quinta-feira, 31 de julho de 2014

Ecos da Copa (II)

A placa abaixo, usada na Copa, foi definitivamente incorporada pela populacão de Brasília e do país ao acervo turístico e cultural da capital federal e da nação.




Indústria e aviação civil, vítimas também da incompetência do governo de Dilma NPS

Nossa economia continua ladeira abaixo, em plena banguela, e nossa Dama de Ferrugem Dilma NPS (Nosso Pinóquio de Saia) permanece perdidinha, perdidinha, mas com aquela eterna pose de quem sabe o que faz embora conduza o país para um impasse cada vez pior.

Das profundezas de sua burrice e de sua incompetência, a madame acha que o país e sua economia são feitos de compartimentos estanques e independentes e que, portanto, ela pode interferir onde quer e como quer em cada um desses compartimentos que nada vai acontecer no conjunto como um todo. Nossa doce ex-guerrilheira não distingue alhos de bugalhos e sofre da chamada estupidez pétrea e irreversível. 

Não dá, numa simples postagem de blogue, para listar todos os malfeitos de Dilma NPS e do NPA (Nosso Pinóquio Acrobata), mesmo excluindo os exorbitantes casos de corrupção que ambos estimularam por ação e/ou omissão. No caso da madame a coisa piora, por seu autoritarismo, sua prepotência e seu centralismo.

A notícia catastrófica mais recente é a de que a indústria nacional, sem competitividade e sem mercado, desistiu de sua atividade-fim e virou mascate de energia elétrica, porque isso lhe dá mais retorno. Só em maio, a indústria faturou R$ 289 milhões nesse comércio. Sem falar na sua desnacionalização, porque o produto brasileiro não consegue competir com o importado. 

O Índice de Confiança da Indústria (ICI) brasileira caiu 3,2% em julho na comparação com o final de junho, registrando a sétima queda seguida, informou a Fundação Getulio Vargas (FGV) nesta terça-feira. Com isso, o indicador foi a 84,4 pontos, menor nível desde abril de 2009 (82,2 pontos), ante 87,2 pontos no mês anterior, quando havia recuado 3,9%.

Segundo O Globo, "Diante do fraco desempenho da economia em 2014, a equipe econômica já trabalha com a possibilidade de o Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país) registrar resultados negativos no segundo e terceiro trimestres, o que configuraria um quadro de recessão técnica. Os técnicos do governo avaliam que a queda da produção industrial e das vendas do comércio varejista nos últimos meses puxaram o crescimento do país para baixo, sendo que esse quadro só deve se reverter no quarto trimestre. (...) Segundo um interlocutor do Palácio do Planalto, uma recessão técnica é ruim para a campanha à reeleição da presidente Dilma Rousseff, mas não chega a ser “o pior dos mundos”. Isso porque o PIB do segundo trimestre será divulgado no fim de agosto, no auge da disputa eleitoral, mas o do terceiro trimestre só sairá em novembro, quando a votação já tiver terminado".

Por trás desse descalabro há um rosário de razões: uma brutal carga fiscal, energia elétrica caríssima, insegurança jurídica, educação deficiente e insuficiente, infraestrutura precaríssima, desconhecimento de política macroeconômica, falta de planejamento e de política de desenvolvimento sustentável, etc, etc.

O impostômetro, que registra a quantidade de impostos pagos pelos contribuintes nas esferas federal, estadual e municipal, recentemente chegou à marca de R$ 1 trilhão de tributos pagos. Este é o quinto ano consecutivo em que a marca ultrapassa o valor de R$ 1 trilhão, que agora foi atingida 15 dias antes do alcançado no ano passado. Se com essa dinheirama toda o país está o estrume que se vê, o que é que o governo petista de Dilma NPS vem fazendo com essa montanha de dinheiro?!

Vou tomar um exemplo que não costuma aparecer muito nas manchetes, pelo menos em termos quantitativos, que é o preço do querosene de aviação no Brasil, que afeta direta e pesadamente a aviação civil, um transporte vital para um país com as nossas dimensões. A IATA (sigla inglesa para Associação de Transporte Aéreo Internacional, que representa 240 empresas aéreas, responsáveis por 84% do tráfego aéreo global) informou em 26/3/2014 que a América Latina conta com uma indústria de transporte aéreo dinâmica, que gerou cerca de 4,6 milhões de empregos e US$ 107 bilhões de PIB na região.

Na seção "Impostos e Encargos" de seu documento, a IATA observa que vários países latino-americanos aplicam o IVA (Imposto sobre Valor Agregado, o nosso ICMS) e outros impostos sobre querosene de aviação (QAV) para voos internacionais, o que gera um desvio em relação aos padrões globais e conflita com os princípios da Convenção de Chicago e da ICAO (sigla inglesa Organização Internacional para a Aviação Civil). Na média, diz a IATA, o custo do QAV na região é cerca de 14% maior que a média global, mas o Brasil é um caso extremo, com seu QAV 17% mais caro que a média global (o destaque é meu).

Custos de QAV e outras despesas acima da média global prejudicam a competitividade da América Latina e limitam suas perspectivas econômicas, acrescenta a IATA. "O relatório do Fórum Econômico Mundial sobre Competitividade em Viagem e Turismo mostra que o Brasil é o 118º entre 140 países quanto à competitividade dos impostos de seus bilhetes aéreos e dos encargos de seus aeroportos. Taxas e encargos elevados têm impacto sobre a atratividade de um país como um destino e sua competitividade como um exportador",  disse Tony Tyler, diretor-geral e CEO da IATA.

Reportagem de Marina Gazzoni no jornal O Estado de S. Paulo de 10/7/2014 mostra que O Brasil é um dos países mais caros para se abastecer um avião no mundo. É o que mostra um levantamento da Associação Internacional de Transporte Aéreo (Iata), com base em preços do querosene de aviação cobrados das companhias aéreas em 68 aeroportos. Nenhum outro país tem tantos terminais na lista dos dez aeroportos com maiores custos para abastecimento. Figuram no ranking Cuiabá (2º lugar), Manaus (3º),Recife (4º), Guarulhos (7º) e Brasília (10º).

