sábado, 28 de janeiro de 2017

Museus de arquitetura impactante (II)

Ver postagem anterior.

12. Museu de Ciências Nemo - Amsterdã, Holanda

Arquiteto: Renzo Piano






13. Museu Perot da Natureza e da Ciência - Dallas, TX, Estados Unidos

Arquiteto: Thom Mayne





14. Museu de Arte Eli & Edythe Broad - East Lansing, Michigan State University, Estados Unidos

Arquiteta: Zaha Hadid





15. Museu de Arte de Milwaukee - Milwaukee, Wisconsin, Estados Unidos

Arquiteto: Santiago Calatrava





16. Museu Automotivo Petersen - Los Angeles, CA, Estados Unidos

Arquiteto: Kohn Pedersen Fox





17. Museu do Vinho - Santiago, Chile

Arquitetos: DRAW&U Architects





18. Museu de Design - Holon, Israel

Arquitetos:  Ron Arad & Bruno Asa






19. Museu do Cubo de Rubik - Budapest, Hungria

Arquiteto: ?




20. Museu da Cultura do Chá - Meitan, China

Arquiteto: ?





21. Centro de Design do Pacífico - Hollywood, CA, Estados Unidos

Arquiteto: Cesar Pelli







sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

Museus de arquitetura impactante (I)

Um pequeno e incompleto passeio por museus mundo afora, que já impressionam por sua arquitetura externa independentemente de seus acervos. A ordem de apresentação não significa nenhum tipo de classificação minha ou de quem quer que seja. Fotos: Google.

1. Museu de Arte Contemporânea - Niterói, RJ, Brasil

Arquiteto: Oscar Niemayer





2. Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (MASP) - São Paulo, SP, Brasil

Arquiteta: Lina Bo Bardi



3. Museu do Amanhã - Rio de Janeiro, RJ, Brasil

Arquiteto: Santiago Calatrava





4. Museu Oscar Niemayer - Curitiba, PR, Brasil

Arquiteto: Oscar Niemayer





5. Museu Mundo a Vapor - Rodovia Canela-Gramado, RS, Brasil

Arquiteto: ?






6. Museu Solomon R. Guggenheim - Nova Iorque, Estados Unidos

Arquiteto: Frank Lloyd Wright





7. Museu Guggenheim - Bilbao, Espanha

Arquiteto: Frank Gehry






8. Museu Nacional do Índio Americano - Washington DC, Estados Unidos

Arquitetos & construtores: Clark Construction




9. Museu Soumaya - Cidade do México, México

Arquiteto: Fernando Romero EnterprisE (FREE)





10. Museu Judaico Contemporâneo - San Francisco, EUA

Arquiteto: Daniel Libeskind





11. Museu Real de Ontário -  Toronto, Canadá

Arquiteto: Daniel Libeskind











terça-feira, 24 de janeiro de 2017

Ministros do STF e seus estranhos hábitos

O ministro Gilmar Mendes, o falastrão togado, preside o TSE - Tribunal Superior Eleitoral, que tem na sua pauta o julgamento da campanha eleitoral da chapa Dilma-Temer. Este julgamento pode resultar na cassação de Temer já como candidato e, portanto, tirá-lo do cargo de Presidente da República. Além disso, Temer foi citado várias vezes em delações da Lava Jato que estão por ser homologadas no STF. Apesar disso (ou por causa disso ...), Gilmar não teve nenhum constrangimento em viajar com Temer para Portugal de carona no avião presidencial, quando Temer foi ao funeral de Mário Soares. Gilmar tampouco se constrangeu em ir ao Palácio do Planalto nesse fim de semana para "comer uma pizza" e conversar "trivialidades" com Temer, "um amigo há mais de 30 anos". Enquanto esses dois pizzaiolos viajam e comem juntos, um juiz e o outro denunciado junto a esse mesmo juiz, a vaca da decência e dos bons modos jurídicos vai pro brejo.

Na tarde de domingo, em Porto Alegre para participar do velório e sepultamento de Teori Zavascki, o ministro Gilmar Mendes almoçou com o ministro-chefe da Casa Civil e um dos homens fortes do governo Temer, Eliseu Padilha, que responde a vários processos, está com bens bloqueados e foi citado na delação da Odebrecht como operador do caixa dois do PMDB, que recebia propinas em dinheiro vivo. A vaca da decência e dos bons modos jurídicos já está atolada no brejo. Promiscuidade, o esporte preferido de Gilmar Mendes.

