Mostrando postagens com marcador Crimes de guerra. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Crimes de guerra. Mostrar todas as postagens

sexta-feira, 28 de outubro de 2016

França: o assustador aliciamento de menores pelo Estado Islâmico

[É impressionante e assustador o que o governo francês já identificou no tocante ao aliciamento de menores de  idade franceses pelo Estado Islâmico. Traduzo a seguir textos publicados pelo jornal francês Le Figaro em 23/9/2016. Um deles é o de Christophe Cornevin. O que estiver entre  colchetes e em itálico é de minha responsabilidade.]

Segundo as informações obtidas pelo Le Figaro, 1.954 menores foram identificados como radicalizados na França. Esse é um número 121% maior que o obtido em levantamento feito em janeiro deste ano.

Em uma  semana, quatro adolescentes foram apreendidos pela polícia antiterrorismo quando pretendiam entrar  em ação. Teleguiados a partir da  Síria através de mensagens criptografadas cada vez mais sofisticadas, esses jovens fazem parte dos 1.954 menores franceses radicalizados, o que corresponde a 18% do total dos indivíduos identificados por radicalização islâmica a partir de 2014. Entre os 689 franceses atuando em zonas de combate, 17 são menores. Destes, 6 foram mortos.

Segundo o Ministério do Interior, as mocinhas seriam cada vez mais numerosas entre os que sucumbem à influência dos recrutadores do Daech [abreviação árabe para "Estado Islâmico no Iraque e no Levante", uma organização terrorista hoje implantada na Síria e no Iraque, que busca exportar seu sistema de terrorismo para além do Levante (Líbia, Egito, Afeganistão, ...). Originária do braço iraquiano da al-Qaida, se desenvolveu no Iraque a partir de 2006; depois, na Síria, beneficiada pelo caos gerado pela repressão contínua do regime sírio desde  2011.].

Segundo o psiquiatra Patrick Amoyel, essa recrudescência se explica pelo fato de que "há um terreno de radicalização fértil para a adolescência". A partir de 2015, a proteção judiciária à juventude elaborou dois planos de luta contra  o terrorismo que garantiram o acompanhamento controlado de 600 menores. Deles, 34 já foram indiciados e 14 encarcerados.

Geração jihadista

Editorial, por Yves Thréad

Perante a lei, são menores. São crianças. Na realidade, estão prestes a semear o terror. São combatentes da jihad [guerra santa muçulmana]. Seu "sonho" é nosso pesadelo. E são franceses!

Quantos são? É assustador e inquietante. Seu número dobrou em nove meses no território nacional, onde não estão longe de chegar hoje a dois mil. Mais de quatrocentos outros vivem em zonas de guerra no Oriente Médio, para onde foram sozinhos, em grupo ou com seus pais. Alguns nasceram até sob o estrondo das armas, tendo como única nacionalidade a de serem futuras e potenciais bombas humanas. Receia-se o retorno de uns e a chegada de outros.

Uma geração de cadetes do islamismo -- meninos/jovens, mas  também cada vez mais meninas/moças -- está a caminho, em vias de se organizar. Muitos deles são convertidos, e todos não são nascidos em famílias fanáticas. Mas  todos são filhos da Internet, o canal de sua radicalização onde pregadores do Estado Islâmico e "imãs Google" fazem uma lavagem em seus cérebros. De um dia para outro. seus  comportamentos, seus hábitos e seus relacionamentos mudam até o momento em que soa o apelo para passar à ação. Quatro adolescentes, de 15 anos, foram recentemente interpelados na região parisiense pouco antes de fazerem algo pior.

O que fazer? Como detetar esses jovens, seguí-los uma vez identificados e evitar que o contágio se propague? O arsenal tradicional de medidas da justiça de menores está, seguramente, ultrapassada. Os meios de atuação dos serviços de informação e rastreamento nas redes sociais foram reforçados. Mas a amplitude da onda é tal, que as respostas são difíceis de serem ajustadas ou são inadequadas.

Face a esse  flagelo, a  retomada do controle de nosso sistema escolar se mostra urgente, distante das reformas demagógicas que foram introduzidas há quinze anos. É no momento em que se formam os espíritos, em que se forja o caráter, que convém ser intransigente.

Os menores estão no centro da estratégia do Daech

Christophe Cornevin - Le Figaro, 23/9/2016

Um aprendiz jihadista interpelado por policiais da DGSI [Direção Geral da Segurança Interna], em 10 de setembro, no 12° distrito de Paris - (Foto: Eric Baudet/Divergence)

Pesquisa - Quatro adolescentes ligados ao Estado Islâmico acabam de ser presos. Segundo nossas informações, cerca de 2.000 jovens de menos de 18 anos estão identificados como radicalizados na França.

Aluno brilhante e excelente tenista, esse colegial acabava de soprar suas 15 velinhas em 9 de setembro. Interpelado cinco dias depois no 20° distrito de Paris pela Direção Geral de Segurança Interna (DGSI), apoiada por homens da Raid [sigla francesa para Investigação, Assistência, Intervenção e Dissuasão, unidade de elite da polícia nacional francesa], esse jovem militante do jihadismo foi indiciado por associação com malfeitores terroristas em vias de cometer crimes. Detetado no visor dos serviços de informação à flor da idade, esse jovem de origem egípcia é suspeito de ter selecionado ataques em nome do Daech, antes de desistir disso. 

Foi o quarto adolescente em uma semana a cair nas redes do antiterrorismo. Todos estavam sob o  comando de Rachid Kassim, propagandista virulento do Daech suspeito de teleguiar através da rede criptografada Telegram atentados na França a partir da zona iraquiano-síria. O primeiro, um menor de 15 anos , indiciado e encarcerado, projetava um ataque jihadista na França. Preso em Rueil-Malmaison (Alto Sena), tinha  sido descoberto na rede Telegram em ligação com Rachid Kassim. Para espanto de suas pessoas mais próximas, um aprendiz jihadista também de 15 anos foi por sua vez apreendido no 12° distrito. Sob prisão domiciliar desde os atentados de 13 de novembro e já visado por uma ficha S [que identifica pessoas potencialmente perigosas para a "segurança do Estado"], reconheceu ter desejado "morrer como um mártir depois de matar todo um bando de "kouffars" (infiéis)" com arma branca. Ia passar à ação para semear a morte ao acaso da "Coulée verte" de Paris ["Coulée verte" é um parque no sul de Paris, situado ao lado ou abaixo das linhas do TGV (trem de alta velocidade) atlântico, entre o boulevard periférico de Paris e Massy].

Longe de serem casos isolados, esses "filhotes de leão" recrutados pelo Estado Islâmico parecem se multiplicar, a despeito dos reveses militares da organização terrorista na zona iraquiano-síria. Segundo um balanço de 15 de setembro que chegou ao conhecimento do Le Figaro, 1.954 menores estão identificados como radicalizados na França. Ou seja, 18% do total de 11.912 indivíduos detetados após a implantação da plataforma antijihadista em abril de 2014. Mesmo que permaneça proporcionalmente estável, a parcela de pessoas com menos de 18 anos explodiu em 121% em relação  a janeiro deste ano (882 casos). "A ação dos serviços de informação está mais intensa do que nunca", enfatizou o ministro do Interior, Bernard Cazeneuve, alarmado com o número de "apelos à morte lançados por um certo número de militantes em ação na Síria, que utilizam meios criptografados para convocar franceses cada vez mais jovens para que passem à ação".

