quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Impressora 3D pode ser o eletrodoméstico do futuro

Em seu recente discurso sobre o Estado da União, o presidente Barack Obama mencionou uma tecnologia em ascensão. Ele disse: "Os trabalhadores estão dominando a técnica da impressão 3D, que tem o poder de revolucionar a forma pela qual produzimos quase tudo".

Quando Brook Drumm assistiu a trechos do discurso em sua casa, sentiu vontade de cumprimentar o presidente. Drumm projetou o Printrbot, um kit para impressora 3D. Como alguns outros modelos de impressoras 3D, o seu usa plástico aquecido --aplicado por uma pistola extrusora, camada após camada, sobre uma base aquecida-- a fim de transformar projetos realizados no computador em objetos reais.

Como disse Drumm na campanha que conduziu no site de crowdfunding Kickstarter para capitalizar seu projeto, obtendo mais de US$ 830 mil em 2011, a Printrbot é pequena o bastante para ser posicionada sobre um balcão de cozinha, ao lado da cafeteira elétrica. "O objetivo da companhia", afirmava Drumm em tom ambicioso, "é colocar uma de nossas impressoras em cada casa e em cada escola".

A tecnologia para impressão 3D existe há anos, e o presidente Obama estava se referindo às suas aplicações industriais. Mas há uma crescente sensação de que as impressoras 3D podem ser o eletrodoméstico do futuro, da mesma forma que os computadores pessoais o eram 30 anos atrás.  Como os computadores, as impressoras 3D provaram seu valor inicialmente no setor empresarial, custavam uma fortuna, e no começo eram maiores que uma geladeira. Mas, nos últimos anos, modelos mais compactos começaram a emergir, e futuristas e pessoas que adotaram a impressão 3D como hobby agora concebem um mundo no qual alguém que tenha uma ideia de ferramenta para economizar trabalho --ou que perca o ponteiro das horas de seu relógio de cozinha ou a tampa do vidro de xampu-- poderá simplesmente imprimir sua invenção ou uma peça substituta.

Bre Pettis, executivo-chefe da MakerBot, companhia sediada em Brooklyn que lidera o avanço rumo a impressoras 3D voltadas ao consumidor, já viu a tecnologia em uso prático. "Já ouvimos histórias de pessoas que consertaram processadores de alimentos ou suas cafeteiras", ele diz. Um arquivo de projetos compartilhados administrado pela MakerBot, chamado Thingiverse, no momento tem mais de 36 mil projetos disponíveis para download.

No final do ano passado, a MakerBot abriu o que pode ser a primeira loja dedicada a impressoras 3D, na parte sul de Manhattan. Na loja, modelos de demonstração da Replicator 2, uma máquina esbelta e com estrutura metálica, mais ou menos do tamanho de um micro-ondas e com preço de US$ 2.200, estão em operação constante, imprimindo arquivos criados no Trimble SketchUp ou em outros programas de CAD e produzindo coisas como maquetes ou estojos para smartphones. 

Emmanuel Plat, diretor de parcerias comerciais na divisão de varejo do MoMA (Museu de Arte Moderna de Nova York), disse que, em sua experiência, assistir ao trabalho de uma impressora 3D pode causar um choque de futuro. "Quando as pessoas veem a máquina funcionar, ficam hipnotizadas", afirma.

Potencialidade e Realidade

Mas, apesar de todo o entusiasmo quanto à impressão 3D, continua a existir uma lacuna considerável entre o potencial da tecnologia e sua realidade atual. As cerca de 15 mil pessoas que compraram uma impressora MakerBot são em geral profissionais de design ou pessoas da comunidade dos "makers", cujo hobby é a produção de objetos, e não consumidores comuns, que em muitos casos continuam a enfrentar dificuldades até para programar seus controles remotos. 

Drumm adquiriu um kit dois anos atrás porque desejava que sua família fosse "a primeira do quarteirão a ter uma impressora 3D", disse. Depois de montar a máquina, uma tarefa complicada que exigia conhecimento de soldagem, ele e seu filho de seis anos de idade conseguiram imprimir um abridor de garrafa. "Demorou 45 minutos, e ele era bem ruim, mas me senti encorajado", conta Drumm. "Olha só o que conseguimos fazer sem sair da nossa mesa da cozinha!"

