quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Desmascarando a administração de Dona Dilma (VII) - Confusões inexplicáveis

[Ver postagem anterior. O texto abaixo é de Miriam Leitão, de sua coluna de hoje no Globo. O que estiver entre colchetes e em itálico é de minha responsabilidade.]

Confusões inexplicáveis

Miriam Leitão - O Globo (28/2/2013)

É muita trapalhada, em muitas frentes, ao mesmo tempo. A Petrobras comprou uma refinaria por um preço muito acima do razoável e teve que lançar parte do dinheiro a prejuízo; o BNDES toma decisões inexplicáveis de alocação de recursos públicos e tem prejuízo; balanços dos bancos públicos saem com meias verdades. Quando tudo dá errado, o Tesouro usa o seu, o meu, o nosso dinheiro.

O resultado de toda essa confusão será mais confusão, porque o governo escolheu o caminho dos ajustes que encomendam mais desajustes. Um encontro de contas honesto, que admitisse todas as perdas com as decisões controvertidas — por equívoco ou coisa pior — revelaria o tamanho real do rombo que o governo nos últimos anos foi criando para o país. Quem crê que as contas sempre têm que ser pagas sente uma compreensível preocupação com as notícias que diariamente aparecem nos jornais sobre as operações perigosas dos vários tentáculos do governo.

É o caso de Pasadena, o estranho episódio da refinaria que foi comprada de uma trading belga, em 2005, e um ano depois vendida para a Petrobras por um preço várias vezes maior e que já fez a estatal lançar à prejuízo meio bilhão de reais no último balanço. Ou os belgas são muito astutos, ou as decisões na Petrobras foram tomadas por pessoas sem qualquer noção de valor, ou são todos os envolvidos bem espertos. [Ver postagem anterior sobre isso.]

O “Estado de S.Paulo” revelou ontem que o Ministério Público apresentou ao Tribunal de Contas da União representação contra a Petrobras [ver aqui]. Os números são eloquentes: em 2005, a trading belga Astra/Transcor comprou a refinaria de petróleo Pasadena por US$ 42,5 milhões. Um ano depois, vendeu 50% da refinaria para Petrobras por US$ 360 milhões. Depois disso, as sócias se desentenderam e para encerrar a briga a estatal brasileira pagou mais US$ 820,5 milhões à empresa belga. E agora, no balanço do quarto trimestre, a Petrobras lançou a prejuízo R$ 464 milhões. Ou seja, esse valor é o prejuízo até o momento do impressionante negócio feito pela empresa.

No balanço do BNDES, foram registrados R$ 3,32 bilhões de perdas com empréstimos ou capitalizações que fracassaram. Uma dessas perdas foi a tentativa frustrada do BNDES de fazer uma gigante de leite, a LBR-Lácteos, no qual entrou com 30% do capital e que está em processo de recuperação judicial. Só nesse erro o banco perdeu R$ 865 milhões. Há casos discutíveis em várias áreas, em que o banco tem entrado de forma atrapalhada e sem prestar contas à sociedade, com estratégias discutíveis e prejuízos indiscutíveis. O lucro do banco só não caiu muito porque o Conselho Monetário Nacional permitiu que ele não registrasse a perda de valor das ações transferidas pelo Tesouro.

Nunca é demais lembrar que houve ainda o caso da Caixa, que comprou 49% das ações do Panamericano por R$ 800 milhões, para logo depois descobrir que ele tinha um rombo de R$ 4,3 bilhões. Depois disso, a Caixa teve que pôr mais dinheiro no Panamericano.

O caso da refinaria Abreu e Lima construída pela Petrobras é outro que precisa de boas e bem contadas explicações porque os custos de construção deram saltos ornamentais. No início, seria de US$ 2,5 bilhões e está caminhando para US$ 20 bilhões. E o único ganhador com isso será o petróleo venezuelano, já que ela foi desenhada para refinar apenas o petróleo do país vizinho [ver postagem anterior sobre isso].

O Tesouro se prepara para fazer mais uma capitalização no BNDES que pode chegar a R$ 8 bilhões. Isso depois de ter transferido a títulos de empréstimos R$ 350 bilhões desde 2008 para o banco. A fonte tradicional de financiamento do banco é o FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador), que só conseguiu fechar suas contas no positivo porque o Tesouro injetou R$ 5 bilhões.

Esses são alguns dos casos estranhos. Não são os únicos.

[Isso que está aí em cima é apenas a ponta do iceberg. Só nos malfeitos descritos acima, o país e nós nos ferramos em R$ 38 bi. Falta incluir os rombos da Valec, os prejuízos da greve ilegal dos estivadores de portos públicos apaniguada pelo governo, as maquiagens nas contas públicas para engordar o superavit primário (usando inclusive as contas do FGTS), os rombos na Petrobras além dos já mencionados acima, os R$ 8,7 bi injetados pelo Tesouro Nacionalno setor elétrico para bancar uma redução tarifária  que para a indústria, em fevereiro, foi praticamente anulado pela necessidade de uso de usinas térmicas, etc, etc. Enquanto isso, o país carece de educação suficiente e adequada, atendimento à saúde pública, infraestrutura, saneamento básico, etc, etc. Isso é um pálido balanço da década petista no governo, com todas as impressões digitais da terna Dona Dilma, vendida ao país pelo NPA como uma grande gestora.]

Embraer vence licitação da Força Aérea dos EUA

[Vamos ver se agora é p'ra valer -- pela segunda vez, a Embraer ganha a licitação para vender 20 aviões Super Tucanos à Força Aérea americana: a primeira, ocorrida em fins de dezembro de 2011,  foi cancelada em fevereiro de 2012 por pressão da concorrente da Embraer na disputa, a americana Hawker Beechcraft.]

A Embraer foi selecionada para o fornecimento de 20 Super Tucanos de ataque para a Força Aérea dos Estados Unidos. É a segunda vez que a empresa brasileira vence a escolha da aeronave do programa de apoio aéreo leve – LAS, nas iniciais em inglês. O contrato de US$ 427 milhões estava suspenso desde o início de 2012 por causa de uma ação judicial movida pela única outra concorrente, a americana Hawker, que discordava da seleção da Embraer Defesa e Segurança, em dezembro de 2011. A subsecretaria da aviação militar americana decidiu então, primeiro suspender, e depois reabrir, a concorrência. Os aviões serão repassados para as forças de autodefesa do Afeganistão, compondo a nova aeronáutica de combate do país.

Segundo Luiz Carlos Aguiar, o presidente da Embraer Defesa, a escolha tem outras vertentes, como a possibilidade de atingir um volume maior, abrangendo 55 aeronaves, no valor de US$ 955,5 milhões. Todo o empreendimento, destaca Luiz Aguiar, é conduzido com o parceiro americano, a corporação Sierra Nevada, de Sparks, no estado de Nevada [ver aqui]. O anúncio foi feito nesta quarta-feira, por volta das 17 horas, no briefing eletrônico do Departamento de Defesa, o Pentágono, em Washington [ver aqui]. Em Brasília, a presidente Dilma Rousseff e o ministro da Defesa, Celso Amorim, foram informados logo em seguida pelo subsecretário de Defesa americano, Ashton Carter.

A encomenda cobre o lote dos 20 aviões e mais as estações terrestres de treinamento, os componentes, as peças, e a instrução do pessoal técnico. A venda habilita o Super Tucano e a própria EDS no muito restrito mercado de Defesa dos Estados Unidos e alavanca as possibilidades de outros negócios. Para Aguiar, o potencial desse produto no mercado mundial – que era estimado em US$ 4,5 bilhões – agora crescerá bastante. "Precisamos redimensionar o tamanho do salto".

Entregas. O A-29 Super Tucano ganhou nome novo nos EUA, onde é tratado de Super-T. A Embraer vai produzir os aviões localmente, na fábrica de Jacksonville, na Flórida. As primeiras entregas estão previstas para meados de 2014. A montagem regular começa entre agosto e setembro. De acordo com Eren Ozmen, o presidente da Sierra Nevada Corporation, o contrato LAS manterá 1,4 mil empregos diretos e indiretos em território dos EUA, envolvendo perto de 100 empresas do setor aeroespacial distribuidas por 20 diferentes Estados.

