terça-feira, 29 de março de 2016

Repercussão mundial da saída do PMDB do governo

Reproduzo abaixo algumas das manchetes de jornais do exterior sobre a saída do PMDB do governo Dilmanta:

O partido aliado de Rousseff deixa o governo e isola ainda mais a presidenta - El País (Espanha)

☛ O parceiro de governo de Dilma Rousseff rompe com a coalizão no Brasil - El Mundo (Espanha)

Partido PMDB do Brasil sai da coalizão governista - BBC News

Brasil: o PMDB do vice-presidente Michel Temer, rompeu com o governo de Dilma Rousseff e se declarou "independente" - La Nación (Argentina)

O PMDB, o maior aliado de Dilma, abandonou o governo - Clarín (Argentina)

No Brasil, Dilma Rousseff perde seu seu principal aliado no poder - Le Monde (França)

No Brasil, Dilma Rousseff empurrada para  a saída - Le Figaro (França)

Rousseff, do Brasil, enfrenta colapso de coalizão - The Telegraph (Reino Unido)

☛ Presidente do Brasil mais próxima do impeachment com saída de parceiro da coalizão - The Guardian (Reino Unido)

Maior partido do Brasil abandona a presidente, sai da coalizão - The Washington Post (EUA)

O maior partido do Brasil sai da coalizão governista - The Wall Street Journal (EUA)

Maior partido do Brasil abandona Rousseff antes da votação do impeachment - Bloomberg (EUA)

Coalizão governista no Brasil implodida - Die Zeit (Alemanha)

Brasil imerso em crise política - Die Welt (Alemanha)

Saída do PMDB do governo põe Dilma mais perto do impeachment - Público (Portugal)

Se Dilma cair a culpa é do "mordomo" - DIário de Notícias (Portugal)

Brasil frente à crise política - Granma (Cuba)

Rousseff perde seu principal aliado e fica a um passo do impeachment - El País (Uruguai)

Rousseff enfrenta colapso da coalizão - China Daily



segunda-feira, 28 de março de 2016

Quem é que REALMENTE está apelando para o "quanto pior, melhor"?

Nos últimos 13 anos, o Brasil passou por momentos de desconfiança, euforia, preocupação, angústia, depressão e, agora, está à beira do desespero. Tudo isso sob a sombra de uma enorme bandeira vermelha estampada com o número 13. Esta bandeira cobriu e ainda cobre o país inteiro, acolhendo e escondendo gente que, agora se sabe em detalhes, destruiu o país ética, econômica e financeiramente.

Sob o comando de quem certamente é o maior fenômeno político que o Brasil já viu, o país foi sucessiva e inexoravelmente descendo ladeira abaixo em termos de ética, competência lato sensu, gestão, governança e desempenho como país decente e respeitável. Tudo sob o comando do líder supremo do PT, um ex-líder sindical chamado Luiz Inácio Lula da Silva, também conhecido como NPA (Nosso Pinóquio Acrobata), 171, apedeuta, Pixuleco e, mais recentemente, Boca de Latrina (BL).

Além de sua inegável inteligência , o BL se mostrou insuperável em autopromoção, criação de factoides, mentira, cinismo, hipocrisia, cegueira e amnésia seletivas (aplicadas tão somente contra seus malfeitos diretos e indiretos) e uma incomensurável irresponsabilidade. Um cidadão sabidamente inteligente, esperto, supermalandro, foi "incapaz" de perceber que gente de seu círculo íntimo (pessoal e administrativo) planejou, criou, amamentou, protegeu e estimulou os dois maiores (até agora ...) escândalos de corrupção que o país já viu e vivenciou: o mensalão e o petrolão. De repente, não mais que de repente, deu um apagão na cabecinha brilhante do BL e ele não viu absolutamente nada do que acontecia e rolava solto e adoidado debaixo de seu nariz e suas axilas.

Logo no início de seu primeiro governo, em 2003, o  esperto BL elegeu uma figura como referência de tudo o que de ruim, perverso e demoníaco tinha o país: FHC. Para o BL, este burguês de mentalidade capitalista tornou-se o oposto de tudo que o lulopetismo faria a partir de 2003 e a ele foram indevida e indelevelmente atribuídas todas as mazelas e ziquiziras sociais e econômicas vencidas e vincendas do Brasil. Em 2003 essa atitude do BL e do PT era perfeitamente compreensível e até aceitável -- afinal, FHC criara  o real e tirara o país de uma crise gigantesca, com uma inflação de  80% ao mês, e esses êxitos incomodavam e ainda incomodam muito o BL e o PT. Ele era (e ainda é) o homem a ser batido e execrado para o BL & Cia.

Outro mantra do PT, mergulhado até o pescoço  no lodaçal do petrolão, é dizer que corrupção não é exclusividade do partido. Beleza, o PT só admite ser criticado e condenado por corrupção "original". Mea culpa? Zero.

O problema é que o uso exagerado do cachimbo faz a boca torta. Passados 13 anos de barbeiragens, pilantragens, malfeitos e corrupção escancarados, o BL, Dilmanta  e o PT ainda insistem em culpar FHC pelos desastres perpetrados pelo BL e sua camarilha. Coisa de mafiosos.

Já em meados de seu segundo mandato, o BL resolveu inventar que Dilma Roussef [também conhecida como anta, Dama de Ferrugem e NPS (Nosso Pinóquio de Saia)] era um gênio (apesar das lambanças feitas e da incompetência política, técnica e gerencial inequivocamente por ela feitas e demonstradas em todos os cargos que ocupou) sob medida para substituí-lo no  Palácio do Planalto e dar continuidade à sua (dele, BL) estratégia de prolongar ao máximo o domínio dele e do PT no país. Pensado, e feito. Além dos defeitos enumerados, todos de conhecimento público, Dilmanta tinha sabidamente uma absoluta incapacidade de gerar e aceitar qualquer tipo de diálogo -- a madame não consegue conversar nem consigo mesma, no espelho. Como é que o olho  de lince do BL não viu ou não sabia disso, permanece um mistério.

Deu-se o chabu que  todos nós conhecemos sobejamente e sofremos há 4,5 anos. O país arruinou-se de vez, ética, política, econômica e financeiramente, e virou motivo de chacota e preocupação mundo afora. O gênio inventado pelo BL é incapaz de gerir qualquer coisa que exija um mínimo de competência, isenção e diálogo. Dilmanta não controla mais nada, não manda lhufas.

Apesar de inequivocamente mentirosa, cínica, amante de barganhas de qualquer tipo e quilate para se sustentar, ela insiste em se apresentar como "honesta" e os petralhas infantilizados abraçaram essa causa. Mesmo depois das inúmeras mentiras que lhes pregou para se reeleger em outubro de 2014. A Dama de Ferrugem tantas fez, que acabou sendo objeto de um pedido de impeachment, que já tramita na Câmara. Aí começou o festival de palhaçadas e irresponsabilidades dela, do BL, do PT e dos petistas.

O impeachment do presidente da República é um instrumento absolutamente legal, previsto explicitamente na Constituição Federal vigente. No final de 2015, foi acolhido pela Câmara dos Deputados -- entre 37 outros pedidos de mesma natureza -- o pedido formulado por Hélio Bicudo, fundador do PT, e pelos advogados Miguel Reale Junior e Janaína Conceição Paschoal.  Os advogados tentam, no documento apresentado à Câmara, associar Dilma Rousseff à Operação Lava-Jato, deflagrada na Petrobras, à investigação de tráfico de influência contra o ex-presidente Lula BL e às pedaladas fiscais analisadas pelo Tribunal de Contas da União (TCU).