No STF, o PT está envolvido até as sobrancelhas desde os tempos do mensalão através de todos os seus principais mafiosos, inclusive e a partir de Lula. Nessa Suprema Corte, dois ministros indicados por Lula se destacam não por seu "notório" saber jurídico (invisível até com a mais poderosa lupa) mas por sua notória e inequívoca subserviência a Lula e ao PT: Dias Toffoli e Ricardo Lewandowski. Ambos não têm medido esforços para honrar essa subserviência nos julgamentos do STF.

No dia 29 de junho de 2016, Dias Toffoli mandou soltar o ex-ministro petista (e também arquivo ambulante do PT) Paulo Bernardo, sob a alegação de "constrangimento ilegal". No mesmo dia, ou no dia seguinte, Toffoli foi fotografado jantando a sós com o deputado Arlindo Chinaglia, um figurão do PT. Coincidências obscenas como essa fazem parte corriqueira do cardápio de Toffoli.

Dias Toffoli e Arlindo Chinaglia - (Foto: Rodrigo Constantino)

Em 7 de julho de 2015, a então presidente Dilma Rousseff e o presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Ricardo Lewandowski, se reuniram na cidade do Porto (Portugal) para, segundo o governo e a assessoria do STF, discutir o projeto que reajusta em até 78% os salários dos servidores do Judiciário, conforme antecipou o Blog do Camarotti. O texto foi aprovado na logo depois pelo Congresso Nacional. O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, intermediou e também participou da reunião, que não estava na agenda oficial. As três ilustres figuras juraram que a Operação Lava Jato sequer foi mencionada -- mais uma contribuição à coleção de contos da carochinha.

A atuação de Lewandowski no processo de impeachment de Dilma já entrou para os compêndios jurídicos e eróticos sobre estupro legalizado e togado da Constituição Federal.

O ministro Teori Zavascki, morto tragicamente em acidente aéreo, viajava na companhia e no avião de seu amigo Carlos Alberto Fernandes Filgueiras, que era sócio do banco BTG Pactual. O banco é investigado na Lava-Jato e teve seu presidente, André Esteves, preso na operação. O ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal – que morreu com Filgueiras no avião do empresário e amigo, em Paraty – julgou no STF casos relativos ao BTG. Em abril, revogou prisão de Esteves.

O empresário Carlos Alberto Filgueiras recorreu em novembro do ano passado à Corte para tentar anular um processo contra ele no Rio de Janeiro por crime ambiental. Dono do hotel Emiliano, Filgueiras, que também morreu no acidente aéreo desta quinta-feira, 19, era acusado de fazer construções irregulares em uma ilha de sua propriedade, em Paraty. O recurso, no entanto, foi indeferido pelo ministro Edson Fachin há cerca de um mês e o processo continua em tramitação no Tribunal Regional Federal da 2.ª Região (TRF2).

O exposto acima é um pálido e parcial retrato em branco e preto do perfil e do comportamento esdrúxulos de juízes que compõem (compunha, no caso de Teori) a Suprema Corte de Justiça do país.

domingo, 22 de janeiro de 2017

Os migrantes contribuem com cerca de 10% da riqueza mundial

[A crise dos refugiados árabes e islâmicos em geral na Europa gerou uma discriminação injusta e cruel contra os imigrantes não só dessa onda, mas também contra os imigrantes em geral e estimulou o ressurgimento assustador de xenofobias e de ultranacionalismos de direita, empurrando a parte mais rica do mundo em termos econômicos e culturais para situações de confronto de dimensões e consequências imprevisíveis (ver postagem anterior). Hipocritamente, os críticos ferrenhos aos refugiados e imigrantes em geral estão usando essa crise dos refugiados -- que são migrantes forçados e não voluntários -- para atacar as imigrações em geral, omitindo os benefícios econômicos,  científicos e culturais que historicamente os estrangeiros imigrantes têm trazidos para os países que os acolhem. 

Vejamos alguns dados importantes sobre a migração em escala mundial, publicados pelo Banco Mundial em seu relatório de referência Migrants and Remittances Factbook 2016 (3rd edition) (Fatos sobre Migrantes e Remessas, 2016).