Desvantagem das meninas e moças

"Os menores franceses tornaram-se o alvo de uma técnica dita de 'saturação'", descreve um alto participante da luta antiterrorista. "Muitas vezes em situação de fracasso escolar e de ruptura familiar devida a divórcio dos pais, esses jovens desequilibrados são inicialmente abordados na rua por um amigo de um amigo que, cheio de falsa empatia, lhes dá o hashtag da rede criptografada Telegram de "sargentos" recrutadores do Daech instalados não só na Síria, mas também na França. Uma vez com conexão segura e sob o controle mental de "gurus" como Rachid Kassim ou mesmo de Omar Omsen, autor de numerosos vídeos de propaganda direcionados a adolescentes, eles são bombardeados por uma centena de mensagens diárias", testemunha esse especialista. "Como você está vestido(a)?", "Que orações fez esta manhã?", "Quem você encontrou?", "Você apertou a mão de um homem hoje?", "Não saia sozinho(a)", ... Bem experiente, a lavagem cerebral é enfeitada com discursos enganadores exaltando o mito de um califado onírico, digno de um conto das Mil e Uma Noites.

Segundo o painel de avaliação da Praça Beauvau [onde está localizado emParis o Ministério do Interior, desde 1861], as meninas e moças tornam-se cada vez mais numerosas no aliciamento de radicalização do que os meninos e rapazes. Cerca de um milhar delas caíram no "liquidificador". Um policial de alto escalão explica essa "feminilização" do recrutamento pelo "kit de vida" que o Daech promete àquelas que sonham encontrar o príncipe encantado nas zonas de combate, seengajar no humanitário e fundar uma família para repovoar um califado fantasioso. "As jovens são mais dispostas, porque pensam que não serão enviadas para combater antes dos jovens", esclarece o Ministério do Interior. "Diferentemente destes, elas não vêem o banditismo como uma válvula de escape ...".

No plano judiciário, o contencioso terrorista se traduz pelo indiciamento de 37 menores e o encarceramento de onze rapazes e três moças. O aprisionamento de uma adolescente de 16 anos interpelada no início de agosto quando de uma captura antiterrorista testemunha a vontade do Estado de por fim ao Islã radical. A adolescente também estava em contato com Rachid Kassim. Assim como uma jovem de 18 anos interceptada no mesmo momento em Clermont-Ferrand.

No caos das zonas de combate, o quadro não é menos sombrio. Segundo nossas informações, os serviços especiais registraram 17 adolescentes entre os 689 combatentes voluntários franceses engajados sob a bandeira do Daech. Seis outros aí encontraram a morte. Alguns outros participaram de simulações macabras de execuções, à semelhança do suposto filho de Sabri Essid, antigo mentor do matador de Toulouse Mohamed Merah, filmado aos 12 anos em um vídeo terrível no qual executa um "espião do Mossad"com uma bala na cabeça, enquanto gritava "Allah akbar!" [Deus é grande!].

Ouvido em 10 de maio último pela comissão da defesa nacional do Palácio Bourbon [sede da Assembleia Nacional da França], o chefe da DGSI Patrick Calvar revelou: "Cadastramos cerca de 400 menores na zona considerada (...), dos quais um terço nasceu ali e tem pois menos de 4 anos". De acordo com a União de Coordenação da Luta Antiterrorista (Uclat), eles seriam entre 130 e 140. "Vítimas de um trauma de nascença, essas crianças muito jovens absorveram o medo e a guerra como esponjas", testemunha um analista de informação. "Mesmo que o Estado faça tudo para recuperá-las, elas correm o risco de voltar à França com um limite de tolerância à ultraviolência que nada tem a ver com o que jamais se viu ...". Além das questões de legalidade que seu retorno provocará, Patrick Calvar apontou "problemas reais de  segurança" porque esses menores estão "condicionados", "instrumentalizados pelo Daech" e "se exercitam com armas de fogo".

Em um relatório parlamentar dedicado aos meios do Daech, Jean-Fréderic Poisson e Kader Arif se questionam sobre a confissão/admissão de culpa dessas crianças e sua responsabilização: "Daech derrotado, as autoridades locais admitiriam isso? Qual seria o status jurídico delas?". Retomando a ideia de uma "bomba-relógio", eles consideram que "essas crianças têm vocação para ficar onde  estão ou, se nascidos de pais estrangeiros, poderiam retornar para o país de seus pais". E acrescentam: "Nos dois casos, é preciso determinar o regime jurídico que lhes é aplicável: qual é sua nacionalidade? Que autoridade tem condições de lhes conceder um passaporte ou mesmo uma certidão de nascimento?".

Por ora, os poucos que conseguiram sair das garras das unidades de combate regressaram à França dizendo-se "enfadados com a jihad". Esse foi notadamente o caso de Yacine e Ayoub, de 15 e 16 anos, ambos nascidos em Toulouse e companheiros de liceu, ambos desaparecidos na Síria em janeiro de 2014 antes de se encontrarem envolvidos na época com Jabhat-al-Nosra, um grupo filiado à al-Qaida. No final de agosto, o Ministério Público de Paris abriu uma nova investigação para reencontrar Ayoub. Atualmente um jovem maior de  idade, ele conseguiu chegar à Síria com toda discrição, via Bulgária e depois Turquia.

À semelhança da Alemanha crepuscular de 1945 o Daech, perdendo a influência, iria recorrer às mulheres e às crianças para continuar sua guerra louca contra as "cruzadas"? Ninguém sabe ao certo. O ex-juiz antiterrorista Marc Trévidic assegurou no canal France Inter: "É preciso sobretudo não acreditar que o Daech não tem senão mulheres e crianças: isso é para ocupar território. O que não  quer dizer não haja pessoas mais profissionais que preparam coisas muito mais graves".

O ódio e o fanatismo não esperam pelo número de anos. Eles inoculam seu veneno poderoso em espíritos mais jovens para conseguir atos indescritíveis, como no dia de janeiro último em que, não distante do instituto franco-hebraico de Marselha, um estudante secundarista de origem curda agrediu com golpes de cutelo um homem que usava um quipá. Tendo agido em nome do Daech, porque aos seus olhos "os muçulmanos da França desonram o Islã e o exército francês protege os juízes", o estudante era até então considerado pelos professores como "bom aluno, estimado pela equipe pedagógica"; festejou seus 16 anos atrás das grades.

quinta-feira, 28 de abril de 2016

A história recente do Brasil não é a que Dilma e sua turma querem nos impingir

Nesta altura do campeonato, o Brasil inteiro -- inclusive os 54 milhões de masoquistas que a reelegeram -- sabem de mão cheia que além de inteiramente incompetente e desastrosa, Dilmanta NPS (Nosso Pinóquio de Saia) é uma requintada e contumaz mentirosa. Sua mentiras são históricas e não se resumem apenas ao conjunto de inverdades que compôs o incrível estelionato eleitoral de outubro de 2014.

A principal mentira histórica que nossa (govern)anta insiste em contar, apoiada pelo PT, é que ela e seus companheiros de luta armada pegaram em armas para defender a democracia no país. Esse discurso, decorado por todos os guerrilheiros da época que ainda convivem conosco e que tentaram e ainda tentam fazer de  Dilmanta uma versão muito estropeada de Joana d'Arc tupiniquim, é uma mentira deslavada. Essa turma pegou em armas para combater a ditadura militar não para implantar aqui uma democracia, mas sim para aqui instaurar a ditadura do proletariado. Vídeos a seguir, de companheiros de luta armada de Dilmanta insuspeitos como Eduardo Jorge e Fernando Gabeira desmentem a versão de Dilmanta. Eduardo Jorge foi militante ativo e ferrenho do PT até 2003 quando, decepcionado e desiludido com a atuação do partido, abandonou a sigla, como ele mesmo declara em vídeo.

A figura de Dilmanta como uma democrata de formação é um conto do vigário.

