Dessa vez, o inesperado foi a origem dos comentários. No discurso principal de abertura da reunião, Fatih Birol, o economista-chefe da Agência Internacional de Energia, proclamou que os subsídios aos combustíveis fósseis eram o "Inimigo Público Número Um" dos projetos de energia sustentável. Isso veio de alguém que, há apenas oito curtos anos atrás, insistia em aumentos "substanciais" nos investimentos em novas perfurações para petróleo e gás. Seu argumento era simples. Exatamente agora, as energias renováveis enfrentam um duplo problema: governos ao redor do mundo estão cortando a ajuda para energia limpa, e subsídios maciços que estão sustentando a indústria de combustíveis fósseis tornam impossível competir com esta energia mais barata.
Segundo Birol, o total global de subsídios para combustíveis fósseis em 2011 foi de US$ 523 bilhões. Isso resultou em um incentivo equivalente a US$ 110 por tonelada de carbono emitido. Comparativamente, os subsídios globais para energias renováveis no mesmo ano somaram US$ 88, uma ninharia em relação ao outro montante. "Se tivéssemos um mundo ideal -- sem subsídios para energia nuclear, gás ou carvão -- o vento das regiões litorâneas faria um excelente trabalho", disse à Spigel Online Christian Kjaer, CEO da AEEE. "Mas, isso é uma utopia", concluiu.
Energia eólica ainda cresce, mas por quanto tempo?
Mesmo numa disputa desigual, a indústria de [energia] eólica tem crescido rapidamente nos últimos anos. Há agora 22 países com pelo menos um gigawatt (GW) de energia eólica instalado (suficiente para suprir 200.000 residências). Na União Europeia (UE), foram instalados 11,6 GW dessa energia no passado contra 9,4 GW em 2011, de acordo com a AEEE. A energia eólica já se tornou, há tempo, um player importante no mercado global de energia. [O Brasil está muito ruim nessa foto. Para piorar o quadro, gastamos bilhões na construção de parques eólicos que estão ociosos por falta de linhas de transmissão.
Capacidade cumulativa global de energia eólica, em GW. - (Fonte: Wikipedia).
Farta informação sobre a capacidade instalada em energia eólica por país pode ser encontrada aqui. Nessas estatísticas, o Brasil ocupa um modesto vigésimo lugar, bem atrás de países como China, Índia, Portugal, Dinamarca, Japão, Holanda, etc, em termos de potência instalada. Mas, nosso crescimento em cinco anos (2006-2011) foi de 44,8%, o quarto mais alto depois de Turquia (94,3%), China (89%) e Polônia (60,2%).]
O problema, disse Kjaer, é que os ganhos alcançados pela Europa em 2012 resultam em sua maioria de contratos feitos antes da crise da dívida que afligiu a Europa a partir de 2010. E, se as políticas nacionais não forem ajustadas para refletir uma realidade mutante, a taxa de crescimento é esperada cair para 6% em 2020 e para 4% em 2030, de acordo com um relatório emitido em novembro pelo Greenpeace e pelo Conselho Global de Energia Eólica.
A Alemanha saiu-se bem na crise, mas tem sua própria quota de problemas com as energias renováveis, com os preços de energia elétrica para os consumidores aumentando em decorrência da política de "Energiewende" ("Transição de Energia") do governo, uma política de eliminação gradual da energia nuclear e aumento na confiança e na dependência da energia verde aprovada pelo governo de Angela Merkel em resposta à catástrofe de Fukushima. [...]
Incerteza regulatória
"Quem, aqui, acha que a incerteza regulatória é o principal obstáculo ao crescimento da energia eólica?", perguntou Thomas Pütter, presidente do Grupo Financeiro Ancora, durante sua fala na conferência anual da AEEE. Praticamente todas as mãos do auditório se levantaram [esse pessoal deveria fazer um estágio no MME e na Aneel, e dar uma estudada nas MPs 577 e 579, para terem uma ideia do que realmente é incerteza regulatória]. Em tempos econômicos difíceis, os políticos examinam cada pequeno detalhe para cortar -- e os altos preços da energia tornaram as energias renováveis um alvo deles para ganhar pontos [com o eleitorado].
