sábado, 31 de dezembro de 2011

Governo dos EUA compra 20 Super Tucanos da Embraer

Grande notícia!! Vejam postagem anterior sobre esse assunto.

A Força Aérea dos Estados Unidos anunciou na sexta-feira a compra de 20 aviões modelo A-29 Super Tucano fabricados pela Embraer, informam Agnaldo Brito e Patrícia Campos Mello em reportagem publicada na Folha deste sábado. É o primeiro contrato da brasileira com a Defesa americana. O avião deverá ser usado no Afeganistão.  A íntegra do texto da reportagem, reproduzido a seguir, está acessível apenas a leitores e assinantes do jornal.

O valor do negócio é de US$ 355 milhões, o que inclui o fornecimento das aeronaves e do pacote de serviços, como treinamento de mecânicos e pilotos responsáveis pela operação do avião. Segundo Luiz Carlos Aguiar, presidente da Embraer Defesa e Segurança, a empresa mantém expectativas de vender mais 35 aviões, o que pode elevar o contrato à cifra de US$ 950 milhões.

Como impõem as regras de compras governamentais nos Estados Unidos, a Embraer teve de se associar a uma empresa local, a Sierra Nevada Corporation. Além disso, a empresa terá uma unidade fabril em solo americano. Aguiar informa que os equipamentos serão montados em uma fábrica na cidade de Jacksonville, na Flórida.

Pelo contrato, a Embraer terá 60 meses para entregar esse primeiro lote, prazo que começa a contar já em janeiro de 2012. O primeiro avião terá de ser entregue em 2013. Segundo o executivo da Embraer, a unidade de S. José dos Campos, no Vale do Paraíba (SP), ainda será responsável por produzir grande parte do avião. A montagem final será feita nos EUA.

Na área de defesa da Embraer trabalham hoje 1.436 pessoas, e a previsão é que o número seja ampliado para atender ao novo contrato.

Com esse pedido, a Embraer alcança 200 encomendas do modelo Super Tucano (desenvolvido pela [acho que o certo é para a]  FAB em 1995 e exportado para vários países do mundo). Apenas 40 precisam ainda ser entregues (o que inclui o pedido da Força Aérea americana).

A Embraer disse que o negócio "será uma grande vitrine". "Esse é o primeiro contrato com a Força Aérea dos EUA. Esse é um item sensível no maior mercado de defesa do mundo. Muitos países vão olhar isso", disse Aguiar.  [Esse executivo sabe muito bem que essa euforia é relativa, pois os EUA têm e já exerceram o poder de veto na venda de Super Tucanos, como já fizeram há poucos anos quando a Venezuela nos quis comprar esse avião para sua Força Aérea, sob a alegação de que o avião tem grande parte de, ou toda, sua eletrônica de borda feita por empresas americanas -- o surpreendente, como mostra a postagem sobre isso, é que quem acabou vendendo aviões militares para os venezuelanos foi a China!]

A empresa brasileira disputou com uma concorrente americana, a Hawker Beechcraft, que se associou à fabricante do F-16, a Lockheed Martin -- a mesma que participa da disputa no Brasil para o fornecimento dos caças à FAB (Força Aérea Brasileira).  [Haveria alguma jogada de bastidores nisso?...]

O contrato, em negociação há um ano, gerou resistências, principalmente entre congressistas do Kansas, Estado-sede da Hawker. Pedidos de investigação internacional para apurar eventual subsídio do Brasil à Embraer foram cogitados. A avaliação é que um contrato dessa magnitude (em momento de crise econômica) e um setor tão sensível  não podem chegar às mãos de uma empresa estrangeira.

Além disso, uma investigação sobre violação da Lei Anticorrupção sobre a Embraer feita pela SEC (que fiscaliza o mercado de capitais americano) chegou a ser apontada como eventual impedimento. Aguiar, da Embraer, disse que em nenhum momento questões relacionadas ao mercado de aviação executiva foram usadas pelo governo dos EUA. "Eles conseguem separar as coisas", disse. Hoje, o mercado de defesa da Embraer representa 14% da receita da empresa, sem incluir o novo contrato.

Notícia publicada pelo jornal The Washington Post no dia 28/12 dá a entender que esse contrato com a Embraer ainda pode dar chabu, pois a Hawker está processando o governo americano por ter sido excluída da concorrência, o que deixou a empresa brasileira sozinha na disputa. Ao desqualificar a Hawker da competição no mês passado, a Força Aérea americana (FAA) considerou a oferta da empresa "tecnicamente inaceitável", porque resultaria em um "risco inaceitável quanto à capacidade de desempenho em missões". A FAA afirma ainda que a Hawker não cumpriu os prazos do edital para refazer a proposta e/ou entrar com protesto.

O  Super Tucano A-29 comprado pela Força Aérea americana - (Foto: Embraer).

Esplanada: TCU barra "câncer do superfaturamento" no Inca

O texto abaixo é da autoria de Leandro Mazzini e foi publicado em 29/12 no site do Congresso em Foco.

Técnicos do Tribunal de Contas da União (TCU) viram a tempo o que poderia se tornar uma doença incurável no seio do próprio Instituto Nacional do Câncer (Inca): cancelou edital para a construção do Campus Integrado, que acaba de sair do forno, com sobrepreço de R$ 48 milhões. E determinou que o órgão publique novo edital para as obras, no valor máximo de R$ 496,4 milhões. O período do edital será renovado e as empresas interessadas, logo, terão mais prazo para apresentar as propostas.

O Inca deverá encaminhar ao TCU, no prazo de 15 dias, documentação que comprove as medidas adotadas para corrigir as irregularidades.

CPIs não acabam em pizza, dizem pesquisadores

Essa é bem difícil de acreditar, mas vamos à notícia ...

Para um grupo de pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), o senso comum está equivocado: as comissões parlamentares de inquérito (CPIs) não acabam em pizza. É o que conclui o ensaio “As CPIs acabam em pizza? Uma resposta sobre as comissões parlamentares de inquérito no presidencialismo de coalizão”, de autoria de Lucas Queija Cadah e Danilo de Pádua Centurione, em trabalho registrado no livro O papel do Congresso Nacional no presidencialismo de coalizão (Konrad-Adenauer-Stiftung, 2011).

Como o Congresso em Foco publicou ontem (29), o livro aborda, entre outras questões, a passividade do Legislativo diante do Executivo.

No caso das CPIs, o desconhecimento por parte da opinião pública sobre o poder investigatório das comissões estimula a percepção de que as apurações não dão em nada, apontam os estudiosos. Os pesquisadores lembram, por exemplo, que as CPIs não têm poder de punir ou de indiciar diretamente os investigados. Mas podem recomendar ao Ministério Público que indicie os envolvidos e apresentar suas conclusões à Polícia Federal. De acordo com o estudo, 42% das CPIs analisadas enviaram sugestões de indiciamento aos promotores e procuradores. Esse índice de recomendação chega a 75% nas comissões formadas por deputados e senadores (mistas).

“Não compete às CPIs a responsabilização dos envolvidos. Com base nessa percepção e nos resultados finais das análises dos relatórios, nos parece inexata a opinião bastante difundida no caso brasileiro de que as comissões parlamentares de inquérito ‘acabam em pizza’”, afirmam os autores do estudo.

Lucas e Danilo examinaram os relatórios das 43 CPIs instaladas na Câmara, no Senado e no Congresso (mistas) entre 1999 e 2010. O maior mérito delas, segundo os pesquisadores, não está nos pedidos de indiciamento, mas na produção legislativa: 75% das comissões parlamentares de inquérito que funcionaram nesse período propuseram alguma mudança na legislação. Todas as CPIs mistas e do Senado em atividade nos 11 anos estudados apresentaram sugestões legislativas.

Criada em 1999 no Senado, a CPI do Judiciário, por exemplo, elaborou projeto de lei que definia os crimes de responsabilidade de magistrados dos Tribunais Superiores Regionais e Federais, bem como, juízes federais, desembargadores e membros do Ministério Público, passíveis de julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF). Já a CPI mista dos Cartões Corporativos propôs a normatização do uso dos cartões, limitando-os ao suprimento de fundos e estabelecendo a publicidade dos respectivos extratos bancários, destacam os pesquisadores.

No texto, os autores dizem que uma maneira eficaz de mensurar o desempenho de uma CPI é por meio do teor de seu relatório final. Eles extraíram conclusões a partir de três tipos de encaminhamento do trabalho final: instituições acionadas pelas CPIs; grau de conclusões de responsabilização criminal e civil, e desempenho propriamente legislativo (apresentação de projetos de lei relativos aos temas investigados).

Confira a tabela com o registro de acionamento de instituições movido pelos relatórios finais de todas as CPIs analisadas no período acima mencionado:


Instituição/Casa Câmara (29) Mista (7) Senado (7) Total (43)
Legislativo 80% 100% 57% 79%
Judiciário 45% 72% 29% 47%
Executivo 97% 85% 72% 91%
Min. Público 86% 85% 85% 86%
Polícia Federal 52% 72% 57% 56%
TCU 49% 43% 72% 51%
CGU 3,5% 43% 29% 14%

Com base nos registros oficiais, Lucas e Danilo constatam que a proposição de projetos de lei ou sugestões de alteração de legislação são os resultados mais frequentes das CPIs, com 75% das orientações dos relatórios (índice de 100% nas mistas e nas do Senado), como registra a tabela abaixo.

