sábado, 30 de novembro de 2013

Criança diz cada uma!

Há exatos 50 anos atrás, o médico foniatra Pedro Bloch (1914-2004) escreveu um livro delicioso que tinha o título que dei a esta postagem. Nele, Bloch reproduziu inúmeras historiazinhas, expressões e definições que os pirralhos que eram seus pacientes diziam a ele ou à família. Infelizmente, perdi o meu exemplar e o livrinho esgotou-se -- encontrei-o hoje à venda em um sebo de S. Paulo pelo preço absurdo de R$ 470,00!...

Mesmo arriscando vender gato por lebre, já que de falsos autores a internet está abarrotada, reproduzo abaixo alguns exemplos do livrinho do Bloch.

A Foto

Maria do Rosário é neta de Afonso Pena Júnior. Descobrindo uma foto da avó da belle époque, pergunta:
-- Vovó, que brotinho é essse aqui?
-- Sou eu, querida.
-- E esse vestido tão lindo, a senhora guardou?
-- Guardei sim, meu bem. No quarto de guardar.
-- E esse leque também a senhora guardou?
-- Guardei no mesmo lugar.
-- E esses brincos também?
-- Também, meu anjo.
-- E a cara, a senhora também guardou lá vovó?

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O Chifre

Luis Ricardo, de cinco anos, estava brincando com o Fernandinho e fazendo mil e uma estrepolias, quando a tia Armanda reclamou:
-- Mas que é isso, Ricardo! Então isso é maneira de brincar? Você se portando mal vai ficar como um diabinho, com dois chifrinhos na testa. Olha, estão até nascendo ...
E Fernando para o outro:
-- Aproveita logo! Dá uma chifrada nela.

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A Freira

Márcia, sobrinha de Murad, deparando com uma freira à porta de sua casa:
-- Mamãe, olha ali uma mulher vestida de padre!

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O Cotovelo

Ziraldo estava ensinando à sua filha as partes do corpo:
-- Isto são os olhos ... Isto é a boca ... Aqui está o pescoço.
Depois, passou para os membros:
-- Isto é a mão ... braço ... antebraço.
E dobrando o braço da menina apontou para o cotovelo:
-- E isto aqui ...
-- Isto eu sei, atalhou a menininha.
-- Sabe?
-- Sei. Isto é o queixo do braço.

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Filho de romancista

Herberto Sales Filho, um menino maravilhoso, tem umas saídas extraordinárias. 
Maneira de pedir uma folha em branco para rabiscar:
-- Papai, me dá uma folha de papel vazio?

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O Nascimento

Vitor Emanuel, de quatro anos, ouviu no rádio o locutor dizer entre outras coisas:
-- O Brasil nasceu na Bahia.
Vitinho riu daquela asneira e perguntou:
-- Mamãe, lugar nasce?

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A Coceira

Márcia, de três anos, filha de Vittorio Lanari, não sabendo como se referir à coceira que estava sentindo no braço, explicou:
-- Tou com dor de pulga.

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A Bola

A meninazinha contemplou a lua cheia, conta-me a psicóloga Ofélia Bolsson Cardoso, e perguntou à mãe:
-- Foi Pelé quem chutou ela?

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O Sol

Meu pai, avô coruja elevado à última potência, cortava uma manga rosa para sua neta de 3 anos e lhe oferecia os pedaços descascados. Carolinne, muito perguntadeira naquela idade, questionou porque a manga era vermelha de um lado e amarela do outro. O avô prontamente explicou:
-- Ela é vermelha deste lado porque foi o lado que ela recebeu mais sol, e geralmente é do lado avermelhado que a manga é mais doce.
Ela olhou p'ra cima, pensou um pouco e veio com a pergunta:
-- Vovô, o sol tem açúcar?

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sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Mais uma piada de mau gosto do governo Dilma NPS: "Contribuinte pode arcar com a conta da caderneta"

O governo de Dilma NPS (Nosso Pinóquio de Saias) dá mais uma veemente demonstração de que o chamado Partido dos Trabalhadores está na realidade se lixando para esses trabalhadores e os contribuintes em geral, posicionando-se a favor do sistema financeiro e dos bancos no caso da correção das cadernetas de poupança pelos planos Bresser (1987), Verão (1989), Collor 1 (1990), Collor (1991) que está sendo julgado pelo STF - Supremo Tribunal Federal.

O jornal Valor Econômico de hoje informa que a Advocacia-Geral da União (AGU) advertiu os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) que o governo pode ser levado a aumentar impostos ou criar novas contribuições caso os bancos sejam derrotados no julgamento sobre a correção a maior das cadernetas de poupança que existiam na época dos citados planos (o destaque é meu). Em outras palavras, o governo federal está chantageando a Suprema Corte do país para que ela decida a favor dos bancos e contra os poupadores, e ameaça punir todo mundo (poupadores e não poupadores) por isso! E o PT mantém a cara de pau e a hipocrisia de criticar o Proer do governo FHC, cabendo enfatizar que o risco sistêmico para o setor financeiro do país eliminado por esse programa era absolutamente mais grave e efetivo do que o alegado agora pelo governo nesse caso da poupança.

A advertência foi feita pelo advogado-geral da União, ministro Luís Inácio Lucena Adams, o primeiro a se manifestar, ontem, no segundo dia do julgamento do caso pela Corte. Segundo ele, as ações questionando a correção monetária nos planos econômicos representam "risco sistêmico" aos bancos públicos e privados, já que a correção de todas as poupanças levaria ao pagamento de R$ 150 bilhões. Adams disse que, dependendo do resultado, a União "terá que agir para garantir a estabilidade financeira", inclusive com a possibilidade de os contribuintes terem que pagar a conta.  "Em síntese, todos os contribuintes arcarão com o débito?", perguntou o ministro Marco Aurélio Mello, após Adams defender a constitucionalidade dos planos econômicos. "Provavelmente, sim", respondeu Adams.