O Super-T ganhou novidades tecnológicas importantes durante o ano que durou o impasse na seleção do LAS. Desde julho, ele passou a incorporar sistemas de armas de avançada tecnologia da Boeing Defesa, Espaço e Segurança, o que eleva significativamente o perfil do produto. A empresa foi selecionada pela Embraer para participar do plano destinado a adicionar novas capacidades ao turboélice.  A Boeing fornecerá determinados equipamentos de ponta, como o Joint Direct Attack Munition (JDAMS), espécie de kit que transforma bombas "burras" em versões "inteligentes", para ataques de precisão.  [Ver postagem anterior sobre o acordo de cooperação entre Embraer e Boeing.]

Cotado a US$ 25 mil a unidade, o conjunto será acompanhado do JDAM Laser, um acessório que permite expandir o raio de ação e reduzir a margem de erro. O pacote inclui as Small Diameter Bombs (SDB), modelos menores, mais leves, de última geração. Sem perda de poder de destruição, mas com maior alcance: 50 a 110 quilômetros. Cada uma sai por US$ 40 mil. Os recursos passarão a ser oferecidos em todas as ações de vendas internacionais do avião.

A empresa brasileira venceu a disputa do programa da aeronave de Suporte Aéreo Leve (LAS, na sigla em inglês) em dezembro de 2011. Finalista derrotada, a Hawker Beechcraft, iniciou um processo judicial contestando o resultado.  Em fevereiro, antes da decisão da Justiça, a administração da aeronáutica militar dos EUA decidiu cancelar o contrato. Houve grande repercussão negativa.  Pouco depois, um novo procedimento foi iniciado, habilitando as duas corporações, e solicitando novas informações.

O T-6, produto da Hawker, ainda está em desenvolvimento e não se enquadrou nos requisitos da LAS. O Super Tucano é usado por forças de nove países e acumula pouco mais de 180 mil horas de voo, das quais cerca de 28,5 mil cumprindo missões de combate. Toda a frota em atividade soma 172 turboélices de ataque e treino. A aeronave emprega 130 diferentes configurações de armamento. Na configuração Grifo, definida pela aeronáutica da Colômbia, o A-29 realizou perto de 30 ações de bombardeio real contra alvos da guerrilha.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Collor, o mesmíssimo falastrão grosseiro de sempre, manda Gurgel "calar a boca"

[Se o eleitorado de Alagoas tivesse um mínimo de coerência e racionalidade, e lesse História, não teria eleito seu representante no Senado um indivíduo da jaez nanométrica e da grosseria verbal e de caráter como Fernando Collor de Mello. Graças ao gesto impensado dos eleitores alagoanos, o país tem que aturar o vácuo moral e a grossura desse cidadão abjeto. E como o Senado é  terreno fertilíssimo para os conchavos de baixo coturno e da união dos parlamentares sem estatura moral, esse mesmo indivíduo foi eleito presidente da importantíssima Comissão de Infraestrutura da Casa (já presidira antes a Comissão de Relações Exteriores) -- suprema ironia: um invertebrado moral chefiando uma comissão de infraestrutura. Uma casa que tem em altos postos pigmeus morais como Renan Calheiros e Collor de Mello (ambos de Alagoas, por sinal) dispensa maiores comentários. Logo após ser eleito, Collor falou da tribuna do Senado onde, mais uma vez, deixou a marca de seus quatro membros de apoio, como nos relata a Folha de S. Paulo na reportagem abaixo.]

Eleito nesta terça-feira (26) para presidir a Comissão de Infraestrutura do Senado nos próximos dois anos, o senador Fernando Collor de Mello (PTB-AL) pediu que o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, "cale a boca" e espere o TCU (Tribunal de Contas da União) investigar sua gestão na procuradoria. Collor subiu à tribuna do Senado pouco depois de ser eleito na comissão para fazer mais um discurso com ataques a Gurgel.

O senador disse que o tribunal vai dar a palavra final sobre os "crimes" cometidos pelo procurador no cargo, já que na semana passada o Senado aprovou pedido de sua autoria para o tribunal investigar Gurgel.  "Ele tem que calar a boca. Ele e a sua trupe corporativista de emulas [rivais] [Collor, ou a Folha, ou ambos erraram: o certo é êmulos -- acredito que tenha sido um ato falho do senador, referindo-se por engano a parentes muito próximos seus]. Agora é o Senado que quer saber de tudo. Por isso, cale a boca e espere o TCU dar a palavra final. Só ele é capaz de dizer se o senhor prevaricou, ou não. Se cometeu mais um ilícito a acrescentar ao seu portfólio criminoso", afirmou Collor. [Aviso aos incautos: isso não é discurso de valentão de zona de alta rotatividade, são a voz e o pensamento de um senador da República.]

Com apenas seis senadores presentes no plenário, o Senado aprovou na semana passada requerimento de Collor que pede para que o TCU investigue Gurgel pela compra que a Procuradoria-Geral da República fez de 1.200 tablets, no dia 31 de dezembro de 2012. O senador pediu para o senador Jorge Viana (PT-AC), vice-presidente do Senado, colocar o requerimento em votação. O petista acatou o pedido e, em menos de um minuto, o requerimento foi aprovado.  Segundo o senador, a licitação teria sido "direcionada" para beneficiar uma empresa e ocorreu no "apagar das luzes". O pedido faz parte de uma série de ações de Collor contra Gurgel. O valor da compra foi de R$ 3 milhões.

O procurador classificou de "risível" a suspeita colocada pelo senador. O procurador não descartou a possibilidade de que seja uma "retaliação" por sua atuação contra o PT, no caso do mensalão, e pelo pedido de abertura de inquérito contra Renan Calheiros (PMDB-AL) no dia de sua eleição para a Presidência do Senado. Segundo a procuradoria, não há irregularidades na compra dos tablets. Em nota, o órgão informou que optou pelo tablet iPad 3, da Apple, pois a Lei de Licitações permite a indicação de uma marca em casos como esses. A procuradoria informa ainda que o processo teve aval da área técnica.

Collor é um dos principais aliados de Dilma no Senado. Sua indicação para presidir a Comissão de Infraestrutura foi definida no "rateio" entre os partidos governistas para ocupar os postos de comando da instituição [o que vem provar o jogo duplo da terna ex-guerrilheira: com u'a mão cria a Comissão da Verdade, demite ministros e etc, com a outra puxa p'ra debaixo da asa os Lupis e os Collors da vida -- ambientezinho insalubre essezinho debaixo dessa asa, hem? Vixe Maria!].  Até o ano passado, Collor era presidente da Comissão de Relações Exteriores. No discurso feito hoje contra Gurgel, o senador não mencionou sua eleição para a nova comissão.

 Collor & Renan, a dupla rebotalho da política nacional - (Foto: Google).

Impressora 3D pode ser o eletrodoméstico do futuro

Em seu recente discurso sobre o Estado da União, o presidente Barack Obama mencionou uma tecnologia em ascensão. Ele disse: "Os trabalhadores estão dominando a técnica da impressão 3D, que tem o poder de revolucionar a forma pela qual produzimos quase tudo".

Quando Brook Drumm assistiu a trechos do discurso em sua casa, sentiu vontade de cumprimentar o presidente. Drumm projetou o Printrbot, um kit para impressora 3D. Como alguns outros modelos de impressoras 3D, o seu usa plástico aquecido --aplicado por uma pistola extrusora, camada após camada, sobre uma base aquecida-- a fim de transformar projetos realizados no computador em objetos reais.

Como disse Drumm na campanha que conduziu no site de crowdfunding Kickstarter para capitalizar seu projeto, obtendo mais de US$ 830 mil em 2011, a Printrbot é pequena o bastante para ser posicionada sobre um balcão de cozinha, ao lado da cafeteira elétrica. "O objetivo da companhia", afirmava Drumm em tom ambicioso, "é colocar uma de nossas impressoras em cada casa e em cada escola".

A tecnologia para impressão 3D existe há anos, e o presidente Obama estava se referindo às suas aplicações industriais. Mas há uma crescente sensação de que as impressoras 3D podem ser o eletrodoméstico do futuro, da mesma forma que os computadores pessoais o eram 30 anos atrás.  Como os computadores, as impressoras 3D provaram seu valor inicialmente no setor empresarial, custavam uma fortuna, e no começo eram maiores que uma geladeira. Mas, nos últimos anos, modelos mais compactos começaram a emergir, e futuristas e pessoas que adotaram a impressão 3D como hobby agora concebem um mundo no qual alguém que tenha uma ideia de ferramenta para economizar trabalho --ou que perca o ponteiro das horas de seu relógio de cozinha ou a tampa do vidro de xampu-- poderá simplesmente imprimir sua invenção ou uma peça substituta.

