Uma empresa chinesa assumiu nesta segunda-feira a operação do estratégico porto de Gwadar, no sudoeste do Paquistão e às portas do estreito de Ormuz, no que foi visto como uma iniciativa para garantir uma rota energética para a China.
Foto de arquivo mostra o porto de Gwadar, no sudoeste do Paquistão - (Foto: hinews.cn).
O estratégico estreito de Ormuz (assinalado no mapa) - (Foto: Google - clique na imagem para ampliá-la).
Em uma cerimônia realizada na tarde desta segunda-feira, representantes da Chinese Overseas Port Holding, da Gwadar Port Authority e da Port of Singapore Authority (PSA) assinaram um acordo para transferência do controle administrativo do porto [de Gwadar]. O presidente do Paquistão, Asif Ali Zardari, participou da cerimônia, dizendo que o acordo marcava o início de um capítulo novo nas vidas dos habitantes do Baluquistão e na amizade entre Paquistão e China, informou o jornal The Express Tribune, do Paquistão.
Sob o acordo, a empresa chinesa assumirá total responsabilidade pelo porto, que continuará de propriedade do Paquistão e a companhia chinesa participará do lucro de sua operação. "Considero que a transferência do controle administrativo do porto para a China irá melhorar seu desempenho e sua infraestrutura, possibilitando que ele se transforme em um enorme centro financeiro para a região", disse ao Global Times por telefone o porta-voz do Ministério do Exterior Moazzam Ahmad Khan, antes da cerimônia de assinatura do acordo.
A localização estratégica do porto atraiu a atenção das potências regionais e mundiais. O Comandante da Marinha do Irã, Habibollah Sayyari, disse no domingo que seu país instalaria uma nova base naval em Pasabandar, a cerca de 30 km a oeste do porto de Gwadar, informou a mídia iraniana.
O controle do porto pela empresa chinesa gerou preocupações entre os atores da região, como a Índia, e a AFP (Agência France Press) comentou que "isso, potencialmente, dá à China uma base naval no Mar da Arabia". Liu Jian, embaixador da China no Paquistão, disse ao jornal paquistanês Nawa i Waqt que nenhum país deve ficar apreensivo com a cooperação sino-paquistanesa, e que a hipótese da China usar o porto para fins militares era completamente desprovida de fundamento.
A operação do porto estratégico é também amplamente considerada como um movimento vital para a China na busca de uma alternativa ao estreito de Malacca, pelo qual passam mais de 80% das importações de petróleo chinesas. A AFP citou especialistas como tendo dito que isso cortaria milhares de quilômetros da distância que as importações de óleo e gás da África e do Oriente Médio têm que viajar até a China.
No seu 12° Plano Quinquenal, a China se comprometeu a acelerar a construção de ferrovias e rodovias ligando o porto de Gwadar a Kashi, na Região Autônoma de Xinjiang Uyghu, no noroeste do país. A construção da ferrovia foi proposta ainda em 2008 pelo ex-presidente paquistanês Pervez Musharraf, juntamente com a instalação de um oleoduto. "Quando completada, a ferrovia servirá como um corredor para logística e energia, aprofundando ainda mais as relações estratégicas e Paquistão", disse uma autoridade sênior de Kashi ao Global Times sob a condição de anonimato ["anonimato" na China, num evento dessa repercussão?! Me engana que eu gosto ...], acrescentando que as obras preliminares do projeto já estão em andamento. "O controle do porto e a ferrovia ajudarão Kashi a concretizar sua estratégia de se tornar um centro logístico na Ásia Central", disse ele.
Zhou Dadi, ex-diretor-geral do Instituto de Pesquisa Energética do Comitê Nacional de Desenvolvimento e Reforma, disse ao Global Times que o papel do porto para assegurar suprimento de energia à China está sendo superdimensionado, acrescentando que os custos para construir um oleoduto e para transportar petróleo por ferrovia serão elevados. "A ideia de usar a rota Paquistão - China como uma linha energética alternativa pode ser considerada como um último recurso, na melhor das hipóteses", disse ele, acrescentando que uma situação em que o estreito de Malacca seja bloqueado implicaria um conflito de escala mundial, o que é altamente improvável.
[Esse artigo está cheia de recados e mensagens, explícitos e implícitos. Ao assumir a operação de Gwadar, nas barbas do estreito de Ormuz, a China deu um nó na geopolítica da região, mandando seu recado à arquirrival Índia (ao estreitar seus laços com o Paquistão) e aos EUA (que passa a ter um grau de liberdade a menos para tomar medidas que possam afetar o porto de Gwadar). O Irã fica sobre o fio da navalha, ganhando por um lado um certo reforço com a presença chinesa mas, por outro, tendo que pensar duas vezes antes de tomar qualquer medida que possa prejudicar direta ou indiretamente os interesses chineses na região, agora mais do que nunca explícitos. Mais uma jogada de mestre da China.]
Zhou Dadi, ex-diretor-geral do Instituto de Pesquisa Energética do Comitê Nacional de Desenvolvimento e Reforma, disse ao Global Times que o papel do porto para assegurar suprimento de energia à China está sendo superdimensionado, acrescentando que os custos para construir um oleoduto e para transportar petróleo por ferrovia serão elevados. "A ideia de usar a rota Paquistão - China como uma linha energética alternativa pode ser considerada como um último recurso, na melhor das hipóteses", disse ele, acrescentando que uma situação em que o estreito de Malacca seja bloqueado implicaria um conflito de escala mundial, o que é altamente improvável.
[Esse artigo está cheia de recados e mensagens, explícitos e implícitos. Ao assumir a operação de Gwadar, nas barbas do estreito de Ormuz, a China deu um nó na geopolítica da região, mandando seu recado à arquirrival Índia (ao estreitar seus laços com o Paquistão) e aos EUA (que passa a ter um grau de liberdade a menos para tomar medidas que possam afetar o porto de Gwadar). O Irã fica sobre o fio da navalha, ganhando por um lado um certo reforço com a presença chinesa mas, por outro, tendo que pensar duas vezes antes de tomar qualquer medida que possa prejudicar direta ou indiretamente os interesses chineses na região, agora mais do que nunca explícitos. Mais uma jogada de mestre da China.]
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