Em seguida, o ministro Ricardo Lewandowski, relator da ação da Confederação Nacional do Sistema Financeiro (Consif) contra a correção das poupanças, minimizou o risco para os bancos. "O risco sistêmico, se é que há, sempre existiu nos últimos 20 anos", disse Lewandowski. "A dívida existe e vem sendo executada pelos poupadores tendo em conta as decisões favoráveis que eles vêm recebendo", completou o ministro, que, ao longo das duas sessões sobre o caso, mostrou-se mais propenso a votar a favor dos correntistas.
"Mas, agora vemos a consolidação dessa jurisprudência, o que produz uma consequência que deve ser tratada", respondeu Adams. "Consolidada a jurisprudência contrária ao Sistema (Financeiro), isso pode representar um risco que vai exigir a intervenção da União e de toda a sociedade", completou o titular da AGU.
O Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) classificou como uma "granada oca" o argumento dos bancos de que perderiam R$ 150 bilhões com uma eventual derrota no STF.
Em seu site, o Idec (Instituto de Defesa do Consumidor) contesta o valor apresentado pelo Banco Central (BC) -- que na realidade foi calculado pelos bancos e não pelo BC, segundo o Instituto -- afirmando que o valor a ser pago pelos bancos, se condenados, seria de no máximo R$ 8.465.535,00 e não os aberrantes R$ 150 bilhões usados pelo governo e pelos bancos, e encampados pela mídia, para chantagear o STF. 
Na sua argumentação, o Idec confronta a tabela de cálculo dos bancos com a que ele próprio Idec calculou (clique nas imagens para ampliá-las):
Tabela dos bancos

Tabela do Idec

   
Os argumentos acima fazem parte da peça jurídica submetida ao STF pelo Idec, em defesa dos poupadores. Esperemos que o STF julgue essa causa com a isenção e a técnica jurídico-contábil devidas, repudiando prontamente a chantagem do governo federal e do sistema bancário.

Enquanto isso, fica-se com a esperança desassistida de que entre os viciados em PT -- anestesiados com o Bolsa Família e outros paternalismos feitos com o nosso dinheiro -- existam alguns que vislumbrem que esse segundo governo petista é também um engodo, um blefe, um acinte e uma imoralidade para o país.








Nigella Lawson, famosa apresentadora da TV inglesa, personagem de escândalo envolvendo drogas e corrupção

[A reportagem traduzida parcialmente abaixo, de autoria de Gordon Rayner e Hayley Dixon, foi publicada no jornal inglês The Telegraph no dia 26/11. O que estiver entre colchetes e em itálico é de minha responsabilidade.]



Nigella Lawson - (Foto: Rex Features).

Foi declarado em uma corte que Nigella Lawson (53) é uma usuária habitual de cocaína e que usou o dinheiro de seu ex-marido Charles Saatchi (70) para garantir que suas ajudantes não contassem a ele seu segredo [famosa por seu programa de culinária, Nigella esteve recentemente no Brasil].

Ela usou cocaína, maconha e pílulas (receitadas por médico) "diariamente" por mais de uma década, mas manteve seu marido Saatchi ignorante disso porque, alega-se, ela sabia que ele "não teria condenado" seu comportamento [muito estranha essa história ...]

Nigella manteve com duas "confidentes de cozinha" italianas um acordo verbal de que ambas poderiam utilizar o cartão de crédito corporativo do marido para uso pessoal, em troca do silêncio de ambas sobre o uso de drogas por Nigella, conforme dito à corte.


Nigella Lawson com Charles Saatchi - (Foto: Rex Features).


Os advogados de Nigella descreveram as alegações sobre uso de drogas de inverídicas e "totalmente injuriosas".

As alegações quanto ao uso de drogas por Nigella Lawson surgiram depois que suas assistentes italianas de longa data, as italianas Francesca e Elisabetta Grillo, foram acusadas de espoliar Charles Saatchi em mais de € 300.000 [quase R$ 950.000,00] com gastos em feriados, bolsas de grifes e outros itens. As irmãs, que trabalhavam para Nigella há mais de 10 anos, queriam usar o "acordo" com a chef como parte de sua defesa, e um juiz decidiu que alegações de "mau caráter" podem ser usadas em corte, o que significa que Nigella pode ser confrontada com elas quando de sua defesa. 


As irmãs EIsabetta ("Lisa" -- à esquerda) e Francesca Grillo chegando à corte. - (Foto: Warren Allott/The Telegraph).

Foi dito à corte no dia 26/11 que Charles Saatchi enviara um email à sua ex-mulher afirmando que acreditava em "cada palavra" dita pelas irmãs, e que considerava que ela havia autorizado seus gastos porque estava "fora de si" com as drogas.

O advogado de Elisabetta disse à corte: "A qualificação de mau caráter relaciona-se ao alegado uso pela Srta. Lawson de drogas tanto da classe A como da B e também de seu uso não autorizado de drogas com prescrição médica, aspectos considerados como de alta relevância para a defesa. Em poucas palavras, submetemos à corte que a Srta. Lawson possuía um "segredo culpado" guardado de seu marido, seu então marido, e que isso é altamente relevante para a defesa".

Elisabetta e sua irmã de 34 anos começaram a trabalhar para Nigella quando ela era casada com seu primeiro marido, John Diamond, que morreu em 2001. Elas foram mencionadas em uma dedicatória de um livro de receitas publicado em 2011, quando Nigella as definiu como suas "confidentes de cozinha".

Nigella divorciou-se de Saatchi em julho passado, alegando o "comportamento insensato" do companheiro.


Nesta foto (de Jane Mingay), Nigella Lawson mostra sinais de ter sido afetada pelo escândalo. - (Fonte: The Telegraph).

Charles Saatchi pagava faturais anuais de cartão de crédito de € 1,2 milhão devidas por sua ex-mulher Nigella Lawson e cinco assistentes por "gastos pessoais" da família dele, foi dito à corte. Ele pagava as contas integralmente cada mês por débito direto, sem analisar onde e como o dinheiro estava sendo gasto, embora os empregados estivessem gastando às vezes mais de € 5.000 [≈ R$ 16.000,00] com roupas de grife em uma única compra.





quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Brasil chega à Copa de 2014 como campeão de gastos em estádios (mais que África do Sul e Alemanha juntas)

[A reportagem reproduzida parcialmente abaixo é de Frederico Rojas e foi publicada no jornal espanhol El País no dia 25/11. Não é possível que ninguém seja responsabilizado e punido por essa orgia de gastos com a Copa de 2014!]

