segunda-feira, 30 de setembro de 2013

O Brasil e seus vexames: temos 237 tratados sem aval do Congresso

[Cada dia que passa é mais uma notícia de um vexame adicional a que o país é submetido, aqui e lá fora. E, invariavelmente, pelo menos um dos chamados "poderes" da República tem culpa no cartório -- e, não raro, mais de um deles  nos empurra para a vergonha pública, como nos conta a reportagem de ontem, 28/9, do Globo, que reproduzo a seguir. O que estiver entre colchetes e em itálico é de minha responsabilidade.]

O que dizer de um país que busca um pouco mais de protagonismo no cenário internacional e, ao mesmo tempo, negligencia os acordos por ele negociados e assinados? É o que acontece com o Brasil, alvo de críticas, constrangimentos e cobranças dos parceiros internacionais. Estima-se que existem nada menos do que 237 tratados que ainda não estão valendo, por não terem sido ratificados pelo Legislativo Brasileiro. Deste total, 180 ainda se encontram no Executivo, 55 tramitam na Câmara e 2 estão no Senado.

Entre os casos mais gritantes, está o texto da Convenção sobre a Conservação das Espécies Migratórias de Animais Silvestres, assinado em 23 de junho de 1979, na Alemanha, que só agora tramita no Senado, para depois ser sancionado. Também está na Casa o memorando de entendimento, assinado em 20 de julho de 2008, em Letícia, na Colômbia, entre os governos brasileiro, colombiano e peruano, para combater atividades ilícitas nos rios fronteiriços e comuns.

Na Câmara, destacam-se um acordo de extradição Brasil-China, celebrado em novembro de 2004; a isenção de vistos para passaportes diplomáticos com o Irã, assinada em 2009; o acordo de defesa da concorrência do Mercosul, assinado em 2010; e o acordo da Unasul sobre democracia. Essa situação fere a imagem do Brasil, que leva anos para ratificar um acordo, enquanto, em boa parte dos países, o prazo não chega a seis meses.

O processo de celebração de acordos internacionais no Brasil obedece às seguintes etapas: negociação, assinatura, aprovação parlamentar e ratificação. Após assinado, não há prazo legal para que o texto seja enviado ao Legislativo. Na Câmara, já com o nome de projeto de decreto legislativo, o acordo passa por várias comissões, além do plenário, para depois seguir ao Senado.

Tratados podem ganhar urgência

Para o presidente da Comissão de Relações Exteriores (CRE) do Senado, Ricardo Ferraço (PMDB-ES), há irresponsabilidade e leniência por parte do governo e da Câmara dos Deputados. Ao Globo, ele ameaçou não permitir mais a apreciação desses atos, enquanto não surgir uma forma de tornar mais rápida a tramitação. Entre as propostas em estudo estão a supressão da Câmara na votação desses tratados — incumbência que passaria a ser apenas do Senado — e a classificação dessas matérias como urgentes pelo Executivo.

"Esse procedimento de convivência com esses acordos bilaterais está no limite do intolerável. Quem faz acordos não são governos, mas Estados, que acertam e ajustam agendas e metas. Na prática, está faltando responsabilidade e a participação do Congresso acaba se tornando irrelevante. É uma ratificação de faz de conta. O papel do Congresso é próximo do ridículo e o Poder Executivo faz de conta que nada está acontecendo", disparou Ferraço.

Diferença em relação a parceiros

No Brasil, o Executivo, às vezes, demora anos para encaminhar os acordos para o Legislativo, devido à burocracia e ao desinteresse existente nos ministérios setoriais. Enquanto isso, em boa parte dos países signatários, o processo leva até seis meses. Ferraço disse até que, se a situação permanecer como está, o mais provável é que os tratados sejam devolvidos. "Nossa comissão não é anexo do Itamaraty, nem do poder Executivo, muito menos almoxarifado e tampouco cartório", afirmou o senador.

Vergonha. Ricardo Ferraço, presidente da Comissão de Relações Exteriores, lamenta atraso. - (Foto: Givaldo Barbosa/O Globo).

[Política externa é assunto demasiado importante para ficar na dependência de cabeças de bagre, e se há algo que nunca faltou nos nossos poderes Legislativo e Executivo -- ambos no caminho crítico da aprovação de protocolos diplomáticos -- é esse tipo de cabeça. E, para não se cometer injustiça, é bom deixar claro que o MRE - Ministério das Relações Exteriores e o Itamaraty também costumam deixar suas impressões digitais -- não raro, as 20 -- nessas lambanças, sendo de bom alvitre lembrar que nossa diplomacia entrou para a família dos invertebrados, com sua espinha dorsal sem qualquer rigidez à pressão de políticos e países vizinhos.