Instituição/Casa Câmara (29) Mista (7) Senado (7) Total (43)
Indiciamentos 35% 72% 43% 42% (18)
Projetos/alterações 62% 100% 100% 75% (32)
Sugestão de comissão especial 10% 29% 29% 16% (7)

Os pesquisadores apontam algumas das incompreensões sobre os trabalhos das CPIs. Uma das mais recorrentes, destacam, é a limitação constitucional do poder de investigar garantido aos parlamentares. Mesmo usufruindo de poderes investigatórios de autoridades judiciais, o inquérito instaurado pelo Legislativo não é de caráter judicial nem administrativo, mas sim político-legislativo. “As CPIs, por sua natureza completamente investigatória, não têm atribuição constitucional de julgar ou impor penas. No marco jurídico nacional, essas devem produzir relatórios finais com recomendações e encaminhamentos às outras instituições para a responsabilização civil ou criminal dos envolvidos".

Depois que a CPI aprova seu relatório final, as responsabilidades passam a ser distribuídas. O relatório deve ser apresentado à Mesa Diretora da respectiva Casa e encaminhado aos órgãos de controle e fiscalização do Executivo e ao Ministério Público. O texto pode incluir resoluções, projetos de lei, indiciamentos, encaminhamento e recomendações aos outros poderes. O encaminhamento das questões legislativas cabe, então, ao Senado e à Câmara. Já a responsabilização criminal ou civil dos infratores precisa ser providenciada pelo Ministério Público.

No primeiro ano desta legislatura (2011-2014), o Senado instalou duas CPIs – a que investiga irregularidades no Escritório Central de Arrecadação e Distribuição – Ecad (confira) e a que versa sobre tráfico nacional e internacional de pessoas no Brasil (saiba mais). As duas ainda estão em andamento.

Na Câmara, apenas uma CPI começou a tramitar este ano: protocolada com 206 assinaturas no penúltimo dia de trabalhos, 21 de dezembro, a chamada “CPI da Privataria” só será instalada, com as devidas definições de presidente e relator, depois do recesso parlamentar. De autoria do deputado Protógenes Queiroz (PCdoB-SP), a CPI da Privataria se prestará a investigar a denúncia de pagamento de propina e lavagem de dinheiro durante as privatizações da década de 1990, operadas no governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB). As acusações estão no livro A privataria tucana, do jornalista Amaury Ribeiro Júnior (leia entrevista exclusiva com o autor), que também aborda acusações sobre espionagem dentro do próprio PT.

Sites usam código escondido para encontrar câmeras roubadas na web

Quem teve sua câmara digital roubada pode ter boas chances de encontrá-la graças a serviços de rastreamento oferecidos na internet.

Dois sites oferecem o serviço, o britânico stolencamerafinder e o americano CameraTrace. Ambos se aproveitam de um código embedado nas fotos tiradas por câmaras digitais - ou pelo menos pela grande maioria delas. Esse código, conhecido como EXIF data, traz informações como marca, modelo e número de série da máquina. Os sites são capazes de rastrear fotos tiradas pelas câmeras roubadas que foram postadas na internet, seja onde for - em sites como Facebook ou Flickr, por exemplo. Quando fotos tiradas com máquinas roubadas são detectadas, o cliente recebe os detalhes e pode acionar a polícia.

Foi assim que o fotógrafo americano John Heller, da Getty Images, conseguiu recuperar seu equipamento digital, avaliado em US$ 9 mil, roubado em um centro cultural em Hollywood, em 2010. Quase um ano depois do roubo, Heller, através do CameraTrace, encontrou fotos tiradas com sua câmera, uma Nikon D3, que tinham sido postadas no Flickr.  Com ajuda da polícia, descobriu-se que as imagens foram postadas por outro fotógrafo profissional, que tinha comprado a máquina no eBay, sem saber que era roubada, e Heller conseguiu recuperar sua câmera.

História semelhante é a de Kevin Hayes, contada pelo jornal australiano Sidney Herald, que teve sua câmera roubada, uma Canon EOS 5D, quando passeava pelas ruas em Melbourne.  Ele soube do site stolencamerafinder através da dica de um internauta. Com uma foto antiga tirada com a câmara roubada foi possível fazer o registro e iniciar a busca, que acabou encontrando outras fotos tiradas com a mesma máquina em uma conta no Flickr, de um tatuador em Sydney.  As informações foram encaminhadas para polícia australiana, e Hayes recuperou a câmera.

 Fotógrafo John Heller recuperou sua câmera um ano depois dela ter sido roubada - (Foto: BBC Brasil).

Imigrantes em "paraísos do desenvolvimento" destacam o que falta ao Brasil

Enquanto o Brasil se prepara para avançar mais uma posição no ranking das economias, mas ainda enfrenta mazelas típicas de países subdesenvolvidos, imigrantes brasileiros que vivem nos países com os mais altos índices de desenvolvimento destacam as diferenças entre os dois mundos.

Leonardo Dória vive há 10 anos na Noruega, país que lidera o ranking elaborado a partir do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). Calculado em 187 países, o IDH foi introduzido numa tentativa de desviar o foco do desenvolvimento puramente econômico, medido pelo Produto Interno Bruno (PIB), passando a explorar também outros indicadores como expectativa de vida, média de anos de estudo, acesso à saúde e distribuição de renda.

Com nota 0,943, a Noruega fica perto da nota máxima 1, seguida pela Austrália (0,929) e pela Holanda (0,910). Esses países fazem parte de um grupo de 47 com desenvolvimento considerado muito alto. O Brasil está no grupo imediatamente inferior, na 84ª posição, e com nota 0,718.

"O petróleo gera muita riqueza para a Noruega", diz Doria à BBC Brasil, destacando que essa riqueza é distribuída de forma "justa e igualitária". [Ver postagem sobre como o petróleo gera recursos para a Noruega e como eles são utilizados pelo país].

Uma forma de medir isso e comparar com o Brasil toma por base o coeficiente de Gini, que mede a concentração de renda em um país. A Noruega tem um coeficiente de 25,8, que indica uma das melhores distribuições de renda do mundo. O do Brasil, de 53,9, põe os país entre os 10 piores do mundo no quesito, segundo a ONU.

Salários compensadores

O baiano Alessandro Mendes, também morador de Oslo, diz que ainda está se adaptando ao país. Ele chegou à Noruega a passeio, após visitar a irmã na Alemanha. "Eu dei sorte. Vim a convite da minha atual esposa e acabei encontrando um trabalho", conta. Em 2008, no auge da crise financeira, ele perdeu o emprego. "Meu filho tinha acabado de nascer e foi um baque pra gente." Ele aproveitou os 12 meses de licença maternidade remunerada da esposa e voltou para o Brasil por cinco meses, para colocar a cabeça no lugar.

Acabou retornando a Oslo e encontrando emprego como subgerente de uma rede de supermercados, mas anda decepcionado com o país. "O custo de vida aqui é muito alto, eu tenho de pagar o equivalente a cerca de R$ 600 por mês pela creche da minha filha", diz, ao explicar que já pensou em fazer bicos como guia de turismo para aumentar a renda familiar.


Doria, que, além de trabalhar como geógrafo, tem um site com dicas sobre a Noruega, concorda que o custo de vida no país seja alto. "Mas os salários compensam e, tudo o que você paga, está relacionado à sua renda anual", disse, citando a educação e a saúde, calculadas com base nos rendimentos de cada trabalhador, de modo a não pesar no bolso dos mais pobres e manter a igualdade de oportunidades.

Filhos poliglotas

Na Holanda, terceira colocada no último ranking do IDH, o sistema é parecido. Para ter acesso a médicos e hospitais públicos, o cidadão precisa ter um plano de saúde cujo valor é calculado com base na renda.  "Eu pago 500 euros mensais para mim, para minha mulher e para os meus três filhos", diz o músico paulista Alaor Soares, que mora na cidade holandesa de Vleutten desde 1992. "E meu filho acabou de começar o ano letivo e eu tive apenas que comprar um computador para ele usar durante as aulas, o resto é gratuito", acrescentou.


Na mesma escola, os três filhos de Alaor aprendem francês e alemão. Além disso, já falam português, holandês e inglês, que aprenderam em casa.
"Aqui, a escola é pública e todo mundo usa, até a filha da princesa", diz Marcia Curvo, engrossando o coro. Há 12 anos na Holanda, a goiana fala com orgulho do país que adotou para viver. "Eu pago imposto e tenho retorno. Amanhã, se eu ficar inválida, eu vou ter tudo: tratamento, assistente social, moradia. Eu não vou ficar jogada no meio da rua". 

Futuros planejados

Além do alto nível das infraestruturas e dos serviços nesses países, poder planejar o futuro é outra vantagem citada por brasileiros. "A gente tem estabilidade, pode pensar em comprar uma casa, um carro, o governo ajuda, se for preciso", afirma Eliane Braz, que mora em Toulouse, no sul da França, país que ocupa a 20ª posição no ranking de IDH.


"Saber que é possível fazer planos com segurança e que esses planos darão certo se você fizer a sua parte é uma das maiores vantagens de se morar na Noruega", diz Leonardo Doria, que gostaria que o Brasil tivesse essa qualidade. Ele também adoraria que o país onde nasceu tivesse uma cidadania mais madura. "Eu gostaria que os brasileiros tivessem essa consciência dos noruegueses", diz o carioca. "Aqui, as pessoas se envolvem com as questões sociais, elas sabem que têm direitos e deveres, e cobram isso dos políticos".


Já Alessandro Moraes adoraria que políticos brasileiros fossem como os noruegueses, que "recebem salários discretos e sem auxílios extras".



Leonardo Doria destaca possibilidade de fazer planos de longo prazo na Noruega - (Foto: BBC Brasil).

O músico brasileiro Alaor Silva elogia os benefícios oferecidos pelo governo da Holanda - (Foto: Arquivo pessoal).