Seis anos atrás, quando o Brasil foi escolhido para sediar a Copa do Mundo de 2014, o país apostava na realização do evento para mostrar ao exterior que também teria uma atuação impecável fora de campo. No entanto, incidentes como a queda do guindaste que provocou duas mortes na Arena Corinthians, em São Paulo, nesta quarta-feira, podem ter o efeito contrário, ao dar margem a dúvidas sobre a real capacidade brasileira de sonhar com grandes eventos.

Outros dois acidentes fatais, envolvendo obras dos estádios, já haviam sido registrados. Em junho do ano passado, um trabalhador despencou de uma altura de 30 metros, em Brasília, durante a construção do Mané Garrincha. Em março deste ano, outro caiu de uma altura de cerca de cinco metros, na Arena Amazônia, em Manaus.


Não bastassem as tragédias humanas, o país também apresenta um desempenho questionável no que diz respeito aos gastos para garantir a infraestrutura para a Copa. A metade deles já foi entregue e o restante está perto de cumprir o cronograma estabelecido pela Fifa. Mas, na análise sobre os gastos para construí-los ou reformá-los, o Brasil já bateu a soma do que a África do Sul e a Alemanha desembolsaram para os dois últimos Mundiais.
O valor gasto para reforma ou construção dos 12 estádios chega a 8 bilhões de reais (3,4 bilhões de dólares), segundo levantamento do Sindicato Nacional de Arquitetura e da Engenharia (Sinaenco), que conta com correspondentes nas 12 cidades-sedes e realiza acompanhamento mensal de projetos ligados à competição. No Mundial da Alemanha, em 2006, foram gastos 3,6 bilhões de reais (1,57 bilhão de dólares) para o mesmo número de estádios. Na África do Sul, em 2010, o valor aproximado foi de pelo menos 3,27 bilhões de reais (1,39 bilhão de dólares), mas para 10 estádios, segundo o levantamento.
(...)
Na Matriz de Responsabilidades de 2010, a previsão brasileira era de que os gastos com estádios somassem cerca de 5,4 bilhões de reais (2,35 bilhões de dólares). O documento reunia estimativas de custos e prazos de cada cidade-sede para a conclusão das obras. Três anos antes, quando o país foi escolhido para sediar o Mundial, o valor estimado à Fifa era de pouco mais de 2,5 bilhões de reais (1,09 bilhão de dólares).
(...)
No Rio, o Maracanã, palco da final do único Mundial que o país sediou até agora, em 1950, foi o estádio escolhido para receber algumas partidas da Copa de 2014. No entanto, ao contrário do que aconteceu no século passado, quando o número oficial de espectadores foi de 199.584 na decisão do torneio, o estádio terá capacidade para aproximadamente 79.000 pessoas. Ainda assim, será a arena com maior capacidade no Mundial e vai sediar a final, em 13 de julho.
O que chama a atenção, no entanto, é o valor da reforma em um estádio que já tinha sido remodelado para o Mundial de Clubes da Fifa, em 2000, e os Jogos Pan-Americanos de 2007. O Maracanã foi a segunda arena mais cara, com investimento de quase 1,2 bilhão de reais (510 milhões de dólares), ainda de acordo com o levantamento do Sinaenco. O Mané Garrincha, de Brasília, lidera o ranking de gastos, com 1,43 bilhão de reais (614 milhões de dólares).
(...)
Entre as arenas não concluídas está o que sediará a abertura da Copa em 12 de junho, em São Paulo. A cidade mais populosa do país será representada pela Arena Corinthians, também conhecida como Itaquerão, em homenagem ao bairro paulistano de Itaquera, onde está localizado. A construtora Odebrecht, responsável pela obra, informou no último dia 13 que 94% das obras haviam sido concluídas. A arena terá capacidade para cerca de 65.000 pessoas. Com o acidente de ontem, o prazo de entrega, previsto inicialmente para dezembro deste ano, deverá ser revisto. “Além da retirada do entulho, e recuperação do trecho danificado pela queda da estrutura, será preciso verificar se houve danos estruturais nas arquibancadas que já estavam prontas”, afirmou o presidente do Sindicato Nacional de Arquitetura e da Engenharia (Sinaenco), José Roberto Bernascon.
Em junho, a população brasileira expressou sua indignação com os gastos exorbitantes com o Mundial durante as manifestações, que levaram mais de 1 milhão de pessoas às ruas. Centenas de reivindicações ironizavam o esforço do governo em construir rapidamente os estádios seguindo as exigências da Fifa, em cartazes, onde se lia “Não queremos estádios - Queremos escolas e hospitais” e “Queremos escolas e hospitais no padrão Fifa”. A ideia de que o dinheiro público estava sendo desperdiçado alimentou a ira popular a tal ponto, que a presidenta Dilma Rousseff se viu obrigada a negar, em rede nacional, o uso do Orçamento da União nas obras de estádios.
Na verdade, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) ofereceu linhas de financiamento através do programa ProCopa Arenas.
Também é motivo de preocupação a manutenção do público e a ocupação dos estádios após a Copa. A Arena das Dunas em Natal, por exemplo, terá sua capacidade diminuída em 10.000 espectadores depois da Copa. Serão removidos os assentos temporários instalados atrás dos gols. Além do Rio Grande do Norte, o Distrito Federal e os Estados de Mato Grosso e Amazonas apresentam médias muito baixas de público em seus campeonatos regionais e não possuem clubes na primeira divisão do Campeonato Brasileiro pelo menos desde 2007, quando o América de Natal foi rebaixado à série B.
No caso do Distrito Federal, uma das soluções encontradas, já neste ano, para a ocupação do Estádio Nacional, foi a realização de jogos de equipes de outros Estados durante o campeonato nacional. 

Mensagem de fim de ano sincera e expressiva de Dilma NPS para todos os brasileiros

Nossa supersimpática, carinhosa e sempre sorridente presidente Dilma NPS (Nosso Pinóquio de Saias) resolveu inovar neste ano em sua mensagem de fim de ano a seus eleitores e aos brasileiros em geral, resumindo apenas em uma imagem expressiva o que tem desejado e continua desejando para todos nós.