Jogo jogado, cabe ao acusado reagir nos termos estritamente legais. Afinal, quem não deve não teme. Aí começou o festival de besteiras e irresponsabilidades que assola o país, além da crise econômica, da crise na saúde, na segurança pública, no saneamento básico, na infraestrutura, etc, etc. Por absolutamente incompetente sob qualquer aspecto, também na política, Dilmanta percebe que seu pedido de impeachment terá também e principalmente um viés fortemente político e se sente desesperada. Ela destruiu por completo o arcabouço político heterogêneo e interesseiro que a sustentava. Recorre então a argumentos ridículos, absolutamente inverossímeis e irresponsáveis.

Primeiro, quis incutir entre petistas e no país a tese esdrúxula de que querem tirar dela um mandato legitimamente conquistado nas urnas, como se sua eleição fosse um cheque em branco para fazer o que bem entender e uma garantia absoluta para permanecer no cargo, faça o que fizer. Para ela, Collor sofreu impeachment porque foi escolhido no cara ou coroa e não pelas urnas. A impressionante manifestação pública, ordeira e democrática, de 13 de março foi incapaz de sensibilizá-la ética e politicamente.

Depois, vendo que sua bandeira não se sustenta em pé, resolveu nomear Lula BL seu ministro, obviamente por orientação e pressão dele, com múltiplos objetivos: - i) blindá-lo contra a justiça de primeira instância (leia-se juiz Sérgio Moro), dando-lhe foro privilegiado; - ii) dar um plus político ao seu governo, confiando na inégável capacidade de negociação política do BL; - iii) tentar acrescentar um grau de dificuldade a mais contra o impeachment, na ideia de que tirá-la do governo significaria tirar também o BL, o que na sua (dela) concepção poderia gerar um clamor social mais forte. De quebra, ela cederia de fato e explicitamente ao BL o comando do país. A nomeação e a posse de Lula BL foram contestadas na justiça e o ex-presidente continua um humilde mortal  que se julga infinitamente superior a qualquer outro na face da Terra.

Paralelamente, Dilmanta, BL e o PT iniciaram uma campanha intensa de caracterizar o impeachment como "golpe". Até agora, três ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) (Cármen Lúcia, Dias Toffoli e Celso de Mello)  e um ex-ministro dessa mesma corte (Ayres Britto) vieram a público desmentí-la, afirmando clara e inequivocamente que impeachment não é golpe. O ex-ministro do STF, Eros Grau, também se pronunciou dizendo que o comportamento dos grupos aliados à presidente Dilma Rousseff diante da possibilidade de um impeachment pode colocar "em risco a paz social no Brasil".

Movendo-se como uma versão feminina canhestra e ridícula de Dom Quixote contra moinhos de vento, Dilmanta tem tomado iniciativas estapafúrdias, como a de, ineditamente, transformar o Palácio do Planalto em um palanque político em sua defesa, denunciando ao país e ao mundo que há no Brasil um golpe em curso. Cometeu a insensatez de convidar o corpo diplomático acreditado no país para participar da cerimônia, tornando-os testemunhas de uma baixaria. E botou um bando de papagaios de pirata a discursar em sua defesa. O ponto mais baixo do ato foi a fala inflamada e patética de José Eduardo Cardozo, ex-ministro da Justiça e  hoje Advogado-Geral da União, que terminou sua verborragia com as palavras "não passarão! não passarão!", numa tentativa bisonha de repetir aqui o clima da guerra civil espanhola.

Dilmanta tem insistido na tese de recorrer aos movimentos sociais para manter-se no cargo. O MST já entrou no clima, ameaçando incendiar o país se Dilmanta for derrubada. Ela claramente insufla um confronto nas ruas para permanecer no cargo.

Depois de levar muita bordoada pelo que disse contra pessoas e instituições em conversas suas grampeadas e divulgadas, Lula BL ameaçou fingidamente reincorporar o "Lula paz e amor" de tempos passados, em comício do PT contra o impeachment na Avenida Paulista em S. Paulo no dia 18 de março. Mas logo depois, em 23 de março, em um evento público convocado por seis das principais centrais sindicais do país, Lula BL retomou seu papel predileto de incendiário, pegou o maçarico e a gasolina, e calhorda e irresponsavelmente culpou a Lava-Jato pelo desemprego no país. O efeito incendiário e insuflador disso sobre a massa petista é óbvio e ululante. Sobre a destruição da Petrobras, responsável direta e indireta por milhões de empregos no país, silêncio absoluto. Mea culpa? Zero.

Por pressão de Lula BL, Dilmanta mudou o ministro da Justiça nomeando um substituto indicado por ele BL, Eugênio Aragão, que logo na posse ameaçou a Polícia Federal de represálias e demissões, mesmo sem justa causa comprovada, se apenas sentisse um "cheiro" de "mau comportamento" na Lava-Jato. Logo depois, Aragão o Falastrão foi intimado pelo STJ (Superior Tribunal de Justiça) a se explicar e recolheu-se à sua pequenez e à sua descompostura. Mais um gesto para confrontar as manifestações de 13 de março, que ostensivamente se posicionaram a favor da Lava-Jato, da Polícia Federal e do juiz Sérgio Moro.

Para azedar de vez o mau humor crônico de Dilmanta, hoje (28/3), a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) vai protocolar na Câmara novo pedido de impeachment da presidente Dilma. Diferentemente do que está em tramitação, que trata apenas das pedaladas fiscais, a entidade, responsável pela ação inicial que afastou o então presidente Fernando Collor de Mello em 1992, incluiu na peça denúncias de crime de responsabilidade e a delação premiada do ex-líder do governo no Senado Delcídio do Amaral. É nesse contexto que as atenções estarão voltadas para o recém-empossado presidente nacional da OAB, Cláudio Lamachia, de 55 anos. Em entrevista, ele explica a razão do pedido que será apresentado e diz que, ao contrário do prega o governo, impeachment não é golpe.

Fora a insistência normal e jurídica e politicamente inatacável de insistir no impeachment, a oposição não tem feito pregação alguma a favor de derrubar Dilmanta pela força. Ela é acusada ainda por nossa (govern)anta de querer um terceiro turno, inconformada com a derrota em outubro de 2014. Quem se conformar com uma derrota construída sobre um estelionato eleitoral é frouxo e idiota. Não é só a oposição que está revoltada com o que ocorreu a partir de outubro passado e nos últimos 4,5 anos -- um bom número dos 53 milhões que reelegeram Dilmanta pensa a mesma coisa. Essa é uma briga que rola no TSE - Tribunal Superior Eleitoral, dentro dos princípios legais.

Dilmanta, Lula Boca de Latrina, ministros petistas do governo e o presidente do PT têm insistente e recorrentemente recorrido a pronunciamentos decididamente voltados para insuflar a massa petista ao uso da força defender o governo contra o impeachment, qualquer que seja a fundamentação jurídica desse impedimento. Quem abertamente apela para o "quanto pior, melhor" é essa turma.



terça-feira, 22 de março de 2016

"Está se esgotando o tempo para conseguirmos uma solução para os refugiados", diz ministro das Finanças alemão

A questão dos refugiados está sendo muito mais traumática e devastadora para a União Europeia (UE) do que a crise financeira, por violar conceitos básicos de democracia e de direitos humanos que se julgavam ser seus pilares fundamentais. O fluxo ininterrupto de pessoas escorraçadas de seus países por conflitos armados e perseguições pegou de surpresa os países da UE, que absolutamente não se entendem entre si sobre como resolver o problema. A última mensagem da UE para os refugiados é "fiquem em casa, não venham para a Europa", numa tentativa de evitar mais uma catástrofe humanitária.