Começarei com o vídeo do discurso memorável e contundente do senador Magno Malta (PR-ES) no Senado em 25 de abril corrente, que jogou por terra definitivamente toda a argumentação nítida e inequivocamente mentirosa e fantasiosa da quadrilha Dilmanta, Lula BL (Boca de Latrina) e PT contra o impeachment. Foi sintomático, embora constrangedor, ver o silêncio dos senadores e senadoras do governo diante das verdades contundentes de Magno Malta.


 

Apresento a seguir os depoimentos  de Fernando Gabeira e Eduardo Jorge, citados por Magno Malta em seu discurso.

Fernando Gabeira é conhecido pela sua atuação no Partido Verde brasileiro (do qual é membro-fundador), defendendo posições polêmicas em questões consideradas como tabus na cultura política brasileira (como a profissionalização da prostituição, o casamento homossexual e a descriminalização da maconha). É conhecido também por ter participado da luta armada contra a ditadura como militante do Movimento Revolucionário Oito de Outubro, que tentava instaurar o socialismo no Brasil. Ele não era um guerrilheiro propriamente dito, mas trabalhava como repórter do Jornal do Brasil, no Rio de Janeiro.

Em 1970, Gabeira foi preso na cidade de São Paulo. Resistiu à prisão e tentou fugir em direção a um matagal que existia por perto. Vários tiros foram disparados e um deles atingiu suas costas, perfurando rimestômago e fígado. Encarcerado, recebeu a liberdade em junho do mesmo ano tendo sido trocado com outros 39 presos pelo embaixador alemão Ehrenfried von Holleben, que também havia sido sequestrado. O grupo foi banido do país e exilado para a Argélia. Ao longo de quase uma década, esteve em vários países dentre os quais o Chile, a Suécia e a Itália. Na Suécia, onde passou a maior parte da vida, formou-se em Antropologia na Universidade de Estocolmo e exerceu a profissão de repórter e até a função de condutor de metrô em Estocolmo. Voltou ao Brasil em 1979 onde passou, então, a atuar como jornalista e escritor, defendendo o fim do regime militar.


Apresento um vídeo compacto, em que Gabeira desmente aqueles que afirmam que a luta armada no Brasil destinava-se a implantar um regime democrático no país -- o objetivo real era a instalar por aqui a ditadura do proletariado. Gabeira desmente também Lula BL, quando este afirma que Cuba é uma democracia socialista.




Eduardo Jorge Martins Alves Sobrinho estudou Medicina na Universidade Federal da Paraíba, em João Pessoa, entre 1968 e 1973. Especializou-se em Medicina Preventiva, na Universidade de São Paulo (USP), entre 1974 e 1975, e em Saúde Pública, também na USP, em 1976. Militou no movimento estudantil e no PCBR, em João Pessoa, a partir de 1968. Preso e processado por duas vezes - em João Pessoa, entre 1969 e 1970, e em São Paulo, entre 1973 e 1974), com base na Lei de Segurança Nacional. Atuou em movimentos populares na periferia de São Paulo, a partir de 1974, e organizou os primeiros conselhos populares de saúde, em 1978. Trabalhou como médico sanitarista da Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo.

Foi deputado estadual e federal pelo Partido dos Trabalhadores em várias legislaturas, de 1983 a 2003. Em 1991 propôs a remoção das marcas comerciais de medicamentos, um pontapé inicial para os futuros medicamentos genéricos. Porém, divergências com o partido que ajudou a fundar levaram-no a filiar-se ao Partido Verde, em 2004. É co-autor da legislação constitucional sobre Seguridade Social (Saúde, Previdência e Assistência Social) e autor ou co-autor de leis brasileiras que regulamentam os medicamentos genéricos, o planejamento familiar e a esterilização voluntária; das leis de vinculação de recursos orçamentários para o SUS e de restrição ao uso do amianto, bem como da lei orgânica da assistência social.

Foi candidato a presidente da República na eleição presidencial em 2014. Acabou virando meme durante sua campanha presidencial, por dizer várias frases engraçadas nos debates, como "Eu não tenho nada a ver com isso". Ficou em 6º lugar, com 0,61% dos votos (630.099).

Apresento três vídeos com Eduardo Jorge, dois deles de mesmo teor, só que o primeiro é compacto, e um terceiro vídeo em que ele explica porque saiu do PT.











Todos os vídeos acima põem nossa história recente e atual em seus devidos termos, e comprovam irrefutavelmente que Dilma é uma farsante de longa data, que se apresenta ao país como uma democrata e uma mártir da democracia, quando a verdade é bem outra -- ela pegou em armas e ajudou seu grupo militar a assaltar, sequestrar e matar para tentar implantar aqui um regime comunista.

Os vídeos comprovam também que todos aqueles que a defendem e lhe dão suporte na alta cúpula do PT, liderados por Lula BL, são igualmente mentirosos conscientes e cúmplices da mesma farsa por ação e omissão.

Esses mesmos vídeos confirmam igualmente o embuste que foi a chamada Comissão Nacional da Verdade, que abordou o período da luta militar contra a ditadura com a visão maniqueísta e escandalosamente deturpada e parcial de que do lado da ditadura só havia demônios e bandidos, e do lado dos guerrilheiros só havia mocinhos e anjinhos. Abordei isso em detalhe em postagem anterior (Comissão Nacional da Verdade Parcial).

domingo, 24 de abril de 2016

O Holocausto: suas vítimas não foram apenas os judeus, diz historiador israelense

[Traduzo a seguir um artigo inusitado e muito importante de Daniel Blatman, publicado no prestigioso jornal israelense Haaretz. Pela primeira vez em toda a minha vida vejo judeus tendo a coragem de declarar em público que no Holocausto não foram vitimados apenas judeus, mas também milhões de outras pessoas de outras etnias e raças, com destaque para ciganos e poloneses, além prisioneiros soviéticos, homossexuais e vítimas de eutanásia. Isso significa dizer que, ao contrário do que se propaga, os judeus não foram as únicas grandes vítimas do Holocausto. O que estiver entre colchetes e em itálico é de minha responsabilidade. O autor do artigo é um historiador da Universidade Hebraica de Jerusalém.]

Um policial alemão interroga uma cigana - (Foto: Arquivos Federais Alemães)

A tragédia de milhões de não-judeus vítimas dos nazistas merece ser lembrada e reconhecida, como apontam os autores de um livro recente. Entretanto, embora sua iniciativa seja digna de louvor, ela não atingiu seu objetivo.

“Hakorbanot Haloyehudim shel Hamishtar Hanazi” ("As Vítimas Não-Judaicas do Regime Nazista"), editado por Yair Auron e Sarit Zaibert, publicado pelos próprios autores (em hebraico), 207 págs, 60 shekels (R$ 55,87). Pode ser comprado pela internet via saraz1@13.net .

Nos anos 1970, surgiu uma discussão violenta entre o caçador de nazistas Simon Wiesenthal e dois destacados historiadores do Holocausto, Yehuda Bauer e Michael Marrus. O tema da discussão: Quem deve ser classificado como uma vítima do Holocausto? Wiesenthal insistia em que o número total de vítimas foi de 11 milhões -- seis milhões de judeus e outros cinco milhões de vítimas de outros países, entre eles os ciganos e os poloneses. Os dois historiadores judeus discordaram veementemente e argumentaram que Wiesenthal não podia fornecer nenhuma prova concreta daquele número: cinco milhões de vítimas a mais do genocídio nazista.