  

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Britânicos no Brasil preveem caminho difícil para país alcançar Grã-Bretanha

Para os britânicos Rob Murray e John Milton, que fazem parte de um grupo crescente de estrangeiros vivendo no país, o Brasil terá de percorrer um caminho difícil, porém não impossível para atingir o nível de desenvolvimento da Grã-Bretanha em duas décadas, como previu o ministro da Fazenda Guido Mantega[Mais uma vez a BBC mistura as bolas e confunde Grã-Bretanha com Reino Unido!...] . O comentário de Mantega foi feito no contexto de projeções recentes que indicam que o Brasil pode ultrapassar, já em 2011, a Grã-Bretanha [leia-se Reino Unido] como 6ª maior economia do mundo.

Há cinco anos no Rio de Janeiro, o escocês Rob Murray recomenda que o Brasil combata dois de seus maiores problemas, se quiser alcançar os britânicos em outros indicadores. "É preciso acabar com a corrupção e diminuir a desigualdade de renda, investindo em educação", afirma o escocês, em entrevista à BBC Brasil. "Vai ser um grande desafio, mas, em 20 anos, as coisas podem mudar".

Adaptado ao país, Murray, que trabalha como engenheiro de uma grande multinacional do petróleo, sabe que não tem o mesmo estilo de vida de um brasileiro médio, fadado a encarar serviços públicos muito diferentes dos oferecidos na Grã-Bretanha. "Eu acho que a minha vida é muito boa no Rio. Eu gosto de morar aqui porque tenho dinheiro, mas se não tivesse, seria muito diferente", diz, explicando que os problemas sociais não afetam diretamente a sua vida.

Custo de vida exorbitante


Uma das coisas que mais o impressionam são os preços dos produtos e serviços nas grandes cidades brasileiras. "O custo de vida aqui representa o dobro do que eu gastaria vivendo em qualquer cidade do Reino Unido que não fosse Londres", afirma. "Os restaurantes são caros, o acesso à tecnologia é caro, os produtos importados são caros". Para ele, quem sai perdendo com o alto custo dos importados é a população mais pobre. "É muito difícil ter acesso a produtos tecnológicos no Brasil, por exemplo", explica Rob, lembrando a polêmica em torno do preço do último lançamento da Apple no país. "Você já viu quanto custa um iPhone aqui?".

Segundo a consultoria Mercer, o Rio de Janeiro subiu 17 posições no ranking de custo de vida e é hoje a 12ª cidade mais cara do mundo. São Paulo é a 10ª mais cara.

Serviços ruins e impostos altos

O inglês John Milton também se diz impressionado com os gastos na cidade, mas se diz otimista. Seu choque com o alto custo de vida aconteceu logo que chegou ao Brasil há um ano. Sua mulher, que é brasileira, estava grávida e as despesas não foram poucas. "Gastamos muito dinheiro com médicos, hospitais, etc. Quando você vem de um país desenvolvido, vê que as coisas aqui são muito diferentes. Na Inglaterra, eu tinha saúde e educação públicas de qualidade e gratuitas", conta Milton.  Para o inglês, que é professor, a experiência o fez comprovar as diferenças entre o Brasil e um país com alto índice de bem estar social mesmo antes mesmo de seu filho nascer.

Os impostos altos no Brasil também o deixaram impressionado. "Na Inglaterra, a carga tributária deve ser quase a mesma do Brasil. No entanto, lá pagamos impostos e sabemos que o dinheiro é utilizado para melhorar educação, saúde, etc. No Brasil é diferente".  Apesar dos problemas, Milton decidiu que seu filho crescerá no Rio de Janeiro. "Aqui, no geral, a qualidade de vida é melhor, o clima é mais agradável. Meu filho vai poder frequentar a praia, praticar um esporte ao ar livre".

Murray também não pensa em deixar a cidade que adotou para viver. Nem a famosa violência do Rio de Janeiro parece ser um problema para o escocês. "As pessoas falam bastante sobre isso, mas nunca vi nada. Gosto muito de viver no Brasil".

Segundo o Ministério da Justiça, há atualmente 1,466 milhão de estrangeiros vivendo no Brasil (dados até junho de 2011), um aumento de 50% em relação a dezembro de 2010.

Para Murray, Brasil precisar acabar com a corrupção e diminuir a desigualdade - (Foto: Arquivo pessoal).

John Milton decidiu que o filho crescerá no Rio: "Aqui o clima é mais agradável"- (Foto: Arquivo pessoal).



Pará apreende computadores e veículos do consórcio de Belo Monte

Após endurecer a fiscalização sobre a construção da hidrelétrica de Belo Monte, o governo do Pará apreendeu durante esta semana R$ 1,9 milhão em mercadorias compradas pelo empreendimento fora do Estado. Dentre elas estão veículos, computadores, ferramentas, cabos de aço, mangueiras industriais, maca hospitalar, luvas descartáveis, barras de ferro, tinta para impressora e até sacos para lixo.

As apreensões são em cumprimento à medida anunciada pelo governo de exigir que o CCBM (Consórcio Construtor de Belo Monte) faça ainda na divisa o pagamento do ICMS das mercadorias adquiridas fora do Pará --forma de pressionar a obra a comprar materiais no Estado, gerando receita.  Os objetos foram apreendidos porque ainda não houve o pagamento adiantado do imposto, disse o governo. Por causa disso, eles pagarão R$ 524.475 em multa, além de R$ 261.869 do valor normal do imposto que devem pagar.

Esse endurecimento ocorreu após a aquisição, pelo consórcio, de 118 caminhões da Mercedes-Benz em São Paulo, descumprindo acordo firmado com o Estado de comprá-los no Pará.  De acordo com a Secretaria da Fazenda, a cada R$ 100 gastos por Belo Monte na aquisição de materiais, R$ 72 foram em outros Estados. Entre os objetos apreendidos nesta semana, por exemplo, havia 29 veículos comprados em Minas Gerais e 150 computadores adquiridos em São Paulo.

A hidrelétrica está sendo construída desde junho no oeste do Pará. 

"É uma política deliberada do consórcio de privilegiar seus tradicionais fornecedores de seus Estados de origem", afirmou o secretário da Fazenda, José Tostes Neto. Ele ressaltou que a construção da hidrelétrica traz "impactos significativos" ao Estado e que os recursos gerados pelos impostos servirão para contorná-los.

O consórcio de Belo Monte informou que todos os impostos cobrados pelo governo estão sendo quitados no prazo legal.  "Em relação à política de aquisição de bens e serviços no Pará, o CCBM reitera que vem privilegiando fornecedores de bens e serviços com base no Estado, assim como a contratação de mão de obra local. Mas lembra que convive com a necessidade de adquirir produtos específicos que não são fabricados no Pará", informou.

Consórcio de Belo Monte perde incentivo fiscal


Computadores do consórcio de Belo Monte apreendidos pelo governo do Pará - (Foto: Divulgação/Secretaria da Fazenda do Pará).

Veículos do consórcio de Belo Monte apreendidos pelo governo do Pará - (Foto: Divulgação/Secretaria da Fazenda do Pará).

ANP anuncia terceira multa contra a Chevron

A ANP (Agência Nacional do Petróleo) autuou novamente a Chevron em razão do acidente do campo de Frade em novembro. Essa é a terceira sanção imposta à empresa pela agência reguladora desde o derramamento de óleo. Desta vez, a infração decorreu do descumprimento do plano de desenvolvimento do campo que envolve a perfuração do poço, que sofreu uma ruptura e permitiu o vazamento de petróleo por fissuras no fundo do mar. O valor da multa não foi estipulado ainda, segundo a ANP.

O plano de desenvolvimento do campo havia sido aprovado pela agência, que não detalhou, porém, em qual ponto a empresa não cumpriu com o previsto. 

As outras duas autuações foram referentes ao descumprimento do plano de abandono do poço após o acidente e à omissão de informações à ANP.  Nestes dois casos, as multas, somadas, podem chegar a R$ 100 milhões. Mas os valores ainda estão sendo definidos pela agência.

A Chevron também já foi multada em R$ 50 milhões pelo Ibama pelo vazamento, mas a companhia recorreu. Foi autuada ainda em mais R$ 10 milhões pelo órgão ambiental por falhas no plano de emergência. 

Por meio de sua assessoria, a empresa disse que analisará as "alegações" citadas na notificação da ANP e responderá dentro do prazo. "A empresa está confiante em que sempre agiu de maneira diligente e apropriada, de acordo com as melhores práticas da indústria do petróleo e no âmbito do plano de desenvolvimento aprovado pela ANP", disse a assessoria.

[É só impressão minha, ou esse jeito de autuar da ANP cheira mesmo a improviso, p'ra fazer teatro para o grande público? Ela multa, mas não diz em quanto (já são três as multas da ANP -- que processo complicado é esse p'ra calcular os valores dessas penalidades?!); ela aprova o plano de desenvolvimento do campo e não detalha em que ponto(s) a Chevron o descumpriu! Que agência reguladora estranha, essa!]

Mancha de óleo no litoral do Rio, em novembro, causada pelo vazamento do poço da Chevron - (Foto: Folha de S. Paulo).

Classe média italiana perdeu 40% do poder de consumo em 10 anos do euro

A classe média na Itália perdeu 39,7% do poder de compra nos últimos dez anos, época de vigência do euro, segundo a Organização de Defesa do Consumidor da Itália (Codacons). De acordo com um estudo do órgão, as famílias italianas de quatro pessoas foram atingidas na última década pelo aumento dos preços, dos impostos, pelo aumento nos preços dos aluguéis e do combustível e pelas manobras econômicas. Essas famílias, segundo a Codacons, perderam entre janeiro de 2002 e janeiro de 2012 cerca de 10.850 euros (R$ 24.219).

Entre os produtos que mais sofreram com a alta dos preços estão a caneta esferográfica (207,7%), o sanduíche (198,7%), o sorvete (159,7%) os pacotes de café de 250 gramas (136,5%), os bolinhos (123,9%), o quilo de biscoitos (113,3%) e a aposta mínima na loteria (92,3%). [Tirando o sorvete e o café, nos quais os italianos são craques e os consomem muito, o resto pode ser considerado supérfluo ...]

