes quanto ao dilema "segurança x custo", não acredito que ele tenha dito isso e assim  -- a) por mais de uma vez foi admitido, o que é plausível, que os apagões recorrentes apontavam para a necessidade de correções e/ou atualizações tecnológicas em sistemas e práticas de proteção, tanto em linhas quanto em subestações, no entanto Hermes fala em "obras" -- a que ele se refere? Na Nota à Imprensa citada acima o ONS afirma que o tipo de arranjo da subestação da usina de Itumbiara pode ter colaborado para ampliação das consequências do defeito na SE da usina; mudança de arranjo de SE é obra banal e de baixo custo direto. - b) que setor elétrico bizarro é esse descrito pelo ONS que não permite obras simultâneas de aumento de confiabilidade, porque senão "a tarifa iria lá p'ra cima"?! Quer dizer que, então, nossa sina é viver permanentemente com baixo nível de confiabilidade p'ra não encarecer a tarifa?! Deixando momentaneamente de lado a esdrúxula estrutura tarifária brasileira e a responsabilidade do governo por isso, o ONS teria feito algum estudo que mostre que os custos diretos e indiretos da energia não suprida justificam essa opção de não simultaneidade de investimentos para aumento de confiabilidade?

É, as coisas andam pretas no nosso setor elértrico, muito mais escuras do que apagões e MP 579 possam aparentar.]

Um comentário:

  1. Caro cidadão, além de todos estes aspectos, poderemos ter apagões por falta de capacidade de geração - algo ainda não transparente para a sociedade - pois os armazenamentos atuais são muito preocupantes, a saber: FURNAS (12% VU), Foz do Areia (14% VU), Sobradinho (29% VU) só para citar os principais do SE, S e NE. Abs. (fonte www.ons.org.br)

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