(Foto: Uly Martín/Fonte: El País)

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

A prisão dos mensaleiros e a irrefreável obsessão do PT por mutretas e palhaçadas

A prisão dos mensaleiros condenados pelo STF virou um exemplo emblemático da enorme queda do PT, dos petistas, do NPA (Nosso Pinóquio Acrobata, Lula), de Dilma NPS (Nosso Pinóquio de Saias), dos demagogos de plantão e de uma parcela ponderável da população para o sentimentalismo debiloide e ridículo, e para uma palhaçada orquestrada. O assunto virou um case e um prato feito para uma salada de profissões e hobbies -- cardiologistas, psicólogos, psiquiatras, cientistas políticos, advogados, juristas, cartomantes, comunicadores sociais, macumbeiros, astrólogos, flanelinhas, deputados e senadores (do PT, de preferência), ex-presidentes, carcereiros, gigolôs, lobistas, etc -- que têm nele um manancial inesgotável de informações e ensinamentos.

Para ordenar as ideias, comecemos pelo Art. 5° da Constituição Federal - "Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade" -- e vejamos pelas fotos abaixo como isso se aplica como uma luva [em mão(s) em que falta(m) dedo(s)] no caso dos mensaleiros presos:


  
Parentes de presos acampados perto da prisão da Papuda a partir de 20/11 -- onde estão os mensaleiros -- para garantir senha para visitá-lo. A romaria revoltou esses familiares: "Família de mensaleiros tem que pegar fila como pegamos, diz mulher de preso". - (Foto: Antônio Cunha/Esp. CB/D.A press). -- Ver também: "Parentes de presos comuns reclamam dos privilégios de políticos na Papuda"(Folha de S. Paulo - 26/11/2013). 


(Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil)


Deputados e senadores vistam os mensaleiros na Papuda (a foto acima é de Givaldo Barbosa/O Globo). "Mesmo com proibição de visitas, 26 deputados entraram na Papuda" (O Globo - 20/11).


A farra dos Zés. O cardiopata José Genoíno e o xamã petista José Dirceu quanto tudo eram flores e prisão pelo mensalão era inimaginável. - (Foto: Google).


Os mesmos cardiopata e xamã após a prisão, já travestidos de mártires da democracia. - (Foto: Google).

A cada hora surgem novidades e fatos intrigantes, mantendo o tempero especial da prisão e fazendo com que a Globo se mexa em cólicas, querendo comprar os direitos da história para uma nova telessérie. A coisa deve ferver. Uma junta médica da Universidade de Brasília (UnB) concluiu que Genoíno não precisa ficar em casa e que sua doença não é grave. Por conta disso, o PT et caterva já estão em polvorosa, preparando documento contundente e bombástico contra esse atestado (que prejudica seriamente a canonização de Genoíno) baseando-se em dois argumentos que consideram irrefutáveis: - i) os médicos da UnB são incompetentes e devem ser substituídos imediatamente por médicos cubanos; - ii) coração de petista -- e, em particular, o de Genoíno -- é anatômica e funcionalmente completamente dos corações que abundam por aí e, como tal, merece tratamento completamente diferenciado.

Agora, a notícia mais encantadora: Zé Dirceu pediu à Justiça para trabalhar no Hotel Saint Peter, em Brasília. Ainda não se sabe exatamente onde irá atuar: se na lavanderia (dada sua experiência incontestável em lavagem de qualquer coisa), como mensageiro, ou como gerente (ganhando quase 10 vezes mais que a gerente atual). A única coisa definida e já acertada, uma vez contratado Dirceu, é que o hotel reforçará as recomendações para que os hóspedes protejam bem suas carteiras. 

Coincidências que só ocorrem quando há petista na história: o dono do Hotel Saint Peter, Paulo Masci de Abreu, é irmão do presidente do PTN, José Masci de Abreu, que faz parte da base aliada de Dilma NPS. Tanto Paulo quanto José são sócios de emissoras de rádio em SP. O sócio do Saint Peter tem interesses diretos no governo federal: processos relacionados às rádios, inclusive concessão de outorga, tramitam no Ministério das Comunicações. A pasta, inclusive, abriu um processo administrativo para apurar supostas infrações cometidas pela Rádio Kiss FM Ltda. Ou seja, Zé Dirceu não terá absolutamente nenhuma dificuldade em se adaptar a um ambiente de trabalho e a "patrões" como esses.

Essa ópera bufa de mensalão e mensaleiros está muito longe de acabar.

 

terça-feira, 26 de novembro de 2013

Mineração urbana

[A reportagem abaixo, de Cláudio Motta, foi publicada hoje (26/11) na Revista Amanhã, do Globo.]


Brasil deve gerar 100 milhões de toneladas de entulho só em 2013 - (Foto: Camilla Maia/Arquivo/O Globo).


Onde há um prédio abandonado, a indústria da reciclagem começa a vislumbrar uma mina. Dela é possível extrair mármore, granito, madeira, brita e areia, além de vidros e telhas. De quebra, a atividade reduz a pressão sobre os recursos naturais e diminui a emissão de gases-estufa. Este reaproveitamento de materiais, indicam estimativas do pesquisador Francisco Mariano Lima, do Centro de Tecnologia Mineral (Cetem) do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação, deverá saltar dos atuais 3% para 20% nos próximos dez anos.

Com a reciclagem de resíduos de construção e demolição, que vem sendo chamada de mineração urbana, a tendência é que as cidades se consolidem como fornecedoras de recursos naturais, ressalta o especialista. Sua tese de doutorado, apresentada em 2013 na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP), foi premiada em setembro deste ano como o melhor trabalho de Economia Mineral durante o Congresso Anual do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), em Belo Horizonte.

"A mineração urbana é um novo setor da reciclagem que está se consolidando no país" afirma Mariano Lima. "Hoje, porém, pouquíssimo é reciclado. Em países como o Brasil, a indústria recicladora ainda emergente só aproveita os produtos de baixa qualidade, que só servem para a base e a sub-base de estradas ou aterros. Por outro lado, a indústria madura nos países desenvolvidos chega a 90% de material reciclado, produzindo agregados de qualidade semelhante aos produtos naturais".