Na avaliação da organização, o fenômeno foi "um verdadeiro massacre para os bolsos das famílias italianas". "A Codacons foi a primeira associação que, em janeiro de 2002, quando foi introduzido o euro, denunciou os aumentos selvagens e a mudança para as especulações", afirmou o presidente da entidade, Carlo Rienzi. Ele ainda assinalou que, atualmente, os comerciantes são as "primeiras vítimas dessa política suicida".

Pré-sal pode trazer para o Brasil a "doença holandesa"

Vale muito a pena ler esse interessantíssimo artigo da revista Piauí que está nas bancas (n° 63), que transcrevo parcialmente a seguir.


A prospecção, transporte, refino e venda do petróleo que se encontra na camada do pré-sal significam muito mais que a continuação mecânica do trabalho em águas profundas, que a Petrobras conhece bem. O óleo bruto agora se encontra abaixo de 2 mil metros de água e de outros 5 mil de rocha, em média. Essa imensa fronteira energética exigirá a montagem de equipes de centenas de pessoas ainda não treinadas, tecnologias há pouco inventadas, equipamentos desconhecidos e toda uma infraestrutura marítima inexistente.

O americano Norman Gall, diretor-executivo do Instituto Fernand Braudel de Economia Mundial, de São Paulo, levantou os dados e chegou à seguinte conclusão: nos próximos anos, o Brasil deverá gastar 1 trilhão de dólares em custos operacionais para retirar petróleo do pré-sal. A soma equivale a quase metade do Produto Interno Bruto nacional do ano passado. Para suprir essas carências, a Petrobras anunciou investimentos de 224 bilhões de dólares para o período 2010-2014. O Brasil é hoje o maior mercado do mundo para bens e serviços no setor, sendo a Petrobras o maior cliente individual. Torres, navios, portos, bombas de sucção, computadores, fábricas de maquinário, a formação de milhares de doutores em dezenas de áreas – tudo ainda está por fazer.

“Desde a primeira descoberta, sempre tratamos o petróleo como problema”, disse Øystein Kristiansen na sede da Diretoria Norueguesa de Petróleo, na cidade de Stavanger. Alto e simpático, Kristiansen trabalha há mais de vinte anos na Diretoria, que é o equivalente norueguês à Agência Nacional do Petróleo no Brasil: o órgão regulador do setor. Ela está instalada em dois edifícios baixos e ecologicamente sustentáveis ligados por passagens cobertas, uma vez que chove ou neva mais de 200 dias por ano na cidade. Stavanger, um porto pesqueiro até o início dos anos 70, em questão de décadas virou um polo da indústria naval de plataformas de petróleo.

Øystein Kristiansen é diretor de projetos internacionais da Diretoria Norueguesa de Petróleo. Começou a aprender português porque uma de suas funções é assessorar o governo de Moçambique, que em outubro anunciou a descoberta de expressivas reservas de gás em alto-mar. Sabe dizer “bom-dia”, “obrigado” e algumas outras palavras que, por enquanto, ainda soam como norueguês a ouvidos brasileiros.

Seu objetivo é ajudar Moçambique a escapar da “doença holandesa”. Criada pela revista The Economist, em 1977, a expressão se refere ao súbito desequilíbrio, e piora geral, de uma economia nacional quando ela é beneficiada pela descoberta de um recurso natural valioso. O nome vem do processo aberto pela descoberta, em 1959, de enormes campos de gás na Holanda, que no curto prazo causou dificuldades.

As consequências da riqueza súbita em um país despreparado costumam ser nefastas. A repentina entrada de fundos estrangeiros provoca, na regra, a supervalorização da moeda local, causando inflação e sufocando o desenvolvimento de outros setores da economia. Há o risco do que os economistas chamam de desindustrialização. Como se não bastasse, os novos investimentos favorecem a corrupção e estimulam a cobiça nos grupos dominantes, o que pode levar a disputas que no limite transformam-se em guerra civil.

No caso da Holanda, a exportação de gás supervalorizou a moeda, diminuindo a competitividade da indústria local, que começou a encolher. Houve queda significativa nas exportações, que levaram dez anos para voltar a crescer. Como o país já possuía uma base industrial, um setor de exportações robusto e marcos institucionais sólidos, a economia se recuperou do choque e a Holanda, ironicamente, tornou-se um dos poucos países a não sucumbir à doença holandesa. Mesmo assim, o nome pegou. E a doença se manifestou no Oriente Médio e na África.

A Noruega, com reservas de petróleo e gás maiores que as da Holanda, escapou da maldição. E mais: virou local de peregrinação para todos os países que descobriram gás e petróleo na quadra final do século XX. Confrontados com uma repentina fartura de recursos naturais, é comum que muitos desses governantes agora falem em adotar o “modelo norueguês”.  Para Øystein Kristiansen, tal modelo não existe. O que existe é uma abordagem norueguesa, adaptada às circunstâncias ao longo dos anos, que se baseia numa ideia surpreendente: descobrir petróleo é uma roubada.

Foi Farouk al-Kasim, um geólogo iraquiano, o principal responsável por implantar a ideia na cabeça dos noruegueses. Ele não gosta de revelar a idade exata, mas tem mais de 70 e parece dez anos mais novo. Considerado o homem que salvou a Noruega da doença holandesa, Farouk – os colegas escandinavos o chamam sempre pelo primeiro nome – teve papel decisivo na formulação da política norueguesa de gestão de recursos petrolíferos.

O Iraque é um exemplo extremo da moléstia [a "doença holandesa"]: jamais conseguiu desenvolver outros setores da economia, teve no governo corrupção, desmandos e cobiça, e viu explodirem revoluções, golpes e contragolpes ao longo de toda a sua história. A riqueza proporcionada pelo petróleo facilitou a ascensão, em 1979, de Saddam Hussein, que a empregou para massacrar a oposição, desorganizar a sociedade, incitar disputas sectárias, provocar guerras com os vizinhos e erguer palácios dignos de inimigo de James Bond.

A invasão americana em 2003 foi o capítulo mais recente das agruras sofridas pelo Iraque desde as primeiras descobertas de petróleo, nos anos 20 do século passado. Vivendo em cima de uma das maiores reservas do mundo, os iraquianos mal têm energia elétrica, quanto mais hospitais, escolas, segurança e democracia estável.

Exemplo mais próximo do Brasil, a Venezuela também garantiu vaga no ambulatório de doentes holandeses. As estimativas de reservas comprovadasvariam enormemente, mas qualquer lista sempre dá pódio aos venezuelanos. Segundo a Opep, por exemplo, a Venezuela, com 296 bilhões de barris, ocupa o primeiro lugar, à frente da Arábia Saudita. Já a CIA coloca os sauditas em primeiro, com 262 bilhões, e os venezuelanos em segundo, com 221 bilhões. Como termo de comparação, o Brasil tem hoje reservas comprovadas de 15 bilhões de barris, e as estimativas mais otimistas para o pré-sal chegam a 70 bilhões.

No ano passado, a produção industrial brasileira cresceu cerca de 10%, enquanto a da Venezuela diminuiu 3% – ou seja, o país está sofrendo desindustrialização, sintoma clássico de doença holandesa. Outro indício exemplar é a inflação, que lá chegou a 28% no ano passado. O rodízio do poder também anda abalado: na Presidência desde 1999, Hugo Chávez disse recentemente que pretende ficar no cargo até 2030.

“A Noruega em 1968 era um país pobre”, disse Marit Engebretsen, diretora-geral de Clima, Indústria e Tecnologia do Ministério do Petróleo e Energia, com sede em Oslo. “Ainda sentíamos os efeitos da ocupação nazista e nossa economia era muito básica, com apenas um setor de relevância internacional: o naval.” A indústria da pesca era praticamente só para consumo interno e o turismo internacional, inexistente. Mesmo hoje, com 5 milhões de pessoas, a Noruega tem menos gente do que a cidade do Rio. Há quarenta anos, tinha apenas 3,8 milhões.

Até o início dos anos 60, disse Hans Borge [diretor do Departamento de Tecnologia do Petróleo da Noruega], havia muitos noruegueses morando em barracas de acampamento porque não havia casas para todo mundo: “Nada foi construído e muito foi destruído em bombardeios durante a guerra. O país não tinha dinheiro para a reconstrução. Com o baby boom do pós-guerra, o déficit habitacional aumentou.” Quando Farouk teve seu primeiro encontro com os três colegas no Ministério da Indústria, a situação melhorara e todos tinham onde morar, mas ainda era bem presente a lembrança dos anos difíceis.

Desde o início, Farouk insistia que era indispensável e urgente criar uma agência reguladora. A essa altura, já fora autorizado a contratar e treinar um pequeno grupo de pessoas, para o caso de se realizarem suas previsões de riqueza petrolífera. Em 1973, mudou-se de Oslo para Stavanger e virou diretor de Gestão de Recursos da recém-nascida agência reguladora, cargo que ocupou por quase duas décadas. Øystein Kristiansen é uma de suas crias. Outras trabalham na Norad, a Agência Norueguesa de Cooperação para o Desenvolvimento. Na DNP, elas levam adiante o modelo Farouk de gestão de recursos para a Noruega; na Norad ajudam a exportar o modelo para outros países.

Segundo Farouk, a fórmula é a seguinte: “O governo deve se concentrar em estabelecer as políticas para o setor: administração, planejamento estratégico, legislação, essas coisas. Fora isso, é necessário ter uma agência reguladora que seja competente não apenas em leis e regulações, mas em tecnologia, para tratar com as petroleiras de igual para igual. É preciso que o regulador seja respeitado por todos, esteja livre de pressões políticas, do lobby da indústria e, o que é muito importante, da influência da companhia nacional de petróleo, que tende a se tornar poderosa demais e a formar um governo dentro do governo.” Outro conselho: é importante não ir com muita sede ao pote. Farouk recomenda “extrair o petróleo com calma, para dar tempo de a economia se ajustar”.