Bre Pettis, executivo-chefe da MakerBot, companhia sediada em Brooklyn que lidera o avanço rumo a impressoras 3D voltadas ao consumidor, já viu a tecnologia em uso prático. "Já ouvimos histórias de pessoas que consertaram processadores de alimentos ou suas cafeteiras", ele diz. Um arquivo de projetos compartilhados administrado pela MakerBot, chamado Thingiverse, no momento tem mais de 36 mil projetos disponíveis para download.

No final do ano passado, a MakerBot abriu o que pode ser a primeira loja dedicada a impressoras 3D, na parte sul de Manhattan. Na loja, modelos de demonstração da Replicator 2, uma máquina esbelta e com estrutura metálica, mais ou menos do tamanho de um micro-ondas e com preço de US$ 2.200, estão em operação constante, imprimindo arquivos criados no Trimble SketchUp ou em outros programas de CAD e produzindo coisas como maquetes ou estojos para smartphones. 

Emmanuel Plat, diretor de parcerias comerciais na divisão de varejo do MoMA (Museu de Arte Moderna de Nova York), disse que, em sua experiência, assistir ao trabalho de uma impressora 3D pode causar um choque de futuro. "Quando as pessoas veem a máquina funcionar, ficam hipnotizadas", afirma.

Potencialidade e Realidade

Mas, apesar de todo o entusiasmo quanto à impressão 3D, continua a existir uma lacuna considerável entre o potencial da tecnologia e sua realidade atual. As cerca de 15 mil pessoas que compraram uma impressora MakerBot são em geral profissionais de design ou pessoas da comunidade dos "makers", cujo hobby é a produção de objetos, e não consumidores comuns, que em muitos casos continuam a enfrentar dificuldades até para programar seus controles remotos. 

Drumm adquiriu um kit dois anos atrás porque desejava que sua família fosse "a primeira do quarteirão a ter uma impressora 3D", disse. Depois de montar a máquina, uma tarefa complicada que exigia conhecimento de soldagem, ele e seu filho de seis anos de idade conseguiram imprimir um abridor de garrafa. "Demorou 45 minutos, e ele era bem ruim, mas me senti encorajado", conta Drumm. "Olha só o que conseguimos fazer sem sair da nossa mesa da cozinha!"

É um sentimento que Pettis espera que venha a ser compartilhado por outros pais. Ele aposta que eles comprarão impressoras 3D para os filhos da mesma forma que sua família comprou um computador pessoal Commodore 64, no começo dos anos 80. As máquinas representam o futuro, segundo ele, e, "pelo custo de um laptop", elas oferecem "uma educação para a indústria".  Ainda assim, ao preço de US$ 2.200, uma Replicator 2 custa mais caro que a maioria dos laptops, e na economia estagnada atual é de se imaginar que as famílias encontram usos mais essenciais para esse dinheiro.

Quando estava projetando a Printrbot, essa foi uma das coisas que Drumm tinha em mente. Ele queria que seu kit fosse fácil de montar e que não precisasse de soldagem, diz, mas acima de tudo queria que fosse barato. Decidiu adotar um preço de cerca de US$ 550. 

Max Lobovsky, um dos criadores da Form 1, uma impressora de mesa 3D, disse que a impressora 3D caseira está em estágio de evolução semelhante ao dos protozoários. "As máquinas precisam ser mais fáceis de usar, ter maior capacidade e oferecer mais aplicativos para uso em casa. Creio que tudo isso ainda esteja faltando hoje". Ele e seu sócio, Natan Linder, conceberam a Form 1, vendida por cerca de US$ 3.300, como uma impressora 3D para profissionais, mas com preço acessível. Em setembro, eles obtiveram mais de US$ 2,9 milhões no Kickstarter, o que prova o entusiasmo do mercado pela ideia.

Hackerspace

Pode ser só questão de tempo para que as impressoras 3D dividam espaço nas estantes caseiras com o laptop ou o televisor. Mas, no momento, elas são encontradas mais comumente em um hackerspace, tipo de clube onde entusiastas se reúnem para trocar informações e resolver os problemas de máquinas que costumam ser complicadas.  Considere quantos problemas causa uma impressora 2D, com seus bloqueios de alimentação de papel e avisos de tinta baixa. As versões 3D usam plástico quente, e você não pode recorrer ao pessoal da informática do escritório para consertá-las.

O Hack Manhattan conduz um evento semanal chamado 3-D Thursday. Certa noite do mês passado, David Reeves e Justin Levinson, dois sócios do clube, estavam sentados diante de uma impressora que Reeves montou usando projetos disponíveis gratuitamente on-line.  Em um circuito de realimentação perpétua digno de um filme de ficção científica, Reeves, um cientista experimental que gosta de construir engenhocas, estava usando sua impressora 3D para produzir peças para outra impressora 3D.

Levinson, editor da revista "Makeshift", cujo tema são invenções caseiras criativas, diz que consegue pensar em pelo menos um uso prático para uma impressora 3D: o forno da casa está com um queimador quebrado, e já não existem peças de reposição. "Objetos inteiros são inutilizados porque uma porcaria de uma peça plástica quebrou", ele diz. Se for possível imprimir um sobressalente, "o ciclo de vida dos objetos pode ser alongado".  Mas Levinson ainda não tem uma impressora 3D em casa, e talvez seja inteligente de sua parte não comprar uma delas por enquanto.

Outro dos associados do clube, Jim Galvin, programador de iluminação para produções de cinema e TV, diz ter gasto quase US$ 1.000 em uma Cupcake, um dos primeiros modelos de impressora 3D da MakerBot. Ela funcionou para imprimir um suporte de iPhone para uso em seu carro. Mas ele se queixa: "Tudo que imprimi, precisei imprimir pelo menos oito vezes até acertar". E a Cupcake enguiçava frequentemente. "Acabei virando mecânico de impressoras 3D, e não era isso que eu queria ser".

Fica claro que, a despeito dos desafios técnicos e dos custos, todos os presentes estavam tão entusiasmados com a nova tecnologia quanto Galvin. Ao longo da noite, eles conversaram sobre os diversos tipos de plástico, trocaram dicas sobre funcionamento e falaram sobre novos desdobramentos que viram ou sobre os quais ouviram e sobre como a impressão 3D vai gerar a revolução que Obama previu em seu discurso.  Se você fechasse os olhos, poderia quase se imaginar em uma sala do Vale do Silício nos anos 70, ouvindo as conversas dos pioneiros da programação de computadores que cantavam as virtudes dos computadores pessoais. E todos nós sabemos aonde isso nos levou.

As Máquinas

Há dezenas de modelos de impressoras para que os compradores escolham, hoje em dia. Pedimos a David Reeves, do clube Hack Manhattan, que criou uma impressora 3D e experimentou diversos modelos, que dissesse o que pensa sobre algumas. 

REPLICATOR 2, DA MAKERBOT

Custo: Cerca de US$ 2.000
 
O que você precisa saber: A impressora ideal é a que pode imprimir rápido sem sacrificar a qualidade. A qualidade de impressão da Replicator 2, segundo Reeves, é melhor que a de qualquer outra máquina que ele tenha usado. Embora a publicidade afirme que ela pode ser usada como vem, na caixa, Reeves afirmou que a que ele experimentou precisou de ajustes de software. Além disso, o preço é meio salgado.

PRUSA MENDEL

Custo: Cerca de US$ 750

O que você precisa saber: A Mendel surgiu do projeto RepRap, uma iniciativa de fonte aberta cujo objetivo era criar uma impressora 3D barata e capaz de se reproduzir. Reeves construiu sua Mendel com componentes comprados on-line e disse que ela vem se provando muito durável. Talvez o melhor sobre ela é que o design é atualizado frequentemente --os proprietários podem baixar os arquivos gratuitamente e imprimir peças novas.

FORM 1

Custo: Cerca de US$ 3.300

O que você precisa saber: A Form 1 foi um projeto de imenso sucesso no Kickstarter e talvez seja a impressora 3D de aparência mais bacana do mercado. Usa tecnologia diferente das demais impressoras (chamada estereolitografia, para produzir impressões de maior resolução usando laser, segundo a companhia), e isso explica o preço alto. Reeves diz que não conhece a Form 1 o bastante para oferecer opinião, ainda que tenha dito que ela vem pronta para operar, e não em forma de kit. "São máquinas complexas, com hardware e software complexos", disse Reeves, acrescentando que montar uma impressora sem ajuda "pode ser frustrante até para quem está acostumado com isso".    

