Na política, terceirização é uma palavra tendenciosa. Mas, nos negócios, é uma atividade vital, uma enorme fonte de lucros. Ninguém sabe disso melhor que S.D. Shibulal, cofundador e atual CEO da Infosys Limited. Iniciada em 1981 com 7 empregados e modestos US$ 250, a Infosys tem hoje uma receita anual de US$ 7,23 bilhões, um valor de mercado de US$ 30 bi, e 155.000 empregados em 12 países [incluindo o Brasil, onde abriu sua filial Infosys Tecnologia do Brasil Ltda em 2009]. Ela percorreu um longo caminho, desde centrais de atendimento (call centers) e serviços de apoio (help desks), até tornar-se a consultora externa em TI e comércio virtual (e-commerce) das principais corporações do mundo. "As dimensões de valor são muito mais complexas hoje em dia", me diz Shibulal em uma sala sossegada no Fórum Econômico Mundial no mês passado em Davos, Suiça.
O início da terceirização surgiu quando empresas americanas contrataram, com salários muito menores, pessoas no exterior para executar serviços de apoio extremamente monótonos e nada criativos. Esse trabalho responde ainda por 60% do negócio da Infosys, mas a empresa prefere ser considerada como uma consultora de ponta, como a McKinsey, e não uma substituta barata para o departamento de TI. Um terço da receita da empresa vem de "consultoria e inovação de sistemas", diz Shibulal, um homem de um falar extremamente suave. Outros 6% vêm de "produtos e plataforma" -- por exemplo, um novo posto de venda de celulares para a Nordstrom. Em 2012, a Infosys desembolsou US$ 350 milhões para comprar a Lodestone, uma empresa europeia de gerenciamento.
Nascido exatos oito anos após a independência da Índia [que se deu em 1947], Shibulal tem dirigido o sucesso da Infosys para tornar-se o 77° homem mais rico da Índia (patrimônio líquido: US$ 770 milhões). Os sucessos dos ricos globais da Índia dividem manchetes com notícias desagradáveis de corrupção política, problemas sociais e uma pobreza profundamente arraigada. "Todos os países emergentes são países de contradições. A Índia não é diferente", diz ele, e então despeja estatísticas que fariam Tom Friedman babar. "A Índia produz um milhão de engenheiros que dominam o inglês [barbaridade, tchê!], mas temos 14 milhões de crianças que não estão na escola [cerca de 1,2% da população do país, para uma população total de 1,2 bi -- o Brasil, até agosto de 2012 segundo relatório da Unicef, tinha 1.419.981 crianças de 4 a 5 anos que não estavam matriculadas no sistema de ensino, o que dá cerca de 0,7% numa população de 192 milhões]. Temos 70% de nossos serviços de saúde nas cidades, mas 70% da nossa população vivem em áreas rurais".
Shibulal mora em Boston e Bangalore, mas vive "num avião" e seus olhos cansados demonstram isso. É previsivelmente otimista sobre o futuro da Índia. "Quando cresci, tínhamos 30 milhões de pessoas na classe média -- hoje, esse número é de 350 milhões", diz ele. A Índia se provou adepta de "inovações frugais" que garantem, a preços muito menores, acesso a bens com os quais os consumidores dos países desenvolvidos estão acostumados sem dar-lhes o devido valor. Shibulal cita o Tata Nano, um microcarro vendido a US$ 3.000, e uma máquina que pode tirar eletrocardiogramas por um dólar. Empresas americanas, ele comenta, podem prosperar na Índia simplesmente fabricando um refrigerador menor e mais barato. "Ainda assim, não há energia elétrica para ele", diz ele. "O problema é criar um regrigerador novo, capaz de manter-se frio mesmo que a energia falte durante duas horas".
Shibulal mora em Boston e Bangalore, mas vive "num avião" e seus olhos cansados demonstram isso. É previsivelmente otimista sobre o futuro da Índia. "Quando cresci, tínhamos 30 milhões de pessoas na classe média -- hoje, esse número é de 350 milhões", diz ele. A Índia se provou adepta de "inovações frugais" que garantem, a preços muito menores, acesso a bens com os quais os consumidores dos países desenvolvidos estão acostumados sem dar-lhes o devido valor. Shibulal cita o Tata Nano, um microcarro vendido a US$ 3.000, e uma máquina que pode tirar eletrocardiogramas por um dólar. Empresas americanas, ele comenta, podem prosperar na Índia simplesmente fabricando um refrigerador menor e mais barato. "Ainda assim, não há energia elétrica para ele", diz ele. "O problema é criar um regrigerador novo, capaz de manter-se frio mesmo que a energia falte durante duas horas".
Quando lhe pergunto o que faz a Infosys para garantir que consiga operar com padrões globais dentro da Índia, os olhos de Shibulal se iluminam. "Você perguntou, então não consigo resistir". Pegou um tablet e mostrou um giro aéreo sobre um campus de 400 acres [cerca de 1,6 milhão de m²] em Mysore, a cerca de 145 km a sudoeste de Bangalore. É do tamanho de uma universidade: 93.000 m² de salas de aula, um centro de desenvolvimento de software que pode abrigar 10.000 pessoas, e edifícios residenciais que alojam 14.000 empregados (nos telhados dos prédios lê-se do alto INFOSYS) [isso é de cair o queixo -- é iniciativa de uma única empresa! Pobre Brasil!]. "Você quer ver nossas instalações para coletar água de chuva?", ele pergunta, focalizando um enorme reservatório. "É um local de descarga zero. Cada gota d'água que captamos nós a bombeamos de volta para o meio ambiente". O campus tem uma praça de alimentação, um restaurante, um cinema, e um campo de cricket.
Aquilo podia ser uma instalação no Vale do Silício, ou na suburbana Cincinatti. Na realidade, o terceirizador indiano está hoje contratando pessoas nos EUA -- 400 delas no último trimestre. "Os EUA são quem mais gasta na nossa área, e trabalhamos com muitas grandes corporações localizadas lá. Sendo assim, fazemos recrutamento no mercado local", diz Shibulal. Entretanto, ele -- que tem mestrado pela Universidade de Boston e passou cinco anos na Sun Microsystems -- lamenta a escassez de engenheiros e operários de tecnologia nos EUA [imagine o perrengue que a Infosys brasileira deve passar quanto a esses tipos de mão de obra no país!]. "Na nossa indústria, nos EUA, o desemprego é de 3,5%", diz ele. "Ainda assim, enquanto estamos recrutando pessoas em grandes números nos EUA, temos tido dificuldade para encontrar mão de obra mesmo com o desemprego existente".
Aquilo podia ser uma instalação no Vale do Silício, ou na suburbana Cincinatti. Na realidade, o terceirizador indiano está hoje contratando pessoas nos EUA -- 400 delas no último trimestre. "Os EUA são quem mais gasta na nossa área, e trabalhamos com muitas grandes corporações localizadas lá. Sendo assim, fazemos recrutamento no mercado local", diz Shibulal. Entretanto, ele -- que tem mestrado pela Universidade de Boston e passou cinco anos na Sun Microsystems -- lamenta a escassez de engenheiros e operários de tecnologia nos EUA [imagine o perrengue que a Infosys brasileira deve passar quanto a esses tipos de mão de obra no país!]. "Na nossa indústria, nos EUA, o desemprego é de 3,5%", diz ele. "Ainda assim, enquanto estamos recrutando pessoas em grandes números nos EUA, temos tido dificuldade para encontrar mão de obra mesmo com o desemprego existente".
S.D. Shibulal, CEO da infosys - (Foto: Adeel Halim/Bloomberg, via Getty).
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