quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Taxa de fertilidade cai nos EUA e vai pressionar défice

A crise econômica que começou em 2007, se agravou em 2008 e ainda está por ser superada faz estragos na taxa de fertilidade nos EUA, que já mostrava uma tendência de queda no longo prazo. O número de filhos por mulher, que ficara 2,12 em 2007, entrou em baixa nos anos seguintes, atingindo um pouco menos de 1,9 em 2011, segundo números preliminares do Centro Nacional de Estatísticas de Saúde. E isso afeta a economia.

A fraqueza da atividade econômica no pós-crise contribuiu para o recuo, dizem especialistas, que ressaltam ainda fatores estruturais a empurrar para baixo a taxa de fertilidade americana. O maior nível de educação das mulheres, a crescente participação feminina no mercado de trabalho, o uso disseminado de contraceptivos e casamentos mais tardios têm levado a um número menor de filhos. O cenário americano ainda é bem diferente do registrado em países como Alemanha, Itália e Japão, onde a taxa de fertilidade está na casa de 1,4, mas a trajetória causa preocupação, pelo impacto que uma população em processo de rápido envelhecimento pode ter sobre a previdência social e o sistema de saúde para os idosos, o Medicare. Há quem diga que até mesmo a capacidade de inovação da sociedade tende a diminuir.

 Trajetória de queda da taxa de fertilidade nos EUA (clique na imagem para ampliá-la) - (Gráfico: Valor Econômico).

A imigração pode ajudar a atenuar esses problemas, mas aí também há limites. A fertilidade vem caindo nos países de onde saem os imigrantes para os EUA, como o México. E, nos EUA, o declínio se dá em todas as etnias, diz Mark Mather, vice-presidente associado para programas domésticos do Centro de Referência para População. Entre mulheres latinas, a taxa caiu de 3, em 1990, para 2,4 em 2010.  "Nos últimos três anos, o fluxo imigratório entre México e EUA ficou zerado", destacou o jornalista Jonathan Last, autor do livro recém-lançado "O que Esperar Quando Ninguém Está Esperando: o Desastre Demográfico Americano se Aproxima", em palestra feita no começo do mês no American Enterprise Institute (AEI), um centro de estudos conservador.

A crise tornou os EUA menos atraente para os imigrantes nos últimos anos, mas o tombo da fertilidade mexicana também ajuda a explicar esse fenômeno, considera Last. De 1970 para cá, a taxa no México caiu de quase 7 filhos por mulher para a casa de 2,1 - o nível que os demógrafos chamam de taxa de reposição, aquela que mantém a população constante. O número é um pouco superior a dois para compensar as pessoas que morrem antes de atingir a idade reprodutiva. O Brasil também passa por uma transição demográfica importante, com a taxa de fertilidade recuando de quase 6, em 1970, para 1,86 em 2010, segundo o IBGE.

Quando houver uma recuperação mais firme da economia americana, a fertilidade deve ter um "repique", dizem demógrafos como Mather, embora pareça remota a perspectiva de um aumento forte do número de filhos por mulher, dadas as questões estruturais que afetam a decisão de ter filhos. Segundo ele, em crises anteriores a taxa também caiu, como nos anos 70, quando a economia sofria os efeitos do choque do petróleo. Em 1976, por exemplo, o número de filhos por mulher nos EUA ficou um pouco abaixo de 1,74, para depois se recuperar. Mather observa ainda que, na crise atual, países europeus como Irlanda, Itália, Espanha também experimentam um declínio ou estabilidade nas taxas.

Para Gretchen Livingston, pesquisadora-sênior do Projeto de Tendências Sociais e Demográficas do Centro de Pesquisas Pew, o ciclo econômico é o principal fator para o declínio da taxa de fertilidade a partir de 2007. "Meus estudos confirmam que os Estados mais atingidos pela recessão foram os que tiveram as maiores quedas", diz Gretchen. Em 2009, todos os Estados tiveram recuo ou estabilidade, com exceção de Dakota do Norte, que teve a menor taxa de desemprego do país em 2008, de 3,1%.

Os grupos hispânicos, atingidos com mais força pela recessão, tiveram baixa na taxa de fertilidade. A pesquisadora também acha provável que haja algum aumento na taxa quando a economia melhorar. O ritmo de queda já está até mesmo um pouco mais fraco, como mostram os números de 2011.

Mudanças em curso na sociedade, contudo, contribuem para reduzir a fertilidade no longo prazo. As mulheres estudam mais, e uma parcela grande participa do mercado de trabalho, o que ajuda a adiar casamentos e a decisão de ter o primeiro filho. Além disso, os gastos com a saúde e educação dos filhos também aumentaram muito nas últimas décadas, diz Last.  Com taxas menores de fertilidade, a estrutura etária da população sofre alterações importantes. "Entre 2005 e 2025, o número de cidadãos americanos com mais de 65 anos vai aumentar 72%. Um em cada cinco americanos deverá alcançar a idade da aposentadoria em 2050", escreve Last em seu livro, no qual vê um quadro pessimista da perspectiva demográfica dos EUA.

A consequência mais óbvia dessa alteração, segundo Last, é que gastos como os da previdência e com o Medicare deverão consumir parcelas cada vez maiores do orçamento federal. Num cenário marcado por um número menor de pessoas em idade de trabalhar e uma parcela crescente de aposentados, haverá ou redução desses benefícios, ou corte de outras despesas do governo ou aumento de impostos, afirma Last.  Ele vê ainda outros impactos desse processo, como a redução da capacidade de inovação. "Como o demógrafo Philip Longman diz, 'depois que a proporção de cidadãos mais velhos numa sociedade supera um certo ponto, o nível de empreendedorismo e de inventividade diminui'." Idosos, diz Last, procuram empregos e investimentos menos arriscados e aumentam as despesas relacionadas à saúde.

Esse quadro, porém, não necessariamente vai se concretizar. Segundo demógrafos, é preciso ver o que acontecerá quando o crescimento da economia se normalizar, para saber se os EUA rumam de fato para uma taxa de fertilidade próxima às de grande parte dos países da Europa e do Japão.




Um comentário:

  1. Amigo VASCO:

    Eu olho esse tipo de pesquisa, com suas estatisticas, com algumas reservas.
    Uma diminuição das taxas de fertilidade nesses últimos anos, só deverá ter impacto na economia, em qualquer país, daqui a pelo menos QUINZE ANOS, quando os nascituros poderão estar em idade produtiva.
    Se observarmos hoje alguma influencia dessas taxas na economia, temos que nos referenciar às taxas de QUINZE ANOS atrás, que não eram assim tão baixas.
    Essas estatísticas só ajudam a emigração no curto prazo, causando problemas em um prazo mais longo, que, acho, ainda não foi alcançado, mas que já dá sintomas de tendencia, como a dominação islamica da Europa.

    Abraços - LEVY

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