O caso da Convenção firmada com a Alemanha desde junho de 1979 e ainda não aprovada pelo Congresso é absurdo, inexplicável e inadmissível. Fiz um levantamento para ver quem tem rabo preso nessa palhaçada:
  • Poder Executivo: a Convenção foi assinada no governo do general João Figueiredo, e passou pelos governos de José Sarney, Fernando Collor, Itamar Franco, Fernando Henrique, NPA (Nosso Pinóquio Acrobata, Lula) e NPS (Nosso Pinóquio de Saias, Dilma).
  • Poder Legislativo: desde 1979 foram presidentes do Senado Petrônio Portela, Luís Viana Filho, Jarbas Passarinho, Nilo Coelho, Moacir Dalla, José Fragelli, Humberto Lucena, Nelson Carneiro, Mauro Benevides, Humberto Lucena (novamente), José Sarney, Antonio Carlos Magalhães, Jáder Barbalho, Edison Lobão, Ramez Tebet, José Sarney (novamente), Renan Calheiros, Tião Viana, Garibaldi Alves Filho, José Sarney (novamente, desta vez por 4 anos) e Renan Calheiros. -- De 1979 para cá, presidiram a Câmara Federal Marco Antônio Maciel, Flávio Portela Marcílio, Nelson Marchezan, Flávio Portela Marcílio (novamente), Ulysses Guimarães (por 4 anos), Antônio Paes de Andrade, Ibsen Pinheiro, Inocêncio de Oliveira, Luís Eduardo Magalhães, Michel Temer, Aécio Neves, Efraim Morais, João Paulo Cunha (um dos mensaleiros), Severino Cavalcanti, José Aldo Rebelo, Arlindo Chinaglia, Michel Temer (novamente), Marco Aurélio Maia, Henrique Eduardo Alves.
  • Ministério das Relações Exteriores, a partir de 1979: Ramiro Saraiva Guerreiro (por 6 anos), Olavo Setúbal, Abreu Sodré, Francisco Rezek, Celso Lafer, Fernando Henrique Cardoso, Luiz Felipe Lampreia (interinamente, de maio a julho de 1993), Celso Amorim, Luiz Felipe Lampreia (por 6 anos, até 12/1/2001), Luiz Felipe de Seixas Corrêa (interinamente, de 12 a 29/1/2001), Celso Lafer (novamente), Celso Amorim (novamente, desta vez por 8 anos), Antonio Patriota, Eduardo dos Santos (interinamente, por 2 dias) e Luiz Alberto Figueiredo.
Todos esses cidadãos listados aí em cima têm inequívoca responsabilidade por essa palhaçada de ficarmos já 24 anos sem aprovar ainda a Convenção sobre a Conservação das Espécies Migratórias de Animais Silvestres firmada com a Alemanha em 23 de junho de 1979. Olhando com calma a lista, vê-se que inúmeros nomes dela constantes não permitem realmente esperar que algo coerente e decente se faça sob suas gestões. Mas a culpa é de todos, indistintamente.

Todos os demais casos citados na reportagem, de protocolos diplomáticos emperrados no Congresso ocorreram na década petista no governo. Aí a coisa fica braba: esperar o quê de uma turma formada por NPA, Celso Amorim, José Sarney, Renan Calheiros, João Paulo Cunha, Marco Aurélio Maia & etc, Henrique Alves, Antonio Patriota e NPS et caterva?! Detalhe: o senador Ricardo Ferraço, que está botando a boca no trombone é do PMDB-ES, portanto da base do governo.

E o país ainda se acha com estofo para ocupar uma cadeira permanente no Conselho de Segurança da ONU ...] 











domingo, 29 de setembro de 2013

Produtos com IPI reduzido aumentam de preço e pressionam inflação -- outra mágica besta do governo Dilma

[Continuamos pagando o pato e a conta pela incompetência de Dona Dilma, a doce. A NPS (Nosso Pinóquio de Saias) beneficia setores da economia, que ela seleciona do mesmo modo como escolhe uma bijuteria no camelô ou uma galinha no mercado, baixando seu IPI. Esses setores mamam essa quota adicional na teta do governo e continuam aumentando os preços como dantes no quartel de Abrantes. E a nossa supersimpática ex-guerrilheira fica sem entender essa desobediência do mercado e faz biquinho ... A reportagem abaixo é de Thiago Resende e Lucas Marchesini, e foi publicada em 11/9 no jornal Valor Econômico.  Publico esta postagem hoje porque em outubro o IPI dos eletrodomésticos volta a subir, rumo ao que era antes do incentivo. Vá alguém racional querer entender essa política fiscal ioiô -- e a NPS é economista ... É o sadismo burro e suicida da ganância fiscal de um governo do partido dos trabalhadores.]