  • Mais de 247 milhões de pessoas, ou 3,4% da população mundial, vivem fora de seus países de origem. 
  • O principal destino das migrações são os Estados Unidos, seguidos por Arábia Saudita, Alemanha, Federação Russa, Emirados Árabes Unidos, Reino Unido, França, Canadá, Espanha e Austrália. 
  • De acordo com os dados oficiais disponíveis, a via México-Estados Unidos é o maior corredor de migração no mundo com o registro de 13 milhões de migrantes em 2013. Os próximos maiores  corredores são Rússia-Ucrânia, Bangladesh-Índia e Ucrânia-Rússia.
  • Países menores tendem a ter as taxas mas alta de emigrações qualificadas. Perto de 93% das pessoas altamente qualificadas da Guiana viviam fora do país, vindo em seguida o Haiti (com 75,1%), Trindade e Tobago (68,2%) e Barbados (66,2%).
  • Excluindo os refugiados da Margem Esquerda (Palestina) e da Faixa de Gaza, no Oriente Médio, o número de refugiados em 2014 era de 14,4 milhões. Cerca de 86% dos refugiados são acolhidos por países em desenvolvimento. Turquia, Paquistão, Líbano, Irã, Etiópia, Jordânia, Quênia, Chade e Uganda são os maiores países anfitriões desse universo de pessoas. 
  • Em 2015, estima-se que os fluxos de remessa financeira globais excederam os US$ 601 bilhões. Deste montante, calcula-se que os países em desenvolvimento receberam cerca de US$ 441 bilhões, quase três vezes o montante da assistência oficial para seu desenvolvimento. O valor real das remessas, incluindo fluxos não registrados através de canais formais e informais, é estimado ser significativamente maior.
  • Em 2015, os principais países destinatários de remessas formais, registradas, foram Índia, China, Filipinas, México e França. Entretanto, como parcela de seu PIB, países menores foram os maiores destinatários: Tajiquistão (42%), Quirguistão (30%), Nepal (29%), Tonga (28%) e Moldávia (26%).
  • Países de altas rendas são as principais fontes das  remessas. Os Estados Unidos são, de longe, a maior delas, com a saída registrada de estimados US$ 56,3 bilhões em 2014. Em seguida vêm Arábia Saudita, Rússia, Suíça, Alemanha, Emirados Árabes Unidos e Kuwait. Os seis países do Conselho de Cooperação do Golfo (Omã, Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita, Qatar, Bahrein e Kuwait) foram responsáveis por US$ 98 bilhões de remessas para o exterior em 2014. 
A reportagem que traduzo a seguir, de Jean-Pierre Robin publicada no Le Figaro joga o devido foco na contribuição das migrações para a  riqueza mundial, com base em estudo feito pela McKinsey].

Os migrantes contribuem com cerca de 10% da riqueza mundial

Jean-Pierre Robin -- Le Figaro, 22/12/2016

As remessas financeiras de imigrantes para suas famílias totalizaram 580 bilhões de dólares em 2014. Na foto, serviço para transferências de dinheiro em Nova Iorque - (Foto: SIPANY/SIPA/SIPA)

Em comemoração pelo seu 25° aniversário, o Instituto Global McKinsey, cuja missão é analisar as  questões de produtividade, publicou um relatório sobre os migrantes e seu impacto na economia mundial. Ao tempo em que compõem hoje um grupo de cerca de 247 milhões de pessoas (que têm uma profissão, assim como suas famílias), ou seja 3,4% da população mundial, os migrantes contribuem com o montante de 9,4% do PIB mundial (algo como 6.700 bilhões de dólares, o equivalente à soma dos PIBs do Japão e da França).

"A despeito das inquietudes e das controvérsias que as cercam, as migrações transfronteiriças são o resultado normal de um mundo mais interconectado e de um mercado de trabalho mundial", observa o estudo, que se apresenta como uma defesa e ilustração dos fenômenos migratórios. A McKinsey estabelece desde o início a distinção entre "migrantes voluntários" (fala-se às vezes de migrantes econômicos), que constituem 90% do total, e os outros (10% , cerca de 25 milhões de pessoas) refugiados ou solicitantes de asilo. O pessoal das empresas multinacionais e os expatriados são migrantes, mas não os trabalhadores que se deslocam diariamente de uma fronteira para outra. Isso porque, por definição, "o migrante vive em um país onde não nasceu", o que exclui igualmente os imigrados de segunda ou terceira geração.