É um sentimento que Pettis espera que venha a ser compartilhado por outros pais. Ele aposta que eles comprarão impressoras 3D para os filhos da mesma forma que sua família comprou um computador pessoal Commodore 64, no começo dos anos 80. As máquinas representam o futuro, segundo ele, e, "pelo custo de um laptop", elas oferecem "uma educação para a indústria".  Ainda assim, ao preço de US$ 2.200, uma Replicator 2 custa mais caro que a maioria dos laptops, e na economia estagnada atual é de se imaginar que as famílias encontram usos mais essenciais para esse dinheiro.

Quando estava projetando a Printrbot, essa foi uma das coisas que Drumm tinha em mente. Ele queria que seu kit fosse fácil de montar e que não precisasse de soldagem, diz, mas acima de tudo queria que fosse barato. Decidiu adotar um preço de cerca de US$ 550. 

Max Lobovsky, um dos criadores da Form 1, uma impressora de mesa 3D, disse que a impressora 3D caseira está em estágio de evolução semelhante ao dos protozoários. "As máquinas precisam ser mais fáceis de usar, ter maior capacidade e oferecer mais aplicativos para uso em casa. Creio que tudo isso ainda esteja faltando hoje". Ele e seu sócio, Natan Linder, conceberam a Form 1, vendida por cerca de US$ 3.300, como uma impressora 3D para profissionais, mas com preço acessível. Em setembro, eles obtiveram mais de US$ 2,9 milhões no Kickstarter, o que prova o entusiasmo do mercado pela ideia.

Hackerspace

Pode ser só questão de tempo para que as impressoras 3D dividam espaço nas estantes caseiras com o laptop ou o televisor. Mas, no momento, elas são encontradas mais comumente em um hackerspace, tipo de clube onde entusiastas se reúnem para trocar informações e resolver os problemas de máquinas que costumam ser complicadas.  Considere quantos problemas causa uma impressora 2D, com seus bloqueios de alimentação de papel e avisos de tinta baixa. As versões 3D usam plástico quente, e você não pode recorrer ao pessoal da informática do escritório para consertá-las.

O Hack Manhattan conduz um evento semanal chamado 3-D Thursday. Certa noite do mês passado, David Reeves e Justin Levinson, dois sócios do clube, estavam sentados diante de uma impressora que Reeves montou usando projetos disponíveis gratuitamente on-line.  Em um circuito de realimentação perpétua digno de um filme de ficção científica, Reeves, um cientista experimental que gosta de construir engenhocas, estava usando sua impressora 3D para produzir peças para outra impressora 3D.

Levinson, editor da revista "Makeshift", cujo tema são invenções caseiras criativas, diz que consegue pensar em pelo menos um uso prático para uma impressora 3D: o forno da casa está com um queimador quebrado, e já não existem peças de reposição. "Objetos inteiros são inutilizados porque uma porcaria de uma peça plástica quebrou", ele diz. Se for possível imprimir um sobressalente, "o ciclo de vida dos objetos pode ser alongado".  Mas Levinson ainda não tem uma impressora 3D em casa, e talvez seja inteligente de sua parte não comprar uma delas por enquanto.

Outro dos associados do clube, Jim Galvin, programador de iluminação para produções de cinema e TV, diz ter gasto quase US$ 1.000 em uma Cupcake, um dos primeiros modelos de impressora 3D da MakerBot. Ela funcionou para imprimir um suporte de iPhone para uso em seu carro. Mas ele se queixa: "Tudo que imprimi, precisei imprimir pelo menos oito vezes até acertar". E a Cupcake enguiçava frequentemente. "Acabei virando mecânico de impressoras 3D, e não era isso que eu queria ser".