O efeito da redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) nos preços da "linha branca" e móveis não se manteve ao longo da concessão do benefício. Hoje, o mobiliário está, em média, 10,6% mais caro e os fogões tiveram uma alta de 8,8% em relação a dezembro de 2011, quando o imposto caiu. Já geladeiras e máquinas de lavar ainda apresentam preços menores, mas os valores dessas mercadorias estão subindo desde o segundo trimestre do ano - no meio do ciclo de elevação do IPI para a maioria desses itens. Os avanços foram maiores que os verificados em segmentos mais dependentes de insumos importados, num período de forte valorização do dólar.

A decisão dos setores de repassar o aumento do imposto ao consumidor contrariou o pedido de segurar os preços feito pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega. Num cenário que também inclui o real mais desvalorizado, a elevação do tributo gerou pressão inflacionária principalmente nos últimos meses, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Até agosto, a inflação de fogões e móveis ficou acima do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que avançou 3,43%. Esses indicadores e também o de geladeiras superaram os registrados nos oito primeiros meses de 2012, quando o imposto estava reduzido.  O IPI desses produtos subiu pela primeira vez em fevereiro. Numa segunda rodada, aumentou mais um pouco em julho. Os números do IBGE mostraram que, de forma geral, os preços nas lojas de mercadorias "linha branca" e diversos tipos de móveis começaram a subir a partir de abril em ritmo mais acelerado que no mesmo período do ano passado. O aumento do IPI demora de 30 a 45 dias para chegar ao consumidor, dependendo do estoque de cada varejista, segundo a Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL).

Atualmente, ainda há desconto no IPI para esses produtos, porém em menor grau que em 2012 e início do ano. A previsão é que o imposto seja elevado mais uma vez em outubro. Se confirmada a alta, os preços ao consumidor não vão demorar a avançar, avaliam empresários. Nesta semana, Mantega se reuniu com varejistas e a Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônico (Eletros). O Valor apurou que o ministro "ficou de estudar" um possível adiamento de aumento do IPI, mas a decisão só deve ser tomada no fim do mês.

Efeito IPI? - Índice da variação mensal de itens selecionados no IPCA (novembro/2011 = 100%). - (Gráficos: Valor Econômico -- clique na imagem para ampliá-la).


Quando começou a retirar o benefício, o governo pediu para os setores "absorverem" esse aumento, ou seja, não repassá-lo ao preço para o consumidor. "Tanto o varejo quanto o setor produtivo farão um esforço de acomodar esse aumento de alíquotas, de modo que isso não venha a prejudicar as vendas e aumentar a inflação", disse Mantega ao anunciar a alta gradual do IPI.

Sem espaço fiscal para novas desonerações, o governo teve que adotar essa medida. Deu, no entanto, tratamento especial às máquinas de lavar roupa. O IPI desse produto não foi alterado: ficou em 10%. A alíquota normal é de 20%. No caso desse item, a inflação subiu menos que para as mercadorias que tiveram o imposto elevado. "A manutenção do IPI ajudou a controlar os preços", disse Irene Maria Machado, gerente de pesquisa do IBGE.

Mesmo assim, a inflação desse eletrodoméstico no acumulado do ano também ficou acima da verificada no mesmo período de 2012. Essa diferença ocorreu praticamente por causa da alta dos preços em agosto, quando o dólar mais caro teve impacto em diversos produtos, inclusive nos outros da "linha branca", mas que apresentaram inflação mais elevada.  Desde que começou a redução do IPI, os preços de geladeira e máquina de lavar caíram 2,4% e 1%, respectivamente. Mesmo nesses exemplos de deflação, a queda foi menor que no setor de TV e som, cujo impacto do câmbio na produção é maior.

Varejistas alegam que têm pouca margem para "absorver" o preço maior de produtos vindos da indústria. "Se tem aumento de preço na indústria, fica muito difícil não repassar, e a indústria já vem pressionando há muito tempo", disse o presidente da CNDL, Roque Pellizzaro Jr.

A Associação Brasileira das Indústrias do Mobiliário (Abimóvel) explicou que houve pressão de custo de matéria prima, de mão de obra, além da elevação do IPI. "Milagre a gente não tem como fazer", disse o presidente da entidade, Daniel Lutz, que quer negociar o adiamento da próxima alta do imposto. Se a elevação for mantida, o impacto nos preços deve ser rápido, porque os estoques de móveis do varejo, segundo ele, estão baixos.