A indústria brasileira da construção deve gerar 100 milhões de toneladas de entulho até o final de 2013, sendo que 90 milhões são resíduos de construção e demolição. Deste total, só 10% têm algum tipo de reaproveitamento. Além dos 3% de reciclagem, 7% deste material são usados sem passar por qualquer tipo de beneficiamento, geralmente para tapar buracos, e têm baixo valor agregado.

A chave para impulsionar a mineração urbana é a separação de materiais. Em vez de colocar um prédio abaixo de uma vez, os especialistas do setor precisam de tempo para recolher os produtos mais nobres. De acordo com Mariano Lima, primeiro são retirados os vidros, depois os mármores. Em seguida, as telhas e o madeirame são recolhidos, incluindo portas e o que houver de valor. Só então a demolição deve começar.

Quando este processo não é respeitado, tudo aquilo que estava no prédio e poderia ser reaproveitado praticamente se perde, virando um entulho de baixo valor comercial. Na melhor das hipóteses, este material vai para aterros e estradas, ou, clandestinamente, para rios e terrenos baldios.

"Só no prédio da Daslu, em São Paulo, R$ 3 milhões em mármore foram perdidos. Em geral, contratantes querem o terreno liberado rapidamente" lamenta o pesquisador.  "A Lei Nacional de Resíduos Sólidos, que determina a logística reversa (quem coloca um produto no mercado deve retirar seus resíduos), deve impulsionar a mineração urbana. O aumento do preço do agregado natural também dará viabilidade à reciclagem".

A tese de Lima analisou os casos das cidades de São Paulo, Maceió e Macaé. As três, segundo o pesquisador, têm diferenças que retratam a desigualdade de ocupação urbana no Brasil. Para a reciclagem, o que importa é a presença de concreto nos resíduos, capaz de gerar brita. Este percentual chega a 49% na capital paulista, 17% na cidade do Norte Fluminense e a apenas 4% na nordestina. Em cidades europeias e japonesas, a média é de 80%.








Deputados que estão sendo processados e podem perder patrimônio atuam para mudar Código de Processo Civil e dificultar penhora de bens

[A Câmara dos Deputados cada vez mais se configura como reduto de malandros que vivem buscando subterfúgios e mutretas para se protegerem da Lei, principalmente aqueles que já sentem o bafo da Justiça em seu cangote.  O jornal Valor Econômico de ontem (25/11) nos conta mais uma faceta da audaciosa pilantragem dessa curriola.]

Dois deputados que têm o patrimônio ameaçado por processos judiciais atuam na Câmara dos Deputados para mudar o Código de Processo Civil (CPC) no trecho que permite à Justiça realizar a penhora online - mecanismo pelo qual o juiz pode penhorar, por meio de um sistema do Banco Central conectado à internet, os bens de um réu antes que a ação termine definitivamente. O principal propósito desse mecanismo é evitar que o devedor se desfaça de suas posses para evitar o pagamento da dívida.

Alfredo Kaefer (PSDB-PR) e Nelson Marquezelli (PTB-SP) têm dificultado a votação do projeto que define o novo texto do CPC alegando que o relatório produzido por Paulo Teixeira (PT-SP) permite abusos da Justiça ao realizar a penhora, como estender a medida a sócios sem relação com a dívida e proibir acesso a todo o patrimônio, não só ao valor devido.
Apesar de novidades introduzidas no texto por Teixeira, como a obrigação de o juiz liberar em 24 horas o excesso da penhora (quantia que ultrapassa o valor da dívida), Kaefer e Marquezelli querem que a medida só possa ser adotada quando não puderem mais ser apresentados recursos. Ou seja: quando o processo já tiver terminado.
A reforma do CPC começou a ser discutida em 2009 no Congresso. Já foi aprovada pelo Senado. Chegou finalmente ao plenário da Câmara. Após semanas sendo retirado de pauta, no último dia 5 de novembro foi aprovado pelos deputados o texto base do primeiro capítulo do projeto. Resta agora resolver divergências sobre esse trecho, como a polêmica proposta de permitir o pagamento de honorários de sucumbência a advogados públicos, e votar os outros quatro capítulos, que incluem o conteúdo sobre a penhora online.
Kaefer fez fama no setor da avicultura. É dono do Frigorífico Diplomata. A unidade da empresa situada em Capanema, interior do Paraná, está em recuperação judicial. O processo gira em torno de R$ 400 milhões e corre na 1ª Vara Civil de Cascavel. Mas as pendências do deputado com a Justiça não estão resolvidas com essa recuperação judicial. Ele também possui empresas e dívidas em outros Estados. O Valor encontrou na Justiça do Mato Grosso do Sul, por exemplo, duas ações movidas pelo Estado contra ele e sua empresa local, também chamada Diplomata. Uma cobra de Kaefer R$ 1.980.091,40 referente ao Imposto de Circulação de Mercadorias. A outra cobra R$ 1.756.280,21 devidos ao fisco e que já foram para a dívida ativa.
O advogado Nilceu Natalino Cavalheiro, que representa a Associação dos Avicultores de Capanema, credores de Kaefer, diz que o deputado também têm dívidas contestadas em Xaxim, em Santa Catarina, e em Londrina, no Paraná. Nos dois casos, afirmou, o congressista é contestado por pessoas que venderam empresas a ele e não receberam os devidos pagamentos.
O caso de Marquezeli, conhecido por atuar no setor da produção de laranja, é relacionado a uma ação civil pública movida pelo Ministério Público do Estado de São Paulo contra ele e outras pessoas. A promotoria pede uma indenização por danos ambientais no valor de R$ 844,8 mil e obteve uma decisão favorável do Foro de Pirassununga, que pediu o bloqueio de todos os bens do deputado.
Na Câmara, Kaefer e Marquezelli fazem circular que não aceitam acordo com Paulo Teixeira. Eles querem submeter ao plenário da Câmara uma proposta de alteração no texto do novo Código de Processo Civil que, entre outras mudanças, estabelece o seguinte: "A penhora a que se refere o caput somente poderá ser realizada em processos onde não caibam mais recursos ou embargos à execução".
Procurado pela reportagem, o deputado Alfredo Kaefer disse que não comentaria sobre os processos em que é réu para não dar a entender que atua na Câmara em favor próprio. Disse, no entanto, que "tem que acabar a ditadura da penhora online" e que, hoje, não há mecanismos de defesa. Ele reconhece que a penhora online é necessária em casos em que o devedor não coloque bens à disposição. Disse também que não é o único deputado com dívidas. "O juiz descaracteriza uma personalidade jurídica. Vão diretamente a qualquer bem pessoal da pessoa física. Há dezenas de casos, até em petição inicial os juízes estão dando penhora online. [Há] na primeira instância e, o que é pior, em petição inicial".
Valor procurou o deputado Nelson Marquezelli por meio dos assessores de seu gabinete e também por meio da liderança de seu partido, o PTB. Não obteve retorno.
O deputado Fábio Trad (PMDB-MS), que presidiu a comissão especial que analisou a reforma do CPC, disse ao Valor que a proposta de Kaefer e de Marquezelli "é uma forma de extinguir a penhora online". Para Paulo Teixeira, se a mudança sugerida pelos colegas for aprovada, a penhora online ficará "descaracterizada", o que seria ruim porque, de acordo com ele, o mecanismo "garante o mercado de crédito, a efetividade do crédito". Trad e Teixeira não quiser dizer se veem relação entre a atuação de Kaefer e Marquezelli na Câmara com os processos que enfrentam na Justiça.
Segundo o advogado Rui Geraldo Camargo Viana, professor de Direito Civil da Faculdade de Direito da USP, a penhora online é um instrumento importante. Ele afirma que algumas decisões, principalmente da Justiça do Trabalho, tem abusado do mecanismo, mas que nada justifica extingui-lo. "É um poder que o juiz tem. É um dos fatores de defesa, de garantia ao credor. Mas não pode ser um tormento para o devedor e seus sócios", diz.
Os dois deputados que respondem a processo judicial e querem legislar em causa própria, para dificultar a penhora de seus bens