O preço do querosene de aviação cobrado no aeroporto de Cuiabá só perde para o de Lilongwe, capital do Malawi, e chega a US$ 5,06 o galão americano (cerca de 3,785 litros), de acordo com a Iata. Os valores consideram o preço total cobrado das empresas aéreas para vôos domésticos, incluindo a incidência de ICMS. O preço do querosene em Cuiabá é 82% superior ao do aeroporto de Moscou, que oferece o combustível mais barato do mundo, a US$ 2,78 o galão, segundo a Iata. “O Brasil aparece ao lado dos países africanos, onde o combustível é caro por falta de refinarias e a infraestrutura para importar e transportar o produto é ineficiente”, disse o diretor da Iata no Brasil, Carlos Ebner.

Ver também "Preços em pauta", no site Aero Magazine. Segundo Eduardo Sanovicz, presidente da Abear (associação Brasileira de Empresas Aéreas), a participação do Qav na composição dos custos das companhias aéreas do Brasil superou os 40% em 2012, contra 28% da média histórica. Ele diz ainda que "Temos a questão da infraestrutura. Defendemos a revisão das rotas e a atualização tecnológica da infraestrutura aeroportuária para que a navegação seja feita de forma mais fácil e segura. Também defendemos que o país supere os impasses impostos por fatores climáticos. Não há mais sentido em dizer que um aeroporto fechou por causa do tempo. Imagine se acontecesse isso na Noruega: o aeroporto de Oslo permaneceria fechado 320 dias por ano. Defendemos, ainda, a ampliação da infraestrutura. Coisas até simples, como, por exemplo, pátio. Fazemos alguns voos sem justificativa comercial simplesmente porque o avião não pode dormir no destino, falta de espaço no estacionamento. Além disso, há o problema do congestionamento. Há 25 anos, os passageiros voavam de Electra de Congonhas para Santos Dumont em 40 minutos. Hoje, a gente voa de Boeing 737 ou Airbus 320 em 50 minutos. É um contrassenso, poderíamos voar em meia hora. Temos capacidade para isso, acontece que o avião decola do Santos Dumont e, antes de chegar a Angra, alguém já manda ele diminuir e depois orbitar por conta do tráfego e do aeroporto não estar sustentando a demanda. Então a nossa competitividade está ligada a custo e infraestrutura".

Isso é parte da verdade, digo eu. Nossas empresas aéreas sofrem de má gestão, o setor carece de uma regulação atenta e eficiente, há uma relação pouco ortodoxa entre as empresas e o governo, e nossa infraestrutura aeroportuária é precária. Isso tudo administrado por uma gerentona incompetente, burra e teimosa como Dilma NPS nunca pode dar algo que preste. Ver postagem "Nossas empresas aéreas só querem mamar nas tetas do governo e reduzir seus riscos com o nosso dinheiro".

Esse abuso tarifário no QAV e nos nossos aeroportos -- aliado à precariedade da nossa infraestrutura aeroportuária -- repete-se em praticamente toda a cadeia produtiva do país, elevando estratofericamente o Custo Brasil, alijando-nos do comércio internacional e castigando o contribuinte brasileiro. Esse é o legado de 12 anos de governos petistas, dos quais 4 são de Dilma NPS & Seus Blue Caps.

Além de não distinguir focinho de porco de tomada, a madame resolveu escancarar as burras do Tesouro Nacional para beneficiar setores da economia que ela escolhe na base do "cuspe no dedo indicador + direção do vento", com o claro intuito de subornar esses setores e os eleitores incautos para compra de votos para a eleição de outubro vindouro. E o setor de aviação entrou na panelinha desta vez. Em vez de sanear o setor e seus órgãos regulatórios e reduzir a carga tributária que castiga essa área, Dilma NPS preferiu outra vez praticar o assistencialismo usando o dinheiro do contribuinte. Nossa Dama de Ferrugem editou uma MP (a 652) de subsídios à aviação regional que contempla inclusive rotas já existentes, e nos custará a bagatela de R$ 1 bilhão por ano. É bizarro ver-se uma mulher usando irresponsável e desregradamente as tetas do governo para alimentar seus apadrinhados.


terça-feira, 29 de julho de 2014

Dilma NPS dá mais dinheiro à OPAS (Organização Pan-Americana da Saúde) que a hospitais federais

[A informação abaixo foi publicada no site do CFM - Conselho Federal de Medicina, mostrando mais uma faceta da irresponsável e criminosa política do governo Dilma NPS (Nosso Pinóquio de Saias) com relação à saúde pública dos brasileiros. Mas a madame e a petralhada continuam mentindo descaradamente que a saúde pública no Brasil já está equacionada e resolvida pelos governos petistas. Em 05/7/2012 nossa ex-guerrilheira disse em São Bernardo do Campo, que o seu legado será ter avançado na melhoria da saúde pública, dando sequência ao que começou a ser feito no mandado de seu antecessor, o NPA (Nosso Pinóquio Acrobata, Lula). Segundo ela, seu objetivo é fazer com que o serviço público de saúde dê assistência em toda a cadeia de atendimento -- criaremos todos raízes esperando por isso. Mentir faz parte do DNA petista. Em 19/4/2006, ao inaugurar a nova emergência do Hospital Nossa Senhora da Conceição, em Porto Alegre (RS), o NPA disse com a sua proverbial cara de pau : "Eu acho que não está longe de a gente conseguir a perfeição no tratamento de saúde neste país" (pág. 10 do discurso).  O problema é que no calendário petista o perto é medido em anos-luz.]