Da campanha eleitoral de Donald Trump, que propunha levantar um muro entre o México e os Estados Unidos, à guerra na Síria e aos emigrados africanos clandestinos, que enfrentam os riscos e perigos da travessia do Mediterrâneo, a polêmica só faz crescer. Incontestavelmente, os Estados Unidos são o primeiro destino dos migrantes (47 milhões), ainda que a União Europeia (mais a Suíça e a Noruega) constituam o principal território de acolhimento (58 milhões), esta cifra incluindo as migrações intraeuropeias. Hoje, os imigrantes representam 15% da população total dos Estados Unidos, 13% na Europa Ocidental e 48% nos países do Golfe árabe.

De um ponto de vista estritamente econômico os migrantes, e não unicamente as pessoas altamente qualificadas, são mais produtivos quando fora de seus países. Eles aportam cerca de "3 .000 bilhões de dólares a mais do que se ficassem em seus países de origem". Somente para a economia americana o aporte dos imigrantes é essencial, da  ordem de 2.500 bilhões de dólares, uma cifra considerável que equivale ao PIB da França e sobra a qual Donald Trump será levado a meditar.

Salários inferiores

Um estudo recente do Birô Nacional de Pesquisa Econômica [EUA] assinalava aliás que mais da metade dos PhD (os doutores em ciências) que trabalhavam nos setores dos Stem [acrônimo inglês para Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemáticas] eram imigrantes (trabalhando nos EUA sem ali terem nascido).

Da mesma forma, o aporte financeiro dos emigrantes para o desenvolvimento dos países onde nasceram é essencial. A McKinsey lembra que as remessas financeiras feitas pelo emigrantes às suas famílias totalizaram 580 bilhões em 2014. Tais remessas tornaram-se a principal forma de ajuda ao desenvolvimento, longe à frente da ajuda pública para esse fim. Esses fluxos financeiros são consideráveis para a Índia (70 bilhões de dólares em remessas), para a China (62 bilhões) e para as Filipinas (28 bilhões).

Outra questão muito debatida: "numerosos estudos acadêmicos têm demonstrado que a imigração não prejudica o emprego ou os salários dos autóctones", esclarece o estudo da McKinsey. Mesmo que ela possa ter efeitos negativos, que se observe um grande fluxo migratório numa região específica, que os imigrantes sejam substitutos diretos dos trabalhadores nacionais e que a economia do país de destino esteja em recessão. Por outro lado, os salários dos imigrantes são em compensação são de 20% a 30% inferiores às remunerações aos trabalhadores locais de mesma qualificação.

*****************
DETALHES DO RELATÓRIO DO INSTITUTO GLOBAL MCKINSEY

Impacto e conveniência da migração global

Jonathan Woetzel, Anu Magdavkar, Khaled Rifai, Frank Mattern, Jacques Bughin, James Manyika, Tarek Elsmary, Amadeo Di Lodovico e Ashwin Hasyagar -- Novembro, 2016

Migração tornou-se um tema explosivo de debate em muitos países, mas a pesquisa do Instituto Global McKinsey (IGM) conclui que ela gera benefícios econômicos significativos --e uma integração mais efetiva dos imigrantes pode aumentar esses benefícios.

A migração é uma característica determinante do nosso mundo crescentemente interconectado. Tornou-se um tema explosivo de debate em muitos países, o que enfatiza a importância de se entender os padrões da migração global e o impacto econômico que é criado quando pessoas se deslocam através das fronteiras do mundo.  Um relatório recente do Instituto Global McKinsey (IGM), People on the move: Global migration’s impact and opportunity (Pessoas em movimento: impacto e oportunidade da migração global, em tradução direta),  objetiva satisfazer essa necessidade.

Os refugiados podem ser a face da migração na mídia, mas 90% dos 247 milhões de migrantes do mundo cruzaram fronteiras voluntariamente, usualmente por razões econômicas. Fluxos migratórios voluntários são tipicamente graduais, impondo menos estresse sobre a logística e sobre o tecido social sobre os países de destino do que os fluxos de refugiados. A maioria dos migrantes voluntários é de adultos em idade de trabalho, o que faz aumentar a parcela da população que é economicamente ativa nos países de destino. 