A exploração de petróleo na Noruega funciona pelo regime de concessão de licenças, como no Brasil antes do pré-sal. A diferença é que as petroleiras não competem em leilão pelos blocos destinados à exploração. Também não há bônus de assinatura nem royalties. Marit Engebretsen, do Ministério do Petróleo e Energia, explicou: “Não há dinheiro envolvido no processo de licenciamento. Os vencedores são escolhidos em função de sua solidez financeira e da experiência e capacidade técnica para atuar no tipo específico de exploração exigido por determinado bloco.” Há outro ponto crucial – se a empresa tiver um histórico de contratação de bens e serviços no país, aumentam suas chances de ganhar a licença.

A receita do petróleo chega ao governo de três formas principais: uma alíquota de 78% sobre o lucro das petroleiras; dividendos da Statoil, gigante do setor que tem o Estado como acionista majoritário; e o lucro do SDFI (State’s Direct Financial Interest), um fundo de participação do Estado. Através do SDFI, o governo investe diretamente em alguns projetos de exploração. O lucro obtido é administrado por uma empresa 100% estatal, a Petoro.

Uma vez licenciada, a empresa que investir em pesquisa e treinamento na Noruega pode abater a despesa do imposto devido. Como a taxação é alta, muitos fornecedores de bens e serviços, como as americanas Schlumberger e Halliburton, preferiram montar laboratórios na Noruega, a maioria deles em Stavanger. Eles trabalham em parceria com universidades e centros de pesquisa financiados pelo governo, que investe bastante no setor. O know-how gerado internamente é exportado para todo o mundo.

Farouk gosta de usar um triângulo para ilustrar seu modelo de gestão de recursos naturais. Governo, companhias de petróleo e sociedade são as três pontas. “É importante entender que as companhias de petróleo não são mal-intencionadas nem chegam para roubar a riqueza da nação”, disse. “Querem ganhar dinheiro, claro, e têm esse direito, mas vão também contribuir para o crescimento da economia. Os acordos têm de ser feitos pensando na criação de valor para todos os interessados".

Se o governo é o único favorecido, não atrai as melhores empresas, condição fundamental para o bom aproveitamento dos recursos e para garantir a transferência de tecnologia de ponta. Se as vantagens se acumulam todas do lado das empresas, a consequência será a doença holandesa. “O país e a sociedade só se beneficiam se as companhias de petróleo também estiverem lucrando”, explicou Farouk. “Já o contrário não é verdadeiro: é perfeitamente possível as petroleiras ganharem dinheiro sem que a população veja um centavo".

Nos primeiros anos de exploração do petróleo, a Noruega decidiu que todo o ganho seria reinvestido no setor sob a forma de subsídios à pesquisa, de treinamento de mão de obra, melhoria da infraestrutura e pagamento da dívida externa. Em 1996, quitada a dívida, o governo passou a colocar toda a receita líquida do petróleo num fundo soberano, chamado Fundo de Pensão Público Global. Esse fundo tem hoje o equivalente a 100 mil dólares para cada homem, mulher e criança noruegueses. O objetivo é garantir o padrão de vida da população quando o petróleo acabar. A produção já está caindo, apesar da descoberta recente de um grande reservatório e do crescimento da produção de gás. Mesmo assim, a Noruega se prepara para o fim da era do petróleo. A matriz energética já é quase 100% hidrelétrica.

O Estado só pode utilizar 4% do ganho financeiro do fundo, mesmo que no ano o ganho tenha sido maior. Assim, em tempos de vacas magras, como na crise mundial de 2008, o governo tem como tapar buracos no orçamento. Quando as vacas voltam a engordar, o bolo fica lá, crescendo. Como a Noruega não é uma federação e esses 4% entram a título de orçamento do Estado, as regiões não têm como brigar por uma fatia maior do bolo. Não há também desigualdade extrema de renda, nem entre regiões, nem entre classes sociais, nem entre zona rural e zona urbana. Os 10% mais ricos detêm 20% da riqueza nacional. No Brasil, os 10% mais ricos ficam com 75% da riqueza.

Outro elemento importante, e pelo qual Farouk é em grande parte responsável, é o alto nível de recuperação de óleo nos campos da Noruega”, disse Martin Sandbu, do Financial Times. A maior parte do petróleo encontrada no mundo nunca chega a ser produzida. Cerca de 75% ficam, literalmente, no fundo do poço. Marit Engebretsen, do Ministério do Petróleo e Energia, concorda com Sandbu a propósito de Farouk: “Ele instituiu a cultura da última gota, que prevalece até hoje, mais de dez anos depois de ele ter deixado o governo.” A taxa de recuperação na Noruega se mantém entre 45% e 50%.

Aos 55 anos, Farouk achou que era hora de tentar a vida fora do governo. Com alguns sócios, fundou uma empresa de engenharia de reservatório. “Eu não tinha um tostão, naturalmente, mas tinha muitas ideias”, explicou. “Eles me deram ações da companhia, que foi vendida em 1995. Hoje tenho um padrão de vida confortável. Não preciso me preocupar com o meu futuro nem com o dos meus filhos".

Isso permite que Farouk se dedique à outra empresa de consultoria que fundou, a Petroteam. Esta, numa continuação da missão que escolheu aos 32 anos, ajuda outros países a administrar seus recursos petrolíferos. E o projeto do coração de Farouk é uma fundação criada pelo governo para transferir conhecimento e treinar técnicos do setor energético em outros países. Duas vezes por ano, essa fundação recebe em Stavanger quarenta alunos para um curso de gestão de recursos com duração de oito semanas. O grupo de 2011 incluiu alunos de 24 países. Há engenheiros, geólogos, economistas, contadores, advogados, todos funcionários públicos em seu país ou vinculados às companhias nacionais de petróleo. A fundação também dá cursos e consultorias in loco. A ideia é treinar quadros técnicos que no futuro possam ter uma atuação-chave no desenvolvimento das políticas nacionais. Mais de 13 mil pessoas passaram pelos programas.

Em 2004, logo após a invasão americana, Farouk foi chamado pelo governo em formação para preparar um projeto de lei para o setor petrolífero do Iraque. Mas constatou que os iraquianos “não conseguem se entender para aprovar qualquer legislação. O país é governado por grupos mafiosos que só se preocupam em defender os próprios interesses. Me disseram que as coisas estão melhorando, e eu espero que seja verdade, mas desisti de tentar ajudar”.

Questões de 2011: streaming

O texto abaixo é da autoria de Tatiana de Mello Dias e foi publicado em 28/12 no blogue Link do jornal O Estado de S. Paulo.

O streaming se firmou em 2011 como uma tendência forte no consumo de cultura digital. Fora do País, grandes empresas como Spotify e Netflix mostraram que o modelo é uma forma viável e lucrativa de distribuir conteúdo online. Por aqui, porém, o mercado ainda engatinha. Nós analisamos em abril alguns modelos de streaming disponíveis no País e no mundo.

2011 marcou a entrada de três grandes empresas no ramo. A Amazon foi a primeira, com o seu Cloud Drive. O Google apresentou o esperado Music, em versão beta, durante a conferência I/O, em maio. Por causa do entrave de direitos autorais, o serviço só saiu da versão beta em novembro, quando foi oficialmente lançado nos EUA.

A Apple também entrou no ramo. A empresa lançou em junho o iCloud, ferramenta de armazenamento de arquivos na nuvem que permite que se acessem suas músicas em diferentes dispositivos. Na última aparição pública de Steve Jobs, a Apple mostrou que queria ser o centro da vida digital.

2011 também foi um grande ano para o Spotify. Sucesso na Europa, o site de streaming de músicas fechou parceria com o Facebook e conseguiu chegar aos EUA. Outro serviço que expandiu foi o Netflix, de filmes, que começou a operar no Brasil em setembro. A Amazon também chegou ao País em dezembro.

A variedade de serviços, porém, gera um problema: consumo de banda. O colunista do NY Times, David Pogue, alertou: junto com a tendência do streaming, há a tendência da limitação de dados. “Estou falando da nova era de limitação da quantidade de dados na internet. Todas essas tendências consomem quantidades enormes de banda. Toda essa atividade de upload e download, toda essa sincronização, toda essa computação em nuvem supõe que se tenha uma conexão de internet com enorme capacidade e velocidade”, escreveu ele em junho.

Outra questão envolvendo o streaming são os direitos autorais. Nesse sentido, 2011 foi um péssimo ano para o Grooveshark. O site foi processado pela Universal . A gravadora pede US$ 150 mil de indenização para cada música que, segundo ela, foi distribuída ilegalmente. Se condenado, o Grooveshark poderá ser obrigado a fechar. A multa inviabilizaria o funcionamento do site – no total, eles teriam de pagar US$ 15 bilhões.

O GPS da China

A China deu mais um passo nesta terça-feira, 27, para encerrar sua dependência de satélites norte-americanos para serviços de navegação e posicionamento, ao iniciar um teste operacional do sistema Beidou, desenvolvido naquele país.  Os chineses deram início a um projeto para eliminar sua dependência do Sistema de Posicionamento Global (GPS) norte-americano em 2000, quando colocaram dois satélites experimentais de posicionamento em órbita.  Ran Chengqi, porta-voz do novo sistema, disse a jornalistas que o Beidou -ou “Ursa Maior”- cobrirá a maior parte da região Ásia-Pacífico no ano que vem e, a partir de 2020, terá alcance mundial.

A China já lançou dez satélites para formar a rede Beidou, e planeja lançar outros seis no ano que vem, segundo ele. A imprensa estatal chinesa informou que o sistema futuramente envolverá 35 satélites, que serão utilizados por diversos setores, entre eles, pesca, meteorologia e telecomunicações.