Para a Eletros, o aumento dos preços pode ser resultado do IPI elevado, encarecimento do aço e resinas. "Ninguém quer aumentar preço, mas o IPI é um adicional que é incluído no preço final ao sair da fábrica", disse o presidente da associação, Lourival Kiçula.











Practice your English

Fazendo uma trégua e eliminando, por um momento, quaisquer referências a NPS (Nosso Pinóquio de Saias, Dona Dilma), NPA (Nosso Pinóquio Acrobata, Lula), STF, Renan, Lewandowski, Toffoli, Barroso, Zavascki, boçais baderneiros, ministros e políticos corruptos (virou redundância no patropi), os voos de galinha do governo, a economia capenga, a saúde pública doente, a segurança pública insegura, e outros que tais que atazanam nossa vida diária e insistentemente, reproduzo abaixo um pouco do bom e velho humor inglês. Agradeço ao caro amigo Levy o envio desse material. Em tempo: para que nossos amigos britânicos não se amofinem, o título da postagem na terra da Rainha seria "Practise your English".

TEACHER: Why are you late?
STUDENT: Class started before I got here. 
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TEACHER: John, why are you doing your math multiplication on the floor?
JOHN: You told me to do it without using tables
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TEACHER: Glenn, how do you spell 'crocodile?' GLENN: K-R-O-K-O-D-I-A-L'
TEACHER: No, that's wrong
GLENN: Maybe it is wrong, but you asked me how I spell it
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TEACHER: Donald, what is the chemical formula for water?
DONALD: H I J K L M N O.
TEACHER: What are you talking about?
DONALD: Yesterday you said it's H to O
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TEACHER: Glen, why do you always get so dirty?
GLEN: Well, I'm a lot closer to the ground than you are
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TEACHER: Millie, give me a sentence starting with ' I. '
MILLIE: I is..
TEACHER: No, Millie..... Always say, 'I am.'
MILLIE: All right... 'I am the ninth letter of the alphabet.
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TEACHER:
George Washington not only chopped down his father's cherry tree, but also admitted it. Now, Louie, do you know why his father didn't punish him?
LOUIS: Because George still had the axe in his hand..... 
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TEACHER: Now, Simon , tell me frankly, do you say prayers before eating?
SIMON: No sir, I don't have to, my Mom is a good cook. 
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TEACHER: Clyde , your composition on 'My Dog' is exactly the same as your brother's.. Did you copy his?
CLYDE : No, sir. It's the same dog.
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TEACHER: Harold, what do you call a person who keeps on talking when people are no longer interested?
HAROLD: A teacher  

These are classified ads, which were actually placed in U.K. Newspapers: 
FREE PUPPIES -1/2 Cocker Spaniel, 1/2 sneaky neighbor's dog. 
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FREE PUPPIES- Mother is a Kennel Club registered German Shepherd.Father is a Super Dog, able to leap tall fences in a single bound.
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WEDDING DRESS FOR SALE . Worn once by mistake. Call Stephanie.
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FOR SALE BY OWNER. Complete set of Encyclopaedia Britannica, 45 volumes.
Excellent condition, £200 or best offer.No longer needed, got married, wife knows everything.
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 Thought from the Greatest Living Scottish Thinker--Billy Connolly.
"If women are so bloody perfect at multitasking, how come they can't have a headache and sex at the same time?"
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A Primavera burra

[Reproduzo abaixo mais um excelente artigo de Guilherme Fiuza, publicado ontem no Globo.]

A Primavera burra

Guilherme Fiuza (*) -- O Globo, 28/9/2013

O Supremo Tribunal Federal melou a prisão dos mensaleiros, na mão grande. Como se sabe, pela primeira vez na história a corte máxima tem juízes partidários, como Ricardo Lewandowski e Dias Toffoli, obedientes aos seus senhores petistas. E os principais réus do mensalão, que por acaso mandam no Brasil, têm os melhores advogados de Brasília — pagos a peso de ouro com uma dinheirama que eles não precisam dizer de onde veio, mas pode-se supor. Foi com essa blitz política (disfarçada de jurídica), ou, em bom português anglo-saxão, com esse lobby, que o Brasil foi roubado de novo, à luz do dia.