Os inúmeros postos de controle instalados em diversas fronteiras para conter a onda de refugiados têm tido também um efeito danoso sobre o comércio interfronteiriço, tornando-o mais lento e dificultando o deslocamento de pessoas que trabalham num país vizinho ao seu. Problemas adicionais que contribuem para aumentar a reação contra os refugiados.

O movimento contra a entrada de refugiados em diversos países da UE evidenciou que união de princípios está longe de ser o forte desse grupo. A Áustria quer limitar em 37.500 a entrada de refugiados no país em 2016. O gráfico abaixo retrata a disparidade das reações dentro da UE quanto à prestação de ajuda aos refugiados. Observa-se que estão no leste europeu os países mais avessos a ajudá-los, com a Itália engrossando o grupo. Grécia, Itália e Turquia se tornaram pontos nevrálgicos e países-chaves no controle da entrada de refugiados na Europa, o que provocou uma carga brutal de problemas para esses países (principalmente à já combalida Grécia). A Turquia aproveitou a chance para impor à UE uma série de condições para fechar a "rota dos Balcãs" aos refugiados: quer 6 bilhões de euros para isso, a isenção de visto para cidadãos turcos entrarem no Espaço Schengen (UE) e o relançamento do processo de adesão do país à UE. Crise humanitária serve também para se fazer chantagem.


Parte visceral do problema dos refugiados, a concessão de asilo para eles na UE começa a provocar novas discussões e dissensões na Comunidade Europeia. Bruxelas já cogita centralizar e alterar as regras de asilo vigentes na UE ("Convenção de Dublin"), o que já provocou reação imediata do Reino Unido, que vê nisso mais uma usurpação de poder dos países pela UE, com repercussão direta no referendo que o país fará no dia 23 de junho vindouro para decidir se permanece ou não na UE.

Os países do leste europeu alegam que a solução da crise cabe primeiro aos países colonizadores, com o que concordo plenamente. Ver postagem anterior:

"A crise dos imigrantes ilegais e refugiados na Europa -- europeus colhem hoje o que semearam ontem".


A Europa acertou em 18 de março com a Turquia a mudança radical que vai aplicar a partir de agora para a crise de refugiados. Após dois dias quase ininterruptos de negociações em Bruxelas, os 28 países da UE e primeiro-ministro turco, Ahmet Davutoglu, fecharam um acordo que permite à Europa devolver à Turquia todos os imigrantes –inclusive os refugiados– que chegarem às ilhas gregas a partir de domingo. Em troca, a UE vai ativar um procedimento de recebimento de sírios mais amplo do que o atual. Com esse pacto polêmico, a UE espera fechar a rota migratória pelo mar Egeu.

Todo esse pano e fundo reforça a validade e a oportunidade da entrevista do ministro das Finanças da Alemanha, Wolfgang Schäuble, ao site Spiegel Online International sobre a questão dos refugiados na Europa, especialmente nos países da União Europeia (UE), que traduzo a seguir. O fluxo ininterrupto de milhares de refugiados à Europa transformou-se no pior pesadelo dos europeus na história recente do continente. O que estiver entre colchetes e em itálico é de minha responsabilidade.

O ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schäuble, diz que a Europa precisa investir tanto dinheiro quanto possa e tão prontamente quanto possível no Oriente Médio e na África, para reduzir a imigração oriunda dessas regiões - (Foto: Reuters)

Spiegel Online -- Ministro, o governo austríaco anunciou recentemente planos para estabelecer limites mais elevados para o número de refugiados que irá aceitar. O Sr. simpatiza com essa decisão?

Schäuble -- Tive que parar para respirar quando ouvi que não tínhamos sido consultados sobre essa decisão. Em meses recentes, a chanceler alemã fez sempre um esforço para estabelecer consultas com a Áustria. Mas, sabemos que as capacidades dos estados membros da União Europeia não são infinitas. Assim sendo, faz pouco sentido para nós criticarmos uns aos outros. Todos nós aceitamos a decisão da Suécia de também introduzir controles de fronteiras. E esse é um país que durante décadas foi o mais aberto à imigração.

Spiegel Online -- A Alemanha ficará cedo sozinha e isolada com suas políticas para refugiados?

Schäuble -- Não. Na Europa, reconhecemos que as pressões que provocam migração têm que ser reduzidas. Se o sistema Schengen (de deslocamento livre intrafronteiriço) for destruído, a Europa ficará em sério risco -- política e economicamente. Essa é a razão pela qual nós europeus temos que investir bilhões na Turquia, na Líbia, na Jordânia e em outros países na região tão rapidamente quanto possível -- todo mundo, na capacidade de cada um.

Spiegel Online -- Sua proposta de introduzir um imposto sobre combustíveis para financiar essa ajuda foi recentemente repelida. Não foi bem recebida nem mesmo entre seus aliados conservadores naAlemanha.

Schäuble -- No momento, estamos felizes por termos um superávit orçamentário e não precisarmos desse imposto. Mas a Alemanha não assumir essa tarefa por sua conta, isso está claro. é por isso que sugeri que países com finanças mais apertadas pensem a respeito desse imposto. Não temos no momento o tempo necessário para essa discussão. 

Spiegel Online -- Não seria mais fácil ganhar apoio para um sistema com quotas claras e definidas para compartilhar o ônus? Esse tipo de sistema já existe, quando se trata de ajuda financeira para países como a Grécia. 

Schäuble -- Nosso tempo está se esgotando para tais soluções. Donald Tusk, o presidente do Conselho da UE, disse que temos até fevereiro. Sempre tive a esperança de que a Comissão Europeia surgiria com um plano antes desse prazo. Mas, sei que o presidente da Comissão, Jean-Claude Juncker, está fazendo tudo o que pode para isso. 

Spiegel Online --  Houve também carência de tempo quando do socorro aos bancos e a alguns membros da eurozona. Apesar disso, soluções provisórias foram logo substituídas por estruturas nas quais havia um claro compartilhamento do ônus. Esse não seria também o caso da crise dos refugiados?

Schäuble -- Sim, claro. Mas, ao contrário da crise do euro, alguns dos nossos parceiros na UE pensam que o problema não tem efeito sobre eles. Acho que estão errados, mas é isso o que pensam. 

Spiegel Online -- O Sr. recentemente separou 12 bilhões de euros do superávit orçamentário para cuidar dos custos associados com a crise dos refugiados. Para onde irá esse dinheiro?

Schäuble -- Cerca de metade disso já havia sido incluído no orçamento de 2016 -- para dar assistência a estados e municípios para que forneçam abrigos, por exemplo. E está claro para nós que teremos que ficaremos mais envolvidos na regiões vizinhas a nós, de modo que as pressões da migração não sejam tão altas para elas. É claro que as negociações orçamentárias serão difíceis, como sempre são. Acho que teremos que gastar mais em defesa, infraestrutura, para ampliação da rede de banda larga e também para segurança doméstica.  

Spiegel Online -- O Sr. acha que os ataques sexuais cometidos em Colônia na véspera do Ano Novo fazem com que seja mais urgente investir em segurança? 