Os 10% restantes restantes [dos 247 milhões de migrantes] são de refugiados e de pessoas que buscam asilo, que fugiram para outros países para escapar de conflitos e perseguições. Grosseiramente, metade dos 24 milhões de refugiados do mundo está no Oriente Médio e na África, repetindo o padrão dominante de fuga para um país vizinho. Mas, o recente surto de refugiados na Europa fez com que a atenção do mundo desenvolvido se voltasse para esse tema. Um relatório que acompanha este relatório, "Europe's new refugees: A road map for better integation outcomes" ("Os novos/recentes refugiados da Europa: um itinerário para resultados de integração melhores") examina os desafios e oportunidades que confrontam os países individualmente.

Enquanto alguns migrantes viajam longas distâncias a partir de seus países de origem, a maior parte da migração ainda envolve pessoas deslocando-se para países vizinhos ou para países da mesma parte do mundo (ver figura). Globalmente, cerca de metade de todos os migrantes se deslocou de países em desenvolvimento para países desenvolvidos -- na  realidade, este é o tipo de movimento que cresce mais rapidamente. Quase dois terços dos migrantes do mundo residem em países desenvolvidos, onde frequentemente preenchem as  carências de mão de obra desses países. De 2000 a 2014, os imigrantes contribuíram com 40% a 80% da força de trabalho nos principais países de destino.


A maior parte do fluxo migratório consiste de pessoas se deslocando para outro país na mesma parte do mundo -  Os 1o principais movimentos (1), população migratória total em milhões, 2015 - Na coluna da esquerda:
  • de países em desenvolvimento da Europa Oriental e da Ásia Central para países em desenvolvimento na Europa riental e Ásia Central: 22,9 
  • de países em desenvolvimento da América Latina para a América do Norte: 22,1
  • da África Subsaariana para a África Subsaariana: 15,0
  •  da Europa Ocidental para a Europa Ocidental: 12,1
  • do Oriente Médio e do Norte da África para o Oriente Médio e o Norte da África: 10,1
Na coluna da direita:
  • de países em desenvolvimento na Europa Oriental e na Ásia Central para a Europa Ocidental: 10,0
  • do Oriente Médio e do Norte da África para a Europa Ocidental: 9,7
  • da Índia para o Conselho de Cooperação do Golfo: 8,2
  • da Ásia Austral (excluindo Índia) para o  Conselho de Cooperação do Golfo: 7,2
  • de países desenvolvidos da Europa Oriental e da Ásia Central para a Europa Ocidental: 5,8
(1) Inclui movimento tanto entre como dentro de regiões
Fontes: Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais da ONU; Banco Mundial; análise do Instituto Global McKinsey

Deslocar mão de obra para locais de produtividade mais alta incrementa o PIB global. Migrantes de todos os níveis de aptidão contribuem para esse efeito, quer através de inovação e empreendedorismo quer liberando os nativos para trabalhos de valor mais elevado. De fato, os migrantes compõem apenas 3,4% da população mundial mas a pesquisa do IGM detecta que contribuem com cerca de 10% do PIB global. Contribuíram com aproximadamente US$ 6,7 trilhões para o PIB global em 2015 -- cerca de US$ 3 trilhões a mais do que teriam produzido em seus países de origem. As nações desenvolvidas absorveram mais de 90% desse resultado.

Taxas de emprego são ligeiramente menores para imigrantes do que para trabalhadores nativos nos principais países de destino, mas isso varia com o nível de aptidão e com a região de origem. Extensa evidência acadêmica mostra que a imigração não prejudica o emprego e os salários nativos, embora possam existir efeitos negativos de curto prazo se houver um grande fluxo de imigrantes em uma região pequena, se os imigrantes por suas aptidões competirem muito de perto com os trabalhadores nativos, ou se a economia de destino estiver passando por uma recessão. 

A concretização e absorção dos benefícios da imigração dependem de como os recém-chegados são integrados no mercado de trabalho e na sociedade de seu país de destino. Hoje, os imigrantes tendem a ganhar de 20% a 30% menos que os trabalhadores nativos. Mas, se os países estreitarem para 5% a 10% essa defasagem salarial através da integração mais efetiva dos imigrantes através vários aspectos de educação, moradia, saúde e engajamento comunitário, os imigrantes podem gerar um impulso anual adicional de US$ 800 bilhões a US$ 1 trilhão para a produção mundial. Este é um objetivo relativamente conservador, mas pode entretanto produzir efeitos positivos mais amplos nas economias de destino como taxas de pobreza mais baixas e uma produtividade geral mais alta.

