[Mais um texto exemplar de Dora Kramer, publicado hoje no jornal o Estado de S. Paulo.]
O PT faz acordo
para levar um denunciado e um investigado pelo Ministério Público às
presidências do Senado e da Câmara, financia partidos para atraí-los à
base governista, correligionários de altas patentes são condenados à
prisão e, segundo o presidente do partido, a "oposição apartidária" é
que desmoraliza a política. Que tal?
Isso para falar do
presente, sem contar o passado de uma vida dedicada a desancar Deus, o
mundo e seu Raimundo. Os correligionários de hoje eram os "picaretas",
"ladrões" e "bandidos"de ontem, contra os quais o PT prometia combate
ferrenho quando, e se, chegasse ao poder. Pois há dez anos
chegou e é o que se vê: não bastasse se aliar, festeja os piores tipos,
elevando o que antigamente formava o baixo clero à condição de
cardinalato do Congresso.
E com a
tranquilidade dos puros, mas a sagacidade dos astutos, Rui Falcão, o
presidente do PT, acusa Ministério Público e meios de comunicação
independentes de tramarem contra a atividade política. Oferece lições que
dariam ensejo a preocupações quanto à sanidade do professor, não
flertassem firmemente com o ridículo. Diz Falcão: "São esses a quem
nomeei que tentam interditar a política no Brasil. Quando
desqualificamos a política a gente abre espaço para aventuras golpistas.
A gente abre espaço para experiências que no passado levaram ao nazismo
e ao fascismo".
Faltou acrescentar
um fator essencial na desconstrução do valor democrático numa sociedade:
o populismo (ovo da serpente do autoritarismo), ao qual o PT se dedica
com afinco no estímulo ao culto da personalidade e à desmoralização da
massa crítica. A ofensiva é clara:
o petista ataca a "oposição apartidária" porque sabe que a partidária
está dominada, nas cordas, sem força para preservar o indispensável
exercício do contraditório sem o qual restam o silêncio, a concordância,
a eliminação do debate, a alternância. E o objetivo é esse
mesmo: exercer o poder sem ser contraditado em nada e por coisa alguma,
a fim de que apenas a voz do poder da vez prevaleça.
O PT, contudo, deve
tomar cuidado com seus impulsos de eliminação porque, quando não há
oposição de lado algum, as posições antagônicas tendem a nascer e a
crescer dentro da situação. E aí, alertam os que já viveram essa
situação em passado não muito distante - mais especificamente no governo
Fernando Henrique, personificada na figura de Antonio Carlos Magalhães -
instala-se um verdadeiro inferno.
É hoje o dia. O
Senado, que é um pálido retrato do que já foi e agora caminha rumo ao
lixo da História, perde autonomia, autoridade moral e também
legitimidade na representação dos Estados. Há 21 suplentes entre os 81 parlamentares da Casa. É isso: um quarto do Senado exerce mandato sem ter recebido um voto. A suplência ali é
composta por dois nomes indicados pelo titular da chapa e escolhidos
entre amigos, parentes e financiadores de campanha que não passam pelo
crivo das urnas. Na maioria dos casos assumem a cadeira devido a licenças pedidas para garantir ao substituto biônico uma temporada no paraíso.
Compressor. O líder
do governo no Senado, Eduardo Braga, lá por meados do segundo semestre
de 2012 chegou a pensar seriamente em concorrer à presidência da Casa. Chegou a fazer
algumas consultas informais sobre sua chance contra o desejo de Renan
Calheiros de voltar. Hipótese, na ocasião, que aos de bom senso parecia
absurda. Braga é ovelha desgarrada do grupo de senadores independentes do PMDB que resiste a se entregar ao palácio do Planalto e àdupla Calheiros-Sarney.
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