Schäuble -- Ficou claro de um tempo para cá que temos que fazer mais pela segurança doméstica e externa. Estou preparado para isso. E estava preparado mesmo antes de Colônia.  

Spiegel Online -- Por duas vezes o Sr. conseguiu submeter um orçamento equilibrado. Quando ollha para a frente, para continuar essa tendência, o que o preocupa mais: os possíveis efeitos da crise da China sobre a Alemanha, ou o fim dos juros extremamente baixos, que têm permitido à Alemanha poupar bilhões?

Schäuble -- Na realidade, eu preferiria ter taxas de juros mais elevadas.

Spiegel Online -- Mas isso dificultaria equilibrar seu orçamento.

Schäuble -- Sim, mas nos níveis correntes as taxas de juros não estão cumprindo sua função econômica. Isso leva a flutuações extremas. No momento estamos enfrentando uma coleção completa de dificuldades para prever desdobramentos -- da situação na China à queda no preço do petróleo às preocupantes notícias de alguns bancos na Europa e nos EUA. Tudo isso está interligado: a dívida das empresas em nível mundial é elevada, e há muito dinheiro em circulação. É por isso que as reformas estruturais necessárias não estão sendo feitas. Não sei quantas resoluções do FMI e do G-20 já escrevemos dizendo que tais reformas são necessárias para um novo crescimento.

Spiegel Online -- A situação atual nos mercados faz lembrar o investidor americano George Soros da última crise financeira.

Schäuble -- Soros ganhou um bocado de dinheiro com tais rumores, ao longo de sua carreira.

Spiegel Online -- Então o Sr.não está preocupado com uma nova crise?

Schäuble -- Acabo de dizer que estamos enfrentando um conjunto completo de desenvolvimento do tipo crise, que temos de acompanhar bem de perto. Mas temos também de ser cuidadosos quanto ao que apontamos como indicadores de crise. Na China, sempre se disse uma taxa de crescimento de dois dígitos seria perigosa. Agora, o país tem uma taxa de crescimento de 6,9% e, de repente, pensa-se que isto é uma catástrofe para a economia global. O significativo colapso dos preços do petróleo mostra também que eram antes demasiado elevados. A política financeira tem de ser cautelosa, para não provocar constantemente tais exageros. Nosso orçamento equilibrado tem uma função psicológica importante. É um sinal de que não podemos continuar a constantemente assumir dívidas.

[É instrutivo e importante comparar o conceito de orçamento equilibrado dos alemães e os orçamentos fajutos de Dilma NPS (Nosso Pinóquio de Saia). Primeiro, ela enviou um orçamento ao Congresso um orçamento com um enorme déficit explícito, o que provocou imediatamente o rebaixamento do Brasil por duas das três principais agências de classificação de riscos. Depois, com a ajuda pilantra de suas vacas de presépio na Comissão Mista do Orçamento (CMO) do Congresso, a madame propôs um orçamento para 2016 que conta com receita fictícia, que não existe ainda e dificilmente existirá, como é o caso da CPMF (a velha história do ovo dentro da galinha) -- ou seja, na realidade o orçamento continua deficitário, no valor correspondente à receita "oriunda" da CPMF. Enquanto Angela Merkel propõe, na Alemanha, um orçamento realista e equilibrado, nossa (govern)anta apresenta um orçamento fictício, fecal e chantagista.]

domingo, 20 de março de 2016

A Escola de Parma: quando Roma celebra a Alta Renascença italiana

[Traduzo a seguir artigo do site francês L'Internaute. O que  estiver entre colchetes e em itálico é de minha responsabilidade.]

Visitantes admiram as  obras apresentadas quando da exposição "Correggio e Parmesão. A arte em Parma no século XVI", apresentada em Roma de 12 a 26 de março corrente - (Foto: Gabriel Bouys/afp.com)

Por meio de obras de dois mestres da pintura italiana, membros da famosa Escola de Parma, Antonio da Correggio (1489-1534) e Girolamo Francesco Maria Mazzola (o Parmigiano ou Parmesão) (1503-1540), Roma celebra a beleza, o talento e o esplendor da Alta Renascença italiana. 

A exposição, aberta na Scuderie del Quirinale (Cavalariças do Palácio Quirinal, residência do presidente da República italiana), se intitula "Correggio e Parmesão. A Arte no século  XVI", se estenderá até 26 de junho. 

Através de uma centena de  obras, telas e desenhos, emprestadas por mais de 50 museus e coleções privadas, tais como Museu do Louvre, Museu do Prado e a National Gallery (Londres), a exposição rende homenagem a dois pintores dos quais o prêmio Nobel italiano de literatura Dario Fo diz que "pintavam como se estivessem ligados ao céu". 

A mostra traz à luz essa cidade da Emilia-Romana [Parma] que, durante a primeira metade do século XVI, conheceu uma idade de ouro competindo de igual para igual com Florença, Roma e Veneza no desenvolvimento da Renascença italiana. 

Em 1545, o papa Paulo III Farnèse criou o ducado de Parma e Piacenza e o ofereceu a seu filho. Os Farnèse dominaram a região até 1731, quando os Bourbons assumiram o poder. 

Uma das obras da exposição "Correggio e Parmesão. A arte em Parma no século XVI" - (Foto: Gabriel Bouys/afp.com)

Correggio (nascido Antonio Allegri) e o Parmesão exprimem os dois, apesar dos estilos diferentes, a vitalidade e a criatividade que reinavam então em Parma, uma cidade que se tornou em alguns anos um ponto de referência, a ponto de  mudar a história da pintura italiana. 

Abordando tanto temas religiosos quanto mitológicos ou profanos, pintando Virgens como damas nobres e santos como notáveis, e graças a um uso agudo das cores e da luz, esses dois mestres fizeram de suas telas autênticos ícones.

"Retrato de mulher jovem dita "Escrava Turca", Parmigiano (Parmesão), coleção particular, Galeria Nacional, Parma - (Foto: Google)

A exposição, cujo curador é um dos maiores conhecedores da Escola de Parma, o professor David Ekserdjian, é igualmente uma experiência sensorial graças à semiobscuridade em que estão mergulhadas as obras, revelando sua elegância e sua sensualidade. 

Os visitantes poderão admirar também dois dos quadros mais conhecidos de Correggio: a "Virgem Barrymore", exposta na Galeria Nacional de Arte Moderna de Washington, e "Retrato de uma mulher", que pertence ao acervo do Museu do Hermitage, em São Petersburgo (Rússia). 

De Parmigiano são expostos principalmente "A conversão de São Paulo", do Museu de História da Arte, de Viena, a célebre e misteriosa "Escrava turca" [ver foto acima], do acervo da Galeria Nacional de Parma, e dois quadros provenientes do museu Capodimonte, de Nápoles, "Antea" e "Lucrécia". 