Essa, entretanto, não era uma discussão sobre o número de vítimas; talvez fosse uma discussão numerológica. A discordância referia-se à identidade das vítimas nazistas. "Os seis milhões" era uma expressão de significado quase místico, que havia deitado raízes no consciente coletivo e na memória do Holocausto sustentada em vítimas  e manipulada em Israel e no mundo judaico. Trata-se de um tabu intocável, e violá-lo com a inclusão de outras vítimas ameaça a crença pseudorreligiosa na unicidade/singularidade do Holocausto, que é uma componente fundamental da identidade da sociedade israelense.

Quebrar o tabu acarretaria lidar com uma memória coletiva diferente, assim como reconhecer que o nazismo era muito mais do que o inimigo tão  somente dos judeus -- que ele era o inimigo de toda a humanidade. Além dos judeus, os nazistas assassinaram milhões de outras pessoas apenas porque pertenciam a um grupo que o nazismo decretou como não merecendo existir. Cada um desses grupos tinha sua própria história específica. E a tragédia de cada um deles merece ser lembrada como parte de um amplo mosaico de memórias, no qual um espaço igualitário é concedido a todas as vítimas do nazismo e às vítimas de outros genocídios.

O livro modesto editado por Yair Auron e Sarit Zaoibert tenta cumprir essa missão, que é de importância histórica crucial, mas o que consegue é principalmente transmitir uma crucial mensagem humana. É uma missão quase impossível no Israel violento, racista e protofascista de 2016. A característica dos artigos do livro e o material de algumas de suas fontes sugerem que ele está direcionado a alunos do curso secundário ou ao leitor genérico, que quer ampliar seu conhecimento sobre um assunto em relação ao qual quase não há textos disponíveis em hebraico. E embora a iniciativa dos editores seja bem-vinda, o resultado é decepcionante e até mesmo piegas.

A coletânea consiste de um grupo de artigos sobre vítimas não-judaicas do nazismo: ciganos, Testemunhas de Jeová, vítimas de eutanásia, homossexuais e outros prisioneiros de campos de concentração. Há também um texto genérico sobre a política de melhoria racial perseguida pela Alemanha nazista. Adicionalmente, matérias de várias fontes são anexadas aos artigos, embora não compartilhem um denominador comum. Elas consistem de testemunhos e memórias, trechos da autobiografia de Gunter Grass "Peeling the Onion" ("Descascando a Cebola"), passagens literárias, uma seção de uma peça sobre homossexuais nos campos de concentração, passagens sobre locais celebrativos (memoriais). [Gunter Grass (Danzig16 de outubro de 1927 – Lübeck13 de abril de 2015) foi um autorromancistadramaturgopoetaintelectual, e artista plástico alemão. Sua obra alternou a atividade literária com a escultura, enquanto participava de forma ativa da vida pública de seu país. Recebeu o Nobel de Literatura de 1999. Também é reconhecido como um dos principais representantes do teatro do absurdo da Alemanha. Seu nome é por vezes grafado Günter Graß].

Se o objetivo era tornar acessível material que sensibiliza o público mais jovem, os editores deveriam ter sido melhor assessorados para dedicar tempo e esforço para incluir testemunhos importantes de sobreviventes dos vários grupos de vítimas cobertos pelo livro. Numerosos testemunhos desse gênero estão atualmente disponíveis, com exceção dos infelizes que foram assassinados no programa de eutanásia, dos quais obviamente não há sobreviventes. Até no caso dos homossexuais -- um grupo cujo destino não foi investigado durante muitos anos, por causa da relutância dos sobreviventes em ver suas histórias tornadas públicas -- há hoje material básico disponível muito mais importante do que o fornecido pelo livro. 

As pesquisas históricas que constituem a espinha dorsal do livro não são de uma qualidade uniforme. Em contraste com vários artigos que apresentam uma explicação ordenada e adequada de seus temas, como o artigo de Moshe Zimmerman sobre homossexuais e sobre os chamados elementos "associais", e o artigo de Nira Feldman sobre as vítimas de eutanásia, os outros artigos são superficiais e desatualizados e até errados ou incorretos na interpretação que apresentam. 

Um exemplo é o artigo de Yehuda Bauer sobre os ciganos. Indubitavelmente, apesar de ser ele um celebrado pesquisador do Holocausto, o  trabalho acadêmico de Bauer não está identificado com o genocídio de ciganos. Sua contribuição no livro é o abstrato ou resumo de de um artigo que escreveu há um tempo atrás sobre o assunto. Estudos importantes sobre o tema foram escritos desde então por pesquisadores alemães e americanos, e eles deveriam ter sido citados. Na realidade, os ciganos deveriam ter recebido um tratamento mais exaustivo e completo no livro, porque são um grupo étnico cuja perseguição e assassinato derivaram da mesma visão racista global subjacente à perseguição e ao assassinato dos judeus.

Ainda mais confusa é a pesquisa feita pelo historiador Gideon Greif sobre os prisioneiros dos campos de concentração no período inicial, até a deflagração da Segunda Guerra Mundial em 1939. O objetivo declarado do livro ora analisado é tratar das vítimas não-judaicas do nazismo. Ainda assim, Greif tenta de todas as maneiras possíveis incluir os judeus -- um grupo pequeno e não particularmente central entre os prisioneiros dos campos até o "Massacre de novembro" em 1938 -- e mesmo então, apenas por um curto período. Nenhuma menção é feita, por exemplo, ao fato de que a rede de campos de concentração não foi criada ou direcionada para servir à política antijudaica nazista nos anos 1930.

Em vários pontos, Greif quase se desculpa pelo fato de não haver judeus entre os prisioneiros que foram mandados para os campos de concentração antes do rompimento da guerra.  A razão é que eles, judeus, não eram classificados como opositores políticos sujeitos a perseguição, ou que nenhum judeu se encaixava na definição vaga de pessoas "associais". No entanto, quando Greif efetivamente apresenta um testemunho, ele é de um prisioneiro judeu.

Erros corriqueiros aparecem também na pesquisa não convincente de Greif. Por exemplo, ele sustenta que não havia lei nos campos e que a violência dos nazistas era arbitrária e administrada segundo leis não escritas, especificadas pela S.S. [S.S. = Schutzstafel = Tropa de Proteção]. Na realidade, esse foi o período em que as operações nos campos de concentração eram moldadas por seu primeiro comandante, Theodor Eicke. O código de gestão desses campos que Eicke escreveu era um documento vinculante, e as regras que estabeleceu eram obedecidas por seus subordinados. Isto não quer dizer que os prisioneiros não sofreram violência, mas esta não pode ser classificada de arbitrária porque era precisamente isto que Eicke buscou evitar. 

Outro artigo altamente problemático é o do acadêmico Isaac Lubelsky, sobre racismo e melhoria racial na Alemanha nazista. Lubelsky começa com uma pesquisa apressada e desatenta sobre o desenvolvimento do conceito de Darwinismo Social no século 19 e sua influência no modo de pensar de Hitler. Ele então propõe que a ideia evolucionária, que vê uma conexão entre a existência ambiental de um grupo humano específico e seu desenvolvimento mental, cognitivo e fisiológico prevalecia não apenas entre pensadores e cientistas durante a era do racismo no século 20, mas era aceita também por muitas pessoas de boa índole que não podiam ser suspeitas de abrigar tendências racistas. Por exemplo, o poeta Saul Tchernichovsky, que escreveu que o "homem é moldado pela paisagem de sua terra natal". 

De fato, se adotarmos a interpretação dada a essa obra poética pelo acadêmico de literatura Dan Miron, o que ocorre é exatamente o oposto. A ideia aqui, explica Miron, é que o homem é feito segundo um certo modelo, esquema , paradigma que supõe uma dimensão concreta no molde da paisagem de sua terra natal. Em outras palavras, as matérias de que uma pessoa é feita criam o molde ou modelagem da paisagem de sua terra natal -- e não o contrário. A influência do Darwinismo Social aqui não é prontamente visível. 