E o que fizeram os brasileiros, que agora são revolucionários e esculhambam o trânsito a qualquer hora do dia para “mudar o Brasil”? Não fizeram nada. Os bravos manifestantes da Primavera Brasileira de 2013 assistiram ao novo assalto, como diria Anitta, ba-ban-do.

O golpe dos embargos infringentes foi vexaminoso. Uma manobra tosca, que embaralhou um julgamento cristalino e cindiu o direito e o bom senso — o que é uma cisão grave, mas não nesse Brasil onde civismo é jogar pedra em vidraça. Votos como o do ministro Marco Aurélio mostraram que o julgamento só poderia ser reaberto — decisão drástica — se não pairassem dúvidas sobre a legalidade dos embargos.

Pois bem: o julgamento foi reaberto em casos onde houve quatro votos contrários à sentença. E a própria decisão de reabertura teve cinco votos contrários! Não seria então o caso de entrar com embargos infringentes contra a aceitação dos embargos infringentes?

Não, não seria, porque nesse caminho de prostituição da técnica, a lógica já foi abandonada no acostamento há muito tempo, e o espírito da lei já foi pendurado na parede, ao lado de um retrato do filho do Brasil. A blitz dos advogados milionários do PT fez o STF virar as costas para a lógica e o espírito da lei. Normal. Quem está do outro lado é só o Brasil, esse pobre coitado, que não tem nada concreto para oferecer: nem cargos, nem prestígio, nem favores, nem negócios, nem mesmo a emoção de um café da manhã com José Dirceu, o astro da penumbra.

Foi comovente ver a bancada petista no Supremo, em ações grandiloquentes e tom épico, defendendo com garra um futuro tranquilo e confortável. O PT inaugurou o patriotismo privado.

Para o pobre coitado do outro lado, batizado com nome de madeira nativa (profetizando a cara de pau), o que aconteceu no Supremo Tribunal Federal é apenas o fim. Se as massas (e os gatos pingados) não sabem direito por que vão às ruas, se não é só por 20 centavos, se é por tudo — e tudo, como se sabe, é igual a nada —, a zombaria do STF contra o país inteiro, aliviando os maiores assaltantes da história da República, cujo grupo político por acaso governa o Brasil, é a causa das causas. É para inundar as ruas de gente, é para cercar os palácios da Justiça Federal em todo o território, é para, aí sim, parar tudo e avisar que isso aqui não é a casa da mãe Dilma e de seus companheiros parasitários.

Mas o que se viu por aí depois do golpe do STF? Bem, escolha a sua manifestação preferida: black blocs vaiando e ameaçando artistas de cinema na chegada ao Festival do Rio; revolucionários da Cinelândia recebendo a adesão do Batman e do Saci Pererê; ninjas, fora do eixo e fora de órbita, discutindo a relação com a polícia (decidindo o que veio primeiro, a pedra ou a pimenta); sindicalistas privatizando as ruas e decidindo quem pode ir e vir.

Enquanto isso, estoura novo escândalo na boquinha que Dilma Rousseff cultivou dentro do Ministério do Trabalho — o mensalão redivivo na farra das ONGs piratas. Mais R$ 400 milhões desviados para a turma que a presidente fingiu escorraçar em 2011, com o inesquecível Carlos Lupi, mas que na verdade protegeu, porque é dando que se recebe. Os réus que o STF acaba de refrescar fizeram escola, só não vê quem não quer. E ninguém parece querer. Não apareceu um único mascarado no horizonte para acuar os sócios do governo popular nesse novo escárnio. Eles preferem rosnar contra artistas de cinema.

Não pode haver mais dúvidas: os movimentos de protesto que levaram os brasileiros às ruas em 2013 passarão à história como a Primavera Burra.

PS: o ministro do Trabalho passa bem, os ministros infringentes idem, e os mensaleiros estão estourando champanhe com a nova disparada de Dilma no Ibope. Vêm aí mais quatro anos de sucção pacífica.

(*) Guilherme Fiuza é jornalista





sábado, 28 de setembro de 2013

A arte maravilhosa de Manabu Mabe

Depois de Di Cavalcanti, de Almeida Júnior, de Aldemir Martins, de Victor Meirelles, e de Cândido Portinari, dou sequência hoje à galeria de pintores brasileiros no blogue com alguns exemplos da maravilhosa arte de Manabu Mabe (1924-1997). Para esta postagem, usei como referências o livro "Manabu Mabe", n° 13 da série Coleção Folha - Grandes Pintores Brasileiros (2013) e pesquisas minhas na Internet.