Alfredo Kaefer (PSDB/PR): dívidas contestadas no Paraná, Santa Catarina e Mato Grosso do Sul - (Foto: Gustavo Lima/Câmara dos Deputados).

Nelson Marquezelli (PTB/SP): ação civil pública envolve indenização de R$ 844,8 mil - (Foto: Maryanna Oliveira/Câmara dos Deputados).


















segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Projetos almejam conectar bilhões de pessoas; Brasil testa internet por balão

[A reportagem abaixo é de Yuri Gonzaga, publicada na Folha de S. Paulo de hoje (25/11). O que estiver entre colchetes e em itálico é de minha responsabilidade.]


Há 4,3 bilhões de pessoas vivendo off-line, segundo a estimativa da UIT (União Internacional de Telecomunicações), órgão que faz parte da ONU. Isso representa 61,2% da população mundial. Para levar a internet a esse contingente (e faturar com isso), o Facebook e o Google anunciaram que estão trabalhando em ambiciosos projetos de inclusão digital.

Com o Loon, o Google diz que levará internet para áreas remotas ou devastadas usando balões equipados com antenas de radiofrequência, com velocidade comparável à do 3G, segundo a empresa.

No primeiro semestre do ano que vem, a iniciativa será testada na Amazônia. "Este projeto certamente contribuirá de forma significativa para ampliar o acesso à internet na área, extensa e onde é difícil chegar com tecnologias tradicionais", disse em nota o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, após uma reunião com representante do Google, no mês passado. Apesar de não divulgar o investimento na parceria com a empresa americana, o ministério diz que ela tem "custos razoáveis".

O Loon --nome de uma espécie de ave marinha-- está em fase de testes desde junho, na Nova Zelândia, onde cerca de 30 balões foram lançados; 50 moradores eram responsáveis por controlá-los.  "Soa como um pouco de ficção científica, mas tenho certeza de que o projeto vai se tornar realidade", disse à agência Efe Sameera Ponda, engenheira do Google. "Levar internet a todos com balões é mais fácil e barato do que fazê-lo através de satélites".

Um análogo da ação do Google, mas que usa balões afixados ao solo, foi apresentado pelo INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), do governo federal, no último dia 14, quando foi testado em Cachoeira Paulista (SP).  O balão brasileiro leva rádios para transmitir em um raio de até 50 km dados em velocidade de banda larga, segundo o órgão. A iniciativa, chamada de projeto Conectar, tem apoio de "empresas especializadas", da Telebrás e do CPqD (Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações). [Ver mais detalhes aqui.]

Na semana passada, o Google anunciou outra ação: o Projeto Link, cujo objetivo é instalar fibra ótica em Kampala, capital de Uganda, país africano que tem apenas 14,7% da população conectada à internet, segundo a UIT.



Internet.org

Liderado pelo Facebook e anunciado em agosto, o Internet.org tem como meta conectar todo o planeta, em especial pelo barateamento da conectividade móvel e de smartphones -- entre os parceiros estão Ericsson, Nokia, Samsung e Qualcomm. Os membros da iniciativa desenvolveram tecnologia de difusão de dados capaz de incrementar em dez vezes a capacidade das redes atuais, disse Mark Zuckerberg. "Isso abaixaria o custo das conexões dramaticamente", disse.

Tornar o uso dessas redes mais eficiente --reduzindo a quantidade de dados que são transmitidos-- e empregar faixas de radiofrequência hoje ociosas também ajudaria nesse sentido, diz o grupo.

O foco em dispositivos móveis acelera a inclusão digital, mas pode ser insuficiente para usos como educação à distância, diz um dos coordenadores do CGI (Comitê Gestor da Internet), Alexandre Fernandes Barbosa. "Como você desenvolve uma aplicação empresarial ou educacional, por exemplo, para um smartphone? Não é a mesma coisa [que um PC]".

A Cisco diz que, neste ano, o número de dispositivos móveis conectados passará o de habitantes no mundo. Segundo a consultoria IDC, modelos baratos têm obtido sucesso nos mercados de massa, como África e Ásia, e é este tipo de venda que vai levar o segmento para a frente.

Balão do projeto Loon, do Google, na Nova Zelândia Leia mais - (Foto: John Schenk/Reuters).


O balão wi-fi do Google é exibido no Airforce Museum, em Christchurch, Nova Zelândia. - (Foto: Marly Melville/AFP).