A legislação alemã vigente permite que os produtores de energia renovável injetem sua energia na rede com um preço fixo, acima do mercado, chamado tarifa de alimentação ("feed-in tariff"). O objetivo dessa legislação era encorajar investimentos, e ajudar a trazer os custos da energia de tecnologias como os painéis solares e os parques eólicos para uma competitividade de mercado justa com o carvão, a energia nuclear ou o gás. As energias renováveis na Alemanha e em outros países explodiram com a tarifa feed-in, com um custo correspondente para os consumidores devido aos subsídios. Pela Europa afora, são amargas e em altos brados as disputas envolvendo políticas de subsídios para energia.
"Em tempos de sofrimento, toda forma de subsídio fica sob pressão", disse à Spiegel Online David Jones, o chefe para energia renovável do Allianz Capital Partners -- o grupo possui 42 investimentos em energia eólica no valor de 1,3 bilhão de euros [cerca de R$ 3,4 bi, menos da metade do que o Tesouro Nacional vai ter que injetar no setor elétrico para bancar o desconto tarifário da Dona Dilma]. Jones disse que a chave para investidores como o Allianz é estabilidade crescente para os investimentos. Comentou que aumentou a diferença de risco entre países europeus, com possibilidade de ganhar mais dinheiro em países de risco maior, mas também de perdê-lo.
Na energia eólica, o investimento em capital inicial é especialmente importante, e a incerteza política em torno dos subsídios pode ter um efeito secundário negativo a esse respeito. Com o aumento de risco para o investimento, a incerteza pode fazer com que fique consideravelmente mais caro conseguir financiamento para projetos. Essa dupla ameaça pode levar ao fracasso o crescimento da energia eólica em 2013.
Confiança destruída
Embora a proposta de Altmeier possa ter o potencial de criar dificuldades no lado financeiro, isso não é nada comparado com a perda de confiança gerada quando países mudam retroativamente a tarifa feed-in. O plano do ministro de Meio Ambiente alemão não alteraria os preços da energia produzida por parques eólicos já construídos, mas esse não é o caso de vários países Europa afora que anunciaram mudanças retroativas a partir da retração econômica.
Na já citada conferência da AEEE, as mudanças retroativas foram tratadas com o tipo de ódio e raiva geralmente reservado aos criminosos. O exemplo mais citado como o pior foi o da Espanha -- o país tem, consistentemente, passado os anos mais recentes tomando decisões que instilam o terror entre os investidores [dramático, o autor do texto]. Os espanhóis introduziram um corte retroativo da tarifa feed-in em 2008, e um imposto de energia de 7% no mês passado. E as novas regras que regulam essa tarifa, que se se tornaram lei no dia 2 de fevereiro, provocaram quedas significativas de valorização de ativos para os proprietários de parques eólicos na Espanha. O exemplo mais recente foi o da Acciona S.A., que há pouco viveu em quatro dias uma redução de cerca de 850 milhões de euros no valor de seus ativos.
Problemas em Paris
Nos últimos meses, quase cada país europeu que subsidia energias renováveis tem estado brincando com alterações ou reescrevendo a regulação de maneira caótica. O governo francês montou com sucesso uma tarifa feed-in para gerar demanda para energia eólica, mas depois sobrecarregou-a com uma burocracia asfixiante. Projetos de energia eólica têm agora que passar por um processo que pode levar de cinco a seis anos para que sejam aprovados.