A China tem planos espaciais ambiciosos, que incluem uma estação espacial e uma viagem tripulada à Lua. Embora os chineses tenham prometido não militarizar o espaço, especialistas dizem que as forças armadas do país estão ampliando o uso militar do espaço com os novos satélites.

A destruição de um antigo satélite por um míssil, em um teste bem sucedido realizado no começo de 2007, representou o desenvolvimento de novas capacidades para as forças armadas chinesas e, no ano passado, a China testou com sucesso uma nova tecnologia que permite destruir mísseis em voo.

Timeline do Facebook no iPad

O blog 9to5Mac, especializado em notícias da Apple, divulgou, nessa terça-feira, 27, que o Facebook deverá lançar uma nova versão para seu aplicativo para o tablet da Apple, permitindo assim que os usuários de iPad possam usufruir da nova interface da maior rede social do mundo.

O Facebook apresentou a Timeline, que muda completamente a cara do perfil do usuário, em setembro, mas o novo formato só começou a ser adotado a partir deste mês. “O aplicativo já foi adiado mais de uma vez, devido a problemas. Então não será uma surpresa se ele for adiado mais uma vez”, disse uma fonte do Facebook ao site, além de ressaltar que o app pode demorar para ser aprovado por conta da política de aplicativos da Apple.

Veja no vídeo como funciona a nova interface.


Protagonistas de 2011: piratas

O texto abaixo é da autoria de Tatiana de Mello Dias e foi publicado ontem no blogue Link do jornal O Estado de S. Paulo.

Sim, eles também protagonizaram 2011. Em um ano marcado pelo surgimento de uma dura lei antipirataria nos EUA, que pode significar “o fim da internet como conhecemos”, os piratas (organizados) ganharam força e estenderam suas bandeiras. O cerco à pirataria nunca esteve tão apertado. Em março, o Secretário de Comércio dos EUA, Gary Locke, se reuniu na sexta-feira passada, 18, com a ministra da Cultura, Ana de Hollanda, para discutir propriedade intelectual. As entidades internacionais queriam que o Brasil endurecesse a lei.

O Brasil é uma das prioridades da Federação Internacional da Indústria Fonográfica (IFPI, na sigal em inglês) no combate à pirataria. Javier Asensio, diretor da entidade para a América Latina, defendeu em entrevista ao Link ações mais rígidas por aqui. ‘Ser artista é algo que requer uma proteção’, declarou.

Nós mostramos em um infográfico onde está a pirataria no mundo.

Ao mesmo tempo, estudos apareceram para mostrar que quem consume pirataria, muitas vezes, só faz isso por não ter outra opção. Uma pesquisa do Social Science Research Council em parceria com o Centro de Tecnologia e Sociedade da Fundação Getúlio Vargas mostrou que a principal razão para a pirataria no mundo em desenvolvimento é econômica. “Basicamente, grandes multinacionais formulam preços para proteger mercados de alta renda. Eles preferem isso a expandir suas atividades em mercados de baixa renda como o do Brasil ou da África do Sul. E faz que eles virem piratas”, explicou o sociólogo norte-americano Joe Karaganis, que chefiou o estudo.

É o que diz o pessoal que criou o manifesto “Don’t make me steal”, ou “não me faça roubar”. Eles traçaram diretrizes básicas para a indústria do cinema oferecer seus produtos de maneira a estimular os consumidores a pagarem por conteúdo. “Pessoalmente quero pagar pelos filmes, já que essa é a única maneira de mostrar apoio e sustentar as pessoas que criaram aqueles trabalhos. É uma pena que ficou muito mais fácil piratear filmes do que obtê-los legalmente”, disse Pierre Spring, um dos fundadores do movimento, em entrevista ao Link.

Houve os que optaram diretamente pela via política. O ano marcou uma reorganização do Partido Pirata no Brasil. E, no final do ano, o Partido Pirata na Alemanha conseguiu uma eleição histórica – e com a ajuda de um brasileiro.

A pirataria também foi o tema de dois artistas – cada um na sua arte. “Se fazer download na internet é um crime, temos uma geração de criminosos”, disse Julio Secchin, 23 anos, cineasta que filmou o curta “Copyright Cops”. E artista Bia Bittencourt, 26 anos, foi além: recriou o clássico livro A História da Arte, de Ernst Gombrich, de forma pirata. Surgia “A história da arte pirateada”, obra digital e em papel financiada com crowdfunding com remix dos clássicos.

Mais velhos usam cada vez mais as redes sociais

Um levantamento da Comscore revelou que as redes sociais vão deixando de ser atividade de gente mais jovem. A pesquisa do instituto americano mostrou uma alta de 80% nos acessos de pessoas com 55 anos ou mais desde julho de 2010. É o maior índice de crescimento entre todos os grupos, diz o Comscore.  É claro que a faixa mais jovem, entre 15 e 24 anos, ainda representa o público mais engajado nesse tipo de atividade. A pesquisa diz que ele gastou em média de oito horas nas redes em outubro.

Seja como for, o mundo ficou ligado como nunca nas mídias sociais no ano que passou. De cada cinco minutos gastos online, um minuto foi em algum tipo de rede social. Os sites dedicados às redes agora atingem 82% da população mundial da internet com mais de 15 anos (o que dá 1,2 bilhão de usuários).

O Facebook é o fenômeno dentro do fenômeno. É acessado por 55% da audiência mundial da web. De cada sete minutos gastos online, um é na rede de Mark Zuckerberg.

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

NY Times envia email a milhões por engano

 

Cerca de oito milhões de pessoas receberam emails do jornal The New York Times na quarta-feira, oferecendo um desconto especial se reconsiderassem a decisão de cancelar suas assinaturas. A oferta deveria ter sido feita a apenas 300 pessoas que haviam decidido suspender a entrega residencial do jornal, mas por engano um funcionário do New York Times a enviou a mais de oito milhões de pessoas de uma lista de marketing.

O fiasco chamou a atenção de sites de mídia social como o Twitter e o Facebook, provocando o temor de que hackers pudessem ter invadido a rede de computadores do jornal para enviar spam.

Uma porta-voz do jornal disse que foi erro humano, e que hackers não estavam envolvidos e a segurança não podia ser responsabilizada.  “Um email foi enviado por engano do New York Times. Esse email deveria ter sido mandado para um número muito pequeno de assinantes, mas invés disso foi enviado para uma vasta lista de distribuição, formada por pessoas que haviam fornecido seu endereço virtual para o New York Times”, disse o jornal em um comunicado.  O email oferecia um desconto de 50% por 16 semanas na entrega residencial do jornal.

The New York Times é propriedade do New York Times Co.

Tablet mais barato --- na Índia

A Research In Motion (RIM), fabricante do BlackBerry, afirmou nesta semana que baixou os preços de seu computador tablet PlayBook na Índia, em um movimento que visa impulsionar as vendas do dispositivo que já foi considerado uma potencial ameaça ao iPad, da Apple.  Um porta-voz da RIM afirmou que a companhia passou a oferecer descontos nos três modelos do PlayBook até 31 de dezembro. A promoção reflete redução similar de preços nos mercados norte-americanos há mais de um mês.

A companhia está cortando praticamente pela metade os preços do PlayBook na Índia, considerado pela empresa como um mercado de grande crescimento. O aumento da demanda pelo BlackBerry em vários mercados emergentes ajudou a companhia a compensar a queda nas vendas norte-americanas do smartphone. Nos anos recentes, o iPhone da Apple e o Android, do Google, tomaram parte da fatia de mercado da RIM.

A RIM precisa que o PlayBook faça sucesso já que planeja lançar, no final do próximo ano, novos smartphones baseados no sistema operacional QNX, usado no tablet. Se desenvolvedores de software não se entusiasmarem em criar aplicativos para o PlayBook, a nova linha de smartphones da RIM provavelmente continuará enfrentando uma batalha contra o iPhone e o Android, que já possuem grandes bibliotecas de programas e jogos.

O PlayBook, lançado pela RIM em abril, vendeu menos que 1 milhão de unidades, enquanto a Apple acumula vendas de mais de 11 milhões de iPads apenas no trimestre mais recente. O PlayBook básico de 16 gigabytes está sendo vendido na América do Norte por 199 dólares. Em comparação, o iPad de 16 GB tem preço-base de 499 dólares.

Como parte da promoção na Índia, a RIM afirmou que o PlayBook de 16 GB está disponível por 13.490 rúpias (250 dólares), um desconto de mais de 50 por cento ante o preço normal de 27.990 rúpias.

O tablet PlayBook, da Blackberry - (Foto: Google).

Hackers podem parar trens na Europa

Hackers que desativaram sites na Internet ao sobrecarregá-los com tráfego podem usar a mesma técnica contra computadores que controlam sistemas de comutação na rede ferroviária, afirmou um especialista em segurança durante uma conferência em Berlim.  Stefan Katzenbeisser, professor da Universidade Técnica de Darmstadt, na Alemanha, afirmou que os sistemas de computação sofrem o risco de ataques de “negação de serviço”, que podem causar longas interrupções em sistemas ferroviários. “Os trens não poderiam colidir, mas o serviço pode ser interrompido por um bom tempo”, disse Katzenbeisser durante o evento.

Campanhas de “negação de serviço” são uma das formas mais simples de ciberataques: hackers recrutam grandes números de computadores a fim de sobrecarregar o sistema almejado com tráfego. Hackers usaram a técnica em questão para atacar sites de instituições governamentais ao redor do mundo, além de sites corporativos.

Os sistemas de comutação de ferrovias, que permitem que trens sejam guiados de um trilho para outro em uma junção de ferrovias, foram separados historicamente do mundo da Internet, mas a comunicação entre trens e comutadores é, cada vez mais, gerenciada pela tecnologia wireless.

