Nesses quatro anos, o salário de Patrícia, que era de R$ 900 por mês, quadruplicou. "Sempre batalhei. Agora, tenho reconhecimento e posso dar uma vida mais confortável para minha família", diz a consultora, que também é mãe de um menino de quatro anos.
A assistente de recursos humanos Edilaine Martins Borges conta história parecida. Ela viu seu salário subir depois que entrou na faculdade, há cerca de um ano e meio. Com a renda extra, Edilaine planeja pagar um curso de inglês para a filha Larissa, de 15 anos, que já estuda em escola privada há três anos. O aumento da renda, diz Edilaine, garantiu maior contato entre mãe e filha. "Agora, vamos juntas ao cabeleireiro, à manicure e às sessões de depilação. Temos mais tempo para nós", afirma. Recentemente, ela comprou um carro e não hesitou em fazer uma despesa a mais para colocá-lo no seguro.
Patrícia e Edilaine são representantes de uma classe média que, nos
últimos anos, está mudando o perfil do Brasil. De 2002 a 2012, a classe
média brasileira ganhou 37 milhões de novos participantes, pessoas que
deixaram de apenas sobreviver para se tornarem consumidores. Esse
fenômeno, que elevou de 38% para 52% a participação da classe C na
pirâmide social do país, ampliou a demanda por serviços em cerca de 33%,
segundo levantamento do Data Popular. Uma década atrás, a classe média
gastava 49,7% de sua renda com serviços. Neste ano, a expectativa é que
tais despesas cheguem a 66,3% dos rendimentos. [Um dos vários efeitos inevitáveis dessa massa de novos participantes da classe média é uma pressão maior na demanda de energia elétrica, o que reforça a necessidade de maior qualidade e eficiência no setor elétrico do país.]
"Os fartos reajustes no salário mínimo, o aumento e a formalização do
emprego nos últimos anos levaram a esse cenário", diz o sócio-diretor do
Data Popular, Renato Meirelles. Entre 2002 e 2012, o salário mínimo
subiu 172,5%, superando de longe a inflação no período, de 76,6%. O
resultado foi um ganho real de 54,3% nesse intervalo, o que influenciou
os acordos salariais, principalmente das categorias de menor rendimento. A mais recente Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) mostra
que, de 2007 para 2011, o aumento salarial real dos 20% da população
com menor renda foi de 36,8%, ao passo que o reajuste para os 10% mais
abonados foi de 7,9%. Ou seja, quanto menor o salário, maior o reajuste.
Os gastos da classe média em 2013 -- despesas prevista para este ano (em R$ bilhões) - (Ilustração: Valor Econômico -- clique na imagem para ampliá-la).
Paralelamente ao avanço do rendimento, o país presenciou a queda no
desemprego, com a taxa de desocupação passando de 9,3% para 6% nesse
mesmo intervalo. A expectativa dos economistas é que em 2012 esse
percentual seja ainda mais baixo, em torno de 5,5%. "O setor de serviços é o principal gerador de emprego e renda no país.
Ele é responsável pelos dois lados da moeda. Por um lado, é o que mais
contribui para a expansão do consumo e, por outro, sofre os impactos dos
aumentos de custos", observa o presidente do Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada (Ipea), Marcelo Neri.
Empregados e com mais dinheiro no bolso, os brasileiros foram além do
estritamente essencial. Buscaram aqueles serviços que até então não
faziam parte de seu dia a dia, e os preços rapidamente subiram. Em 2007,
a inflação de serviços superava levemente o Índice Nacional de Preços
ao Consumidor Amplo (IPCA). A diferença era de 0,7 ponto percentual, com
o IPCA subindo 4,5% no período em que os serviços aumentaram 5,2%.
Cinco anos depois, a inflação de serviços já se mostrava três pontos
percentuais acima do IPCA. No ano passado, os serviços aumentaram 8,8%,
enquanto o IPCA teve alta de 5,8%.
Nos serviços pessoais, a pressão foi ainda maior. Os preços subiram 9,8% no ano passado, bem mais que os 7,6% verificados em 2007. Empregado doméstico, manicure e depilação aumentaram mais de 10% somente no ano passado. "As pessoas estão mudando seus hábitos. Há uma demanda reprimida que agora começa a ser atendida", diz Neri. Essa transformação é muito clara entre os serviços ligados ao lazer. No ano passado, excursões e passagens aéreas lideraram as altas no segmento, subindo 15,3% e 26%, respectivamente. Neste período, o tráfego de passageiros nos aeroportos do país aumentou 6,5%, de acordo com a Infraero, e as vendas de pacotes de viagem cresceram aproximadamente 8%, segundo a Associação Brasileira de Agências de Viagens (Abav).
Em 2013, a classe média é a que mais pretende viajar. O estudo do Data Popular mostra que, dos 27 milhões de brasileiros que têm planos de explorar os atrativos turísticos do Brasil, 15 milhões - 55% do total - são da classe C. Nas viagens internacionais, a classe média também é maioria. Representa 46% dos 7 milhões de brasileiros que planejam viajar para o exterior neste ano, enquanto 33% são da alta classe e 21% das camadas mais baixas. Pelos cálculos da Abav, as vendas de pacotes turísticos crescerão entre 8% e 10% neste ano. "Nos serviços também vale a lei de oferta e demanda, com um agravante: não se pode importar serviços. Como a demanda cresce mais rápido que a oferta, o resultado é inflação", observa Meirelles.
Nos serviços pessoais, a pressão foi ainda maior. Os preços subiram 9,8% no ano passado, bem mais que os 7,6% verificados em 2007. Empregado doméstico, manicure e depilação aumentaram mais de 10% somente no ano passado. "As pessoas estão mudando seus hábitos. Há uma demanda reprimida que agora começa a ser atendida", diz Neri. Essa transformação é muito clara entre os serviços ligados ao lazer. No ano passado, excursões e passagens aéreas lideraram as altas no segmento, subindo 15,3% e 26%, respectivamente. Neste período, o tráfego de passageiros nos aeroportos do país aumentou 6,5%, de acordo com a Infraero, e as vendas de pacotes de viagem cresceram aproximadamente 8%, segundo a Associação Brasileira de Agências de Viagens (Abav).
Em 2013, a classe média é a que mais pretende viajar. O estudo do Data Popular mostra que, dos 27 milhões de brasileiros que têm planos de explorar os atrativos turísticos do Brasil, 15 milhões - 55% do total - são da classe C. Nas viagens internacionais, a classe média também é maioria. Representa 46% dos 7 milhões de brasileiros que planejam viajar para o exterior neste ano, enquanto 33% são da alta classe e 21% das camadas mais baixas. Pelos cálculos da Abav, as vendas de pacotes turísticos crescerão entre 8% e 10% neste ano. "Nos serviços também vale a lei de oferta e demanda, com um agravante: não se pode importar serviços. Como a demanda cresce mais rápido que a oferta, o resultado é inflação", observa Meirelles.
Edilaine Martins Borges: aumento de renda depois que entrou na
faculdade, há um ano e meio, permitiu a compra de um carro e que faça
planos para matricular a filha Larissa num curso de inglês. - (Foto: Valor Econômico).
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