PRINTRBOT JR, DA PRINTRBOT

Custo: Cerca de US$ 400

O que você precisa saber: Um dos membros do Hack Manhattan tem uma Printrbot Jr., e Reeves se declara "realmente impressionado com a qualidade de impressão". O preço também é atraente para os iniciantes, assim como o tamanho compacto (ela é fácil de transportar). Um lado negativo para quem não está acostumado a lidar com esse tipo de máquina é que ela é vendida como kit; outro é que o tamanho do leito limita o tamanho dos objetos que se pode imprimir com a Printrbot Jr.  

Leia mais:

Brook Drumm com impressoras 3D que ele monta em sua casa, em Lincoln, na Califórnia Leia mais - (Foto: Jim Wilson/The New York Times).

Uma impressora 3D feita por Brook Drumm em sua casa, em Lincoln, na Califórnia Leia mais - (Foto: Jim Wilson/The New York Times). 

 Matthew Duepner, 15, trabalha em sua impressora 3D Printrbot Jr., em Nova York Leia mais - (Foto: Robert Wright/The New York Times).

 Matthew Duepner, 15, usa uma impressora 3D Printrbot Jr. para imprimir uma casinha Leia mais - (Foto: Robert Wright/The New York Times).

 Impressora 3D da MakerBot imprime uma casinha Leia mais - (Foto: Robert Wright/The New York Times).

Robby O’Connel (à dir.) e David Reeves usam computador para controlar uma impressora 3D, em Nova York Leia mais - (Foto: Robert Wright/The New York Times).




Com smartphones mais baratos, rivais vão para cima de Apple e Samsung

Fabricantes de celulares como Nokia, Huawei, HTC, ZTE, Orange e Alcatel, que estão reunidas em Barcelona no Mobile World Congress - Congresso Mundial da Telefonia Móvel - pretendem lançar smartphones mais rápidos e mais baratos para fazer frente ao domínio da coreana Samsung e da americana Apple nesse mercado.

Ontem [25/2], o grupo finlandês Nokia apresentou dois smartphones de "categoria média" destinados a clientes que desejam inovações, mas não querem - ou não podem - gastar muito com um telefone. Os modelos Lumia 520 e 720, que têm funções até agora reservadas aos celulares de alta categoria do grupo, como câmera fotográfica de alta resolução e sistema de GPS, serão vendidos por 139 e 249 [euros], sem impostos.

A chinesa Huawei, que subiu para o terceiro lugar na lista dos smartphones mais vendidos no quarto trimestre de 2012, com 5,3% do mercado mundial, lançou no domingo um aparelho que apresentou como o mais rápido do planeta. O Ascend P2, que promete uma velocidade 50% maior do que a dos seus concorrentes diretos, será vendido na Europa por 399 euros, quase a metade do que custa um iPhone, vendido por 679 euros na Europa. Também é bem mais barato que o Samsung Galaxy III, que custa 649 euros.

O One Touch Star, smartphone da francesa Alcatel também apresentado ontem em Barcelona, chega com a mesma preocupação. "O mercado espera com ansiedade esse celular que responde aos desejos dos nossos usuários: design e prestação de serviços ao melhor preço", disse Thomas Brenac, diretor da Alcatel One Touch France. O telefone, que tem integrado um processador central duplo de 1 GHz, tela sensível ao toque de quatro polegadas e uma câmera de cinco megapixels será vendido na França a partir de abril por preço que irá de 199 a 219 euros, conforme o modelo.

Líder. Número um mundial com 29% dos smartphones vendidos no mundo, a Samsung também está no evento espanhol. A empresa anunciou no domingo o lançamento do seu mini tablet, o Galaxy Note 8.0.  O novo modelo do Galaxy S, smartphone de maior sucesso da empresa, será lançado em 14 de março, em Nova York, anunciou a empresa no Twitter.

Já a Apple, segunda do mercado com 22,1% das vendas, não costuma participar do congresso - o que só aumenta o interesse pela concorrência, que garante que pode fabricar aparelhos melhores e mais baratos do que as duas líderes de mercado. Sobretudo porque os consumidores começam a se "cansar um pouco do duopólio da sul-coreana e da americana", disse Yves Maître, vice-presidente da divisão de celulares da empresa francesa Orange, que será a primeira a comercializar o novo smartphone da chinesa Huawei na França.

Brecha. É com foco nesse público - que não quer entrar na briga entre Samsung e Apple - que a japonesa Sony apresentou, durante o congresso, o seu Xperia Z, lançado em janeiro no Japão. Por lá, o modelo já é o smartphone mais vendido. "Esta semana começamos o lançamento do Xperia Z em 60 países dos cinco continentes", afirmou Kunimasa Suzuki, presidente e diretor geral da Sony Mobile.

A chinesa ZTE também apresentou ontem um "phablet", aparelho metade telefone e metade tablet, com uma tela de 5,7 polegadas. Batizado de Gran Memo, ele permite realizar uma chamada com uma única mão e tem integrado o GPS e uma câmera de foto de 13 megapixels.

A taiwanesa HTC também apresentou na semana passada seu novo smartphone HTC One, do qual espera mais do que seus decepcionantes últimos modelos.

Falta de trilhos vai retardar construção de ferrovias


As obras de ferrovias da Valec, que já acumulam um grau de execução sofrível, estão prestes a encarar uma situação ainda pior. Dessa vez, a paralisia total que atinge a estatal federal responsável pela construção de dois grandes projetos de ferrovias do país é resultado de uma realidade dramática: os trilhos da Valec simplesmente acabaram. Não há, neste momento, uma barra de aço sequer disponível em estoque para fixar sobre os dormentes. Para complicar de vez o cenário, as duas licitações que a Valec acaba de realizar para compra de milhares de toneladas de trilhos foram suspensas, sem previsão de retomada.

[A Valec é mais um exemplo requintado de como o Estado é péssimo em planejamento, projeto, execução e gestão em setores chaves da economia -- e é esse mesmo Estado que a afável Dona Dilma quer nos empurrar goela adentro. Só por falhas de fiscalização da Valec (junto com o famigerado DNIT) em 17 contratos, o MT - Ministério dos Transportes estimava em 2011 um prejuízo de R$ 682 milhões. Ferrovia é infraestrutura, e infraestrutura é PAC, e PAC é Dona Dilma em corpo e alma. Conclusão óbvia: que gestora é, afinal, essa senhora?!]

A Valec está à frente da construção de um trecho de 600 km da Ferrovia Norte-Sul, que ligará as cidades de Ouro Verde (GO) e Estrela D'Oeste, em São Paulo. Além disso, tem a missão de construir mil km da Ferrovia de Integração Oeste-Leste (Fiol), entre os municípios de Ilhéus, no litoral baiano, e Barreiras, no sertão do Estado. Atualmente, os poucos metros de trilhos que a estatal ainda possui estão sendo instalados em pátios logísticos na região de Anápolis, no Estado de Goiás. E só.  A situação crítica foi confirmada ao Valor pelo presidente da Valec, Josias Sampaio Cavalcante, que assumiu o comando da empresa no fim do ano passado. "Realmente estamos em uma sinuca de bico. Precisamos resolver isso o mais rápido possível. Sem trilho, não tem obra. É um momento difícil."

Apesar de todo o movimento provocado no setor ferroviário pelo governo, que promete conceder 10 mil de quilômetros de malhas novas neste ano, o Brasil não tem nenhuma fábrica de trilhos. Apesar de ser o maior exportador de minério de ferro do planeta, passa pelo constrangimento de ter que importar 100% desse material. A raiz dos problemas enfrentados pela Valec está nos editais que elaborou para buscar os trilhos fora do país. [Parece piada de português, mas não é -- é uma vergonha de fazer corar as pedras do caminho. É outra demonstração do péssimo planejador que é o Estado que, num país com as nossas dimensões, privilegia burramente as rodovias, abandona as ferrovias (e as vias fluviais e de cabotagem) e deixa o país sem fabricar um centímetro sequer de trilhos! Esse PAC ... Isso parece mais um Plano para Abandalhar o Crescimento.]

Em janeiro, a Valec realizou uma licitação internacional para compra de 95,4 mil toneladas de trilhos para a Norte-Sul. Um único consórcio - formado pela empresa brasileira PNG Brasil Produtos Siderúrgicos e a chinesa Pangang Group - apresentou proposta, vencendo o leilão com a oferta de R$ 320 milhões. O Tribunal de Contas da União (TCU), no entanto, emitiu uma medida cautelar, que suspendeu a licitação. Para o tribunal, há indícios de que o edital restringiu a competição de demais empresas, entre outros problemas técnicos. Tanto a Valec quanto a PNG apresentaram explicações ao tribunal, mas a liminar acabou mantida, para que as avaliações sejam aprofundadas.