Manabu Mabe (1924-1997) - (Foto: Google).
Manabu Mabe nasceu no Japão em 14 de setembro de 1924, na localidade de Takara, Vila de Shiranui, Município de Udo, Província de Kumamoto, atualmente cidade de Shiranui. Manabu Mabe emigrou para o Brasil no ano de 1934, então com dez anos, a bordo do Navio La Plata Maru.

Trabalha na lavoura de café no interior do Estado de São Paulo. Em 1941, reside na cidade de Lins, onde realiza desenhos a crayon e aquarelas. Dedica-se a essa atividade apenas nos dias de chuva – quando não pode trabalhar – e aos domingos. Adquire suas primeiras tintas a óleo em 1945. Naquele ano, uma intensa geada arruinou toda a plantação de café e fomos forçados a descansar. Vi uma caixa de tinta numa livraria da cidade e não resisti à vontade de experimentar. Em pouco tempo pintei avidamente paisagens e naturezas-mortas em papelões e tábuas de madeira, dissolvendo a tinta em querosene.  Nesse período, recebe orientação artística do pintor e fotógrafo Teisuke Kumasaka.

Em 1947, em uma viagem a São Paulo conhece o pintor Tomoo Handa, que o incentiva a ter a natureza como fonte de inspiração. No ano seguinte, estuda com o pintor Yoshiya Takaoka, que lhe transmite ensinamentos técnicos e teóricos sobre pintura. Nesse período, participa do Grupo Seibi e integra o Grupo 15, com Yoshiya Takaoka, Shigueto Tanaka e Tomoo Handa, entre outros. Dedica-se ao estudo do nu artístico, pinta paisagens e naturezas-mortas, primeiramente em estilo mais conservador e depois aproxima-se progressivamente do impressionismo e do fauvismo.

Na 1ª Bienal Internacional de São Paulo, em 1951, toma contato com obras de artistas da Escola de Paris, como Jean Claude Aujame, André Minaux, André Marchand e Bernard Lorjou, experiência que, segundo o próprio artista, modifica sua forma de pensar e a atitude perante a pintura. No começo da década de 1950, apresenta em suas telas formas geometrizadas, aproximando-se do cubismo, e figuras contornadas por grossos traços negros. Sua produção dialoga com a obra de Pablo Picasso e de Candido Portinari, pelos quais mantém forte admiração, como podemos observar em Carregadores ou Colheita de Café, ambas de 1956. Gradualmente, adere à abstração e, em 1955, pinta sua primeira obra abstrata Vibração-Momentânea. De 1956 a 1957, inicia os trabalhos não figurativos, mas a administração do cafezal estava tornando-se um peso demasiado para ele, pois absorvia todo o seu tempo. Finalmente, vendo-se às voltas com grandes dívidas e cada um de seus irmãos tornando-se independente, vendeu o cafezal e foi para São Paulo determinado a viver como pintor.

Em 1951, casa-se com Yoshino, com quem tem três filhos. Em 1955, começa a ganhar prêmios no Salão Paulista de Arte Moderna durante anos consecutivos. Em 1959 se consagra, recebendo o Prêmio Leirner de Arte Contemporânea, com as pinturas abstratas Grito e Vitorioso, ambas realizadas em 1958. Ainda em 1959, participa da 5ª Bienal Internacional de São Paulo, com as obras Composição Móvel, Pedaço de Luz e Espaço Branco, todas daquele ano, e recebe o prêmio de Melhor Pintor Nacional. As pinturas destacam-se pelas grandes manchas cromáticas, executadas em gestos rápidos e largos, em que se percebe o equilíbrio entre a espontaneidade e a contenção. Nessas telas, encontramos referências à tradicional arte da caligrafia japonesa. Consagra-se, no mesmo ano, nacional e internacionalmente: é premiado na 1ª Bienal dos Jovens de Paris; a revista Time dedica-lhe um artigo, intitulado The year of Manabu Mabe [O ano de Manabu Mabe]; e, no ano seguinte, é premiado na 30ª Bienal de Veneza. Torna-se assim um dos artistas mais destacados do abstracionismo informal brasileiro. Realiza exposições individuais e participa de mostras coletivas na América Latina, Europa e nos Estados Unidos.

No início de sua trajetória no campo da abstração, Manabu Mabe explora em suas obras o empastamento, a textura e o traço, e se revela um colorista de porte. Em meados da década de 1960, começa a aproximar-se também de certos aspectos do tachismo.  A partir da década de 1970, cristaliza seus procedimentos anteriores – que reaparecem estilizadamente em quase toda sua produção --, incorpora em seus quadros figuras humanas e formas de animais, apenas insinuadas ou sugeridas, mas que em geral são representadas em grandes dimensões. Paralelamente, as grandes massas transparentes e etéreas com que vinha trabalhando adquirem um aspecto de solidez. Em 1970, realiza sua primeira exposição individual no Japão, na Galeria de Arte Takashimaya (Tóquio), e em 1978 faz sua grande retrospectiva em museus importantes do Japão -- as obras dessa mostra desapareceram em um desastre de avião.