Esses são apenas uns poucos exemplos dos problemas que marcam esse livro. Grupos importantes de vítimas estão nele completamente ausentes. Entre eles estão os prisioneiros de guerra soviéticos, o segundo maior grupo de vítimas (mais de três milhões) aniquiladas pelos nazistas. Também ausentes estão os poloneses, que sofreram um violento ataque combinado de limpeza étnica e assassinato em massa. 

Em resumo, o livro se constitui em uma oportunidade perdida. Uma coleção séria de artigos em hebraico sobre vítimas não-judaicas do genocídio nazista seria de enorme importância. Se essa tentativa inicial infeliz estimular a publicação de um livro desse  tipo, o livro de Auron e Zaibert terá atingido seu objetivo. 


sexta-feira, 2 de outubro de 2015

Discurso de Putin na ONU mostra quem está no comando

[A paúra e a indefinição do Ocidente na questão síria deram mais uma chance de ouro para Wladimir Putin mostrar ao mundo qué muito mais sagaz e oportunista que Barak Obama, ditando as cartas em área vital do Oriente Médio. A reportagem traduzida abaixo, de Anshel Pfeffer, é do jornal israelense Haaretz. O que estiver entre colchetes e em itálico é de minha responsabilidade.]


Wladimir Putin fala na Assembleia-Geral da ONU em 28/9/2015 - (Foto: AP)

A última vez que o presidente russo Wladimir Putin falou na Assembleia-Geral da ONU, há exatos 10 anos atrás, ele se saiu com um discurso de 5 minutos exaltando as virtudes da ONU. Na segunda-feira, dia 28/9, o que se viu foi um Putin diferente, muito mais agressivo. Ele falou durante 20 minutos e apresentou uma clara e vigorosa política externa para seu país.

Putin escolheu uma maneira muito evocativa para começar sua fala, lembrando aos delegados presentes a cúpula dos líderes dos aliados, líderes dos países "que derrotaram o nazismo", que se realizou "em nosso país -- na Crimeia, em Yalta". 

Sim, a Crimeia que a Rússia invadiu e anexou no ano passado em resposta à revolução pró-Ocidente na Ucrânia. A Crimeia, disse Putin, permanecerá como parte da Rússia, não importa se o Ocidente não a reconheça como tal. Ele pode concordar em ser um pouco mais flexível com relação a outras áreas do leste da Ucrânia, onde separatistas pró-Rússia estão operando, junto com soldados russos que a Rússia nega que lá estejam. 

A menção à guerra contra o nazismo não foi fortuita, e nunca será. Apenas algumas horas antes do discurso de Putin, o embaixador russo na Polônia expressou seu "pesar" pela irritação causada por suas palavras na semana passada quando disse que a "Polônia havia impedido a criação de uma coalizão antinazista" e, portanto, era corresponsável pela deflagração da Segunda Guerra Mundial.



Essa surpreendente nova versão da História, eliminando-se da existência o pacto Molotov-Ribbentrop da União Soviética com a Alemanha nazista, está em sintonia com a tese de Putin sobre a criação de uma coalizão contra o EI (Estado Islâmico), um bloco que incluiria a Síria de Assad e que "atuaria como a aliança anti-Hitler". 

Entretanto, por tudo que Putin falou, os caças Sukhoi que foram deslocados nas últimas semanas para a região de Latakia, na Síria, ainda têm que mostrar alguma participação significativa na campanha internacional de bombardeio contra o EI. Mas eles estão servindo para provar outro ponto. Apenas o presidente russo decidirá se, como e quando seu aliado local, o presidente sírio Bashar Assad terminará seu reinado sanguinolento. 

Esse é o Putin da Assembleia-Geral da ONU de 2015. O líder do país que reivindica o mérito de ter derrotado Hitler na Grande Guerra Patriótica (que, de acordo com livros de História russos oficiais, começou apenas em 1941). Segundo Putin, a Rússia não repetirá o erro que cometeu em seus anos de debilidade que  se seguiram à desintegração da União Soviética, quando permitiu que a OTAN estendesse a aliança ocidental a países como a Polônia e as nações bálticas, que se apressaram a se proteger sob o guarda-chuva americano. 

Dois dias antes de Putin se dirigir para a assembleia da ONU, a Rússia participou de uma troca de espiões em que foi libertado um agente de inteligência estoniano que havia sido raptado um ano atrás em um incidente de fronteira encenado. Alguns observadores interpretaram a libertação de Eston Kohver como uma tentativa de apaziguar o Ocidente antes de pedir sua cooperação em relação à Síria. Outros acharam que a Rússia estava deliberadamente recriando uma cena tão evocativa das velhas trocas de espiões no Checkpoint Charlie [em Berlim] durante a Guerra Fria. 

Kohver foi sequestrado um ano atrás, dois dias depois que o presidente Barak Obama visitou a capital da Estônia para prometer que a OTAN ficaria do lado de seus aliados no Báltico. Agora, a Rússia fala de ampliar sua presença militar na vizinha Belarus e no enclave de Kalinigrado. Se o reforço incluir baterias antiaéreas, isto fará com que fique muito mais difícil para a OTAN ir em socorro dos países bálticos, casos eles sejam ameaçados. 

Isso provavelmente não acontecerá logo. A Rússia ainda está instável por conta de um rublo fraco, da queda dos preços do petróleo e das sanções do Ocidente por causa da Ucrânia. Este não e o momento para mais aventuras militares, não quando as forças armadas russas estão sendo estressadas para cobrir tanto o leste da Ucrânia quanto o novo posto avançado na Síria. Caixões vindo para cada saindo da Síria poderiam despertar novamente os traumas da Chechênia e do Afeganistão, e colocar em risco a popularidade doméstica de Putin. Mas ele está delineando e estabelecendo suas linhas vermelhas, que podem também ser os limites de seu poder.

A impotência da administração Obama e seu fracasso, junto com o resto do Ocidente, em conseguir qualquer tipo de solução para a guerra civil na Síria ou de restringir de maneira significativa a atuação do EI abriram caminho para Putin tomar a iniciativa. Obama e outro líder importante do Ocidente, a chanceler alemão Angela Merkel, já estão se mostrando flexíveis quanto à exigência de que Bashar Assad tenha que deixar o governo como parte de uma solução para a Síria. Obama em seu discurso na ONU falou de uma "transição administrada". O primeiro-ministra britânico David Cameron também está mudando de posição, e apenas o presidente francês François Hollande mantém-se firme em suas convicções. O secretário-geral da ONU Ban Ki-moon mencionou a Rússia como a primeira das cinco nações que "detêm as chaves para o futuro da Síria, juntamente com os EUA, a Turquia, o Irã e a Arabia Saudita. A coalizão está pronta e está sendo liderada por Putin. 

Parece que o primeiro-ministro [israelense] Benjamin Netanyahu foi o primeiro a reconhecer a nova realidade, ao correr para Moscou na semana passada para discutir procedimentos/métodos de coordenação para permitir que as forças israelense continuem a operar na Síria, juntamente com a nova presença russa. Por enquanto, Putin está no comando. 

[As fisionomias tensas de Obama e Putin em seu encontros bilaterais na ONU e os olhares gélidos trocados por eles em certos momentos desses encontros, como mostram as fotos abaixo, demonstram o clima reinante entre os dois líderes.]