Katzenbeisser disse que a GSM-R, tecnologia móvel usada para trens, é mais segura que a GSM, usada em telefones.

Protagonistas de 2011: smartphones

O texto abaixo é da autoria de Tatiana de Mello Dias e foi publicado hoje no blogue Link do jornal O Estado de S. Paulo.

Eles estão mais potentes, leves, funcionais e baratos. E, por tudo isso, também mais populares. É irreversível: a web está indo para a palma das mãos. O ano começou com um cronograma da telefonia à web portátil e terminou com um ritmo impressionante: a venda de smartphones disparou 165% em 2011.

Para ajudar quem quer trocar ou entrar de uma vez no mundo da conexão nas mãos, nós analisamos os 15 melhores smatphones do mercado em um especial de compras

Junto com os smartphones vêm os aplicativos. As vendas de aplicativos devem ter movimentado US$ 15 bilhões neste ano, segundo estimativa do Gartner. Hoje, os aplicativos são vistos como a internet há pouco mais de uma década. As startups mais promissoras, como o Foursquare, Instagram, Flipboard e Rovio (que faz o game Angry Birds), surgiram criando novas funcionalidades para o celular.

Nós apresentamos algumas startups brasileiras que atuam na área.

Tudo está mudando. Jenna Wortham, do The New York Times, apostou que a contagem por minutos, que hoje é a principal preocupação do usuário, será substituída pela contagem de megabytes. Sim, os serviços no celular passarão a ser feitos mais pelo plano de dados do que a própria telefonia. “A recente compra do Skype pela Microsoft pode acelerar esta mudança – que vai obrigar operadoras a se adaptar. Elas virão sua renda diminuir na medida em que chamadas telefônicas, videoconferência e SMS poderão ser trocados gratuitamente via web”, escreveu Jenna. “No fim, tudo vai migrar para um canal de dados”, disse Brian Higgins, executivo da operadora norte-americana Verizon.

O Brasil deve demorar mais para substituir mensagens tradiconais por alternativas que usam o plano de dados, como o WhatsApp. “Em mercados mais maduros é possível ver isso acontecendo em um tempo menor. Aqui, nem em longo prazo”, apostou o analista da IDC, João Paulo Bruder.

No Brasil, porém, falta transparência na maneira como as operadoras vendem e oferecem os serviços de dados. Um dos problemas: muitas operadoras restringem determinados aplicativos em celulares. Caso do Gtalk, restrito em celulares da operadora Claro. A prática, dizem as entidades de defesa do consumidor, é ilegal. 

O setor de telecomunicações e, em especial, o de telefonia móvel, está no topo das reclamações ao Procon. Esse fato evidencia outros dois: se há reclamações é porque o serviço não está funcionando como prometia e a comunicação entre consumidor e ofertante não é das melhores. “Isso mostra que o consumidor não sabe o que está contratando e, depois, não sabe como controlar os custos do serviço”, disse ao Link o advogado Guilherme Varella, do Instituto de Defesa do Consumidor (Idec). Nós fizemos uma análise comparativa dos planos das operadoras.

Esse é um dos motivos que podem atrasar o País na substituição do tradicional SMS, que ainda é o serviço de comunicação mais popular do mundo (79% dos donos de celular usam o serviço). Para a analista Marceli Passoni, da Informa, o contexto brasileiro ainda é muito particular. Por aqui, “a gente ainda está treinando usuários a mandar SMS”. Já há, porém, alternativas – e a tendência é que elas substituam o envio tradicional de SMS, mais caro. Há o exemplo do Blackberry: antes restrito ao público corporativo, o smartphone agora é a menina-dos-olhos dos estudantes. Motivo: Blackberry Messenger. “Antes, tudo era restrito a early adopters e ao público corporativo”, contou ao Link o analista da IDC, Bruno Freitas. “Agora, os smartphones estão chegando à classe C, que busca mobilidade: redes sociais, GPS, câmera, música; e o mercado percebeu isso”.

Nem tudo é boa notícia. O ano foi entermeado [sic] por notícias de que os celulares podem causar câncer. “Cinco bilhões de celulares no mundo é a maior experiência biológica já feita na humanidade”, diz o professor Leif Salford, presidente do departamento de neurocirurgia da Universidade de Lund, na Suécia.

Mais: o documentário “Blood In The Mobile ” mostrou a exploração por trás das etapas da linha de produção de celulares. “Esse lugar é o inferno na Terra. Pessoas trabalhando sob a mira de homens armados por toda parte. Meninos de 14, 15, 16 anos cavando nos buracos. Crianças com até quatro anos vendendo coisas e fazendo serviços para os soldados. Não há água potável.”, disse o cineasta dinamarquês Frank Poulsen.

Promotores federais americanos preparam acusações de crime doloso contra empresa BP

Promotores federais dos EUA estão preparando o que seriam as primeiras acusações criminais contra empregados da empresa petrolífera BP PLC, decorrentes do acidente com a plataforma Deepwater Horizon em 2010, que matou 11 operários e causou o pior vazamento de óleo da história dos EUA, disseram pessoas familiarizadas com o assunto. [Essa BP é a mesma que causou o vazamento de óleo recentemente na Bacia de Campos e que está sendo processada pela ANP].

Os promotores se concentram em vários engenheiros baseados em Houston e em pelo menos um de seus supervisores na companhia petrolífera inglesa, embora não se saiba ainda a amplitude da investigação. Segundo aquelas mesmas pessoas, os promotores afirmam que esses empregados podem ter fornecido informações falsas aos órgãos reguladores sobre os riscos associados com o poço do Golfo do México, enquanto se processava sua perfuração.

As denúncias de crime qualificado, ou crime doloso -- que podem ser formuladas no início de 2012 -- poderiam envolver o fornecimentos de informações falsas, o que poderia acarretar até cinco anos de prisão e uma multa. O Departamento de Justiça pode decidir não apresentar as denúncias contra as pessoas físicas. Não é incomum que promotores usem a ameaça de denúncias para forçar pessoas a colaborarem com as investigações.

Especialistas jurídicos dizem que é esperado que a própria BP enfrente denúncias criminais mais amplas, incluindo violações do Clean Water Act [algo como "Estatuto de Água Limpa (ou Pura)"]; a empresa já está apelando contra multas que podem chegar a US$ 36,6 milhões, aplicadas por reguladores americanos por violações de normas de segurança. O valor final das multas ainda não foi definido.

O porta-voz da BP, Daren Beaudo, declinou de comentar as possíveis denúncias contra empregados e contra a companhia. A empresa disse estar segura de que o acidente foi causado por uma combinação de fatores que envolveram vários participantes, não apenas a BP. Uma porta-voz do Departamento de Justiça também declinou de fazer comentários sobre o assunto.

Uma força-tarefa federal baseada em Nova Orleans passou os últimos 18 meses investigando o acidente de abril de 2010. Promotores analisaram milhares de documentos e fizeram dezenas de entrevistas, levando inclusive algumas pessoas ao tribunal do Juri, de acordo com informações de pessoas próximas às investigações.

Os promotores investigaram uma medida de segurança que é um fator chave em perfurações em águas profundas: a diferença entre a pressão máxima que pode ser aplicada na boca do poço, na perfuração, para evitar que ele exploda, e a pressão que desintegraria a formação rochosa contendo óleo e gás. Quanto menor a diferença entre esses dois valores, mais difícil é o poço de ser controlado. Os regulamentos federais não definem que valor de margem [diferença de valores] é segura, mas as empresas devem identificar esse valor quando solicitam permissão para perfurar. Quando uma empresa não consegue manter essa margem de segurança, deve suspender a perfuração e remediar o problema.

Entre as questões que estão sendo apresentadas pelos promotores está a de saber se a informação coletada durante a perfuração que ajudou a definir a margem de segurança para a Deepwater Horizon foi adequadamente contemplada nas solicitações corrigidas de permissão para perfurar que tinham que ser aprovadas pelos reguladores federais, segundo pessoas familiarizadas com a investigação.

23 de junho de 2010: esta imagem de vídeo fornecida pela BP mostra óleo jorrando da cabeça do poço na plataforma Deepwater Horizon - (Foto: AP).

Inflação ajuda Brasil a superar PIB britânico

O texto a seguir é de reportagem publicada hoje no jornal Folha de S. Paulo, de autoria de Vinicius Mota, acessível apenas a assinantes e leitores do jornal.

O Brasil vai se tornar a 6ª economia mundial por três motivos, em ordem de importância: inflação, alta da produção doméstica, e valorização do real. De cada US$ 100 adicionados ao valor do PIB nos últimos dez anos, US$ 68 decorreram da soma do primeiro e do terceiro fatores -- variação de preços internos e câmbio. A alta física do produto responde pelos US$ 32 restantes.

No mesmo período, a trajetória do Reino Unido, a ser ultrapassado pelo Brasil, foi bem diferente. A elevação da produção física foi responsável por 67% da alta do valor do PIB em dólares. Inflação e variação cambial explicam 33% do resultado.

De 2001 a 2011 -- tomando a projeção do FMI para este ano -- o PIB brasileiro em dólares ("PIB nominal", no jargão) aumentou 355% (multiplicou-se por 4,5). Já o PIB real, sem os efeitos dos preços e do câmbio, cresceu 46%. Daí se conclui que, não fossem a inflação mais alta e os ganhos do real diante do dólar, o Brasil iria demorar muito mais tempo para ultrapassar a economia britânica.

O objetivo de medir o PIB é chegar a uma cifra que expresse o volume produzido por um país em certo período. Simplificando, o desafio é exprimir a quantidade de carros, edifícios, geladeiras, etc, fabricados num ano. O resultado pode ser comparado aos de períodos anteriores e então se sabe se o PIB, o volume da produção, caiu ou cresceu -- e quanto.

