domingo, 10 de fevereiro de 2013

Banco Central Europeu e Alemanha entram em choque por causa de ajuda a Chipre

[Alemanha no centro de outra crise de política financeira no seio da União Europeia (UE), conforme artigo da Spiegel Online que traduzo abaixo.]

O presidente do Banco Central Europeu (BCE), Mario Draghi, se opôs ao ministro das Finanças da Alemanha, Wolfgang Schäuble, na semana passada e alertou-o a não menosprezar Chipre considerando-a como "sistemicamente irrelevante", e disse que uma falha em ajudar a nação insular poderia ameaçar a zona do euro.

Em uma reunião dos ministros das Finanças da UE na semana passada, Draghi contestou a opinião de Schäuble de que de que Chipre não é "sistemicamente relevante", querendo dizer com isto que se a ilha fosse à falência não prejudicaria a zona do euro. Draghi disse a Schäuble que frequentemente ouvia essa argumentação vinda de advogados, ainda que a questão de Chipre ser ou não relevante não seja uma questão que possa ser respondida por advogados. Isso é um assunto para economistas, disse Draghi. Schäuble é um advogado experiente.  [Touché, Draghi!]

Draghi foi apoiado pelo Comissário Europeu de Assuntos Econômicos e Monetários, Olli Rehn, e também pelo chefe do Mecanismo Europeu de Estabilidade Klaus Regling. Os três chamaram a atenção de Schäuble para o fato de que os dois maiores bancos de Chipre têm uma rede grande de sucursais na Grécia. Se for levantada qualquer dúvida sobre a segurança dos depósitos mantidos nesses bancos, a incerteza dos poupadores gregos poderia espalhar-se rapidamente para bancos gregos, o que representaria um grande revés para a Grécia.  Além disso, argumentaram, uma bancarrota cipriota anularia as boas notícias que recentemente ajudaram a acalmar a zona do euro.

Nas semanas recentes, todos os indicadores apontavam para uma melhoria, disseram os três. Os prêmios de risco dos bônus soberanos da Espanha e da Itália caíram significativamente, e as vulnerabilidades de bancos centrais recuaram dos níveis perigosos que haviam alcançado. Essa recuperação poderia ser revertida se fosse negada a ajuda a Chipre. Isto tornaria também mais difícil o retorno financeiro da Irlanda e de Portugal aos mercados financeiros. [Ver postagem anterior sobre Portugal.]

Eles acudiram também com um argumento jurídico a favor de Chipre: o país havia contribuído para o fundo de resgate, tinha portanto o direito de ser por ele assistido.

As conversações para ajuda a Chipre, que solicitou um resgate financeiro que poderia atingir mais de 17 bilhões de euros (US$ 22 bi), entraram em dificuldades por causa de temores na Alemanha e em outras nações europeias de que esse país tenha se tornado um refúgio para dinheiro sujo da Rússia. Chipre nega as acusações de que tenha se tornado um centro de lavagem de dinheiro.
Mario Draghi, presidente do Banco Central Europeu, às turras com o ministro das Finanças alemão Wolfgang Schäuble. - (Foto: Reuters).

Wolgang Schäuble, ministro das Finanças da Alemanha. - (Foto: Google).

Mapa de Chipre (clique na imagem para ampliá-la). Em alaranjado, a parte da ilha de ocupação turca; em amarelo, a parte grega da República de Chipre; em branco, bases soberanas britânicas. - (Mapa: Google).

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