[ Algumas obras da exposição de Roma citada acima: 

Virgem de Barrymore, Correggio, cerca de 1508/1510, óleo sobre tela, 56 x 41 cm, National Gallery of Art, Washington (EUA) - (Foto: Google)

Retrato de uma Mulher, Correggio, cerca de 1518, óleo sobre tela, 103 x 87,5 cm, Museu do Hermitage, São Petersburgo, Rússia - (Foto: Google)

A Escola do Amor, Correggio, cerca de 1528, óleo sobre tela, 155 x 91,5 cm, National Gallery (Londres) - (Foto: Google)

"Noli me tangere" (Não me toques), Correggio, cerca de 1525, óleo sobre tela, 130 x 103 cm, Museu do Prado (Madri) [Cristo e Maria Madalena vestida de amarelo, a cor característica das prostitutas] - (Foto: Google)

A Conversão de São Paulo, Parmigiano, cerca de 1527, óleo sobre tela, 177,5 x 128,5 cm, Museu da História da Arte, Viena - (Foto: Google)

Antea, Parmigiano, cerca de 1535, óleo sobre tela, 135 x 88 cm, Museu Nacional de Capodimonte, Nápoles (Itália) - (Foto: Google)

Lucrécia, Parmigiano, 1540, óleo sobre tela, 68 x 52 cm, Museu Nacional de Capodimonte,Nápoles (Itália) - (Foto: Google) ]









quinta-feira, 17 de março de 2016

A repercussão mundial da manobra indecente de Lula e Dilma para blindar o ex-presidente

A palavra "indecente" do título desta postagem é muito educada, bonitinha e perfumada para descrever a manobra que Lula Pixuleco NPA (Nosso Pinóquio Acrobata) e Dilmanta NPS (Nosso Pinóquio de Saia) montaram para evitar que o ex-presidente seja julgado pelo juiz Sérgio Moro. O vasto repertório de palavrões e boçalidades do Pixuleco tem um estoque inesgotável de adjetivos que melhor descrevem o que foi e é essa safadeza. Reproduzo abaixo como isso repercutiu na imprensa mundial. Isso tudo tornou nossa imagem ainda mais imunda aos olhos do mundo.

Dilma e Lula, seu reluzente superministro - [Foto: Clarín (Argentina)]

"Brasil protesta contra nomeação de Lula como ministro da Casa Civil" - BBC News

"A gravação de uma conversa entre e Lula da Silva que agrava a crise política no Brasil" - BBC Mundo

"Protestos varrem o Brasil após interceptação de conversa telefônica de Lula com Dilma" - Financial Times

"Rousseff, a Lula: 'Use esse papel só em caso de necessidade. É o termo de posse (como ministro)'" - El País (Espanha)

"Brasil explodiu com a nomeação de Lula como ministro" - La Nación
(Argentina)

"Assim intervinha Dilma para evitar a prisão de Lula" - Clarín (Argentina)

"O retorno de Lula põe o Brasil nas ruas" - Le Monde (França)

"O retorno de Lula comprometido por uma escuta telefônica" - Le Figaro (França)

"Brasil: a operação Lula comprometida por uma escuta telefônica" - L'Internaute (França)

☛ "Brasil: Lula e Dilma atolados numa história de escuta telefônica" - L'Express
(França)

☛ "Brasil. Lula no governo para evitar a prisão? A escuta telefônica que provoca escândalo" - L'Obs (França)

☛ "Brasil: Lula e Dilma apanhados no escândalo de uma escuta telefônica" - Les Echos (França)

☛ "O Brasil furioso após uma escuta telefônica embaraçosa para a presidente" - Libération (França)

"Silva, ex-presidente do Brasil, assume cargo de ministro" - The Washington Post (EUA)

"Ex- presidente brasileiro da Silva junta-se ao ministério de Rousseff com ambos enfrentando crises" - The Wall Street Journal (EUA)

"Ex-presidente 'Lula' entra no ministério do governo brasileiro, ganhando blindagem legal" - International New York Times (EUA)

"Liberação de conversas telefônicas interceptadas entre Lula e Dilma deflagra protestos de rua no Brasil" - The Guardian (Reino Unido)

☛ "Choque de manifestantes antes da posse de Lula no Brasil" - Daily Mail (Reino Unido)

"Dilma tentou evitar a possível detenção de Lula, segundo sugere uma escuta policial" - El Mundo (Espanha)

"Protestos contra a nomeação do ex-presidente Lula como chefe da Casa Civil" - Die Zeit (O Tempo) (Alemanha)

"Conversa telefônica secreta joga o Brasil numa crise" - Die Welt (O Mundo) (Alemanha)

"Lula torna-se 'ministro-chefe' no governo Rousseff e com isso se protege contra um processo de corrupção"  - Frankfurter Allgemeine (Alemanha)

"Gravações mostram que Dilma estava blindando Lula" - Bloomberg Business (EUA)

"Lula se blinda judicialmente e sai em resgate de Dilma ao assumir como seu chefe de gabinete" - El Mercurio (Chile)

"Rousseff protege Lula com nomeação para ministério" - El Diario (Bolívia)

"Lula sob a asa de Dilma faz explodir a indignação" - El País (Uruguai)

"Silva, ex-presidente do Brasil, assume ministério" - Belfast Telegraph (Irlanda)

"Lula e Dilma gravados a combinar plano para evitar prisão dele" - Diário de Notícias (Portugal)

"Milhares protestam contra Dilma e Lula no Brasil após a divulgação de uma escuta telefônica entre os dois" - Zürichsee Zeitung (Suíça)




quarta-feira, 16 de março de 2016

A luta desigual entre passageiros e o tamanho dos assentos dos aviões

[Ocorre hoje em dia um fenômeno estranho e inexplicável (em termos): as pessoas tendem a aumentar de tamanho e peso, e as poltronas dos aviões comerciais continuam encolhendo e ficando cada vez desconfortáveis. É evidente que há um desrespeito das empresas aéreas e das agências que deveriam regulá-las em relação aos passageiros, com a ganância das transportadoras prevalecendo sobre o conforto e até a segurança dos passageiros -- assentos menores e com menor afastamento entre poltronas à frente e atrás certamente contribuem para por em risco a integridade física dos passageiros em caso de acidente. Traduzo a seguir artigo de Stephanie Rosenbloom sobre isso publicado no International New York Times. O que estiver entre colchetes e em itálico é de minha responsabilidade.]



As poltronas dos aviões podem tornar-se ainda menores? Aqueles entre nós que preferem não verificar isso ficaram animados quando um projeto de lei que limitaria o tamanho mínimo dos assentos em linhas aéreas comerciais foi apresentado no início de fevereiro pelo deputado Steve Cohen, democrata pelo Tennessee. "Mais recentemente, o tema atraiu atenção quando o senador Chuck Schumer, democrata de Nova Iorque, disse que também queria fixar padrões para o tamanho desses assentos.

"As pessoas tornaram-se maiores desde que os assentos foram encolhidos", disse Cohen durante um debate sobre sua proposta de emenda  ao Ato de Reautorização/Recertificação da Administração Federal de Aviação [FAA, na sigla inglesa].

Os assentos tinham 18 polegadas (cerca de 45,7 cm) de largura antes da desregulamentação aérea nos anos 1970 e, desde então, tem sido gradualmente reduzido até chegar a 16,5 polegadas (cerca de 41,9 cm), disse Cohen, enquanto o pitch dos assentos [o espaço entre um ponto em um assento e o mesmo ponto no assento à sua frente] costumava ser de 35 polegadas (cerca de 88,9 cm) e foi reduzido para cerca de 31 polegadas (cerca de 78,7 cm). No mesmo período, um homem médio [americano] tornou-se 30 libras (cerca de 13,6 kg) mais pesado do que era em 1960 (passando de 75,3 kg para 88,9 kg), enquanto a mulher média [americana] tornou-se cerca de 11,8 kg mais pesada (de 63,5 kg para 75,3 kg), disse Cohen, citando estatísticas dos Centros para Controle e Prevenção de Doenças (CDC, na sigla inglesa). Ter assentos menores e passageiros maiores significa que os aviões podem não ser capazes de fazer uma evacuação rápida de seus passageiros no caso de uma emergência, disse ele. "Isso afeta a segurança e a saúde dos passageiros".