As dimensões econômicas, sociais e cívicas da integração precisam ser abordadas holisticamente [com uma visão conjunta]. O IGM analisou como os 18 principais países de destino se desempenharam em 18 indicadores e verificou que nenhum país havia logrado resultados expressivos através de todas aquelas dimensões, embora alguns se saiam melhores que outros. Mas em destinações ao redor do mundo, muitos investidores estão tentando uma nova abordagem. Identificamos mais de 180 intervenções promissoras que oferecem modelos úteis para melhorar a integração. O setor privado tem um papel central a desempenhar nesse esforço -- e tem incentivos para fazê-lo. Quando as empresas participam, elas se posicionam para ter acesso a novos mercados e a grupos de novos talentos.

As apostas são altas. O sucesso ou falha da integração pode reverberar por muitos anos, pesando sobre se a segunda geração de imigrantes se torna um grupo de cidadãos plenamente participativos que atingem todo o seu potencial produtivo ou que permanecem em uma armadilha de pobreza [um mecanismo autoalimentado, que faz a pobreza persistir e do qual é difícil escapar]. 

Ler também: "Mais pobres que seus pais? Uma perspectiva nova sobre a desigualdade de renda"

quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

A curta vida sagrada das kumaris, as peculiares meninas deusas do Nepal

[O Nepal é um país asiático extremamente interessante e de cenários inesquecíveis. Ali estive uma vez, em missão oficial pela Eletrobras, onde -- entre outras situações agradavelmente inusitadas -- nossa delegação recebeu a deferência honrosa de assistir pessoalmente a uma sessão do parlamento nepalês. Uma experiência memorável, por todos os seus significados. Ali tive também a oportunidade de ver a kumari, a menina deusa nepalesa que em horas fixas do dia chega à varanda de seu palácio, para ser vista e venerada por seus súditos e admirada pelos turistas. 

O Nepal é famoso internacionalmente por abrigar o Monte Everest, o pico mais elevado do planeta, e por ser a terra dos gurkhas, os lendários e temidos soldados nepaleses. Catmandu, a capital do Nepal, é uma cidade pequena e agradável de se visitar. Concentra em muito menor espaço e menos agressão aos olhos todos os contrastes da gigantesca Nova Delhi, por exemplo. O povo nepalês é extremamente acolhedor e simpático, e tem um interesse e carinho especiais pelo Brasil, graças especialmente ao futebol. Lembro-me bem de, a caminho de um templo dedicado a macacos como parte do roteiro cultural da visita, ter passado no meio do mato por uma casa em ruínas que tinha pintada na parede externa a camisa da nossa seleção!

Traduzo a seguir reportagem do site BBC Mundo sobre as kumaris. O que estiver entre colchetes e em itálico é de minha responsabilidade.]


Uma kumari, menina deusa  do Nepal. Sua testa ostenta 0 agni chakchhu -- o olho do fogo -- através do qual ela vê outras dimensões, o que lhe é permitido por sua condição de ser divino - (Foto: BBC Mundo)


Em muitas tradições religiosas, as deusas existem apenas no reino espiritual e são representadas por estátuas e ícones.

Mas, no Nepal elas vivem e respiram, e tomam a forma de meninas, que são conhecidas como kumaris (meninas virgens). Durante séculos, os hindus e os budistas de todo o vale de Catmandu têm adorado essas jovens, que creem ser possuídas pela deusa Taleju.

"Para que uma menina se converta em deusa, ela precisa ser perfeita e ter o coração e a alma puros" -- Chanira Bajracharya, ex-Kumari [de Patan]

A perfeição e a pureza da alma e do coração são alguns dos requisitos fundamentais  para converter-se em uma divindade viva, explicou à BBC Chanira Bajracharya, que foi nomeada kumari aos 5 anos e assim permaneceu até completar 15 anos.