A decisão do TCU acabou se refletindo na segunda licitação que a Valec fez na semana passada. O objetivo era comprar 147 mil toneladas de trilhos para serem instalados na Fiol. O pregão da ferrovia baiana foi realizado e a proposta vencedora foi de R$ 477,2 milhões. Novamente, porém, apenas a PNG e a Pangang apareceram para disputar a licitação. Como o edital era praticamente o mesmo daquele utilizado na Norte-Sul, a Valec decidiu, por conta própria, suspender essa segunda compra, até que o mérito do processo seja julgado pelo TCU. "Temos a humildade de reconhecer quando erramos. Estamos dispostos a alterar o que for preciso para levar as concorrências adiante. Vamos defender nosso ponto de vista sobre os editais, mas não temos compromissos com o erro", disse Cavalcanti. "Se o TCU entende que o edital restringiu a competitividade, eu mudo o edital. Se ele entende que eu não posso contratar com tal empresa, nós cancelamos a licitação e realizamos outra. O que não posso é ficar sem os trilhos", afirmou o presidente da Valec.

Uma série de reuniões com empreiteiras foi realizada no mês passado pelo ministro dos Transportes, Paulo Passos, ao lado de Cavalcanti. O governo selou um "pacto" com as construtoras que executam as obras da Norte-Sul e da Fiol. As construtoras garantiram, na ocasião, que fariam esforço redobrado para retomar o cronograma das duas ferrovias, as quais já acumulam anos de atraso. Agora, o pedido deve ser exatamente o inverso: retardem as operações, porque os trilhos sumiram.

Cavalcanti diz que, no momento, já há quilômetros de dormentes de concreto que já foram lançados no traçado das ferrovias, mas não há barras de aço para pôr em cima deles. "Temos que parar com isso. Não faz sentido sair lançando mais dormente", diz. O presidente da Valec admite que a empresa já está revendo o texto do edital. Se as compras dos trilhos não estivessem suspensas, a Valec receberia as barras de aço só daqui a três meses, o que já comprometeria o cronograma.  Agora, na possibilidade mais otimista - que significa a deliberação imediata do caso pelo TCU e a realização de novas licitações - os trilhos só chegariam no fim do ano. Isso, claro, se a empresa que venceu as duas propostas não decidir recorrer à Justiça.







terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Indecentes úteis

[A passagem da blogueira cubana Yoani Sanchez pelo Brasil tinha tudo para ser normal e tranquila, não fosse a boçalidade exacerbada de um bando de petistas que, sob o cabresto de lideranças do PT (esses militantes petistas adoram esse tipo de subserviência que afronta quem tem um mínimo de racionalidade), se comportaram como verdadeiros imbecis antidemocráticos. É mais do que evidente a ligação da atitude irracional dessa gentalha com a visita do NPA (Nosso Pinóquio Acrobata, Lula) a Cuba no finalzinho de janeiro e seu encontro com os irmãos Castro. 

Aliás, esses pigmeus mentais petistas dessa vez funcionaram sob duplo cabresto: o do PT e o do embaixador cubano no Brasil, que orquestrou ostensivamente essa palhaçada sob o olhar cúmplice e humilhado do Itamaraty, nitidamente a mando da Dona Dilma, que parece não ter aprendido nada de democracia com as experiências que teve. O silêncio ensurecedor do chanceler Patriota -- nada mais desconchavado do que este sobrenome e o comportamento desse cidadão --  quanto aos saracoteios abusados do embaixador cubano explica-se também pelo fato de Cuba ser território cativo do nosso chanceler n° 2, Marco Aurélio Garcia, que está se convalescendo de uma operação.  Mas, vamos a mais um texto cirúrgico de Dora Kramer sobre o assunto, publicado hoje no O Estado de S. Paulo.]

Indecentes úteis

Dora Kramer - O Estado de S. Paulo, 26/2/2013 

Aqueles que não conseguem convencer, quando fanáticos agridem, constrangem e, se lhes for dada a oportunidade, prendem e arrebentam. Foi a nítida impressão deixada pela ação orquestrada a partir da Embaixada de Cuba com pequenos, barulhentos e virulentos grupos defensores da ditadura Castro, contra a presença da jornalista Yoani Sanchez por uma semana no Brasil.

Tirante a violência, nada de mais grave haveria no patrulhamento não fossem dois fatos: a presença de um assessor com assento no Palácio do Planalto na reunião em que a representação de Havana distribuiu a missão aos chefes dos tarefeiros e o mutismo do PT diante dos atentados à liberdade de uma pessoa dizer o que quer a quem estiver disposto a ouvir.  De onde fica plenamente autorizada a constatação de que esse tipo de intolerância não é episódio isolado, nem nascido por geração espontânea. Foi apenas a manifestação mais histérica e malsucedida do modo petista (e área de influência) de lidar com as diferenças de ação e pensamento. 

Numa expressão já meio gasta: o exercício do contraditório. Este enlouquece o PT. E aqui se fala do partido como um todo não na intenção maldosa de generalizar, mas porque a direção deixou o senador Eduardo Suplicy literalmente falando sozinho no enfrentamento da barbárie. Do partido como um todo não se ouviu palavra, nenhum reparo, apenas ressalvas aqui e ali à "deselegância" dos indecentes úteis. 

A falta de cerimônia com que se dedicaram à selvageria é fruto do exemplo. Isso se vê quando o governo desqualifica de maneira desonesta (para não dizer mentirosa) as ações de seus antecessores - até mesmo os que hoje são seus aliados -, quando autoridades confundem crítica com falta de apreço à pátria, quando o dever de informar é classificado com desejo de conspirar, quando o exercício da oposição é "vendido" à população como uma atividade quase criminosa. 

No caso da cubana ocorreu um monumental tiro no pé: o que seria uma visita tratada com destaque, mas sem maiores consequências nem celebrações - até porque Yoani Sanchez não diz nada que já não seja de conhecimento público sobre as agruras da vida em Cuba -, no lugar da visita de uma jornalista que reclama pela adaptação de seu país à contemporaneidade, o que se teve foi uma repercussão monumental.

Ao se tornar alvo (fácil) da rebeldia sem causa, virou capa da revista de maior circulação no Brasil, falou no Congresso Nacional e foi convidada de honra em programas de entrevistas no rádio e na televisão. Bom para ela, melhor ainda para a exposição das patrulhas ao ridículo. E tem gente que ainda apoia o direito da Embaixada de Cuba de pôr os patrulheiros na rua argumentando que o fez em legítima defesa.  

Imagine o prezado leitor e a cara leitora se a Embaixada dos Estados Unidos resolvesse organizar manifestações no mesmo tom para revidar, a pretexto de proteger a moça dos ataques. O mundo viria abaixo e certamente o governo brasileiro protestaria contra a indevida intromissão.  

Expurgo. A exposição de fotos no Senado, organizada pelo PT em comemoração aos 33 anos de vida e 10 do partido no poder, simplesmente suprimiu o ano de 2005. O período em que veio a público o esquema do mensalão também desapareceu das festividades partidárias.

Uma incoerência em relação aos protestos de injustiça e acusações de farsa que o PT faz sobre o julgamento. Acreditasse mesmo em suas alegações, o natural seria o partido aproveitar a passagem dos aniversários para ressaltar o que, na sua versão, seria algo nunca antes ocorrido no País em matéria de atentado à Justiça, aos direitos individuais e, sobretudo, à verdade. 

Preferiu nada falar. De onde, se conclui, consentiu.   
 


 

Juiz americano quer vasculhar movimentação bancária da família Kirchner no exterior

[Foi, é e sempre será para mim um mistério insondável a obsessão dos argentinos em eleger péssimos dirigentes -- "estafadores" (vigaristas), como dizem eles, -- em completo desacordo com o nível cultural do povo. O ditado "cada povo tem o governo que merece", sou obrigado a reconhecer, tem sido extremamente cruel para com os hermanitos. E a sequência dessas excrescências de dirigentes tem sido praticamente ininterrupta há décadas. A presidente atual, Cristina Kirchner, e seu antecessor e marido, Nestor Kirchner, são exemplos rebuscados dessa safra péssima de políticos. A madame Kirchner, agora, está às voltas com uma investigação da justiça americana sobre suas contas (e as de sua família) no exterior, como nos conta a reportagem abaixo, do Globo.]