[No Brasil, a Azul informa que tem 22 assentos com espaçamento de 86 cm entre poltronas, pelos quais os passageiros pagam a partir de R$ 25 a mais na passagem -- esse grupo de poltronas representa de 20% a 18% dos assentos nos aviões Embraer E195 (dependendo da configuração) e de 22% a 19% nos Embraer E190. Ou seja, cerca de 80% dos passageiros da Azul nessas aeronaves são submetidos ao desconforto de assentos com pitch menor. A TAM não informa o espaço extra oferecido aos passageiros que pagarem R$ 30 a mais na passagem para seu "Espaço+", nem diz quantos são esses assentos por aeronave. Não encontrei no site da Gol informações sobre isso. O mesmo aconteceu no site da Avianca, mas me lembro de no ano passado ter voado para São Paulo com ela e de ter gostado muito do espaço bem folgado em relação à poltrona à minha frente.]

A deputada Janice Hahn, democrata da Califórnia, co-autora do projeto de lei sobre tamanho mínimo de assentos em aviões comerciais, acrescentou que passageiros em aviões de espaços limitados estavam recebendo ofertas de produtos como o Protetor de Joelhos (a US$22), composto de controvertidos grampos ou presilhas projetados para serem fixados nas laterais da bandeja do assento e que impedem o passageiro à sua frente de reclinar sua poltrona (possivelmente gerando ou estimulando uma discussão com ele, embora você possa sempre oferecer-lhe um Cartão de Cortesia de Proteção de Joelho, no qual está registrado que você "entende que isso pode ser um inconveniente"). [Esses americanos são inacreditáveis!]

Durante o debate, o deputado Rick Nolan, democrata de Minnesota, um dos que votaram a favor da emenda, lembrou-se de ter visto um homem espremendo-se para sentar-se em sua poltrona e, inadvertidamente, ter puxado o cabelo da mulher que se sentava à sua frente. "E ela estava gritando com ele porque ele havia puxado seu cabelo, e ele gritava com ela porque ela estava gritando com ele -- ou seja, a coisa está saindo dos limites".

Infelizmente, o Comitê de Transporte e Infraestrutura da Câmara dos Deputados [EUA] votou contra o projeto de lei do deputado Steve Cohen em 11 de fevereiro passado (33 a 26), mas ainda há esperança. Cohen planeja reapresentá-lo como uma emenda se ou quando a reautorização/recertificação da FAA chegar à Câmara para apreciação. Posteriormente, o senador Schumer disse que apresentaria uma emenda ao projeto de recertificação da FAA que exigiria a fixação de padrões para as dimensões das poltronas de aviões comerciais. "O passageiro médio se sente como estivesse sendo tratado como uma sardinha", disse ele numa entrevista à imprensa. "Imprensado e imprensado, e imprensado".

Aconteça o que acontecer, o projeto de lei do deputado Cohen levanta questões importantes. Assentos menores são indiscutivelmente desconfortáveis e injustos para passageiros que sejam especialmente altos ou gordos. Mas, eles são também inseguros?

Há duas preocupações principais enfocadas pela seção Seat Egress [Saída de Assento, em tradução direta] no Ato de Viagem Aérea (Air Travel Act): a "síndrome da classe econômica" (a condição experimentada por viajantes que desenvolvem trombose venosa profunda, a formação de coágulo ou coágulos no sangue, após voos de longas distâncias) e a capacidade dos passageiros para abandonar um avião de forma segura quando, na melhor das circunstâncias, mal podem sentar-se em suas poltronas.

O risco de desenvolver uma trombose venosa profunda ou uma embolia pulmonar -- uma condição potencialmente letal quando um coágulo ou parte dele se desloca para os pulmões -- como uma consequência de voar distâncias longas parece ser real, embora seja pequeno. em média, um passageiro em 6.000 terá trombose venosa profunda ou uma embolia pulmonar após voos longos, de acordo com um estudo da Organização Mundial da Saúde (OMS).

O Colégio Americano de Médicos do Tórax afirmou, em suas diretrizes mais recentes sobre o tema, que desenvolver trombose venosa profunda ou embolia pulmonar como resultado de voos longos é improvável para a maioria dos passageiros, mas certos fatores podem aumentar esse risco. Foram incluídos entre tais  fatores: já ter sofrido isso antes, ter câncer, ter passado por cirurgia ou trauma recentes, imobilidade, idade avançada, usar estrogênio, estar grávida, estar/ser obeso, e estar sentado em uma poltrona de janela (porque pode limitar a mobilidade).

Vale notar que trombose venosa profunda não se restringe a viagens aéreas. "Qualquer um viajando por mais de quatro horas, seja de avião, carro, ônibus ou trem, pode correr o risco de ter coágulo(s) no sangue", de acordo com os Centros para Controle e Prevenção de Doenças (CDC, na sigla inglesa). Para ajudar a evitar coágulos, o CDC sugere que você movimente suas pernas frequentemente e exercite os músculos da barriga  da perna.

A outra preocupação importante levantada pelo deputado Cohen é a capacidade dos passageiros de abandonar uma aeronave no caso de uma emergência. "A FAA exige que as aeronaves sejam capazes de efetuar uma evacuação rápida em caso de emergência", disse ele em um comunicado depois que seu projeto de lei foi rejeitado, "entretanto a FAA não realizou ainda testes de evacuação de emergência em todos os assentos menores de hoje. Isto é inaceitável".

Em discussão, disse Cohen, está o fato de que a FAA não efetuou testes de evacuação de emergência em linhas aéreas com menos de 73,66 cm de distância entre as filas de assentos. E a Câmara dos Deputados não estabelece normas de segurança para a largura e o pitch dos assentos das aeronaves comerciais. O grupo de defesa dos direitos do consumidor FlyersRights.org disse no final de fevereiro que "já se passaram anos desde que as empresas aéreas foram demandadas a fazer esses testes, e então elas os fizeram utilizando empregados jovens e fisicamente "enxutos".

Qualquer aeronave que tiver subsequentemente reduzido a largura ou o pitch dos assentos, ou acrescentado assentos por fila de poltronas, deve ser requerida a a ser recertificada  para o padrão de 90 segundos de evacuação para essa nova configuração, utilizando voluntários recrutados na população em geral, conformes com padrões demográficos, sem treinamento prévio em evacuação de aeronave, e com esses testes supervisionados pela FAA".

Desde sua apresentação, o projeto de lei do deputado Cohen tem granjeado alguns apoios a mais entre os deputados democratas. O deputado republicano de Columbia, Adam Kinzinger, também assinou como co-autor do projeto de lei: "Espero ver esse projeto ser aprovado na Câmara com um apoio bipartidário", disse ele num comunicado. Assim esperam milhares de viajantes aéreos de ambos os lados do corredor.

[Sou um rato de notícias impressas e virtuais, e não me lembro de antes já ter visto divulgadas no Brasil notícias e dados semelhantes quanto à correlação segurança dos passageiros x dimensões de assentos em aeronaves comerciais. De parte da Câmara dos Deputados, então, muito menos. Pesquisando agora na internet, encontrei no site da Anac - Agência Nacional de Aviação Civil uma matéria sobre esse assunto, datada de 20/8/2009. 