Volume de recursos enviados à OPAS supera montante destinado aos hospitais federais, Inca e Into

CFM -- 04/4/2014 

O volume de recursos que o Brasil repassou à Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) em 2013 daria para custear quase duas vezes o que foi gasto por seis hospitais federais localizados no Rio de Janeiro, juntos, no mesmo período. A remessa feita pelo Ministério da Saúde ao organismo internacional cobriu com folga o destinado aos Hospitais Cardoso Fontes, da Lagoa, de Bonsucesso, de Ipanema, do Andaraí e dos Servidores do Estado, responsáveis por parte considerável dos atendimentos feitos pelo Sistema Único de Saúde junto à população carioca.

A Opas é um organismo internacional de saúde pública que atua nos países das Américas nas áreas de epidemiologia, saúde e ambiente, recursos humanos, comunicação, serviços, controle de zoonoses, medicamentos e promoção da saúde através da cooperação internacional promovida por técnicos e cientistas.

Ano passado, a Opas recebeu o equivalente a R$ 1 bilhão, enquanto as seis unidades hospitalares tiveram um orçamento que, somado, não superou os R$ 562,5 milhões. Os dados constam de um levantamento do Conselho Federal de Medicina (CFM) com base em informações do Sistema Integrado de Administração Financeira (SIAFI). A análise chama a atenção para a distância entre os valores no momento em que assistência oferecida pelas unidades federais do Rio de Janeiro enfrentam uma crise que está afetando milhares de pacientes, conforme aponta relatório da Defensoria Pública da União (DPU).

Em dezembro de 2013, a situação de sucateamento e abandono dos hospitais federais cariocas chegou a um ponto de extrema gravidade. Em relatório divulgado, o DPU denunciou que 13 mil pessoas estavam à espera de cirurgia exatamente nestas unidades. Segundo a Defensoria, a demora pela realização de um procedimento, em alguns casos, chegava há sete anos. Do grupo de pacientes prejudicados, constavam 730 crianças que aguardavam atendimento em diferentes especialidades (cirurgias vasculares, cardíacas, neurológicas e ortopédicas a urológicas, oftalmológicas e torácicas).

Na época da denúncia, o defensor público federal Daniel Macedo disse que a falta generalizada de insumos e medicamentos, o sucateamento dos hospitais e a má administração de recursos contribuíam para esse quadro de calamidade. No entanto, as discrepâncias entre o que foi repassado à Organização Pan-americana de Saúde (Opas) pela União não se limita aos problemas relacionados aos hospitais federais cariocas. Outras unidades importantes para o atendimento da população também ficaram prejudicadas.

Câncer – Outro exemplo que mostra a distância entre o repassado à Opas e o destinado às unidades hospitalares brasileiras também fica no Rio de Janeiro. Com o volume de recursos destinados à Organização Pan-americana, em 2013, também seria possível cobrir as despesas de duas estruturas semelhantes a do Instituto Nacional de Câncer (Inca), sobrando ainda um “troco” R$ 209 milhões.

O Inca é um dos maiores centros de referência e de assistência de alta complexidade oncológica no país, sendo responsável pela regulação e normalização da assistência na área e pelo desenvolvimento de atividades nas áreas de ensino, pesquisa, ciência e tecnologia. No ano passado, ele contou com um orçamento de R$ 404 milhões para cumprir sua missão, cerca de 60% a menos do que foi destinado ao organismo internacional, cuja sede principal fica em Washington, nos Estados Unidos.

Uma terceira comparação também mostra o desfavorecimento das unidades brasileiras diante da Opas. A verba enviada à Opas permitiria custear praticamente quatro estruturas semelhantes ao Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia (Into) – com “troco” de R$ R$ 208 milhões. Naquele período, as despesas do Into somaram R$ 270 milhões, perto de um quarto do total remetido para Washington.

Assim como o Inca, o Into é uma instituição de referência nacional, no caso para o tratamento de doenças e traumas ortopédicos de média e alta complexidades, prestando assistência na esfera assistencial. Esse Instituto conta com unidade ambulatorial, hospital dia para pequenos procedimentos, unidades de internação (pediátrica, adulto e terapia intensiva), serviços de reabilitação e de atendimento domiciliar, além de uma clínica especializada no tratamento da dor. Como o Inca, também atua nas áreas de ensino e pesquisa. Na tabela abaixo, os números que constam dos relatórios do SIAFI estão disponíveis para verificação.



tabela repasse opas

O fluxo favorável à Opas não se limita às comparações com as unidades vinculadas diretamente ao Ministério da Saúde. Os números são maiores que as despesas com Saúde (função saúde) de diversos estados brasileiros, individualmente. Por exemplo, os repasses de 2013 ao organismo internacional são maiores que o registrado no Acre, Mato Grosso do Sul, Paraíba, Piauí, Rondônia, Roraima e Sergipe.

Os números, que constam nos Relatórios Resumidos de Execução Orçamentária (RREO), também revelam que os valores correspondem a metade do gasto com a função saúde em estados como Goiás, Amazonas e Santa Catarina. Na tabela, abaixo é possível comparar os números oficiais. Neste quadro, não estão ainda os estados que não repassaram suas informações.


tabela opas2


Tendências – A análise dos números oficiais também sugere que a tendência de envio de quantidades significativas de valores para Opas, bem superiores ao destinado às unidades hospitalares brasileiras tende a se manter. De acordo com dados compilados de 1º de janeiro a 5 de março de 2014, fica evidente que as despesas somadas dos hospitais cariocas Cardoso Fontes, da Lagoa, de Bonsucesso, de Ipanema, do Andaraí e dos Servidores do Estado, somadas aos gastos do Into e do Inca não alcançam o montante pago à Opas no mesmo período.

Nestes meses, a Opas recebeu R$ 506 milhões, ou seja quase 3,5 vezes a mais que o repassado a estas oito unidades assistenciais brasileiras. No período, elas receberam perto de R$ 150 milhões, sendo que os seis hospitais cariocas ficaram com R$ 95,5 milhões deste total. No caso da Opas, os números são extremamente vantajosos, menos de 90 dias, o organismo viu entrarem em seus cofres a metade do R$ 1 bilhão que recebeu ao longo de 2013 inteiro.