Foto: Getty

Foto: Getty

Foto: ONU

Foto: Getty

sexta-feira, 11 de setembro de 2015

A crise dos imigrantes ilegais e refugiados na Europa -- europeus colhem hoje o que semearam ontem

O mundo -- mais precisamente a Europa -- presencia hoje a maior crise de deslocamentos humanos forçados desde a Segunda Grande Guerra. E o pior é que a situação, na melhor das hipóteses, tem viés de se manter grave sem nenhuma perspectiva de solução.


Mapa sobre a invasão ilegal de imigrantes na Europa até 1 de setembro de 2015, elaborado pela Organização Internacional para Migração, da ONU

Nos últimos anos, a Europa recebeu a maioria dos refugiados no mundo, que deixaram suas terras para escapar principalmente de conflitos, como a guerra civil na Síria e na Líbia, ou de dificuldades econômicas. De acordo com Alto Commissariado da ONU para Refugiados (Acnur), cerca de 219 mil pessoas cruzaram o mar em busca de uma vida melhor na Europa no ano passado, quase 4 vezes mais pessoas que em 2013, quando 60 mil chegaram do outro lado da travessia.

Em 2014, os eritreus e sírios representaram os maiores grupos étnicos de refugiados que chegaram à Europa. Um dos países mais jovens da África, a Eritreia viveu em guerra civil por décadas e a população sobrevive praticamente com agricultura de subsistência.

Em 4 anos de guerra, mais de 215 mil pessoas morreram na Síria e 11,4 milhões fugiram de suas casas. E a situação piora, segundo o Acnur, que cita as atrocidades cometidas em particular pelo grupo Estado Islâmico (EI). Em 2014, os sírios lideraram as solicitações de asilo no mundo inteiro, com mais de 149.600 demandas. E a tendência não deve sofrer mudanças, segundo o órgão da ONU. Outro país afetado pelas ações do Estado Islâmico é o Iraque, cujos pedidos de asilo político cresceram 84% em 2014.

A Líbia é atualmente um dos principais portos de saída da África, pela proximidade e pelos conflitos recentes. A União Europeia estuda ações com os países vizinhos para bloquear as rotas utilizadas pelos migrantes.


Rotas para uma vida melhor - Principais rotas de migração para a Europa, saindo da África e do Oriente Médio - Cidades com rotas de migração - Principais centros de migração - Rotas de migração (África Ocidental / Mediterrâneo Ocidental / Mediterrâneo Central / Mediterrâneo Oriental / África Oriental / Outros) - Fontes: Centro Internacional para Política Migratória / Reuters

A análise do mapa acima é reveladora, pois revela os países de origem das levas de migrantes ilegais que vêm invadindo a Europa. São eles: Líbia, Argélia, Mauritânia, Nigéria, Sudão, Egito, Etiópia, Quênia, Síria, Iraque, Irã, Ucrânia e Eritreia. Vejamos rapidamente alguns deles

Líbia

Os protestos contra Muammar Kadhafi, que estava no poder desde 1969, começaram no mês de fevereiro de 2011. Logo no mês de março, foi aprovada uma Resolução da ONU que justificava uma intervenção estrangeira no país em defesa da população civil a fim de evitar um massacre. Com isso, a OTAN, tratado militar criado pelos Estados Unidos, organizou uma coalizão contra o regime de Kadhafi, liderada por norte-americanos, ingleses e franceses. Foi nítido o interesse dos europeus em romper com o até então benquisto Kadhafi no intuito de manter seus acordos comerciais (a Líbia é um importante fornecedor de petróleo para a Europa).

A intervenção militar na Líbia começou em 19 de março de 2011, quando as forças armadas de vários países intervieram na Guerra Civil na Líbia, apoiando à oposição do país que tentava derrubar o governo de Muammar Kadhafi e com o objectivo de criar uma zona de exclusão aérea no espaço aéreo líbio, seguindo a Resolução 1973 do Conselho de Segurança das Nações Unidas de 17 de março de 2011. A zona de exclusão aérea foi proposta para impedir que a força aérea líbia atacasse as forças rebeldes.

Em 12 de março, a Liga Árabe pediu ao Conselho de Segurança das Nações Unidas para impor uma zona de exclusão. A 15 de março, o embaixador libanês Nawaf Salam propôs o pedido como resolução, que foi apoiada pela França e o Reino Unido. A 17 de março, o Conselho de Segurança votou a com dez votos a favor contra nenhum contra para aprovar uma zona de exclusão aérea através da Resolução 1973. Houve cinco abstenções vindas do BrasilRússiaÍndiaChina (BRICs) e da Alemanha.

Os Estados Unidos comandaram as operações militares até o dia 27 de março, quando passou formalmente o comando da operação para a OTAN. Para seguir a Resolução 1973 do Conselho de Segurança das Nações Unidas, vários países participaram das operações militares para ajudar os rebeldes que lutavam contra as forças leais ao ditador Muammar Kadhafi. Os Estados Unidos lançaram a Operação Amanhecer da Odisséia, a França a Operação Harmattan, o Canadá a Operação MOBILE, o Reino Unido com a operação Ellamy e a OTAN comandou a chamada Operação Unified Protector (Protetor Unificado). Kadhafi foi capturado e morto  em outubro de 2011. A OTAN anunciou formalmente o fim das operações militares na região em 31 de outubro de 2011. 

Após a queda de Kadhafi, o Ocidente abandonou a Líbia à própria sorte, os conflitos armados internos prosseguiram e o país se encontra hoje dividido, com um governo organizado pela Câmara dos Deputados "exilado" em Tobruk (que é o reconhecido pela comunidade internacional), perto da fronteira leste da Líbia , e os islamitas têm seu governo sediado em Trípoli sob a égide de um Conselho Nacional Geral. 

Aproveitando-se da instabilidade na Líbia, o Estado Islâmico, que se apoderou de vastos territórios na Síria e no Iraque, posicionou-se ano passado na Líbia, onde controla sobretudo trechos da região de Syrte, a leste de Trípoli. O grupo extremista já assumiu autoria em uma série de ataques e abusos, incluindo a decapitação de 21 cristãos e um atentado contra um hotel na capital Trípoli.

É fácil entender portanto porque a Líbia está tão direta e profundamente envolvida no fluxo de migrantes ilegais para a Europa, e a responsabilidade desta mesma Europa (assim como dos EUA e do Canadá) nesse imbróglio. Refugiados dos conflitos cruzam o Mar Mediterrâneo em direção à Itália, usando o país como uma ponte para chegar a outros destinos da Europa. O governo italiano já resgatou centenas de imigrantes do norte da África neste ano.


Imigrantes aguardam resgate em um bote de borracha a cerca de 32 km da costa da Líbia.  (Foto: Darrin Zammit Lupi/Reuters)

Iraque

O Iraque é um dos mais requintados exemplos da crônica incapacidade dos EUA em entender regimes políticos e religiosos completamente diferentes dos seus, assim como as reiteradas propensão e capacidade dos americanos em provocar o caos onde intervêm (geralmente manu militari).

A chamada Guerra do Iraque durou praticamente 10 anos e foi oficialmente "encerrada" por Obama em 12/12/2011, com a retirada das tropas americanas no país. Ela começou em março de 2003, quando George W. Bush (EUA) e Tony Blair (Grã-Bretanha) ordenaram a invasão militar do país para derrubar Saddam Hussein. Custou US$ 1 trilhão e matou 4.474 militares americanos e dezenas de milhares de iraquianos. Pelo menos 1,5 milhão de iraquianos tornaram-se refugiados a partir de 2003, fugindo da violência sectária entre árabes xiitas e sunitas que tomou grande parte do país e prosseguiu até 2009.