O texto da Anac informa: "A proposta da Agência é criar cinco categorias, de A a E, considerando a distância entre as poltronas (o chamado pitch) de no mínimo 66 cm (26 polegadas) até as superiores a 76 cm (30 polegadas). As companhias aéreas que aderirem ao Selo ANAC irão afixar as etiquetas nas aeronaves, além de publicá-las na Internet nos sistemas de compra e reservas de passagens". Aqui, o espantoso: o pitch máximo previsto pela Anac é 4,5% menor que o pitch mínimo americano! Ou seja, passageiro brasileiro, ou no Brasil, é visto como sardinha pelo órgão regulador do nosso setor aéreo.

O texto da Anac afirma que, com relação à largura do encosto do assento, o padrão utilizado pelas companhias aéreas brasileiras era de 45 cm, enquanto 70% dos passageiros por ela pesquisados têm medidas maiores de largura entre os ombros. Não consegui descobrir que fim teve esse texto em termos de documento regulatório. Em 2007, houve um projeto de lei do deputado Alex Canziani que estabelecia que pelo menos 10% dos assentos de aeronaves registradas no Brasil deveriam ter dimensões especiais para acomodar passageiros obesos ou com estatura elevada, e fixava as dimensões mínimas dessas poltronas. Não descobri se isso virou lei. 

Para o Idec - Instituto de Defesa do Consumidor, é abusiva a cobrança a mais feita pelas empresas para assentos mais espaçosos.]

20 anos sem Tom Jobim (VIII)

Ver postagem anterior.

Corcovado (1960)

Tom Jobim -- Intérpretes: Tom Jobim & Elis Regina (Fantástico, 1974)




Um cantinho e um violão
Esse amor, uma canção
Pra fazer feliz a quem se ama
Muita calma pra pensar
E ter tempo pra sonhar
Da janela vê-se o Corcovado
O Redentor que lindo
Quero a vida sempre assim com você perto de mim
Até o apagar da velha chama
E eu que era triste
Descrente deste mundo
Ao encontrar você eu conheci
O que é felicidade, meu amor



O grande amor (1960)

Tom Jobim & Vinicius de Moraes -- Intérpretes: Stan Getz & João Gilberto

 

Haja o que houver,
há sempre um homem,
para uma mulher.
E há de sempre haver para esquecer,
um falso amor e uma vontade de morrer.

Seja como for há de vencer 
o grande amor,
que há de ser no coração,
como perdão pra quem chorou.



Olha pro céu (1960)

Tom Jobim -- Intérprete: Fátima Guedes




Olha que céu
Está cheio de estrelas
Longe é o céu
Olha pro céu
Mil estrelas que vão
Olha pra mim
Que sozinho vou também
Que não pedi pra sofrer
E não pedi pra gostar de você
Olha no céu uma estrela que cai
Riscando o azul
Grande é o céu
Um abismo de luz
Se grande é o céu
Maior é o meu amor
E vejo o céu infinito
Que existe em teus olhos
Olha que céu
Está cheio de estrelas
Longe é o céu
Olha pro céu
Mil estrelas que vão
Olha pra mim
Que sozinho vou também
Que não pedi pra sofrer
E não pedi pra gostar de você
Olha no céu uma estrela que cai
Riscando o azul
Grande é o céu
Um abismo de luz
Se grande é o céu
Maior é o meu amor
E vejo o céu infinito
Que existe em teus olhos
E vejo o céu infinito
Que existe em teus olhos
E vejo o céu infinito
Que existe em teus olhos



Brasília: Sinfonia da Alvorada/III: A Chegada dos Candangos (1960)

Tom Jobim & Vinicius de Moraes -- Intérprete (instrumental): OSB - Orquestra Sinfônica Brasileira/Regente: Roberto Minczuk






O amor em paz (1960)

Tom Jobim & Vinicius de Moraes -- Intérpretes: Zé Renato & Tom Jobim




Eu amei
E amei, ai de mim, muito mais do que devia amar
E chorei
Ao sentir que iria sofrer e me desesperar

Foi então
Que da minha infinita tristeza aconteceu você
Encontrei
Em você a razão de viver e de amar em paz
E não sofrer mais
Nunca mais
Porque o amor é a coisa mais triste quando se desfaz
Porque o amor é a coisa mais triste quando se desfaz



Discussão (1960)

Tom Jobim & Newton Mendonça -- Intérprete: Leila Pinheiro







Se você pretende sustentar opinião
E discutir por discutir
Só pra ganhar a discussão
Eu lhe asseguro pode crer
Que quando fala o coração
Às vezes é melhor perder
Do que ganhar você vai ver
Já percebi a confusão
Você quer ver prevalecer
A opinião sobre a razão
Não pode ser não pode ser
Pra que trocar o sim por não
Se o resultado é solidão
Em vez de amor uma saudade
Vai dizer quem tem razão
Se você pretende sustentar opinião
E discutir por discutir
Só pra ganhar a discussão
Eu lhe asseguro pode crer
Que quando fala o coração
Às vezes é melhor perder
Do que ganhar você vai ver
Já percebi a confusão
Você quer ver prevalecer
A opinião sobre a razão
Não pode ser não pode ser
Pra que trocar o sim por não
Se o resultado é solidão
Em vez de amor uma saudade
Vai dizer quem tem razão 

segunda-feira, 14 de março de 2016

Nova mina no mercado financeiro (pelo menos nos EUA e na Europa): o financiamento de divórcios

[Novidade é o que não falta no cenário internacional. Traduzo a seguir um artigo da The Economist.]

Recém-divorciados ... e procurando um empréstimo - (Foto: The Economist)

Em muitos países ocidentais, incluindo os EUA e o Reino Unido, advogados de divórcios não podem representar um cliente em troca por uma parcela de qualquer tipo de acordo que garantam (em oposição a um honorário fixo). Esse tipo de arranjo, receia-se, produziria divórcios mais numerosos e mais desagradáveis. Entretanto, a mesma regra não se aplica a financistas: são livres para financiar batalhas legais sobre bens matrimoniais -- e um crescente número deles faz isso.

Novitas Loans, uma empresa britânica, está atualmente financiando 1.500 possíveis divorciados (a maioria mulheres) e divorciados a um juro de 18% ao ano. A intenção é que os empréstimos cubram os encargos legais -- tipicamente, os tomadores desses empréstimos esperam ganhar bens que valem três vezes o valor de seu financiamento. Sem os empréstimos, muitos deles teriam que desistir e fazer acordos por muito menos, diz Jason Reeve, diretor-gerente da Novitas. Ele alega receber muitas cartas de agradecimentos de financiados. A demanda por empréstimos dessa natureza teve um salto desde que o governo britânico restringiu a ajuda legal para divórcios em 2013, observa Nigel Shepperd of Resolution, uma associação de advogados de assuntos de família.

Brendan Lyle, do BBL Churchill Group, uma firma americana com negócios em 27 estados, diz que seu papel é "em parte como financista e em parte como terapeuta". Clientes vingativos, dispostos a brigar por até a última migalha, precisam ser contidos/controlados. O financiamento médio da empresa no estado de Nova Iorque é de US$ 306.000 e algo menos em outros locais. A taxa de juro típica gira em torno de 16% a.a.. A taxa de inadimplência é de um modesto 2%, embora haja alguma tolerância/paciência com clientes em dificuldades.

O grande risco para quem financia divórcios é que o casal possa se reconciliar. Quando isso acontece, bens não são vendidos e um financiado pode não conseguir honrar seu empréstimo. Assim, a Novitas prefere financiar casos que estejam litigando legalmente por tempo suficiente para tornar improvável que haja uma reconciliação. A Iceberg Partnership, o maior competidor da Novitas no Reino Unido, transfere esse risco para os 374 escritórios de advocacia que apresentam clientes para financiamento. 