O juiz federal de Nova York, Thomas Griesa, em causa promovida pelo fundo-abutre NML-Elliot, pediu ao Banco Nación, da Argentina, que informe o suposto movimento de recursos ao exterior da presidente Cristina Kirchner e de seu falecido marido, Néstor Kirchner. Segundo o documento obtido pelo jornal argentino “La Nación”, em que o juiz fez o pedido, a justificativa é conhecer os bens do Estado argentino no exterior, para pedir, eventualmente, seu embargo a fim de que o governo pague os credores privados que fizeram acordo com a Casa Rosada, entre 2001 e 2002, quando foi decretada a moratória da dívida externa argentina.

O documento explica que a Corte garantiu ao NML o acesso às informações, mas limitou-o aos bens que podem ser embargados, destacando que “o NML aceitou modificar o tamanho de seu pedido para não requerer informações sobre todos os depósitos na Argentina”. O pedido foi limitado, então, às movimentações do casal Kirchner.

Espera-se, para os próximos dias, uma audiência que pode definir multa de US$ 25 mil diários ao Banco Nación se a instituição se recusar a liberar a informação. O escritório de advocacia Dorsey & Whitney, que defende o banco nos Estados Unidos, argumenta que o Banco Nación não poderia fornecer os dados, amparado no direito ao segredo bancário que existe nos diferentes países onde opera. O banco não respondeu às consultas do jornal argentino sobre o tema. Até agora, a entidade tem conseguido postergar os pedidos da justiça americana, lembra a publicação.

[Diz o La Nación  que o juiz Griesa acusou o Banco Nación de má-fé, por postergar por ano e meio a entrega das informações solicitadas. Diz ainda o jornal argentino que essa é uma causa diferente de uma outra que o NML e Aurelius, juntamente com 13 investidores minoritários portadores de bônus argentinos já ganharam em duas instâncias, pela qual cobram do governo argentino US$ 1,45 bilhão.]

O juiz americano Thomas Griesa pediu ao Banco Nación informações sobre os movimentos financeiros dos Kirchner. - (Foto: Pablo Corradi).

Uma porcaria que nos custa caro, muito caro: o Congresso Nacional

[Não há quem ignore que nosso Congresso é a elite da porcaria do tal arco da nossa sociedade, à exceção de uma meia dúzia de gatos pingados que talvez não cheguem a seis. O que certamente quase todos ignoramos é quanto nos custa esse lixo em números, embora tenhamos todos uma certa ideia qualitativa de de que pagamos uma baba para sustentar os bandos de malandros que ocupam as chamadas "casas" do Congresso. O artigo de hoje de Gil Castello Branco no Globo , que transcrevo abaixo, dá números assustadores a duas faces da mesma moeda: o custo do lixo que nos legisla, e o custo do mau uso do voto por todosnós que, por ação ou omissão, elegemos esses dois aglomerados humanos extremamente nocivos à saúde cívica do país. O que estiver entre colchetes e em itálico é de minha responsabilidade.]

Quanto custa o Congresso Nacional

Gil Castello Branco (*) - O Globo (26/2/2013)

A democracia não tem preço, mas o Legislativo brasileiro tem custo elevado. No ano passado, as despesas da Câmara dos Deputados, do Senado Federal e do Tribunal de Contas da União (TCU) atingiram R$ 9 bilhões, montante equivalente aos dispêndios integrais de seis ministérios: Cultura, Pesca, Esporte, Turismo, Meio Ambiente e Relações Exteriores [esse número é o triplo do corte que nossa terna Dona Dilma fez na Educação logo que assumiu o governo, em janeiro de 2011 (R$ 3,1 bi), e praticamente o mesmo montante que o Tesouro Nacional desembolsará para garantir a redução na nossa conta de luz prometida pela nossa afável ex-guerrilheira].

Neste ano, somente os gastos das duas Casas Legislativas, excluindo o TCU, deverão alcançar 8,5 bilhões. Assim sendo, chova ou faça sol, trabalhem ou não suas Excelências, cada dia do parlamento brasileiro custará R$ 23 milhões, ou seja, quase um milhão por hora!

Estudo realizado no ano passado pela Organização das Nações Unidas (ONU) em parceria com a União Interparlamentar revelou que o congressista brasileiro é um dos mais caros do mundo. No campeonato de 110 países, o Brasil ganhou a medalha de prata no ranking dos custos por parlamentar, atrás apenas dos Estados Unidos. Na classificação dos custos por habitante, ocupamos a 21ª posição.

Dentre as Casas, a vilã do momento é a Câmara que custou aos contribuintes R$ 4,3 bilhões em 2012, montante superior em R$ 400 milhões à média de R$ 3,8 bilhões dos últimos dez anos. Já no Senado, em função dos escândalos de 2009, as despesas vêm caindo e, no ano passado, foram as menores desde 2010, totalizando R$ 3,4 bilhões.
Considerando os 15.647 servidores da Câmara e os 6.345 do Senado, o Congresso é uma "cidade" com quase 22.000 funcionários efetivos e comissionados. A título de comparação, dentre os 5.570 municípios do País, apenas 27 % possuem mais habitantes. Em 2012, o custo de "pessoal e encargos sociais" no Congresso Nacional foi de R$ 6,4 bilhões, o que correspondeu a 84% da despesa global. A conta inclui salários, gratificações, adicionais, férias, 13º salário e outras vantagens. Só pelo trabalho noturno, Câmara e Senado pagaram R$ 4,5 milhões em 2012.

Comparativamente, o Legislativo é o campeão de salários médios entre os Poderes. Em dezembro de 2012, segundo o Ministério do Planejamento, a média salarial do Legislativo foi de R$ 16,3 mil, mais do que o dobro dos R$ 6,7 mil que ganham os servidores do Executivo. No Judiciário, a média é de R$ 13,5 mil.

Por vezes, as despesas do Parlamento são extravagantes e curiosas. No ano passado, somente com horas extras foram pagos R$ 52 milhões. A Câmara dos Deputados foi responsável por R$ 44,4 milhões desse montante. O Senado comemorou a economia de R$ 35 milhões que obteve após implementar o "banco de horas". A ideia poderia ser adotada pelos vizinhos. Outro absurdo é a existência de 132 apartamentos funcionais vazios, aguardando uma reforma que não tem data para começar, enquanto são gastos R$ 8,3 milhões/ano com os pagamentos de auxílio-moradia a parlamentares.

Na semana passada, pressionado por manifesto popular com 1,6 milhão de assinaturas, o presidente do Senado anunciou corte de R$ 262 milhões nas despesas da Casa, a começar por 500 funções de chefia e assessoramento. Já era tempo. A gastança é tal que no último ano as gratificações por exercício de cargos e funções totalizaram R$ 683,1 milhões, quase três vezes o montante dos salários que alcançou R$ 249,2 milhões. Ao que parece, o Senado além de muitos índios tem centenas de caciques.

Além disso, o novo presidente afirmou que reduzirá gastos com serviços médicos e terceirizados. Apesar das boas intenções, até o momento a contenção de despesas limitou-se à demissão de duas estagiárias. A intenção de Renan Calheiros é, por meio da transparência, reaproximar o Senado da sociedade brasileira. É bom que comece pelo próprio gabinete, informando, por exemplo, quais os serviços que lhe presta escritório de advocacia em Alagoas que recebe há mais de um ano R$ 8 mil mensais da chamada "verba indenizatória".

Enfim, há muito o que melhorar no Congresso Nacional. A redução das despesas é necessária, mas não é o mais importante. Urgente é que os princípios constitucionais de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência sejam aplicados tanto pelas Casas quanto pelos deputados e senadores. O Judiciário pode auxiliar julgando os quase 200 parlamentares que respondem a inquéritos ou ações penais no Supremo Tribunal Federal. Na pauta, crimes contra a administração pública, homicídio, sequestro e tráfico. O saneamento do Legislativo é essencial para conter o desgaste progressivo de sua imagem. Afinal, a democracia não tem preço. Pior do que o atual Congresso Nacional só a sua ausência.

[Faltaram umas poucas -- mas importantes -- informações para completar o quadro fúnebre relatado aí em cima. Faltou, por exemplo, mencionar que a partir de novembro de 2012 o Senado passou a pagar o IR (imposto de renda) da maioria dos senadores com dinheiro público.  Ou seja, é com dinheiro do nosso bolso que isso é pago -- não sei o montante disso, mas só o peso da safadeza já é insuportável. No orçamento federal de 2012, a dotação para a Câmara dos Deputados foi de R$ 4.234.169.286,00; a do Senado foi de R$ 3.353.657.687,00. Com 16% do efetivo da CD -- Câmara dos Deputados -- (81 senadores contra 513 deputados), o Senado gasta 80% do que gasta a CD ou seja, o custo per capita de senador é uma barbaridade, por cima do absurdo de cada deputado! O Senado tem 3.516 funcionários, o que dá 43 funcionários por senador; a Câmara dos Deputados tem 15.431 funcionários, entre concursados (3.419), "especiais" (1.291) e secretários parlamentares (10.721), o que dá as seguintes médias espantosas: 20,9 secretários parlamentares/deputado e 30,0 funcionários (globalmente falando)/deputado! Esses dois monturos, CD e Senado, formam ou não um lixão paquidérmico?!]