Como mostram os números oficiais, este aporte crescente segue uma linha histórica iniciada em 2011. Naquele ano, a Opas foi o destino de R$ 171 milhões. Em 2012, o valor subiu para R$ 274 (cerca de 60% a mais). Em 2013, as cifras quadriplicaram, chegando a R$ 1 bilhão, sendo que o comportamento desse primeiro trimestre denuncia que o volume deve ser muito maior.

Tudo indica que o ano de 2014 representará um recorde de repasses, pois o Ministério da Saúde anunciou na primeira semana de março o valor do aditivo ao contrato do programa Mais Médicos com a Opas. A previsão é de mais R$ 973,94 milhões para os próximos seis meses. Mesmo considerando que uma parte (R$ 427 milhões) já foi paga e, portanto, incorporada na soma de R$ 506,3 milhões levantada até 6 de março, os valores empenhados de 2014 já somam, até o momento quase R$ 1,0 bilhão.







segunda-feira, 28 de julho de 2014

Algumas das guerras execráveis que castigam o planeta e matam milhares de inocentes, e as reações do Brasil

É impressionante o número de conflitos armados que ocorrem simultaneamente em várias partes do mundo. O ano passado (2013) foi considerado o pior nesse aspecto desde a 2ª grande guerra. Vários desses confrontos se destacam por sua extrema violência e pelo elevado número de crianças e cidadãos comuns entres as vítimas fatais.

Focalizemos apenas os que ocorrem no Oriente Médio.

Guerra na Síria -- já dura 3 anos e registra documentadamente  171.509 mortos até este mês  de julho, com 56.495 civis, dos quais 9.092 crianças -- além de gerar 2 milhões de refugiados. A guerra suja síria empregou armas químicas -- em um único ataque das forças governamentais em 21/8/2013 com esse tipo de armamento (com o presumível emprego de gás sarin) teriam morrido 1.300 pessoas. Em 03/8/2012 a vice-chefe da missão do Brasil nas Nações Unidas, Regina Dunlop, disse que a resolução aprovada na Assembleia Geral da organização sobre o conflito na Síria reflete a posição brasileiraO texto aprovado mais cedo clamava por uma transição política no país em crise, condena o regime do presidente Bashar al Assad e critica o Conselho de Segurança por "não agir" para tentar deter a violência no país em conflito. Apesar dos números de mortos e de crianças vitimadas, e do emprego de armas químicas, o governo de Dilma NPS (Nosso Pinóquio de Saia) em momento algum acusou o governo sírio de uso desproporcional da força, nem chamou para consulta nosso embaixador em Damasco. 

Ver postagem: Afinal, o que quer e faz o Brasil em relação ao genocídio na Síria? 

A guerra do ISIS (sigla inglesa para Estado Islâmico no Iraque e no Levante) -- Formado em 2013, esse grupo jihadista extremista vem fazendo uma guerra que se caracteriza por uma extrema violência, com torturas, execuções em massa, matança de civis, uso de civis como escudos humanos, recrutamento e uso de crianças como soldados. Os cidadãos mais vulneráveis -- mulheres, crianças, deficientes físicos -- têm sido afetados "desproporcionalmente" pela irrupção da violência. Desconhece-se qualquer posição pública e ostensiva do Brasil sobre esse conflito.

A guerra em Gaza -- Desenrolando-se há cerca de 20 dias,  esse conflito já provocou uma destruição sem precedentes no território palestino e causou mais de 1060 mortos entre os palestinos, na maioria civis, e 43 baixas militares no lado israelense. O ato de guerra israelense que nesta semana mais repúdio e revolta provocou foi o bombardeio de uma escola da ONU em Gaza pelo exército israelense, com pelo menos 15 mortos incluindo mulheres, crianças e funcionários da ONU. Em 22 deste mês de julho a Unicef informava que quase 150 crianças palestinas haviam sido mortas pelas forças israelenses em Gaza, incluindo 97 meninos e 49 meninas com idade entre 5 meses e 17 anos.  Das 146 crianças, pelo menos 105 vítimas tem 12 anos de idade ou menos – ou 71% das crianças.

O ministro das Relações Exteriores, Luiz Alberto Figueiredo, chamou de volta ao Brasil para consultas o embaixador em Tel Aviv, Henrique Sardinha. A medida tem por objetivo demonstrar o descontentamento do governo brasileiro com o massacre de palestinos, a maioria civis, na Faixa de Gaza. Foi o segundo país, depois do Equador, a adotar a medida.

"O governo brasileiro considera inaceitável a escalada da violência entre Israel e Palestina. Condenamos energicamente o uso desproporcional da força por Israel na Faixa de Gaza, do qual resultou elevado número de vítimas civis, incluindo mulheres e crianças", diz um comunicado do Itamaraty. A chancelaria israelense reagiu fortemente à posição e à atitude brasileiras e chamou o Brasil de "anão diplomático" e "parceiro diplomático irrelevante". A partir daí, estabeleceu-se um bate-boca ridículo, com o nosso chanceler nº 2, Marco Aurélio Garcia, chamando o porta-voz da chancelaria israelense de
 "sub do sub do sub do sub do sub do sub", afirmou Garcia a jornalistas, antes de solenidade no Palácio do Planalto de posse dos membros do Comitê Nacional de Prevenção e Combate à Tortura. Questionado se a declaração do porta-voz não teria sido deselegante, Garcia respondeu: "Eu não sou especialista em elegância".