O conflito entre xiitas e sunitas, acrescentando-se ainda a entrada em cena dos curdos e do Estado Islâmico, o que provoca a possível divisão do país em três áreas (xiita, sunita e curda) ou até mesmo em três países independentes. Quanto ao denominado Estado Islâmico, são absolutamente espantosas e incompreensíveis a inércia e a apatia do Ocidente, extremamente belicoso e ativo contra Hussein e Kadhafi (entre outros), contra essa facção radicalmente violenta, dizimadora de vidas e de patrimônios culturais valiosíssimos.

Em 10 anos no país, os EUA foram incapazes de deixar o Iraque minimamente preparado para andar com as próprias pernas. A situação do país é caótica. Os cristãos são historicamente perseguidos no Iraque, e sua situação atual é de autêntico genocídio

Os Estados Unidos invadiram o Iraque e tiraram Saddam Hussein do poder em 2003, sob o argumento de que o país possuía armas de destruição em massa. Com a saída de Hussein, se instalou um governo controlado pelos xiitas. Insatisfeitos, os sunitas começaram a protestar pacificamente em 2012, mas poucas concessões foram feitas, porque os xiitas acreditavam que se tratavam não de pedidos de reforma, mas de uma busca por retomar o poder.

A marginalização fez com que parte dos  sunitas iraquianos começassem a se aproximar do Estado Islâmico. Após a retirada das tropas americanas do Iraque em 2011, o grupo jihadista, que ganhou força na sua atuação no conflito da Síria e conquistou territórios por lá, passou a avançar sobre o norte iraquiano.

violência da atuação do grupo extremista no Iraque pode ser colocada em números: somente em 2014, o Iraque registrou 10 mil mortes - quase um terço de todos os mortos no mundo em atentados terroristas. Outras milhares de pessoas se refugiam em países europeus, sendo a Turquia um dos principais destinos para os iraquianos, com cerca de 200 mil no país.

Síria

A Síria moderna foi estabelecida após a Primeira Guerra Mundial durante o Mandato Francês e era o maior Estado árabe a surgir na região do Levante, que antigamente era dominada pelo Império Otomano.

Mais de 240 mil pessoas morreram na Síria desde 2011, ano em que estourou uma guerra civil no país, e, dentro desse número, estão 12 mil crianças. Em 2015, a guerra na Síria completou quatro anos de conflitos entre tropas leais ao regime, vários grupos rebeldes, forças curdas e organizações jihadistas, entre elas, o Estado Islâmico. Digo eu e não o site G1: o Ocidente vem pisando em ovos com relação ao genocídio que vêm ocorrendo na Síria, porque Rússia e China -- que têm poder de veto no Conselho de Segurança da ONU -- se opõem a uma intervenção militar externa na Síria, apesar da intervenção arrasadora do Estado Islâmico no país. Ver também postagem anterior sobre a posição do Brasil  em relação à guerra civil na Síria

Estimativas da ONU apontam que mais de 7 milhões de sírios abandonaram suas residências dentro do país e quase 60% da população vive na pobreza. Os trágicos números refletem na alta taxa de emigração do país – seriam 4 milhões de refugiados sírios, a maior população de refugiados do mundo.

O principal destino dos sírios é a Turquia, que já recebeu 1,8 milhão de refugiados desde o início da guerra civil na Síria, Iraque, Jordânia, Egito e Líbano. Um relatório da ONU aponta que, somente no primeiro semestre deste ano, 44 mil pessoas saíram da Síria com destino à costa europeia.

Na semana passada, o mundo inteiro ficou chocado com a imagem de um garoto sírio de 3 anos morto afogado na praia de Bodrum, na Turquia.


Um refugiado sírio reza após chegar a ilha grega de Kos em um barco bote que atravessou o Mar Egeu da Turquia para a Grécia. (Foto: Yannis Behrakis/Reuters)

Refugiados curdos da Síria passam atravessam a fronteira com a Turquia, perto da cidade de Kobani, em foto de junho de 2015 (Foto: UNHCR / I. Prickett)

Afeganistão
No final do século XIX, o Afeganistão tornou-se um Estado tampão no grande jogo entre os impérios britânico e russo. . Essa circunstância histórica, combinada com o terreno montanhoso do país, impediu o domínio de potências imperialistas sobre o país, mas também resultou em pouco desenvolvimento econômico . Depois da Terceira Guerra Anglo-Afegã e a assinatura do Tratado de Rawalpindi em 1919, o país recuperou o controle de sua política externa com os britânicos.Após a revolução marxista de 1978 e a invasão soviética em 1979, uma guerra de 9 anos teve lugar entre as forças rebeldes dos mujahidin apoiadas pelas forças armadas dos Estados Unidos e pelo governo pró-soviético do Afeganistão, em que mais de um milhão de afegãos perderam a vida, principalmente devido a minas terrestres. Isto foi seguido, na década de 1990, pela Guerra Civil do Afeganistão e pela ascensão e queda do governo extremista talibã e pela Guerra do Afeganistão. 
Em dezembro de 2001 o Conselho de Segurança das Nações Unidas autorizou a criação da Força Internacional de Assistência para Segurança para ajudar a manter a segurança no Afeganistão e ajudar a administração do presidente Hamid Karzai.O país foi invadido em 2001 pelos Estados Unidos, logo após o ataque às Torres Gemêas em 11 de setembro daquele ano. Osama bin Laden, líder da rede Al-Qaeda, assumiu a autoria dos atentados e se refugiava no país. Mas, antes disso, o Afeganistão já estava dominado pelo Talibã, grupo militante radical. Expulso do poder, o Talibã lutou constantamente ao longo dos anos contra as tropas americanas. Estudos apontam que, desde 2001, mais de 150 mil pessoas morreram no Afeganistão e no Paquistão.Dados da ONU, indicam que, juntamente com a Síria e a Somália, o Afeganistão somou 7,6 milhões dos refugiados de 2014. Somente no primeiro semestre deste ano, 1.592 civis morreram em conflitos no Afeganistão.Os refugiados afegãos estão presentes em mais de 80 países, mas um relatório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur) aponta que somente dois deles concentram 96% dessa população: Irã e Paquistão.


Foto de maio mostra barco com imigrantes afegãos chegando à costa da Grécia. Eles atravessaram o Mar Egeu entre a Grécia e Turquia (Foto: Angelos Tzortzinis/AFP)

Eritreia
Dos imigrantes que cruzam o Mediterrâneo em direção ao sul da Itália, boa parte vêm da Eritreia. Segundo a BBC, um dos motivos para cidadãos desse país no Chifre da África decidirem emigrar é o serviço militar obrigatório -- comparável a um regime de escravidão.  Grupos de defesa dos direitos humanos também afirmam que o país vive forte repressão política.

A história da terra onde, hoje em dia, localiza-se a Eritreia, é associada aos seus quase 1.000 km de litoral pelo Mar Vermelho. Do outro lado do mar, vieram vários invasores (e colonizadores), como os árabes sauditas vindo da área que hoje em dia corresponde ao Iêmen, os turco-otomanos, os Portugueses de Goa - (Índia), os egípcios, os britânicos e, no século XIX, os italianos. Ao longo dos séculos, invasores também vieram dos países vizinhos da África, como os etíopes do sul e os sudaneses pelo oeste. No entanto, o local foi altamente afetado pelos invasores italianos no século XIX. Na era da corrida das potências europeias para a África e as tentativas de estabelecer uma base de reabastecimento para seus navios após a abertura do canal de Suez (1869), a Itália invadiu a Eritreia e a ocupou. Em 1º de janeiro de 1890, a Eritreia tornou-se oficialmente uma colônia da Itália. Em 1936, ela tornou-se uma província da África Oriental Italiana, junto com a Etiópia e a Somália Italiana. As forças armadas britânicas repeliram as forças armadas italianas em 1941 e tomaram a administração do pais, que havia sido criado pelos italianos, para si. Os britânicos continuaram a administrar o território sob um mandato da ONU até 1951, quando a Eritreia foi unida à Etiópia pela resolução da ONU 390(A), sob o impulso dos Estados Unidos, adotado em dezembro de 1950; a resolução foi aprovada após um referendo para consultar a população da Eritreia.