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(*) Gil Castello Branco é economista e fundador da organização não-governamental Associação Contas Abertas



segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Continente é encontrado sob as praias das ilhas Maurício

Sob as águas do Oceano Índico, abaixo das ilhas Reunião e Maurício, residem vestígios de um continente antigo, há muito escondido, segundo pesquisa de uma equipe internacional liderada pelo norueguês Trond Torsvik publicada na edição desta semana da revista “Nature Geoscience”.

 Sob as paradisíacas praias das Ilhas Maurício reside um microcontinente que já uniu Índia e Madagascar - (Foto: Divulgação).

A equipe de pesquisadores analisou as areias das praias dessas ilhas, formadas a partir da erosão de rochas vulcânicas que eclodiram nove mil anos atrás. Junto com essa areia, os cientistas encontraram minerais de zircão e areias antigas, típicas de crostas continentais, com idades entre 660 e 1.970 milhões de anos, o que sugere a existência de fragmentos de um antigo microcontinente abaixo das ilhas. As peças devem ter sido trazidas para a superfície por atividade vulcânica recente.
 
O microcontinente conhecido como Mauritia se separou há cerca de 60 milhões de anos, quando Madagascar e Índia se destacaram, segundo os pesquisadores, e ficou escondido embaixo de uma grande quantidade de lava.

O desmembramento dos continentes é frequentemente associado a fenômenos geológicos conhecidos como as plumas mantélicas, bolhas gigantes magma que sobem das profundezas da Terra para suavizar as placas tectônicas. Quando a zona de ruptura fica na extremidade de uma massa de terra (neste caso Madagascar e Índia), fragmentos desta massa pode permanecer separada, como no caso de Mauritia.




Com a ajuda da web, ateus ganham força no Brasil

Para fazer frente ao que chamam de influência de grupos religiosos na política, organizações de ateus brasileiros aumentam cada vez mais seu alcance usando a mobilização pelas redes sociais e eventos temáticos em todo o país.

Os ateus ainda são uma minoria de cerca de 615 mil pessoas no Brasil, segundo dados do Censo de 2010. Na categoria "sem religião", que também inclui agnósticos, o número ultrapassa os 15 milhões, segundo o IBGE.

Nos últimos anos, novas associações têm sido criadas para reunir os não crentes em torno de questões como o combate ao preconceito e a defesa da laicidade do Estado brasileiro. No mês de fevereiro, o 2º Encontro Nacional de Ateus, organizado por parceria entre as principais associações do país, reuniu ateus e agnósticos simultaneamente em 28 cidades de 25 Estados brasileiros, incluindo o Distrito Federal, com transmissões ao vivo de palestras e discussões. Em São Paulo, a edição de 2013 teve 750 pessoas, mais que o dobro do ano anterior.

Na capital paulista, o encontro teve palestras sobre assuntos como o ateísmo na filosofia francesa e sobre o Estado laico, este com o procurador regional dos direitos do cidadão de São Paulo, Jefferson Dias. Entre os palestrantes também estava um comediante que ganhou popularidade na internet satirizando pastores evangélicos. Na página do evento no Facebook, cerca de 1.700 pessoas confirmavam a presença, mas o número menor de participantes reais não decepcionou os organizadores. "Quando a gente organiza eventos no Facebook, sabe que vem entre 40 e 60% (das pessoas). A gente ainda está anestesiado porque não pensava que poderia realizar isso e ter sucesso", disse Washington Alan, diretor jurídico da Sociedade Racionalista, organizadora do encontro, à BBC Brasil.

Encontro Nacional de Ateus teve palestras de antropologia evolutiva e apresentações de comédia - (Foto: SR).

Ateísmo digital

O presidente da Sociedade Racionalista, Diego Lakatos, diz que o encontro começou como uma tentativa de confraternização entre ateus de todo o país. "Num primeiro momento, não estávamos tão interessados em promover discussões mais profundas. Foi uma coisa bem mais informal, no Parque Ibirapuera. Mas ao longo desse ano, alguns temas surgiram com mais força e se tornaram mais relevantes, como a defesa do Estado laico. Vemos a bancada evangélica tentando barrar discussões importantes na nossa sociedade de um ponto de vista religioso e achamos que isso é perigoso", afirma.

Leiam mais: Ateus contestam ações de "bancada teocrática" no Congresso

O primeiro encontro deu um impulso no número de adesões à Sociedade Racionalista pelo site, de acordo com Lakatos. Agora, cerca de 60 pessoas se filiam a cada mês. Este mesmo número também era o máximo arrebanhado pela Associação Brasileira de Ateus e Agnósticos (Atea), a maior do país, até sua entrada no Facebook, em 2010.

De acordo com o engenheiro Daniel Sottomaior, fundador da Atea, a criação de uma página no site mais do que dobrou o número de adesões – que já chega a 200 novos membros por mês. A Atea já tem cerca de 7.800 membros filiados e 230 mil fãs no Facebook – cerca de um terço do que corresponderia ao número de ateus calculado pelo IBGE. "Ganhamos um impulso nas associações com a chegada do Face. Eu sempre fui contra porque a nossa associação é de ativismo no mundo real. Na minha longa experiência de ativismo online percebi que especialmente entre ateus as discussões tendem a gerar mais calor do que luz", diz Sottomaior.

Sottomaior diz que o objetivo da Atea é criar indignação em relação à discriminação de ateus e "fazer com que o Brasil, 120 anos depois da proclamação da República, se torne (de fato em) um Estado laico".
Congregar os ateus em uma organização atuante, no entanto, não é fácil. De acordo com ele, o maior desafio é a "indiferença dos ateus".  "Grande parte dos ateus tem uma independência intelectual tão forte que acaba sendo contraproducente a eles mesmos. Eu entendo que lutar contra o preconceito e a favor da laicidade deveriam ser causas caras não só aos ateus, mas a toda a sociedade", diz.

"Muitos ateus são visceralmente contra o proselitismo. Eu não entendo". 
Daniel Sottomaior, presidente da Atea - (Foto: BBC Brasil).

Alianças

O proselitismo, segundo Sottomaior, também tem que ficar de fora para conseguir mais mobilização dos associados. "Se nós nos voltássemos para isso teríamos um público menor, porque muitos ateus são visceralmente contra o proselitismo. Eu não entendo. Acho que todo grupo organizado tem não só o direito, mas é até esperado que ele pratique o proselitismo. O Greenpeace faz isso, os partidos políticos também", defende.

A ênfase nas leis e na discriminação, no entanto, não é o suficiente para que religiosos apoiem a causa, segundo Sottomaior. "Algumas pessoas religiosas entram em contato com a associação, mas é um número pequeno, muito menor do que as pessoas que mandam e-mails de ódio. Desde o começo venho tentando contactar minorias religiosas. Os maiores interessados nisso são os grupos religiosos afro-brasileiros, que também são afetados como nós pela discriminação e pela violação da laicidade. Que também é o caso dos homossexuais. Um dos grandes parceiros nossos sempre foi a ABGLT (Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais)", diz.

Ao contrário da Atea, a Liga Humanista Secular do Brasil (LiHS), criada em 2010, tem cerca de 3% de religiosos entre seus membros, e pouco mais de 500 filiados que não se declaram ateus. "Temos até mesmo um pastor de uma igreja evangélica inclusiva (a homossexuais) no Rio de Janeiro, que é colaborador", diz Åsa Dahlström Heuser, de 56 anos, atual presidente da associação. A adesão de religiosos, segundo Heuser, tem a ver com o fato de que ateísmo é "secundário" na Liga. "Entendemos como benéfica a associação com pessoas religiosas de mente mais aberta. E existem muitas, na verdade. Combatemos as arbitrariedades cometidas por instituições religiosas", diz ela.

Heuser cita "restrições a homossexuais ou mulheres" impostas por algumas religiões como justificativa para a parceria entre a Liga e o movimento LGBT. "As organizações LGBT são as que têm mais força atualmente para se opor a essa bancada teocrática no Congresso", explica.