Ver postagens:
Brasil, um anão diplomático
Brasil, um anão diplomático (II)

O conflito israelense-palestino tem todas características de ser insolúvel, em qualquer horizonte visível. Do lado palestino, a ascensão do Hamas só fez radicalizar ainda mais o confronto. Assiste-se a demonstrações de barbárie de ambos os lados, com um Golias infinitamente mais poderoso que o Davi. Em termos de poder de fogo, as forças armadas israelenses ocupavam em 2013 a 11ª posição no ranking mundial. A desproporção entre o poderio militar de Israel e o dos palestinos é gigantesco, e isto tem sido assim há décadas e todas as ações ofensivas e defensivas de Israel sempre guardam relação direta e linear com essa desproporção. Por isso, soa muito estranho que só agora o governo petralha de Dilma NPS tenha "identificado e constatado" essa desproporção. O que têm feito e fazem a Abin - Agência Brasileira de Inteligência e os nossos dois chanceleres (um deles o eterno e ridículo Marco Aurélio Garcia)?! Ninguém lê jornal no Planalto?! Me soa evidente que pelo menos dois fatores levaram Dilma NPS a fazer o que fez  na hora em que o fez: o ano eleitoral e seu apego visceral à demagogia eleitoreira, e mais uma oportunidade de mostrar antagonismo e "independência" em relação aos EUA, defensores e protetores incontestes e incondicionais de Israel.

O regime implacável e permanente de opressão e humilhação a que Israel submete há décadas a população palestina -- do qual o sistema  cada vez mais expansionista de assentamentos judeus em terras palestinas é apenas uma faceta -- é a receita perfeita para inviabilizar qualquer acordo entre as partes. O que Israel faz em Gaza e na Palestina em geral é uma grilagem institucionalizada de terras, além de um abuso de prepotência e do emprego de força.  Isso, no ano passado, já provocou uma onda de boicotes contra Israel e um crescente isolamento internacional do país. A política israelense na Palestina é o combustível perfeito para o renascimento e a manutenção de facções extremistas como o Hamas e o Hizbollah (ou Hezbollah). 

O comportamento opressivo e agressivo de Israel em Gaza já está gerando divisões na sociedade israelense. O jornal Haaretz, antigovernista e  porta-voz da esquerda, disse que o "Hamas deveria agradecer à direita israelense -- o número crescente de mortos em Gaza e a cada vez maior destruição de seu território fazem o background perfeito para restaurar a reputação do Hamas". Em um editorial, o mesmo jornal disse que o Primeiro-ministro Netanyahu precisa falar clara e francamente contra a crescente onda de agressões violentas contra árabes e esquerdistas que expressam suas opiniões contra a guerra em Gaza. 

Em 9/7/2004, a Corte Internacional de Justiça, principal órgão judiciário da ONU, com sede em Haia (Holanda), em resposta à Assembleia-Geral da Organização, declarou com ampla maioria (quase unanimidade, 14 votos a 1) contrária ao Direito Internacional a construção por Israel do que se convencionou ser nominado muro defensivo, cerca separatória ou, ainda, barreira de segurança, erigido no Território Palestino Ocupado, área sob jugo do Estado de Israel em consequência da Guerra dos Seis Dias (5 a 10 de junho de 1967). O longo relatório que  suporta a decisão da Corte de Haia está detalhado no documento "Consequências jurídicas da construção de um muro no Território Palestino Ocupado" (em francês e inglês). Me soa absolutamente bizarro que Israel tenha adotado uma solução que remete ao Muro de Berlim, que dividiu a Alemanha ao final da guerra contra o nazismo. Dever ter influenciado também Israel o muro que os EUA construíram em parte de sua fronteira com o México.

Como sinal da saturação da sociedade israelense com o regime de permanente violência e belicosidade do Estado judeu, em uma carta endereçada ao primeiro ministro Binyamin Netanyahu e ao público israelense, 60 jovens de ambos os sexos, de 16 a 19 anos, afirmam que pretendem se recusar a prestar serviço militar pois se opõem à ocupação dos territórios palestinos. Esta é a primeira grande onda de recusa ao serviço militar desde 2001, quando centenas de soldados da reserva se negaram a participar das ações militares de Israel na Cisjordânia e na Faixa de Gaza, durante a segunda Intifada (levante palestino).

A iniciativa, denominada Recusa 2014 (Seruv 2014), foi publicada no domingo, 9 de março de 2014 e, segundo integrantes do grupo, nas  24 horas seguintes o número de assinantes vinha aumentando. "Nos territórios ocupados são cometidos diariamente atos definidos pela lei internacional como crimes de guerra ", declaram os jovens, "inclusive execuções extrajudiciais, construção de assentamentos em terras ocupadas, prisões sem julgamento, tortura, punição coletiva e distribuição desigual de recursos como eletricidade e água".

Repudio inteiramente a política israelense na Palestina, reconhecendo igualmente abusos inaceitáveis do lado palestino. Mas, é indispensável em qualquer análise desse cenário não esquecer que o que se tem é a relação entre uma força de ocupação poderosíssima e prepotente, e um povo a que são intransigente e permanentemente negados pelos invasores todos os recursos políticos de um ambiente minimamente democrático.

No seu cerne, a posição brasileira contra Israel na presente Guerra de Gaza está política e humanitariamente correta. O que destoa e irrita na nossa manifestação, e a torna oportunista e tipicamente um jogo de cena eleitoreiro, é a absoluta falta de isonomia e coerência de tratamento do governo petralha de Dilma NPS com outros conflitos igualmente sangrentos, desumanos, com uso também desproporcional de poderio militar.

Ver também:

Livros escolares em Israel e na Palestina: ensinando as crianças a se odiarem
Como 'sionismo' virou um palavrão
Unesco reconhece o Estado palestino como membro pleno





domingo, 27 de julho de 2014

A genialidade de Millôr Fernandes

No momento em que a Flip, em Paraty, se prepara para homenagear Millôr Fernandes, me parece mais do que oportuno dar um pequeno mergulho na biografia e no legado desse gênio da  nossa cultura. Para esta postagem me baseei em pesquisas pessoais na internet e no livro "Millôr definitivo: A Bíblia do Caos"- L&PM Pocket, 2013.


Millôr Fernandes


Millôr Fernandes (1923-2012)  - (Foto: Agência Estado)


Millôr Fernandes nasceu no Méier, subúrbio do Rio de Janeiro. Millôr nasceu em 16 de agosto de 1923, mas só foi registrado em 27 de maio de 1924. Por isso, tinha duas datas de aniversário e, nos documentos, ainda tinha 87 anos quando morreu em 27 de março de 2012Em mais de meio século de atuação permanente na imprensa, no teatro, na literatura e nas artes plásticas tornou-se uma das maiores personalidades de seu tempo. Combativo (“hay gobierno, soy contra”) como poucos, praticou o ideal de independência intelectual, tendo sido perseguido pelas ditaduras que assolaram o país neste século. Escreveu, traduziu e adaptou mais de uma centena de peças de teatro (Shakespeare, Pirandello, Molière, Racine, Brecht, Tchekov, Gorki, Fassbinder e muitos outros). Entre elas destacam-se os clássicos, Liberdade, liberdade (com Flávio Rangel),É..., Homem do princípio ao fim, Flávia, cabeça, tronco e membros, Um elefante no caos, Os órfãos de Jânio. Escreveu ainda 30 anos de mim mesmo, O livro vermelho dos pensamentos de Millôr, Todo o homem é minha caça, Tempo e contratempo, Poesias, Millôr definitivo – A Bíblia do Caos, entre dezenas de livros editados.

 Considerado "um dos poucos escritores universais que possuímos", na opinião do crítico Fausto Cunha, Millôr é carioca do Méier – segundo alguns seu nome seria Milton, não fosse um erro do tabelião – filho de Francisco Fernandes e de Maria Viola Fernandes. Seu pai, engenheiro emigrante da Espanha, morre em 1925, com apenas 36 anos. A família começa a passar dificuldades, e sua mãe fica horas em frente a uma máquina de costura para poder sustentar os quatro filhos. Apesar do aperto, o autor teve uma infância feliz, ao lado de dez tios, 42 primos e primas e da avó italiana D. Concetta de Napole Viola. A chegada ao Brasil das histórias em quadrinhos, em 1934, fazem Millôr dar vazão à criatividade e, sob a influência de seu tio Antônio Viola, tem seu primeiro trabalho publicado em um órgão da imprensa – O Jornal, do Rio de Janeiro, tendo recebido o pagamento de dez mil réis. Era o início do profissionalismo, adotado e defendido para sempre.

Em 1935, também com 36 anos, falece sua mãe, o que leva os irmãos Fernandes a ter uma vida dificílima. Estuda na Escola Ennes de Souza, de 1930 a 1935, por ele chamada de Universidade do Meyer, mas que na verdade era uma escola pública. Diz dever tudo o que sabe a sua professora, Isabel Mendes, depois diretora e hoje nome da escola. Se emociona ao falar sobre ela "...uma mulatinha magra e devotada, que me ensinou tudo que se deve aprender de um professor ou de uma escola: a gostar de estudar. Depois disso, pode-se ser autodidata. Escola, a não ser para campos técnicos/experimentais, é praticamente inútil".

Trabalhou, em 1938, com o Dr. Luiz Gonzaga da Cruz Magalhães Pinto, entregando o remédio para os rins "Urokava" em farmácias e drogarias. Durou pouco esse emprego.  Ciente da necessidade de se aprimorar, estuda no Liceu de Artes e Ofícios do Rio de Janeiro de 1939 a 1943. Em 1944 é co-diretor da revista A Cigarra, do Rio de Janeiro. Em 1945 inicia a publicação de seus trabalhos na revista O Cruzeiro, com o "Pif-Paf". 

Nos anos seguintes, já integrado à intelectualidade carioca, convive com Péricles, criador de "O Amigo da Onça", Nelson Rodrigues, David Nasser, Jean Manson, Alfredo Machado, Fernando Chateaubriand, Emil Farhat e Accioly Netto, entre outros. Em 1948 vai, como correspondente da revista O Cruzeiro, para uma estadia de três meses em Hollywood, Califórnia, temporada que passa ao lado do cônsul Vinícius de Moraes, do cientista César Lates e da estrela Carmen Miranda. A partir de 1950, faz colaboração diária no jornal Diário da Noite, Rio de Janeiro.

Em 1958  foi censurado pelo mais liberal de todos os presidentes da República: Juscelino Kubitschek. Seu programa de TV, "Lições de um Ignorante", foi proibido após uma crítica à primeira dama do país: "Dona Sarah Kubitschek chegou ontem ao Brasil depois de cinco meses de viagem à Europa e foi condecorada com a Ordem do Mérito do Trabalho." Em 1961 trabalhou sete dias no jornal Tribuna da Imprensa, Rio, que mais tarde pertenceu a seu irmão Hélio Fernandes. Foi demitido por ter escrito um artigo sobre a corrupção na imprensa. Os editores, o poeta Mário Faustino e o jornalista Paulo Francis pediram também demissão em solidariedade.

Colabora com coluna diária no jornal Correio da Manhã, do Rio de Janeiro, em 1962. "Esta é a Verdadeira História do Paraíso", doze páginas em cores, é publicada na revista O Cruzeiro, em 1963, provocando a ira da própria revista e de leitores católicos. Millôr deixa O Cruzeiro. A partir de 1964, e até 1974, colabora semanalmente no jornal Diário Popular, de Portugal. A página mereceria um comentário especial do ditador Oliveira Salazar: "Este gajo tem piada. Pena que escreva tão mal o português." De 1967 até nossos dias, tem marcado sua presença em jornais e revistas nacionais como o Correio da ManhãRevista DinersVeja,O Pasquim, revista IstoÉJornal do BrasilO DiaFolha de São Paulo, entre outros.

Millôr morreu em 27 de março de 2012, aos 88 anos, no Rio.

O que vem a seguir foi retirado do livro "Millôr definitivo: A Bíblia do Caos".

Abecedário


A é uma letra com sótão. Chove sempre um pouco sobre o à craseado.
B é um l que se apaixonou pelo 3. O b minúsculo é uma letra grávida.
Ao c só lhe resta uma saída. O ç cedilha, esse jamais tira a gravata.
O  D é um berimbau bíblico.
e minúsculo é uma letra esteatopígia (esteatopígia, ensino aos mais atrasadinhos, é uma pessoa que tem certa parte do corpo, que fica atrás e embaixo, muito feia). O E ri-se eternamente das outras letras.
F, com seu chapéu desabado sobre os olhos, é um gângster à espera de oportunidade. O f minúsculo é um poste antigo.
A pontinha do G é que lhe dá esse ar desdenhoso. O g minúsculo é uma serpente de faquir.
H é uma letra duplex. A parte de cima é muda. Serve também como escada para as outras letras galgarem sentido. O h minúsculo é um dinossauro.
I maiúsculo é guarda, em seu porte de letra, um pouco de número romano. O i minúsculo é um bilboquê.
J, com seu gancho de pirata, rouba às vezes o lugar do g. O minúsculo é uma foca brincando com sua bolinha.
Vê-se nitidamente: o K é uma letra inacabada. Por enquanto só tem andaimes. Parece que vão fazer um R. Junto com o k minúsculo o maiúsculo treina passo-de-ganso.
L maiúsculo parece um l que extraíram com raiz e tudo. Mas o minúsculo não consegue disfarçar que é um número 1 espionando o alfabeto.
M maiúsculo é um gráfico de uma firma instável. O m minúsculo é uma cadeia de montanhas.
N é um M perneta. No n minúsculo pode-se jogar críquete com a bolinha do o.
O maiúsculo é um buraquinho no alfabeto.
p é um d plantando bananeira.
Q maiúsculo anda sempre com o laço do sapato solto. O q minúsculo é um p se olhando de costas no espelho.
R ficou assim de tanto praticar halterofilismo.
Sente-se que o s é um cifrão fracassado. O S maiúsculo é um cisne orgulhoso.
Na balança do T se faz jusTiça.
U é a ferradura do alfabeto, protegendo o galope das idéias. O minúsculo é um n com as patinhas pro ar.
v é uma ponta de lança.
x é uma encruzilhada.
Y é a taça onde bebem as outras letras. Desapareceu do alfabeto porque se entregou covardemente, de braços para cima.
W são vês siameses.
Z é um caminho mais curto entre dois bares. O z minúsculo é um s cubista.

Abdômen
Abdômen: palavra machista significando barriga pra ambos os sexos. Deveria haver também abdmulher.

Abertura política
O generalíssimo Geisel quer a abertura política lenta e gradual! Se Hércules seguisse esse princípio teria lavado as estrebarias de Augias com um regador e aquilo estava cheio de bosta até hoje. (1977)


Abismo

O Brasil já está à beira do abismo. Mas ainda vai ser preciso um grande esforço de todo mundo pra colocarmos ele novamente lá em cima.

Aborto
A Igreja continua contra o aborto. O Papa ainda não descobriu seu lado feminino.

Abulismo
Quem nasce pra to be or not to be nunca chega a ser. (Sobre o Presidente Sarney, 1987)

Ação
O homem põe, Deus dispõe, e o Diabo cai na gargalhada.

Acaso

Deus criou o sol. E as árvores, e os animais, e os minerais. Mas, de repente, para absoluta surpresa sua, olhou e viu,maravilhado, que cada coisa tinha uma sombra. Nessa, francamente, ele não tinha pensado. (A verdadeira história do paraíso. 1958)
● É evidente que o Universo foi feito por acaso -- como a represa de Assuã, a Crítica da Razão Pura e a Capela Sistina.

Acordo
Está bem. Deus é brasileiro. Mas pra defender o Brasil de tanta corrupção só colocando Deus no gol.

Adesão
Não é em tudo que estou de acordo com a juventude. Agora, essa permissividade, essa revolução sexual, não sei não, mas é uma coisa que me interessa muito.

Adiamento
Não há problema tão grande que não caiba no dia seguinte. Morrer, por exemplo, é uma coisa que se deve deixar sempre pra depois.


Adivinho

Amanhã vai ser um dia esplêndido, mas não sei se melhor do que ontem -- como dizia o adivinho desmemoriado.

Administração
Com esse pessoal que está no governo não se administra nem o Tivoli Parque.


Adulto

Um homem é adulto quando começa a gastar mais do que ganha.

Advertência
Missão urgente para a lei e a justiça: obrigar os jornais a imprimir em seus cabeçalhos: "Qualquer semelhança com pessoas ou fatos reais é mera coincidência".


Aferição

De uma coisa estou certo: sou bem pior do que os melhores -- mas um pouquinho melhor do que os piores.

Afinidade
Quando duas pessoas odeiam a mesma pessoa têm a impressão de que se estimam.

Afirmativa
Nem só de pão vive o homem. E nem só desse tipo de afirmativa idiota.

Afrodisíaco
● O melhor afrodisíaco ainda é a carência prolongada.
● Só conheço um afrodisíaco -- a mulher.

Agonia
Agonia: o monólogo final.

Alagoas
Os alagoanos de Collor; por onde eles passam só cresce a grana. (1992)

Álcool
O álcool, tomado com moderação, não oferece nenhum perigo, nem mesmo em grandes quantidades.

Alfabetização
No meu tempo vovô via a uva. Hoje, Ivo come a Eva.

Álgebra
Afinal de contas, o que é álgebra: uma promiscuidade inacreditável de números e letras ou apenas uma suruba de ângulos e hipotenusas?


Alkaseltzer

A invenção do alkaseltzer foi uma tempestade num copo d'água.


Ambiguidade

Como é mesmo que Stefan Zweig disse: "País do futuro" ou "País do faturo"?


Ameaça

Os banqueiros não perdem por esperar. Ganham.


Americanismo

Tão americanizado que em vez de dizer outrossim, dizia outroyes.


Amnésia

E como dizia Dom Pedro I, acordando de ressaca no dia 8 de setembro: "Eu ontem, de pileque, proclamei o quê?"


Amor

Lição primeira e única -- amor não é coisa para amador.


Analfabeto

● Quem não lê é mais analfabeto do que quem não sabe ler.
● Os analfabetos têm falta de vitamina ABC.


