quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

O Reino Unido se prepara para defender a City contra uma união bancária europeia

[A Ilha continua às turras com o Continente -- o mesmo de sempre. Surge do outro lado do canal uma ameaça contra um símbolo sagrado dos britânicos, a "City" de Londres, e o Reino Unido (RU) se prepara para mais uma guerra em sua longa história de conflitos. É o que nos conta o prestigioso jornal The Independent, em sua edição de hoje.]

O primeiro-ministro David Cameron e o ministro das Finanças George Osborne  darão início hoje a uma última e talvez infrutífera tentativa de proteger o status da City de Londres como principal centro financeiro mundial, contra a ameaça de um plano para estabelecer uma união bancária dentro da zona do euro.
Embora o RU não vá se juntar a essa união de bancos, os 17 países do euro formarão um bloco poderoso que poderá ditar regras para o setor financeiro no âmbito do mercado único da União Europeia (UE). Há temores crescentes de que os 17 favorecerão Paris e Frankfurt, às custas de Londres.

Em um relatório publicado hoje, um comitê suprapartidário da Casa dos Lordes exorta o governo a "entrar em luta" para proteger a "posição de liderança" de Londres na Europa e no mundo. O documento alerta que a integração bancária na eurozona representa uma ameaça significativa ao mercado único [a piedosa preocupação inglesa de que o sistema bancário europeu fique isolado do da Ilha ...]. Osborne discutirá hoje os planos bancários com os ministros financeiros da UE, antes de Cameron buscar salvaguardas para a City em uma reunião de dois dias de líderes da UE, a iniciar-se amanhã. [Os ingleses e seu jeito peculiar de encarar a vida e seus fatos. Decidiram fazer com a UE um casamento moderninho -- cada um vive em sua casa, paga suas despesas em suas próprias moedas e só se juntam nas reuniões de condomínio. Tudo beleza, desde que a turma do outro lado do canal não perturbe os súditos da Rainha, mesmo que para isso tenham de cortar na própria carne.]

Um tema difícil e importante para o RU é o poder de voto de que os 10 países não pertencentes à eurozona deverão desfrutar na Autoridade Bancária Europeia (EBA, na sigla inglesa), sediada em Londres, que harmoniza as regras por toda a UE.  Seu papel pode expandir-se no âmbito da proposta união bancária, aumentando a possibilidade de que o RU seja derrotado em regulamentos que afetem a City.  Oito desses 10 países que estão fora querem juntar-se ao euro, com apenas o RU e a Dinamarca determinados a ficar de fora. Alguns países da UE estão acusando o RU de querer implantar a política do "veto de um único país" a decisões bancárias que afetam todos os 27 estados membros da UE [olha aí os ingleses querendo implantar no setor bancário da UE o conceito de veto do Conselho de Segurança da ONU ... É mais uma atitude isolacionista britânica contra si mesmo, como a de dezembro do ano passado, quando o RU se negou a assinar o pacto de integração fiscal da zona do euro.]

O RU rejeita essa acusação, mas está insatisfeito com a mais recente proposta sobre direitos de voto feita por Herman van Rompuy, presidente do Conselho Europeu, que é formado pelos líderes dos 27 países. Ela sugere que as decisões da EBA sejam tomadas por uma maioria qualificada, em vez de exigir unanimidade entre os 27 membros, mas necessitam também de maioria simples tanto dos 17 dentro do euro quanto dos 10 que estão fora dele. O Reino Unido, a Dinamarca, a Suécia, a Polônia, a República Tcheca e a Lituânia querem que o limite de votos seja mais alto, mas Alemanha, França, Espanha, Bélgica, Luxemburgo e Áustria dizem que os países que não são do euro devem ter menos poder.

O relatório de hoje do subcomitê de assuntos econômicos da UE na Casa dos Lordes propõe que o poder de voto na EBA reflita o porte do setor financeiro dos países membros, o que aumentaria a influência do RU. Mas, a Alemanha e outros países da UE deverão se opor a isso.

Lorde Harrison, o trabalhista que preside o subcomitê, disse: "É vital que o governo do RU consiga que as negociações se façam corretamente, de modo que a união bancária não enfraqueça o mercado único como um todo e o mercado único de serviços financeiros em particular, tão crucial para o RU e a City de Londres. E isso não pode ameaçar a posição do RU e de outros países que optem por ficar fora da união bancária europeia".


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