A LiHS tem cerca de 2.800 membros e mais de 17 mil fãs no Facebook, e é, segundo o seu site, voltada para "céticos, agnósticos, ateus, livres pensadores e secularistas". O fundador da organização, Eli Vieira, é o geneticista que ganhou fama na internet ao responder, com um vídeo no YouTube, à argumentação do pastor evangélico Silas Malafaia contra o homossexualismo. O aumento da adesão, segundo ela, aconteceu a partir de setembro de 2012, depois da realização do primeiro Congresso Humanista. "A internet ajudou muito, mas os encontros reforçam a ideia de ações sociais. Para que não tenhamos um dia um governo que nos obrigue a fingir que temos uma religião, se a bancada teocrática conseguir impor suas ideias. É isso o que queremos evitar".

Um almoço para Einstein -- mais um exemplo de autoritarismo retrógrado do governo de Dona Dilma

[Entre as inúmeras mazelas, pilantragens e falcatruas que caracterizam a década petista no governo -- com grande chance de durar mais seis anos, infelizmente -- há preocupantes e recorrentes iniciativas  de cerceamento da liberdade de imprensa e de certas liberdades e direitos individuais. No primeiro caso, vimos as insistentes investidas do famigerado Franklin Martins para calar a boca da imprensa quando ocupou o Ministério da Comunicação Social no governo do NPA (Nosso Pinóquio Acrobata, Lula), com a aquiescência deste. A visibilidade dada pela mídia ao julgamento do mensalão, que resultou na condenação de grandes e importantes ícones do PT, já provocou manifestações de uns e outros para que se ressuscite essa iniciativa nefasta. No capítulo das liberdades e direitos individuais, a mais recente investida arbitrária, autoritária e retrógrada do governo petista da afável Dona Dilma nos é contada hoje pelo Prof. Luiz Pinguelli Rosa, diretor da COPPE/UFRJ, publicado no Globo e, surpreendentemente, no site do Ministério do Planejamento , e que transcrevo abaixo. A publicação no site oficial de um ministério de artigo de autor de renome criticando pesadamente outro ministério (o MEC) e a CGU (Controladoria-Geral da União é muito mais, ou unicamente, um claro sinal de guerra interna no seio do governo do que uma demonstração de democracia.]

Um almoço para Einstein

Prof. Luiz Pinguelli Rosa (O Globo, 25/2/2013)

Apartir de agora, atividades acadêmicas e científicas nas universidades federais deverão seguir uma cartilha com 122 prescrições burocráticas da Controladoria-Geral da União (CGU) e do Ministério da Educação (MEC).

"A revolução dos bichos" ("Animal farm", no título original), sátira de George Orwell ao stalinismo por trair a revolução socialista, tinha também uma cartilha, com sete mandamentos: tudo o que ande sobre duas pernas é inimigo; tudo o que ande sobre quatro pernas ou tenha asas é amigo; nenhum animal usará roupas; nenhum animal dormirá em cama; nenhum animal beberá álcool; nenhum animal matará outro animal; todos os animais são iguais.

Há contradição, arbitrariedades, burocracia idiota, moralismo hipócrita e pontos éticos e corretos. Embora ficção, essa cartilha é paradigmática.

Na cartilha da CGU e do MEC, há contradições e interpretações que confrontam a Constituição. Se a cartilha for seguida à risca, nenhum professor em dedicação exclusiva poderá possuir ações de empresas, nem mesmo da Petrobras ou do Banco do Brasil, o que é um absurdo. Também não poderá participar de sociedade privada, logo os pesquisadores terão que abdicar de sociedades científicas, como a SBPC, e de outras, como o Clube de Engenharia. O item 11, por exemplo, limita a autonomia universitária listando leis e decretos e omitindo artigos da Constituição. Outros itens tratam colegiados acadêmicos como corporativos e ameaçam seus membros. O objetivo é incutir o medo que costuma paralisar as pessoas.

Alguns auditores da CGU, articulados com elementos da Procuradoria da República no Rio, promoveram acusações a Aloísio Teixeira e Carlos Levi, ex-reitor e atual reitor da UFRJ, respectivamente, e a outros colegas da reitoria (No fim da década de 1960, existiram, na UFRJ, os atingidos pelo AI-5. Agora, haverá os atingidos pelos órgãos de controle, especialmente o professor Geraldo Nunes, que o relatório da CGU demite, sem existir um processo específico contra ele na UFRJ e sem passar pelos colegiados.) As acusações foram refutadas na sua essência pelo Conselho Universitário. Aloísio faleceu. Teve em vida reconhecimento, além de acadêmico, pela posição democrática coerente desde a oposição de esquerda à ditadura. Levi, um dos criadores do LabOceano, o primeiro do moderno Parque Tecnológico da UFRJ, foi inocentado pelo colegiado da própria CGU de acusações sem pé nem cabeça: comprovou-se que os recursos foram gastos em obras e atividades acadêmicas por meio da Fundação José Bonifácio, da universidade.

Infelizmente, para a mentalidade conservadora e juridicista que entrava o serviço público, tudo o que moderniza a gestão do Estado é inimigo, até mesmo as fundações de apoio, criadas por lei com esse propósito. Por sua vez, tudo o que segue o caminho mais complicado e demorado é amigo: para seguir as regras da cartilha, doentes podem morrer sem remédios e estudantes podem ficar sem laboratórios. Querem até licitar a folha de pagamento da UFRJ, feita há décadas por meio do Banco do Brasil! A quem serve isso? A algum grande banco. Isso combate a corrupção ou a estimula?

São muitas as proibições que estimulam o imobilismo e a indolência, pois qualquer iniciativa acadêmica pode violar algo. O deputado Chico Alencar contou 3,7 milhões de leis "no país da cultura bacharelesca". Uma denúncia anônima mentirosa - disparada como um míssil por um inimigo pessoal - pode levar um colega sério a ser alvo de perseguição kafkiana. Em outro livro de Orwell, "1984", um terrível personagem, o Big Brother, de algum lugar vigia todos e os pune. Seu famoso bordão - "Big Brother está observando você" - chegou a inspirar o programa televisivo. Por razões ideológicas ou midiáticas, problemas administrativos sanáveis viram escândalos. Podem ser refutados na Justiça, mas advogados saem caro.

Dar aulas cumprindo o expediente é uma obrigação que deve ser cobrada de todos os docentes. Aliás, não há nada sobre isso na cartilha. É o mínimo, mas é preciso fazer mais: envolver os estudantes, criar coisas novas, ajudar a mudar o Brasil em benefício do seu povo e a compreender o mundo contemporâneo na cultura, nas artes, na ciência e na tecnologia. A quem interessa acabar isso?

Em 1925, Einstein esteve na UFRJ: na Escola Politécnica e no Museu Nacional, fundados por Dom João VI. Fizeram parte da UFRJ Darcy Ribeiro, José Leite Lopes, Maria Yedda Linhares, Eulália Lobo e Milton Santos (atingidos pelo AI-5), César Lattes, Carlos Chagas e Clementino Fraga. A Coppe, criada por Alberto Luiz Coimbra, que este ano comemora 50 anos de pós-graduação e pesquisa de engenharia, recebeu Noam Chomsky, os ganhadores do Nobel Carlo Rubbia e Joseph Rotblat e brasileiros ilustres como Oscar Niemeyer e os presidentes Dilma e Lula. Projetos com empresas realizados por meio da Fundação Coppetec foram citados como referência pelos ministros Mercadante e Raupp em visitas recentes. Nada disso exime a UFRJ do controle externo, mas é preciso haver respeito à autonomia. Oferecer um almoço na visita de Einstein à universidade hoje poderia ser considerado um ato ilícito, segundo a cartilha.

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[O mesmo governo que criou essa cartilha ridícula para atividades acadêmicas e científicas, querendo "enquadrar" os professores universitários, é o mesmíssimo governo que fez vista grossa para a baderna de bombeiros e PMs em vários estados do país em fins de 2011 e início de 2012, com invasão e danos ao patrimônio público, e acaba de ceder demagógica e irresponsavelmente às exigências peleguistas dos grevistas ilegais dos portos públicos do país.  Aliás, é preciso reconhecer que nossa sempre simpática ex-guerrilheira é coerente, até e principalmente na burrice -- no caso da educação, por exemplo, um de seus primeiríssimos atos quando assumiu a presidência em janeiro de 2011 foi cortar R$ 3,1 bilhões do MEC.  Educação não é mesmo o esporte preferido da supersimpática Dona Dilma.]