Análise

Como me acho um cara ótimo, me sinto muito mal nos momentos em que me acho péssimo; mas, como um cara ótimo como eu se achar ocasionalmente um cara péssimo revela a si mesmo uma boa autocrítica, é nos momentos em que me acho péssimo que me acho melhor do que antes; mas, aí penso que estou falsificando. Que só estou me criticando  e me achando péssimo pra me achar melhor. E então me acho muito pior.


Análise grupal

A análise grupal é o prêt-à-porter da psicanálise.


Analista

Analista é um sujeito que, partindo de premissas falsas, consegue chegar a conclusões perfeitamente equivocadas.


Anatomia

Anatomia é essa coisa que os homens também têm, mas que nas mulheres fica muito melhor.


Andorinha

Uma andorinha só, tem que conhecer melhor os provérbios. E comprar um casaco.


Aniversário

● No aniversário, enquanto os convidados comemoram mais um ano, o aniversariante lamenta menos um.

● Cada vela soprada no bolo de aniversário é parte da contagem regressiva.


Anticoncepcional

O maior anticoncepcional é o mau hálito.


Aparelho digestivo

O aparelho digestivo se compõe de boca, língua, laringe, esôfago, estômago, intestino, garfo e faca.


Aparência

● As coisas nem sempre são tão ruins quanto parecem. Mas quase sempre são.

● O importante não é pensar, é ter expressão de pensador.

● As aparências não enganam: quando você vê um cara vestido de general, há enorme probabilidade de que ele seja isso.


Apartheid

Na África do Sul ninguém pratica tiro ao alvo -- só no negro. (1975)


Apelido

"Meu bem" é o nome de solteiro do marido.


Aprendizado

● Para aprender muito é fundamental, antes de mais nada, ser bastante ignorante.
● Aprende-se muito mais ignorância nas faculdades do que no meio da rua.


Aprimoramento

O primeiro homem Deus fez do barro. A primeira mulher Deus fez de uma costela do homem. Só o terceiro ser humano foi feito em conjunto, pelo homem e pela mulher, usando o instrumento próprio no lugar adequado.


Arca de Noé

Na escuridão da Arca nasceram os primeiros híbridos. Bissexuais.


Armando Falcão

É sabido que a morte suaviza todos os nossos julgamentos. Mas, pra eu mudar de opinião a respeito do Armando Falcão, ele vai ter que morrer pelo menos meia dúzia de vezes. (Armando Falcão foi ministro da Justiça no período mais negro da ditadura militar.)


Arrependimento

Se o homem das cavernas soubesse o que ia acontecer, teria ficado lá dentro.


Ás

O inventor do baralho já apoiava a ditadura (ou a eminência parda?). Se não, que diabo quer dizer essa carta, ás, que vale mais que um rei?


Assembleia

Assembleia é uma cambada de parlamentares. (Novos coletivos).


Assessoria

Deus é bom. Está é muito mal cercado.


Assiduidade

Apesar de sexagenário, ele fazia sexo quase todos os dias. Quase no domingo, quase na segunda-feira, quase na terça ...


Astronomia

O fato é que depois de viajar anos, esse Voyager não descobriu nenhuma forma de vida inteligente pelaí. O Cosmos, ao que parece, é igualzinho à Terra.


Ateísmo

● O sujeito que me fará acreditar na imortalidade da alma ainda está pra ressuscitar.

● O ateísmo é uma espécie de religião em que ninguém acredita.


Ateu

No longo prazo um ateu não tem futuro.


Autobiografia

Estou escrevendo minha autobiografia. Mas ainda não decidi se vou morrer no fim.


Autocrítica

Toda vez que, na intimidade do banheiro, ficava nua, ela morria de rir de seus admiradores.

● Por que nunca nenhum país ergueu um monumento autocrítico -- o Arco da Derrota?

● Todo mundo viu; o ministro, na televisão, disse uma verdade e corou de vergonha.


Autodefesa

Quem não tem boa aparência acha sempre que as aparências enganam.


Autodidata

O autodidata é o único sujeito que não pretende saber mais do que o professor.


Autópsia

● Eu acredito em autocrítica e autoanálise. Não acredito é em autoautópsia.

● Quando fizerem minha autópsia encontrarão o Rio no meu coração. (1973)


Autoritário

Autoritário é o sujeito que lhe dá a resposta sem que você faça a pergunta.


Avaliação

Quando eu nasci os obstetras me acharam perfeitamente normal. Mas os designers balançaram a cabeça.


Azar

● O Brasil é um país sem sorte. Porque se alia à Igreja Católica. A Igreja Católica tem muita urucubaca. Se eu fosse presidente a primeira coisa que fazia era nomear um ministro de umbanda para fechar o corpo do país. Todo despacho importante do presidente seria numa sexta-feira, numa encruzilhada, acompanhado de um ministro tranca-ruas.

● Deus no sétimo dia descansou. Aí choveu paca e não deu praia.


Bagagens

O difícil, quando forem comuns as viagens interplanetárias, será a gente descobrir o planeta em que foram parar as bagagens.


Baianidade

● E como dizia o baiano: "A inércia pra mim é uma orgia".

● Baiano só tem pânico no dia seguinte.


Bajulação

No Planalto muita gente de quatro fingindo que está apenas procurando a lente de contato.


Bala perdida

Bala perdida é expressão definitivamente inadequada. A bala pode ter vindo não se sabe de onde. Pode não ter sido disparada para alcançar quem alcançou. Mas perdida não está. Perguntem à pessoa atingida.


Barrabás

Apesar de ladrão, Barrabás foi absolvido em lugar de Cristo. É por isso que todos devemos imitar Barrabás. (Falsa cultura)


Batata

A batata pertence ao reino vegetal, espécie cormófilas, divisão dos fanerógamos, subdivisão dos angiospermas, classe das dicotiledôneas, ordem das personadas, espécie das tuberosas -- mas, frita fica deliciosa.



Charges do Millôr (fonte: Google)
















Charge política de Millôr Fernandes Foto: Reprodução / Site oficial





Charge de Millôr Fernandes Foto: Reprodução / Site oficial