Nos anos 1980 pinta um painel para a Pan American Union em Washington, Estados Unidos; ilustra O Livro de Hai-Kais, tradução de Olga Salvary e edição de Massao Ohno e Roswitha Kempf; e elabora a cortina de fundo do Teatro Provincial, em Kumamoto, Japão.Realiza, em 1986, uma retrospectiva no Museu de Arte de São Paulo (Masp) e lança um livro com 156 reproduções de seu trabalho com textos em português, inglês e japonês. Escreve, em 1994, a autobiografia Chove no Cafezal, em japonês, cujo texto original foi publicado em capítulos semanais no jornal Nihon Keizai Shinbum, de Kumamoto, sua região natal. Esse mesmo livro é lançado em português em 1998.

Em 1996 viaja ao Japão para uma grande mostra retrospectiva de sua obra. Em 1997, alguns meses antes de falecer Manabu Mabe participou de uma vinheta interprogramas pintando o logotipo da extinta Rede Manchete de televisão. No mesmo ano, por causa da diabetes, Mabe morre em São Paulo por complicações decorrentes de um transplante de rim. Suas obras encontram-se nos Museu de Arte Contemporânea de São Paulo, de Arte Moderna do Rio de Janeiro, de Arte Contemporânea de Boston e de Belas Artes de Dallas, entre outros. No Museu Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro, encontra-se uma de suas pinturas mais expressivas, uma Natureza-Morta (óleo sobre tela).

Clique em cada imagem abaixo para ampliá-la.

Paisagem de Lins (1949). Óleo sobre tela (50 x 60 cm) - (Foto: Google).

Autorretrato (1949). Óleo sobre papel cartão (50 x 40 cm). Coleção particular. - (Foto: Google).

Natureza-morta e boneca (1950). Óleo sobre tela (60 x 73 cm). - (Foto: Enciclopédia Itaú de Artes Visuais).

Natureza-morta (1952). Óleo sobre tela (50,5 x 60,1 cm). Museu Nacional de Belas Artes (Rio de Janeiro). - (Foto: Google).

Natureza-morta (1952). Óleo sobre tela (46 x 55 cm). Coleção particular. - (Foto: Enciclopédia Itaú de Artes Visuais).

Carregadores (1953). Óleo sobre tela (130 x 162 cm). Coleção Gilberto Chateaubriand, MAM - RJ. - (Foto: Paulo Scheuenstuhl - Fonte: Enciclopédia Itaú de Artes Visuais).

Peixes, pomba e frutas (1954). Óleo sobre tela (46 x 55 cm). - (Foto: Enciclopédia Itaú de Artes Visuais).

Ternura (1955). Óleo sobre tela (92 x 73 cm). - (Foto: Enciclopédia Itaú de Artes Visuais).

Vibração momentânea (1955). Óleo sobre tela (60 x 73 cm). Coleção particular. - (foto: Google).

Composição abstrata (1969?). Óleo sobre madeira (51 x 51 cm). - Foto: Google).

Colheita de café (1956). Óleo sobre tela (150 x 125 cm). Obra perdida em acidente de avião em 1979. - (Foto: Google).

Composição B (1956). Óleo sobre tela (120 x 120 cm). - (Foto: Enciclopédia Itaú de Artes Visuais).

Sem título (1958). Mista sobre papel (64 x 46 cm). - (Foto: Google).

Sinfonia pastoral (1958). Óleo sobre tela (130 x 162 cm). - (Foto: Enciclopédia Itaú de Artes Visuais).

Grito (1958). Laca sobre tela (130 x 162 cm). Coleção particular. - (Foto: Enciclopédia Itaú de Artes Visuais).

Mãe e filho (1958). Laca sobre tela (100 x 60 cm). - (Foto: Enciclopédia Itaú de Artes Visuais).

Profeta I (1959). Óleo sobre tela (110 x 130 cm). Obra perdida em acidente de avião em 1979. - (Foto: Enciclopédia Itaú de Artes Visuais).

Pedaço de luz (1959). Óleo sobre tela (130 x 130 cm). Obra perdia em desastre de avião em 1979. - (Foto: site do pintor).