"A Kumari tem que seguir umas regras, como por exemplo não sair de casa. Durante os festivais é carregada nos  braços e deve vestir uma  túnica vermelha". -- Chanira Bajracharya, ex-Kumari [de Patan]



Por ser selecionada em uma idade muito tenra, ser uma kumira não é uma tarefa fácil. Não lhe é permitido ir à escola, podem comunicar-se apenas com algumas poucas pessoas escolhidas, e tampouco pode caminhar em um espaço fora do palácio de adoração onde reside. Espera-se igualmente que permaneça quieta durante longas horas, enquanto dá suas bênção a milhares de visitantes durante os festivais [na foto acima, de Narendra Shrestha/EFE, uma kumari é adorada por um devoto durante o festival de Matya Patan em 2012].



Durante os festivais, os fiéis se aproximam da deusa para serem abençoados - (Foto: BBC Mundo)

Requisitos

A deusa kumari é escolhida entre as meninas pré-adolescentes da comunidade Newari, predominante no vale de Catmandu [segundo a Wikipédiaexistem tradicionalmente  três Kumaris simultaneamente no Nepal, radicadas nas cidades de PatanBhaktapur e Catmandu (a de Catmandu é a mais importante), selecionadas no clã Shakya, portanto supostamente uma parente distante do Buda Shakyamuni, e pertencente à comunidade Nepalesa de Newari;  a Kumari é venerada e idolatrada por alguns hinduístas do país e por budistas nepaleses, mas não por budistas tibetanos]. Por ser uma crença de origem budista e hindu, sacerdotes de ambas as religiões e um astrólogo certificam que a virgem escolhida tem os 32 lachhins -- atributos físicos e psicológicos -- como Buda.   

Muitos desses atributos têm que ver com traços de animal, como pernas de cervo ou voz clara como a de um pato. Além disso, a kumari eleita tem que ter dentes perfeitos, um histórico médico imaculado e cabelos e olhos bem negros.

A kumari real de Catmandu, diferentemente das outras duas [de Patan e Bhaktapur], deve ser do signo do zodíaco igual ao do presidente da República, para garantir a boa ventura do país. Ela tem também que superar provas que comprovem sua valentia, como a de velar cabeças de gado morto durante uma noite.

Reinado breve

O dever de uma kumari é o de proteger a cidade. Acredita-se que essa tradição começou por volta do século XII. Mas seu reinado é curto, dura poucos anos, termina quando ela tem sua primeira menstruação. Segundo a crença popular, nesse momento a deusa Taleju deixa seu corpo e começa a busca por outra menina virgem.


O reinado de uma kumari termina com sua primeira menstruação - (Foto: BBC Mundo)


Assim, portanto, a "ferida" a dessacraliza, pois se acredita que a deusa sai através dela. Chega então a parte mais difícil: a transição de deusa para uma adolescente normal. Para muitas kumaris, a mudança de divindade para um ser normal pode tornar-se traumatizante. Depois de anos praticamente isolada, tem que aprender a fazer amigos, andar pelas ruas e ir à escola.

"Um dia você é adorada como deusa, no dia seguinte você não é ninguém" - (frase de uma ex-kumari)


Chanira Bajracharya foi entronizada como kumari de Patan em 1954, quando tinha apenas dois anos de idade - (Foto: Google)


Ainda assim, a maioria das ex-kumaris defende que essa tradição ancestral deve continuar, pela identidade espiritual e cultural do Nepal.


Denúncia de grupos defensores de direitos humanos

As kumaris vivem confinadas em templos, nos quais membros de sua família se encarregam de seus cuidados. Seu confinamento durante toda a infância fez com que organizações de defesa de direitos humanos denunciassem sua situação.







Detalhes do palácio no qual reside a kumari de Catmandu, no centro da cidade - (Fotos: Google)


Subin Mulmi, advogado e humanista nepalês, disse à BBC que a rigorosa norma de pureza e isolamento aplicada à kumari é um atentado contra a liberdade e a educação das meninas. Em 2008, a Corte Suprema do país ordenou uma investigação sobre as condições de vida das kumaris. Concluída a investigação, a alta corte determinou que as jovens deviam ter mais liberdades, e que se lhes desse mais condições para a sua educação. Mas, apesar disso, a vida das kumaris hoje continua praticamente a mesma. 

Ainda assim, aos olhos de muitos nepaleses que vivem na pobreza, é melhor crescer na pele de uma deusa do que nas ruas, mesmo vivendo praticamente enclausurado.

Ver também, em espanhol: