quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Estados Unidos querem usar celulares para monitorar terremotos

Uma equipe de pesquisadores do laboratório sísmico da Universidade da Califórnia em Berkeley anunciou a intenção de usar telefones celulares para monitorar terremotos.  O objetivo é usar os acelerômetros presentes nesses dispositivos para criar uma rede ultrarrápida de compartilhamento de informação em tempo real sobre os tremores. Para tornar a ideia realidade, os cientistas estão desenvolvendo um aplicativo que registre os abalos e, em seguida, envie os dados para um servidor central através da rede de telefonia móvel. [Ver o site que originou esta reportagem.]

Com o grande número de smartphones em circulação, os estudiosos afirmam que poderão obter detalhes sobre onde e quando os terremotos foram sentidos. Trata-se, segundo os pesquisadores, de uma informação muito útil para elaborar um plano de risco e evitar catástrofes. Tais dados, acrescentam os cientistas, também podem ter um papel importante no sistema de alerta de terremotos da Califórnia.

Acelerômetros

"Atualmente, os telefones inteligentes contêm todos os tipos de sensores, e nós podemos usá-los de maneiras inéditas", disse o pesquisador Qingkai Kong.  "No momento, só podemos detectar terremotos de magnitude superior a 5,0 mas com os acelerômetros em futuros smartphones, esperamos poder levantar informações sobre os pequenos", disse ele à BBC.

O pesquisador da Universidade da Califórnia em Berkeley explicou o seu projeto na reunião de outono da União Geofísica Americana (AGU, na sigla em inglês), a maior reunião anual de cientistas no campo.

Kong conta que ele e seus colegas não tinham certeza de que os telefones celulares seriam adequados para servir de sismógrafos de bolso. Por essa razão, decidiram selecionar e testar um número determinado de dispositivos em laboratório, numa espécie de mesa que simulava os tremores. O equipamento, explica Kong, simula diferentes graus de terremoto e é comumente usado para verificar a robustez de técnicas de construção, e, assim, assegurar que os edifícios não caiam. Os resultados demonstraram claramente que os acelerômetros utilizados em tais telefones para rodar o sistema operacional, poderiam detectar a vibração dos abalos.

Ruído

O problema, no entanto, é que os telefones raramente são deixados em uma superfície plana, sendo carregados junto de seus proprietários.  Mas a equipe liderada por Kong acredita que pode resolver tal problema, e desenvolveu um algoritmo que eliminaria o "ruído" relativo ao seu uso pelo ser humano. "O padrão de reconhecimento dos algoritmos detecta atividades humanas como caminhar, correr e dirigir, e usa essa informação para excluí-las dos sinais do terremoto", disse Kong. Esse algoritmo, acrescentou, raramente pode ser "enganado".

O projeto ainda se encontra em estágio inicial e a equipe espera em breve começar a recrutar mais funcionários para aprofundar a pesquisa.  O objetivo é testar o aplicativo com milhares de voluntários em toda a baía de São Francisco no próximo ano. A razão é simples. São Francisco possui um histórico de tremores. Um de magnitude 7,9 ocorreu em 1906 e destruiu a região. O Estado da Califórnia está localizado sobre a falha de San Andreas e é muito propenso a abalos sísmicos.

Já Berkeley está localizada na falha de Hayward, local, estimam os cientistas, do próximo tremor californiano.

Vários celulares são conectados à mesa sísmica do Laboratório Sismológico da Universidade da Califórnia Berkeley - (Foto: Divulgação).

[Essa reportagem do Estadão e a da BBC que a originou vendem essa ideia de monitoramento de terremotos por smartphones como uma grande novidade, mas não é bem assim. Já em dezembro de 2010, o site Geospace informava a existência da mesmíssima ideia, na mesma universidade, com base em um trabalho liderado por Shideh Dashti (uma iraniana, formada em engenharia civil nos EUA) -- os testes iniciais disso foram publicados no paper "Engaging Citizens In the Collection of Earthquake Observations Using the Internet II" ("Engajando Cidadãos na Coleta de Observações de Terremotos Usando a Internet II", em tradução direta). O aplicativo para iPhone com esse objetivo está disponível no site iShake. O trabalho de Dashti et al. está disponível em iShake: Using Personal Devices to Deliver Rapid Semi- Qualitative ... 
A Dra. Dashti terá publicado em 2013 o paper: Dashti, S., Bray, J.D., Reilly, J., Glaser, S., Bayen, A., Ervasti, M. (2013). “Evaluating the Reliability of Mobile Phones as Seismic Monitoring Instruments,” Earthquake Spectra Journal, Earthquake Engineering Research Institute (accepted and in press) --("Avaliando a confiabilidade de telefones celulares como instrumentos de monitoramento sísmico" -- Jornal de Espectros de Terremotos, Instituto de Pesquisas de Engenharia sobre Terremotos -- aceito e a ser publicado).

Há um outro artigo sobre o mesmo tema, feito em 2011 por uma equipe do Caltech (Instituto de Tecnologia da Califórnia) chefiada por Matthew Faulkner :
 

The Next Big One: Detecting Earthquakes and other Rare ...

Apenas a título de curiosidade, sem vínculo direto com o tema desta postagem, apresento a ilustração abaixo, que mostra a impressionante quantidade de estações de medições de intensidades sísmicas no Japão.

Instalações com medidores de intensidade sísmica no Japão, situação em 5 de janeiro de 2012 - (Fonte: link citado acima).

Seria exagerado pedir ao governo do Estado do Rio um mapinha com a indicação dos postos de medição/alerta de riscos de desmoronamentos de encostas na região serrana?... Fico com receio de que o governador Sérgio Cabral, no afã de ser prestativo, acabe se enganando e emita uma carta do nível de assoreamento no rio Sena, na região de Paris, que lhe é tão familiar.]  

 

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