Ao contrário de emprestar dinheiro, algumas empresas "investem" em casos de divórcio, demandando pagamento apenas se um acordo for alcançado. Um ano atrás, a Novitas comprou uma empresa americana, National Divorce Capital, que oferece esse tipo de "adiantamentos em dinheiro sem direito de regresso [direito de ser ressarcido]". Desde então, as solicitações de adiantamentos duplicaram. A Novitas planeja, para o final deste ano, abrir filiais na Austrália e no Canadá.

sexta-feira, 11 de março de 2016

Estudo no Reino Unido mostra vínculo entre doença na gengiva e declínio cognitivo na doença de Alzheimer

[Traduzo a seguir importante artigo publicado no site Sociedade de Alzheimer do Reino Unido. O que estiver entre colchetes e em itálico é de minha responsabilidade.]

Um novo estudo publicado em 10 de março corrente no jornal científico PLOS ONE sugere um vínculo entre doença de gengiva e taxas maiores de declínio cognitivo em pessoas nos estágios iniciais da doença de Alzheimer.

Nesse pequeno estudo experimental, conduzido pelo King's College London e a Universidade de Southampton, 59 participantes com doença de Alzheimer de suave para moderada foram analisados cognitivamente e foi tirada uma amostra de sangue para medir marcadores inflamatórios no seu sangue. A saúde dental dos participantes foi então examinada por um especialista em higiene dental. A maioria dos participantes (52) foi acompanhada durante seis meses, com a repetição de todas as avaliações.

A presença de doença de gengiva foi associada com um aumento de seis vezes (sêxtuplo) na taxa de declínio cognitivo dos participantes ao longo do período de seis meses de acompanhamento do estudo. Os autores do estudo concluíram que doença na gengiva está associada com um aumento do declínio cognitivo na doença de Alzheimer, possivelmente devido a um mecanismo ligado à resposta do corpo a inflamações.

O Dr. Doug Brown, diretor de Pesquisa e Desenvolvimento da Sociedade de Alzheimer, disse:

"Esse pequeno estudo sugere que pessoas que têm simultaneamente a doença de Alzheimer e doença de gengiva sofrem perda de memória e raciocínio mais rapidamente do que as pessoas que têm uma saúde dental melhor. Não está claro, entretanto, se isso é causa ou efeito -- se a doença da gengiva está precipitando a aceleração da demência, ou vice-versa.

O estudo agrega evidência à ideia de que doença na gengiva pode potencialmente ser um fator que contribui para a Alzheimer, mas necessitamos examinar tentativas clínicas para ter evidências mais sólidas. Se isso for provado, uma melhor higiene dental seria uma maneira direta de ajudar a desacelerar o processo de demência, e capacitar as pessoas a permanecerem independentes por mais tempo.

Sabemos como a demência progride, uma pessoa pode perder a habilidade de escovar seus dentes, deixar de entender que seus dentes precisam ser mantidos limpos, ou perder interesse em fazer isso. Se isso acontecer, quem cuida dessa pessoa pode ter que ajudar nessa tarefa -- um dentista ou um especialista em higiene dental/bucal pode orientar e dar suporte na limpeza dos dentes de outra pessoa".

[Veja também: Gengivite e periodontite ]


terça-feira, 8 de março de 2016

Os antigos babilônios conheciam segredos do sistema solar 1.500 anos antes da Europa

[Traduzo a seguir artigo de Ruth Schuster publicado no jornal israelense Haaretz, descrevendo novos achados que mostram que os babilônios eram ainda mais avançados do que já se sabia.]


Um dos tabletes cuneiformes de argila encontrados na Babilônia e Uruk, mostrando cálculos geométricos para trajetórias de planetas - (Foto: Trustees of the British Museum / Mathieu Ossendrijver)

Os antigos babilônios eram conhecidos por terem sido avançados em aritmética. Agora, análise de tabletes cuneiformes de argila encontrados na Babilônia e Uruk mostra que podiam prever a posição de corpos celestiais, utilizando técnicas geométricas avançadas que se pensava haviam sido inventadas na Europa do século 14. 

Especificamente, os tabletes mostram que os antigos babilônios estavam evidentemente intrigados com a posição do planeta Júpiter, escreve Matheus Ossendrijver, da Universidade Humboldt, Berlim, em seu trabalho "Astrônomos babilônios antigos calcularam a posição de Júpiter usando um gráfico tempo-velocidade". 

Os tabletes que ele descreve são os exemplos mais antigos conhecidos do uso da geometria para calcular a futura posição de um objeto no espaço-tempo.

É possível que as mesmas técnicas tivessem sido descobertas em Oxford, Cambridge, com a chegada do século 14, num equivalente geométrico da evolução convergente (como as asas em insetos e pássaros, que não têm a mesma origem mas se assemelham e exercem a mesma função). Ou, o Ocidente pode de algum modo ter aprendido as técnicas dos antigos astrônomos babilônicos.

Os tabletes de barro, que estão praticamente intactos, parecem ser datados do período entre 350 e 50 AEC (Antes da Era Cristã). Há questões sobre sua proveniência -- Ossendrijver observa que foram "escavados de maneira não científica" e discute a metodologia geral, não mencionando fenômenos astronômicos específicos passíveis de serem datados. Os escritos descrevem dois intervalos depois que Júpiter aparece ao longo do horizonte,
projetando a posição do planeta em 60 e 120 dias.


Um tablete cuneiforme com cálculos envolvendo um trapezoide(Foto: Trustees of the British Museum / Mathieu Ossendrijver)

Pensava-se que os babilônios conheciam apenas conceitos aritméticos, no entanto esses textos contêm cálculos geométricos avançados.

A geometria começou a se desenvolver há bastante tempo atrás na história da humanidade. Os gregos antigos, eminentemente práticos, usavam a geometria para descrever configurações no espaço físico, embora seja preciso dizer que não se conhece a história dos primórdios da geometria grega antiga porque não há registros disso. Os egípcios antigos conheciam também a geometria, mas se acreditava também que limitavam o uso dessa ciência para resolver problemas do dia a dia, como por exemplo calcular a área de uma pirâmide.

Os babilônios antigos, ao contrário, deixaram amplos registros -- mais de 450 tabletes importantes, dos quais cerca de 340 são de tabelas com cálculos de dados planetários ou lunares. Outros 110 tabletes têm instruções de cálculos. Agora sabemos que usaram a geometria em um sentido abstrato, para definir tempo e velocidade, explica Ossendrijver: "Em todos esses textos, o zodíaco, inventado na Babilônia perto do final do século 5 AEC, é usado como um sistema de coordenadas para calcular posições de corpos celestiais".

Desse modo, conclui ele, os acadêmicos europeus do século 14 em Oxford e Paris aos quais se creditara o desenvolvimento de previsões tempo-velocidade estavam mais de mil anos atrasados em relação aos seus antigos pares babilônios.

Por que, afinal, quereriam os babilônios calcular a posição de Júpiter? Provavelmente porque seus sacerdotes usavam a astrologia para interpretar a vontade dos deuses (um método alternativo era "ler" os fígados de animais sacrificados). Acredita-se que não apenas a geometria de tempo-velocidade, mas também a adivinhação celestial como uma prática religiosa sistemática tenham começado com a cultura babilônica.