Convém expressar o PIB numa unidade de conta comum, dinheiro corrente, desde que se tome cuidado com os efeitos da inflação. Suponha o leitor que o faturamento da indústria aeronáutica, num exemplo meramente ilustrativo, subiu de R$ 100 bilhões para R$ 110 bilhões de um ano para o seguinte. Este último valor, acusando alta de 10%, vai compor o PIB nominal brasileiro. Mas, digamos que a quantidade de aviões produzidos tenha ficado igual nesse período -- e tudo o que houve foi alta de preços. Então, a contribuição do setor aeronáutico para a variação real do PIB brasileiro terá sido zero.

No Brasil, que apresenta inflação mais alta se comparado a países desenvolvidos, a discrepância entre crescimento nominal do PIB e sua alta real costuma ser grande. Em 2009, o PIB real brasileiro caiu 0,3%, enquanto o nominal cresceu 6,8%. Em 2010, o real aumentou 7,5%, contra 16,4% do nominal.

Quando a tarefa é expressar em dólares esse PIB nominal  -- a fim de comparar o desempenho de várias nações --, surge a dificuldade adicional da taxa de câmbio. Tome-se de novo o exemplo dos aviões, agora supondo que R$1 vale US$1 no primeiro ano e US$ 1,10 no segundo.  Como foi visto, o PIB nominal em reais daquele setor aumentou de R$ 100 bilhões para R$ 110 bilhões só em virtude da inflação. Coloque-se na conta o efeito da valorização do real, e o resultadop será o PIB nominal em dólares passando de US$ 100 bilhões para US$ 121 bilhões de um ano para o outro, alta de 21%. Isso a despeito de a variação real da produção de aviões ter sido nula.

Esse duplo efeito, da inflação e do câmbio, foi acentuado nos últimos anos. O IBGE mostra que a inflação embutida no cálculo do PIB -- chamada de "deflator implícito" -- teve alta de 138% entre 2001 e 2010. No mesmo período, tomando-se a cotação média anual, o real valorizou-se 25% em relação ao dólar.

Em outros períodos da história, inflação e desvalorização cambial caminhavam juntas, uma alimentando a outra. Se a inflação elevava o PIB nominal, a desvalorização o podava na hora de convertê-lo em dólares.

Esse padrão se alterou na década passada, porque o Brasil começou a acumular superávits expressivos no comércio e nas finanças internacionais -- em razão sobretudo da alta de cotação de produtos, como minério de ferro e alimentos, que o país exporta em abundância. Esse fato inverteu as regras do jogo, alimentou a valorização do real e ajudou a conter a inflação -- mas não a ponto de impedir que, pelo efeito da alta moderada dos preços, o poder de compra internacional do Brasil aumentasse substancialmente.

Avanços da ciência, aqui e lá fora (83)

Japoneses pesquisam microrganismo que age como computador -- O micetozoário detém a capacidade de raciocínio como se fosse um computador, afirma um grupo de cientistas japoneses da Universidade Hakodate que nos últimos anos se dedica a observar esse minúsculo ser unicelular parente da ameba.

Segundo eles, o ser primitivo, mesmo sem ter um centro de decisões avançado como é o cérebro, pode colaborar com o desenvolvimento de sistemas de transporte público mais eficientes.  De que forma isso seria feito? Pelo estudo do comportamento do micetozoário que, entre tantas possibilidades, escolhe a melhor das rotas para chegar até seu alimento, ao mesmo tempo que evita situações de estresse --no caso dele, isso equivale a fugir da luz.

A pesquisa, coordenada por Toshiyuki Nakagaki e equipe da Universidade Hakodate, não é recente. Ela já lhes garantiu dois Ig Nobel, o "prêmio" que elege bizarrices científicas, em 2008 e 2010.  O cientista Atsushi Tero, da Universidade Kyushu, que desenvolve pesquisa semelhante, comenta que os micetozoários podem criar redes muito mais avançadas do que a própria mente humana. "Os computadores não são bons para analisar as melhores rotas que se conectam entre si porque a quantidade de cálculo pode se tornar maior do que eles. Mas esses micro-organismos, sem qualquer cálculo de todas as opções possíveis, podem se mover por áreas livremente e gradualmente encontrar as melhores rotas", diz.

Tero afirma que teve êxito em simulações em laboratórios com micetozoários: os micro-organismos desenvolveram um sistema de locomoção muito semelhante ao das vias de trens e metrô que cobrem a área de Kanto no Japão --uma rede emaranhada de transporte que cobre uma das mais populosas áreas do Japão, que engloba Tóquio.

Vale lembrar que pode haver um possível ganhador do Nobel, o reconhecimento máximo das pesquisas científicas, por trás de estudos bizarros. No ano passado, os físicos de origem russa Andre Geim e Konstantin Novoselov levaram o Nobel de Física por seus trabalhos revolucionários sobre o grafeno, mas foram indicados ao Ig Nobel dez anos antes ao estudar um sistema de levitação de rãs com um ímã.

 Cientista observa micetozoário em microscópio; o ser unicelular escolhe as melhores rotas para obter comida - (Foto: Shingo-Ito/France Presse).

Formigas usam estratégia militar para acabar com inimigos

O chinês Sun Tzu (544 a.C.-496 a.C.) pode ter levado a fama de pai da estratégia militar com seu livro "A Arte da Guerra". Para o americano Mark Moffett, contudo, seria bem mais justo que o título ficasse com as formigas.

Pesquisador do Museu Nacional de História Natural dos EUA e fotógrafo de mão cheia, Moffett roda o mundo há décadas documentando o comportamento das criaturas. Em seu livro "Adventures Among Ants" ("Aventuras Entre Formigas", ainda sem tradução para o português) e em artigo na revista "Scientific American" deste mês, ele defende que esses insetos sociais são o único tipo de animal que guerreia de forma semelhante aos Estados organizados por seres humanos. Ou seja: milhares de indivíduos em formação cerrada, apostando tudo num confronto que pode significar a vitória ou a aniquilação.

Questão de escala

Muitos outros animais, como chimpanzés e lobos, envolvem-se em escaramuças "de fronteira" ou tocaias, mas nem chegam perto da escala homérica que caracteriza humanos e certas formigas, diz. Entre as mais belicosas estão as asiáticas Pheidologeton diversus, ou formigas-saqueadoras, e as espécies de formiga-correição, como a Dorylus nigricans, da África.

As colônias desses bichos são a versão invertebrada dos hunos ou do exército de Gêngis Khan: hordas numerosíssimas (com até milhões de indivíduos), extremamente móveis, que não deixam pedra sobre pedra em seu caminho.  Mas elas não são devastadoras por mera força bruta. Sua primeira vantagem estratégica é a formação cerrada, ou seja, a capacidade de empacotar muitas formigas na frente de batalha, criando uma muralha impenetrável de soldados. É o que faziam os antigos gregos e macedônios, por exemplo.

As formigas-saqueadoras, além disso, desenvolveram seu próprio batalhão de operações especiais. Enquanto o grosso do ataque depende de operárias diminutas, que existem em grande número e são relativamente descartáveis para o formigueiro, os golpes de misericórdia nos inimigos mais parrudos são dados por "capitãs" enormes, que chegam a ser 500 vezes mais pesadas que as "soldadas rasas". De quebra, elas ainda servem de "tanque", carregando as operárias menores para a frente de batalha.

Guerra psicológica

Guerra psicológica? Formigas que escravizam outras espécies a praticam também, "bombardeando" o formigueiro alheio com substâncias que deixam suas inimigas em pânico.

Para Moffett, os motivos que levaram algumas espécies de formigas a adotar a guerra total são muito parecidos com os que operaram nos Estados humanos. "As sociedades menores são mais flexíveis e acabam se mudando quando o conflito aparece", disse o pesquisador à Folha. "Já as maiores conseguem armazenar mais comida, força de trabalho e tropas de reserva, criando estradas, infraestrutura complexa e exércitos para conquistar suas rivais", explica.  

Democracia na guerra

Não é raro achar elogios à sociedade das formigas nos textos de ideólogos humanos que simpatizam com o autoritarismo. Esses sujeitos não poderiam estar mais enganados, diz Mark Moffett.  "De fato, as formigas mostram devoção inquestionável à sua sociedade, mas isso é muito diferente da devoção a um líder político ou a uma hierarquia", explica o pesquisador americano. "Não existe ninguém controlando as vidas delas", diz Moffett. Nos combates, não há "oficiais" dando ordens. Cada formiga que encontra um inimigo deixa um rastro de feromônios (odores especiais que funcionam como sinalizadores químicos).

O aroma recruta outras "soldadas" para a pancadaria, as quais também liberam seus próprios feromônios.  Quanto mais formigas reforçarem o rastro, mais forte será o sinal de alarme enviado para o formigueiro.

Da mesma forma, assim como entre os britânicos, a rainha reina, mas não governa, lembra Moffett. Ela é apenas a reprodutora oficial (as operárias, de todos os tipos, costumam ser estéreis).  Moffett diz que andou por todos os países da América do Sul (além dos demais continentes) em busca dos insetos. Ele não tem uma formiga brasileira favorita. "Seria impossível escolher uma só. A melhor coisa no Brasil é a diversidade de formigas, que é maior do que em qualquer outro lugar do mundo", diz.

A próxima parada do pesquisador, na semana que vem, é a Etiópia. "Vou escalar árvores nos últimos fragmentos de floresta que restam por lá, localizados em torno de igrejas", conta.

Formiga-correição "Dorylus nigricans" em posição de alerta; insetos adotam estratégia de guerra agressiva - (Foto: Mark Moffett/Minden Pictures).

Dados do livro do pesquisador:

"Adventures among ants: a global safari with a cast of trillons"
Autor: Mark Moffett
Editora: University of California Press
Preço: US$ 16,47