[Teste do projeto Conectar, do Inpe, realizado em outubro de 2013.- (Foto: Divulgação/Inpe).







    As reações em Israel ao acordo nuclear firmado com o Irã

    A primeira observação que se tira das recentes negociações entre os EUA e outras potências mundiais com o Irã para enquadramento do seu programa nuclear é o absoluto isolamento internacional de Israel em relação a um assunto que lhe é de vital importância. A segunda conclusão -- que acaba sendo origem da primeira -- é que tal isolamento se deu, e se dá, por culpa exclusiva dos israelenses, que têm mostrado preferência por ações militares a negociações diplomáticas, apostando alto em seu poderio militar e no tradicional apoio americano. Desta vez, porém, a coisa não funcionou como Israel queria e esperava.

    Ainda há muito ceticismo pairando no ar em relação ao acordo a que se chegou com os iranianos, haverá ainda um tempo probatório em relação a isso. Mas, a posição de Israel nesse contexto é a pior de que se tem notícia ultimamente no cenário do Oriente Médio. Para possibilitar uma ideia de como isso tudo repercutiu no país e em seu governo, listo abaixo os títulos das principais matérias recentes apresentadas sobre o assunto pelos dois jornais de destaque da imprensa de Israel, o Haaretz (O País), de tendência esquerdista, e o The Jerusalem Post, mais ligado às posições do governo.

    Haaretz

    Avanço em Genebra -- Irã e potências mundiais fecham acordo provisório sobre programa nuclear (Anschel Pfeffer).

    Com acordo do Irã selado, não espere que Israel mande sua força aérea. Isso seria suicídio político. Ainda assim, o acordo apenas mantém o Irã estacionado onde está -- ele ainda está bem posicionado para, repentinamente, mover-se na direção de uma bomba (Amos Harel).

    Agora que o acordo está feito, lutar por novas sanções prejudicaria mais Israel que o Irã (Chemi Shalev).

    Acordo fechado em Genebra. Netanyahu: acordo nuclear com Irã coloca Israel em perigo, nos defenderemos (Barak Ravid).

    Um bom acordo: o pacto de Genebra distancia o Irã da bomba nuclear. Apesar da crítica rude de Netanyahu, o acordo de Genebra impõe sérias restrições ao Irã e permite ao Ocidente acesso a informações valiosas sobre seu programa nuclear (Barak Ravid). 

    Revelado: EUA e Irã mantiveram conversações nucleares durante meses, antes que acordo fosse alcançado. O canal secreto se estabeleceu já em março de 2013, de acordo com a AP (Associated Press) -- Obama informou Netanyahu apenas dois meses atrás e depois colocou as potências mundiais a par (Barak Ravid).

    Perfil. Ativista transformada em diplomata, no centro das conversações nucleares. Catherine Ashton nunca disputou uma eleição e não tem experiência diplomática, mesmo assim representou o mundo nas negociações com o Irã (Anshel Pfeffer).

    Casa Branca apresenta os termos do acordo com o Irã. Documento completo: "Entendimentos iniciais relativos ao Programa Nuclear da República Islâmica do Irã".

    The Jerusalem Post

    Netanyahu diz que acordo nuclear com o Irã é "erro histórico". Jerusalém continuará seus esforços para garantir que Teerã não produza armas nucleares (Herb Keinon).

    Acordo com Irã é mais arriscado do que parece. Acordo nuclear acertado em Genebra assume riscos altos e desnecessários, e se apoia em fundamentos precários que podem levar ao colapso do regime de sanções. Pode-se esperar que o Irã passará os próximos seis meses tentando dividir as potências internacionais (Yaakov Lappin).

    EUA saúdam entendimento com Irã como um "bom acordo". Kerry diz que acordo trará mais segurança para Israel, porque estabelece um mecanismo para monitorar as atividades nucleares de Teerã. Presidente da Comissão de Assuntos Externos do Congresso diz que a nova legislação de sanções do Congresso respeitaria a moratória de 6 meses (Michael Wilner).

    Excesso de iodo na gestação e lactação pode causar hipotireoidismo na prole

    [O texto abaixo é de Karina Toledo e foi publicado no site da Agência FAPESP em 11 de novembro.]

    Um experimento feito com ratas na Universidade de São Paulo (USP) mostrou que o consumo excessivo de iodo durante o período de gestação e lactação pode tornar a prole mais propensa a sofrer de hipotireoidismo na vida adulta. O trabalho faz parte do projeto de pós-doutorado de Caroline Serrano do Nascimento, realizado com Bolsa da FAPESP e supervisão da professora Maria Tereza Nunes, do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB-USP).
    “Os efeitos deletérios do excesso agudo e crônico de iodo no organismo já estão descritos na literatura. Agora, estamos observando que esse elemento desencadeia também mecanismos epigenéticos, ou seja, o consumo excessivo desse elemento pela mãe durante a gestação e lactação gera consequências no desenvolvimento fetal e, aparentemente, programa o organismo do filhote para ficar mais suscetível ao desenvolvimento de hipotireoidismo durante a vida adulta”, comentou Nascimento.
    O iodo é um micronutriente essencial para o homem e demais mamíferos, pois é usado na síntese dos hormônios tireoidianos T3 (triiodotironina) e T4 (tiroxina). Além de regular o metabolismo, esses hormônios são importantes para o funcionamento adequado de praticamente todos os órgãos.  Já há muitas décadas se sabe que a deficiência desse mineral pode causar bócio, ou seja, um aumento no volume da glândula tireoide que prejudica seu funcionamento. Sabe-se também que a falta de iodo durante a gestação pode levar a danos cerebrais em crianças, uma vez que os hormônios tireoidianos desempenham um papel extremamente importante no desenvolvimento do sistema nervoso central. Por essa razão, no Brasil, tornou-se obrigatória na década de 1950 a adição de iodo no sal de cozinha.
    Mas, estudos recentes têm mostrado que o consumo superior à dose diária recomendada – cerca de 150 microgramas – também pode trazer prejuízos ao funcionamento da tireoide. Este ano, uma resolução da Anvisa reduziu a faixa de variação do iodo no sal de 20 a 60 miligramas por quilo – quantidade recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para populações que consomem até 10 gramas de sal por dia – para 15mg/kg a 45 mg/kg.  A medida foi tomada após pesquisas do Ministério da Saúde mostrarem que a população brasileira ingere uma taxa de iodo maior do que a recomendada pela OMS em razão do consumo elevado de sal.