Nigéria
Por muito tempo a sede de inúmeros reinos e impérios, o Estado moderno da Nigéria tem suas origens na colonização britânica da região durante final do século XIX a início do século XX, surgindo a partir da combinação de dois protetorados britânicos vizinhos: o Protetorado Sul e o Protetorado Norte da Nigéria). Os britânicos criaram estruturas administrativas e legais, mantendo as chefias tradicionais. O país tornou-se independente em 1960, mas mergulhou em uma guerra civil, vários anos depois. Desde então, alternaram-se no comando da nação governos civis democraticamente eleitos e ditaduras militares, sendo que apenas as eleições presidenciais de 2011 foram consideradas as primeiras a serem realizadas de maneira razoavelmente livre e justa.

A insurgência islâmica na Nigéria é um conflito armado entre grupos militantes islâmicos jihadistas e o governo da Nigéria. Trata-se de um fenômeno social recente que contrapõe o fanatismo islâmico e o governo central nigeriano, o primeiro para a inclusão da "sharia" em todos os estados da Nigéria e de maioria não-muçulmana e o segundo pela luta contra o que consideram "avanço avassalador da violência anti-cristã". Segundo alguns relatos, a violência teria matado mais de 15 mil pessoas, e vários milhares deslocados pela devastação em cidades devidos a confrontos e tumultos.

O grupo militante islâmico Boko Haram está travando hoje uma das campanhas mais mortíferas de insurgência na África, capturando uma grande porção de território na Nigéria e também realizando ataques no vizinho Camarões. Autoridades estimam que cerca de três milhões de pessoas são afetadas pela crise humanitária causada pela insurgência na região nordeste da Nigéria.

Em janeiro de 2015, um grupo de 2.536 refugiados nigerianos foram repatriados para a Nigéria pela Argélia. Em março de 2015, como consequência dos ataques perpetrados pelo Boko Haram no nordeste da Nigéria, milhares de pessoas cruzaram a fronteira rumo ao Chade, reunindo-se em um campo de refugiados e com membros da comunidade. Segundo estimativas oficiais, cerca de 18 mil refugiados buscaram abrigo na região do Lago Chade


Sudão

Até 2011, o Sudão era o maior país da África e do Mundo árabe, quando o Sudão do Sul se separou em um país independente, após um referendo sobre a independência. O Sudão é hoje o terceiro maior país da África (após a Argélia e a República Democrática do Congo) e também o terceiro maior país do mundo árabe (depois da Argélia e Arábia Saudita). 

Grande parte da história do Sudão é marcada por conflitos étnicos, além de dois conflitos internos em andamento (um na região sul e outro na região de Darfur) e duas guerras civis, entre 1955 e 1972 e 1983 e 2005. Há inúmeros casos de limpeza étnica e escravidão no país. 

Buscado há cinco anos pelo Tribunal Penal Internacional (TPI) sob acusações de genocídio e crimes de guerra, o presidente do Sudão, Omar al-Bashir, fugiu em junho de 2015 da África do Sul - onde participava de uma conferência da União Africana - após a emissão de uma ordem judicial que o impedia de deixar o país.

Bashir é acusado de crimes de guerra e contra a humanidade cometidos durante o conflito em Darfur - região no oeste do Sudão na qual, segundo a ONU, cerca de 300 mil pessoas morreram e mais de 2 milhões foram forçadas a fugir de seus lares desde década passada.

*******
Pelo exposto acima, vê-se claramente a responsabilidade de europeus, americanos e canadenses (entre outros) -- como colonizadores e/ou interventores militares -- na estruturação sociopolítica e econômica de praticamente todos os países que ainda hoje são palco de sérios conflitos internos e são focos de refugiados e de imigrantes ilegais. É relevante frisar o papel importante dos EUA -- como mentor da OTAN -- nos grandes conflitos regionais na África e no Oriente Médio (tendo quase infalivelmente o Canadá, entre outros, como parceiro). Para ele, a situação é cômoda: os conflitos que geram, estimulam e executam dão-se a milhares de quilômetros de seus territórios, e os problemas daí resultantes não os afetam diretamente.

No tocante à África, A divisão do continente africano teve seu início na segunda parte do século XIX. Porém, foi um pouco depois, na Conferência de Berlim (1884 – 1885) que a delimitação das fronteiras da África atingiu seu ponto máximo. Nesta conferência foram decididas normas a serem obedecidas pelas potências colonizadoras. Apesar do intuito inicial da reunião ter sido o de acertar os limites de interesse econômicos destes países na região, não foi possível alcançar um equilíbrio entre as ambições imperialistas de cada nação. A partilha da África foi decidida por Rússia, EUA e 14 países da Europa.

Esta divisão, feita de acordo com os interesses coloniais, criou conflitos na sociedade africana, problemas étnicos, econômicos e políticos. Nenhum regime político funcionou no continente. O socialismo não foi eficiente e os estados capitalistas tornaram-se tristes exemplos do mau funcionamento da economia liberal. A miséria que toma a população do continente tem origens na dívida externa que cresce a cada ano.




A Inglaterra dominou o norte do Mar Mediterrâneo até o sul do continente africano, onde se encontra o Cabo da Boa Esperança. Um importante nome britânico neste processo foi o de Benjamin Disraeli, que conseguiu tomar o Canal de Suez do completo domínio francês e egípcio. Este canal encurtava a distância entre os centros da indústria européia e as áreas de colonização da Ásia, além disso, ligava o mar Mediterrâneo ao Mar Vermelho. Disraeli adquiriu ações do governo egípcio, fazendo com que o canal de Suez e todo Egito tivessem dupla administração: inglesa e francesa. Já em 1904, o governo inglês apoiou a França na conquista do Marrocos, tendo como moeda de troca o abandono dos franceses das terras egípcias. Por fim, em 1885, a Inglaterra ainda anexou o Sudão, país ao Sul do Egito. Fizeram parte do Império Britânico na África: Egito, Sudão, Gana, Nigéria, Somália, Serra Leoa, Tanzânia, Uganda, Quênia, Malawi, Zâmbia, Gâmbia, Lesoto, Maurícia, Suazilândia, Seicheles, Zimbábue.



A França, apesar de ter perdido o Egito para os britânicos, dominava Argélia, Tunísia, ilha de Madagascar, Somália Francesa, Marrocos, Tunísia, Guiné, Senegal, Benin, Niger, Burkina Faso, Costa do Marfim, Chade, Congo (Congo Francês ou Congo Brazzaville), Gabão, Mali, Mauritânia, Argélia, Comores, Djibouti, República Centro-Africana  e Sudão (depois dominado pela Inglaterra) desde 1830.

A Alemanha dominava a região que atualmente é conhecida como República dos CamarõesTogo, sudeste e oriente da África [incluindo Tanganica (Zanzibar), Ruanda Burundi (estes dois últimos países só foram entregues à Alemanha em 1890, numa conferência em Bruxelas, em troca do Uganda e da ilha de Heligoland). Já a Itália deteve a África Oriental Italiana, a Tripolitânia (atual Líbia), Somália Italiana (parte da atual Somália), Eritréia, Abissínia. A Bélgica ficou com o Congo (República Democrática do Congo  ou Congo Belga, ou Congo-Kinshasa ou Zaire).