domingo, 3 de fevereiro de 2013

Saída portenha: repreendida pelo FMI, Argentina decide criar novo índice de preços

[A partir de 2007, principalmente, no início do governo de Cristina Kirchner, a Argentina começou a manipular os dados do Indec (o IBGE argentino). O país passou a conviver com duplicidade de índices e estatísticas, os do governo (sempre cor-de-rosa) e os de economistas independentes e consultorias econômicas -- no tocante à inflação, po exemplo, a diferença é praticamente de 1 para 2 (ou até mais) entre os dados oficiais e os privados. Um caos. A malandragem chegou a tal ponto que, em fevereiro de 2012, a revista The Economist publicou um editorial com o título "Não minta p'ra mim, Argentina", informando que a partir de então não publicaria mais estatísticas oficiais do governo argentino. Agora, quem perdeu a paciência foi o FMI (Fundo Monetário Internacional), que deu um enérgico e inédito puxão de orelha no governo argentino e o intimou a ser honesto e confiável com seus números. A reportagem abaixo é da Folha de S. Paulo.]

A Argentina vai lançar um novo índice de preços domésticos no fim deste ano, disse neste sábado (2) o ministro da Economia, Hernán Lorenzino, um dia após o FMI (Fundo Monetário Internacional) censurar publicamente o país devido à falta de credibilidade de suas estatísticas.

É a primeira vez na história da entidade que um país é advertido dessa forma. 

Segundo a Bloomberg, a Argentina se tornou o primeiro país a ser criticado pelo FMI por índices econômicos oficiais pouco confiáveis. A Tchecoslováquia teria rompido com a instituição em 1984 pelo mesmo motivo, e Cuba, em 1964, quando ainda não havia a regra do aviso prévio. "Vamos ter um IPC [Índice de Preços ao Consumidor] nacional que vai substituir o IPC-GBA [que contempla somente a província de Buenos Aires]", disse o ministro à rádio local La Red.

O país sofre há anos com uma crescente inflação, e está trabalhando desde 2011 em uma nova medição de preços locais em todo o país para substituir o questionado sistema atual.  É grande a suspeita de que a verdadeira alta de preços dos produtos argentinos esteja subestimada pelo atual IPC. O índice serve de base para o cálculo dos pagamentos da dívida pública ajustados à inflação.

Advertências

Junto com a "declaração de censura", o FMI concedeu até 29 de setembro para que o país tome alguma medida. A decisão já era esperada, uma vez que a diretora do fundo, Christine Lagarde, vem chamando a atenção do governo argentino nos últimos meses. Em dezembro, ela já havia apresentado um relatório sobre a má qualidade das estatísticas argentinas.  O país já havia recebido outras advertências, uma em julho de 2011, depois da visita de técnicos do órgão, e outra em setembro de 2012, em que se apontava que não havia havido progressos do país nesse sentido.

A declaração da entidade não tem efeitos imediatos, mas economistas apontam que a declaração de censura é o primeiro passo no procedimento previsto pelo FMI para expulsar um país que não apresenta estatísticas confiáveis do organismo multilateral. O segundo seria impedir o acesso a empréstimos, e o terceiro, perder o direito a voto.

Insuficiente

"O comitê executivo considerou insuficiente o progresso da Argentina em implementar as medidas de correção", diz o comunicado do FMI [ver declaração oficial do Fundo].  A entidade informou ter solicitado ao país, em setembro de 2012, índices mais confiáveis sobre seu PIB e seu IPC-GBA (Índice de Preços ao Consumidor da Grande Buenos Aires). De acordo com o comunicado emitido ontem, o fundo deverá informar novamente o Idec --órgão similar ao IBGE brasileiro-- sobre o caso em 13 de novembro. "Nesse momento, o diretório revisará novamente o tema e a resposta argentina em linha com os procedimentos do fundo".

Intervenção

Economistas e políticos colocam em dúvida estatísticas oficiais argentinas desde 2007, quando Néstor Kirchner (1950-2010), então presidente, interveio no Idec e substituiu economistas de carreira na instituição. Outros números do órgão são questionados, como o que mede a pobreza e o valor da cesta básica. Seu governo e o de sua sucessora, a viúva de Néstor, Cristina Kirchner, negam que o Idec manipule os dados. Os índices variam enormemente desde então. Em 2012, consultorias privadas afirmam que a Argentina teve 25,6% de inflação; o governo afirma que a alta foi de 10,8%.

[A situação da Argentina perante as instituições financeiras internacionais é complicada e tensa desde 2002, quando o país empreendeu uma "reestruturação" de sua dívida pública de 2001 que foi interpretada como calote por aquela comunidade.  Em novembro de 2012, um tribunal de Nova Iorque deu um ultimato ao governo argentino para que pagasse até 15 de dezembro um resíduo da dívida sobre a qual declarou calote em 2002. No mesmo novembro, a agência Fitch cortou a nota da Argentina para perto do nível de "calote".

A situação é tal, que Cristina Kirchner fretou um jato particular para sua viagem oficial à Ásia e ao Oriente Médio no final de janeiro próximo passado, com medo de que seu avião presidencial Tango 01 fosse arrestado por credores do país.

Depois do puxão de orelha do FMI, o governo argentino reagiu duramente através de seu ministro da Economia, Hernán Lorenzino, e da própria Cristina Kirchner via Twitter (maneira bizarra de uma presidente manifestar-se contra uma instituição financeira internacional), fez seu teatrozinho, esperneou, mas acabou cedendo. O jornal argentino La Nación informou que, com o novo índice, espera-se que haja um "sinceramiento" da inflação (ou seja, torná-la mais sincera e real).  A ideia é, segundo o jornal, que o novo índice passe a chamar-se "nacional" e seja diferente do que hoje mede a inflação na capital Buenos Aires e na Grande Buenos Aires. Isso é mais do que uma sutileza técnica, sublinha o La Nación, porque permitiria a convivência dos dois índices e evitaria reconhecer que um deles estava "equivocado", o que poderia tornar-se uma arma letal em processos judiciais contra o país.]

Um comentário:

  1. Amigo VASCO:
    Evidentemente não sou especialista emmeconomia latino-americana.mas me parece que essa mania de maquiar resultados econômicos aqui na America LATRINA, não é novodade.
    Se bem me lembro, você já fez comentários sobre a maquiagem das contas brasileiras, onde até "resultados futuros da PETROBRÁS" foram utilizados para fechar as nossas contas.
    Enquanto a Argentina tiver na presidência a CRETINA Kirchner, os argentinos vão ter que aguentar. Aqui não é diferente: temos que aguentar a PresidANTA DILMA e o ministro Guido MANTEIGA (por escorregadio que é) até que a PLEBE IGNARA resolva colocar gente séria no governo.
    Nãoficarei surpreso se a Argentina vier a instituir algo como o Bolsa-Família.
    Abraços - LEVY

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