Fica claro que, a despeito dos desafios técnicos e dos custos, todos os presentes estavam tão entusiasmados com a nova tecnologia quanto Galvin. Ao longo da noite, eles conversaram sobre os diversos tipos de plástico, trocaram dicas sobre funcionamento e falaram sobre novos desdobramentos que viram ou sobre os quais ouviram e sobre como a impressão 3D vai gerar a revolução que Obama previu em seu discurso.  Se você fechasse os olhos, poderia quase se imaginar em uma sala do Vale do Silício nos anos 70, ouvindo as conversas dos pioneiros da programação de computadores que cantavam as virtudes dos computadores pessoais. E todos nós sabemos aonde isso nos levou.

As Máquinas

Há dezenas de modelos de impressoras para que os compradores escolham, hoje em dia. Pedimos a David Reeves, do clube Hack Manhattan, que criou uma impressora 3D e experimentou diversos modelos, que dissesse o que pensa sobre algumas. 

REPLICATOR 2, DA MAKERBOT

Custo: Cerca de US$ 2.000
 
O que você precisa saber: A impressora ideal é a que pode imprimir rápido sem sacrificar a qualidade. A qualidade de impressão da Replicator 2, segundo Reeves, é melhor que a de qualquer outra máquina que ele tenha usado. Embora a publicidade afirme que ela pode ser usada como vem, na caixa, Reeves afirmou que a que ele experimentou precisou de ajustes de software. Além disso, o preço é meio salgado.

PRUSA MENDEL

Custo: Cerca de US$ 750

O que você precisa saber: A Mendel surgiu do projeto RepRap, uma iniciativa de fonte aberta cujo objetivo era criar uma impressora 3D barata e capaz de se reproduzir. Reeves construiu sua Mendel com componentes comprados on-line e disse que ela vem se provando muito durável. Talvez o melhor sobre ela é que o design é atualizado frequentemente --os proprietários podem baixar os arquivos gratuitamente e imprimir peças novas.

FORM 1

Custo: Cerca de US$ 3.300

O que você precisa saber: A Form 1 foi um projeto de imenso sucesso no Kickstarter e talvez seja a impressora 3D de aparência mais bacana do mercado. Usa tecnologia diferente das demais impressoras (chamada estereolitografia, para produzir impressões de maior resolução usando laser, segundo a companhia), e isso explica o preço alto. Reeves diz que não conhece a Form 1 o bastante para oferecer opinião, ainda que tenha dito que ela vem pronta para operar, e não em forma de kit. "São máquinas complexas, com hardware e software complexos", disse Reeves, acrescentando que montar uma impressora sem ajuda "pode ser frustrante até para quem está acostumado com isso".    

PRINTRBOT JR, DA PRINTRBOT

Custo: Cerca de US$ 400

O que você precisa saber: Um dos membros do Hack Manhattan tem uma Printrbot Jr., e Reeves se declara "realmente impressionado com a qualidade de impressão". O preço também é atraente para os iniciantes, assim como o tamanho compacto (ela é fácil de transportar). Um lado negativo para quem não está acostumado a lidar com esse tipo de máquina é que ela é vendida como kit; outro é que o tamanho do leito limita o tamanho dos objetos que se pode imprimir com a Printrbot Jr.  

Leia mais:

Brook Drumm com impressoras 3D que ele monta em sua casa, em Lincoln, na Califórnia Leia mais - (Foto: Jim Wilson/The New York Times).

Uma impressora 3D feita por Brook Drumm em sua casa, em Lincoln, na Califórnia Leia mais - (Foto: Jim Wilson/The New York Times). 

 Matthew Duepner, 15, trabalha em sua impressora 3D Printrbot Jr., em Nova York Leia mais - (Foto: Robert Wright/The New York Times).

 Matthew Duepner, 15, usa uma impressora 3D Printrbot Jr. para imprimir uma casinha Leia mais - (Foto: Robert Wright/The New York Times).

 Impressora 3D da MakerBot imprime uma casinha Leia mais - (Foto: Robert Wright/The New York Times).

Robby O’Connel (à dir.) e David Reeves usam computador para controlar uma impressora 3D, em Nova York Leia mais - (Foto: Robert Wright/The New York Times).




Um comentário:

  1. Amigo VASCO:

    Espere até o momento que aqueles de "olhinhos puxados" descobrirem que isso vai dar muito dinheiro!!!!!

    Abraços - LEVY

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