quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

EUA acusam S&P de fraude e exigem mais de US$ 5 bi de indenização

[Finalmente um governo decide levar uma agência de classificação de risco aos tribunais. A insatisfação com essas agências, que têm um poder absurdo e injustificável, é crescente. Desde 2011 a UE (União Europeia) deseja enquadrá-las. Os EUA têm a S&P (Standard and Poor's) atravessada na garganta desde que ela rebaixou sua nota AAA para AA+ em agosto de 2011. Nesse mesmo mês de agosto, o governo americano iniciou uma investigação para verificar se empregados da S&P haviam vazado informação sobre o rebaixamento de sua nota.  Reproduzo a seguir trechos das reportagens do The Wall Street Journal, do Washington Post e do El País sobre o assunto. O que estiver entre colchetes e em itálico é de minha responsabilidade.]

O governo americano quer que a agência de classificação de risco Standard and Poor's (S&P) pague mais de US$ 5 bilhões -- aproximadamente o que sua controladora [a McGraw-Hill] ganhou nos últimos sete anos -- por haver dado seu selo de aprovação a hipotecas de alto risco (subprime mortgages) que acabaram virando pó, custando bilhões aos investidores e colaborando para afundar a economia do país.

A ação legal, deflagrada em um tribunal federal em Los Angeles, representa a iniciativa mais agressiva já tomada pelo Departamento de Justiça para responsabilizar empresas que estiveram no centro da crise financeira.

"Espero que estejamos ricos e aposentados quando esse castelo de cartas desmoronar", escreveu um empregado da S&P a um colega em 2006. Em outra mensagem, um analista da S&P comenta com um banqueiro de investimentos:  "A diretoria estava preocupada por foder tantos clientes". A resposta do banqueiro: "Pagamos vocês para classificar nossos negócios, e quanto melhor a classificação maior o nosso lucro. E daí, qual o problema? Como é que vocês podem sequer imaginar em ser imparciais?!". O Departamento de Justiça americano examinou milhões de correios eletrônicos para a demanda judicial que apresentou ontem (terça-feira) na Califórnia contra aquela agência de classificação de risco, por ela haver inflado a nota dos pacotes de dívida pública estruturados com hipotecas "lixo", de alto risco. Na ação, o governo está acompanhado por 14 estados e o Distrito de Colúmbia.  É a primeira ação legal tomada nos EUA contra uma empresa dessa natureza, pelo papel desempenhado por esta na maior crise financeira no país desde a Grande Recessão. O governo acusa a S&P de uma fraude que provocou perdas de mais de US$ 5 bi (mais de 3,7 bilhões de euros).

Na documentação apresentada ao tribunal, o Departamento de Justiça assinala que "a S&P sabia que esses ativos da dívida não tinham uma classificação suficientemente alta, a maioria das instituições financeiras não havia investido neles". E acusa a agência de enganar os investidores ao dizer-lhes que a nota era objetiva, independente e sem conflitos de interesse [as agências de risco são pagas pelas empresas que classificam, o que obviamente configura conflito de interesses].  Tudo isso era falso, segundo o procurador-geral Eric Holder.

A ação legal cobre o período que vai de setembro de 2004 a outubro de 2007, que coincide com a forte valorização do mercado imobiliário nos EUA até que começaram a tornar-se evidentes os primeiros sintomas da crise. A administração Barack Obama insiste em que tudo era falso, e que por trás dessa classificação exorbitada estava o desejo da filial da McGraw-Hill de "aumentar sua receita e sua quota" no mercado da dívida hipotecária.

Prevê-se que a ação será longa, pelo que não se descarta um acordo extrajudicial. A primeira tentativa nesse sentido fracassou, porque a S&P não concordou com o grau de responsabilidade que lhe foi atribuído pelo Departamento de Justiça nem com a indenização por ele pleiteada. O Departamento, por sua vez, negou qualquer fundo político em sua iniciativa e qualquer vínculo disso com o fato de a S&P haver rebaixado a nota americana em 2011.

A Moody's, outra das grandes agências de classificação de risco do país, não foi envolvida na ação do governo americano, embora muitos analistas digam que seu comportamento durante aquele período foi no mínimo tão chocante quanto o da S&P. Os bancos que emitiram os produtos podres também não foram acusados.

Um comentário:

  1. Provavelmente vou escrever uma bobagem (como se fosse o Comendador Acácio) mas... da mesma forma que dizem "os advogados existem por causa dos advogados (sic)", acho que essas agências (poderosas que são) criam fatos que elas mesmas vão analisar, criticar e, através delas, vão estabelecer um novo paradigma qualquer. Tenho asco desse tipo de economia em exercício e até vencedora, fruto de uma economia planetária onde até "pequenos assassinados ou genocídios sub-repticícios" passam para um segundo plano de forma imperceptível e tornam-se até aceitáveis(?)". Resumindo: engenheiro meio fracassado que sou, sob o olhar carrancudo do meu imposto de renda, ainda faço alguns estudos e projetinhos, crivados e criticados por (nessa seguência): capitalistas, economistas, advogados, contadores, curiosos, outros. No fim da fila, lá estou eu, atendendo a prazos mínimos indecentes e a margens de lucro inomináveis (dos contratantes). O culpado sou eu mesmo, fazêuquê?.

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