Poema do Rio (1960). Óleo sobre tela (60 x 130 cm). Acervo do Banco Itaú S.A. (São Paulo, SP). - (Foto: Enciclopédia Itaú de Artes Visuais).

 
Sem título (1960). Óleo sobre tela. - (Foto: Google).

A Fome (1961). Óleo sobre tela (250,2 x 200 cm). Acervo Artístico-Cultural dos Palácios do Governo do Estado de São Paulo. Palácio dos Bandeirantes (SP)- (Foto: Enciclopédia Itaú de Artes Visuais).

Asa dourada (1962). Óleo sobre tela. - (Foto: Google).

Contrição (1963). Óleo sobre tela (180 x 200 cm). - (Foto: Enciclopédia Itaú de Artes Visuais).

Caminho para o Outono (1963). Óleo sobre tela (190 x 190 cm). - (Foto: Enciclopédia Itaú de Artes Visuais).

Melancolia do Outono (1965). Óleo sobre tela (130 x 110 cm). - (Foto: Enciclopédia Itaú de Artes Visuais).

Alvorada da Indústria (1966). Óleo sobre tela (130 x 150 cm). - (Foto: James Lisboa/Escritório de Arte).
Abstracionismo (1967). Óleo e verniz sobre tela (180,3 x 200 cm). Acervo da Pinacoteca do Estado de São Paulo. - (Foto: Google).

Sentimento de Outono (1967). Óleo sobre tela (126 x 126 cm). MAM-SP. - (Foto: MAM-SP).


Nascente (1968). Óleo sobre tela (200 x 230 cm). - (Foto: Enciclopédia Itaú de Artes Visuais).

Silêncio (1968). Óleo sobre tela (127 x 102 cm). - (Foto: Enciclopédia Itaú de Artes Visuais).

Sonho do meio-dia (1969). Óleo sobre tela (200 x 240 cm). - (Foto: Enciclopédia Itaú de Artes Visuais).

Destino (1969). Óleo sobre tela (110 x 160 cm). - (Foto: Enciclopédia Itaú de Artes Visuais).

New York (1970). Óleo sobre tela (121,9 x 101,5 cm). MAM-SP. - (Foto: MAM-SP).

Nº 110 (1970). Óleo sobre tela (152,6 x 122 cm). MAM-SP. - (Foto: MAM-SP).

Sem título (1971). Acrílica sobre tela (180 x 200 cm). - (Foto: Enciclopédia Itaú de Artes Visuais).

Família (1971). Óleo sobre tela (180 x 200 cm). - (Foto: Enciclopédia Itaú de Artes Visuais).

Sem título (1972). Óleo sobre tela. - (Foto: Google).

Clímax (1973). Óleo sobre tela (180 x 200 cm). Coleção Particular. - (Foto: site do pintor).

Equador n°2 (1973). Óleo sobre tela (180 x 200,7 cm). Coleção Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (RJ). - (Foto:Romulo Fialdini - Fonte: Enciclopédia Itaú de Artes Visuais).


Monólogo (1977). Óleo sobre tela (51 x 56 cm). - (Foto: Enciclopédia Itaú de Artes Visuais).

O tempo passa (1979). Acrílica e óleo sobre tela (180 x 200 cm). - (Foto: Enciclopédia Itaú de Artes Visuais).

Marcha da Humanidade (1980). Acrílica e óleo sobre tela (200 x 600 cm). - (Foto: Enciclopédia Itaú de Artes Visuais).

Poema Pastoral (1988). Óleo sobre tela (152 x 191 cm). Coleção particular. - (Foto: Google).

Abstrato (1988). Óleo sobre tela. - (Foto: Google).

Noite de primavera (1988). Óleo sobre cartão (27 x 40 cm). - (Foto: Google).

Esperança (1993). Serigrafia. - (foto: Google).

Vento Vermelho (1997). Mural da Capela de Santo Amaro (20 m² de área) da Fortaleza da Barra Grande, na entrada da barra de Santos (SP). - (Foto: Google).

Sem título (19??). - (Foto Google).

Sem título (19??). Óleo sobre tela. - (Foto: Google).

Sem título (1994). Óleo sobre papel (50 x 70 cm). - (Foto: Google).

Kaze (1995). Gravura em serigrafia (70 x 66 cm). - (Foto: Google).

Sem título (1997). Uma das últimas pinturas de Mabe. Óleo sobre tela (102 x 127 cm). Coleção particular. - (Foto: Google).

Autorretrato (1997), pintado no ano em que o pintor morreu. Óleo sobre tela (50 x 40 cm). Coleção particular. - (Foto: Google).