    Em seu mestrado e doutorado, Nascimento estudou o que acontece no organismo durante uma sobrecarga aguda de iodo. “Desde 1948 se sabe que o excesso agudo exerce um efeito inibitório no tireocito – a célula da tireoide que produz os hormônios tireodianos. É um efeito rápido e adaptativo, que tem como função proteger a célula daquela sobrecarga momentânea. O objetivo do meu mestrado e doutorado foi desvendar as bases moleculares por trás desse fenômeno”, contou.
    Nascimento mostrou que o excesso de iodo diminui a expressão e atividade de uma proteína conhecida como NIS, que é responsável por transportar este oligoelemento essencial para a biossíntese de hormônios tireoidianos pelos tireocitos.  “Quando a NIS está menos expressa ou não está funcionado adequadamente, o tireocito capta menos iodo e produz menos hormônios. Mas, após o período de inibição ou terminada a sobrecarga, a célula volta a sintetizar e secretar hormônios normalmente”, disse.

    Dados da literatura e também de outro estudo conduzido no ICB sob a coordenação de Nunes, no entanto, indicam que, quando o consumo excessivo de iodo se torna crônico, o tireocito perde a capacidade de se adaptar e de escapar do efeito inibitório.  “Quando tratamos ratos cronicamente com excesso de iodo, observamos diminuição na expressão de diversas proteínas relacionadas à síntese dos hormônios tireoidianos e aumento na expressão de proteínas relacionadas à inibição da função do tireocito. Além disso, ocorre um aumento na produção de citocinas inflamatórias, que podem desencadear um quadro de tireoidite”, contou a pesquisadora.  Segundo Nascimento, há estudos que relacionam o aumento na incidência de casos de tireoidites autoimunes, como a tireoidite de Hashimoto, ao excesso de iodo na alimentação.
    Reprogramação de genes
    Conhecendo os efeitos da exposição crônica ao excesso de iodo e sabendo da importância dos hormônios tireoidianos na gravidez, Nascimento e Nunes decidiram então investigar os efeitos da sobrecarga durante este importante período do desenvolvimento. Buscaram avaliar se os prejuízos desencadeados pelo excesso de iodo na mãe poderiam ser transmitidos para seus filhos por meio de mecanismos epigenéticos.
    No primeiro trimestre da gestação, explicou Nascimento, o feto é totalmente dependente dos hormônios tireoidianos produzidos pela mãe e qualquer alteração na síntese hormonal nessa fase pode causar consequências graves para o desenvolvimento fetal. Após o segundo trimestre, o bebê já tem sua própria tireoide desenvolvida, mas ainda depende do aporte de iodo da mãe, que é feito pela placenta.
    “Como a placenta expressa a proteína NIS, queríamos descobrir se o excesso de iodo poderia prejudicar o transporte deste elemento para o feto. Além disso, durante a lactação, esse transporte também poderia ser comprometido pela sobrecarga de iodo, pois a mama também expressa NIS. Outro objetivo do estudo é investigar se o tratamento da mãe com excesso de iodo poderia alterar a expressão de genes na prole ou prejudicar seu desenvolvimento”, explicou Nascimento.
    Desde o início da gestação até o fim da lactação, as ratas passaram a receber água contendo uma dose de iodo cinco vezes maior que a recomendada. No caso dos humanos, seria o equivalente a ingerir diariamente o iodo existente em 12 gramas de sal (antes da mudança determinada pela resolução da Anvisa). Já o grupo controle recebeu apenas a quantidade de iodo considerada ideal. “Optamos por uma dose equivalente à que poderia ser obtida pela população brasileira, que sabidamente come uma quantidade muito grande de sal”, contou Nascimento.
    Após o desmame, aos 21 dias de idade, as proles dos dois grupos passaram a receber ração e água com quantidades ideais de iodo. Aos 90 dias de idade, os pesquisadores constataram que os filhotes das ratas submetidas à sobrecarga do mineral haviam desenvolvido hipotireoidismo, enquanto os do grupo controle estavam com a tireoide saudável. As mães tratadas com excesso de iodo também apresentaram quadro de hipotireoidismo, como era esperado, já no fim do período de lactação.  “Vimos que a maioria dos genes ligados à biossíntese dos hormônios tireoidianos estava com a expressão diminuída tanto na mãe, quanto na prole adulta, no grupo exposto ao excesso de iodo durante a gestação e lactação”, contou Nascimento.
    O próximo passo, segundo a pesquisadora, é descobrir em que momento da gestação ou da lactação esse excesso de iodo é mais prejudicial. “Uma vez que tivermos esclarecido bem os mecanismos que ocorrem na prole, poderemos voltar e descobrir em que fase do desenvolvimento o iodo altera a programação gênica dos animais. Aparentemente, em cada uma das fases há uma resposta diferente na programação da expressão de genes durante a vida adulta”, afirmou.
    Apesar de conhecer bem as consequências da ingestão excessiva de iodo, Nascimento não defende a ideia de eliminar ou reduzir a adição do mineral ao sal. “Penso que o ideal seria investir em políticas públicas para reduzir o consumo de sal na população, pois dessa forma você evita não apenas prejuízos à tireoide como também doenças cardiovasculares. Com a atual redução, por outro lado, não se tem garantia de que as pessoas vão ingerir quantidades ideais de iodo se diminuírem o sal na alimentação”, avaliou.

    De acordo com a pesquisadora, conhecer melhor a forma como a proteína NIS é regulada pelo iodo pode trazer perspectivas terapêuticas interessantes.  “A NIS é extremamente importante no diagnóstico e tratamento de câncer de tireoide com iodo radioativo. Muitos trabalhos tentam aumentar a expressão dessa proteína em tecidos cancerígenos, para que eles captem ainda mais o iodo radioativo e a terapia seja mais eficaz. Desta maneira, conhecer como essa proteína é regulada pode trazer perspectivas interessantes no desenvolvimento de terapias que visem tanto o tratamento do câncer de tireoide, como de outros tipos de câncer”, afirmou.