Além disso, a tarifa feed-in na França mergulhou num atoleiro por causa de um grupo anti-eólico denominado "Vento de Cólera" ("Vent de Colère"). O grupo chama essa tarifa de uma forma de ajuda estatal, e abriu um processo legal direto na Corte de Justiça da União Europeia. Com a incerteza rondando o caso na justiça, e a expectativa de não se ter uma decisão até novembro, os investimentos se reduziram a uma gota. O resultado foi que, em 2012, a França instalou aproximadamente a metade da meta do governo para energia eólica nova. A Associação Eólica Francesa, que representa 250 empresas da indústria, espera uma perda de 1.000 empregos no final do ano. O presidente da associação, Nicolas Wolff, como num discurso fúnebre disse: "A França era um mercado promissor".
Sinais confusos
Baseando-se apenas nos números, o ano passado foi um ano excepcional para a indústria de energia eólica na Europa. Mais de 25% da energia nova instalada no continente foram de energia eólica, de acordo com a AEEE, e 7% da demanda elétrica da Europa são hoje supridos por energia eólica. Entretanto, os tempos de enormes crescimentos de dois dígitos para a indústria podem ter acabado. Na Europa, o fracasso do sistema de comercialização de emissões abrangendo todo o continente, que objetiva penalizar as companhias pesadas em CO2 obrigando-as a comprar certificados para suas emissões e, assim, pretende estimular investimentos em energias verdes, está contribuido para o problema de crescimento. O chão desabou no mercado de certificados de emissões. Enquanto isso, os EUA sequer estabeleceram seu próprio sistema de comercialização de carbono -- some-se a isso o fato de que a fragmentação hidráulica deu ao país acesso ao gás natural, mais barato e mais limpo [ver postagem anterior]. Em vez de queimar carvão, os EUA estão agora exportando-o e baixando os preços de seu mercado global.
Sem preço realista para o carbono, e com os maciços subsídios para combustíveis fósseis sintonizados em US$ 500 bilhões, a energia eólica provavelmente ficará estagnada. A China, com seu crescimento turbinado em energia eólica, poderia ser considerada como base importante para promover o crescimento global do setor, mas mesmo lá o mercado está "afogando". E o relatório "Wind Energy Outlook" ("Perspectivas da Energia Eólica") do Conselho Global de Energia Eólica estima ser improvável que mercados em desenvolvimento como Brasil e Índia ocupem esse espaço.
Para os participantes da indústria eólica, é o financiamento que é mais importante. E, para aqueles que têm o dinheiro, volatilidade significa muito simplesmente um risco maior. Até comentários de alto nível que servem como um contraponto político podem significar a perda de milhões de euros em custos adicionais para um único projeto novo. "Se você quer atrair investimentos", disse Kjaer, "você não pode emitir sinais confusos".
Sinais confusos
Baseando-se apenas nos números, o ano passado foi um ano excepcional para a indústria de energia eólica na Europa. Mais de 25% da energia nova instalada no continente foram de energia eólica, de acordo com a AEEE, e 7% da demanda elétrica da Europa são hoje supridos por energia eólica. Entretanto, os tempos de enormes crescimentos de dois dígitos para a indústria podem ter acabado. Na Europa, o fracasso do sistema de comercialização de emissões abrangendo todo o continente, que objetiva penalizar as companhias pesadas em CO2 obrigando-as a comprar certificados para suas emissões e, assim, pretende estimular investimentos em energias verdes, está contribuido para o problema de crescimento. O chão desabou no mercado de certificados de emissões. Enquanto isso, os EUA sequer estabeleceram seu próprio sistema de comercialização de carbono -- some-se a isso o fato de que a fragmentação hidráulica deu ao país acesso ao gás natural, mais barato e mais limpo [ver postagem anterior]. Em vez de queimar carvão, os EUA estão agora exportando-o e baixando os preços de seu mercado global.
Sem preço realista para o carbono, e com os maciços subsídios para combustíveis fósseis sintonizados em US$ 500 bilhões, a energia eólica provavelmente ficará estagnada. A China, com seu crescimento turbinado em energia eólica, poderia ser considerada como base importante para promover o crescimento global do setor, mas mesmo lá o mercado está "afogando". E o relatório "Wind Energy Outlook" ("Perspectivas da Energia Eólica") do Conselho Global de Energia Eólica estima ser improvável que mercados em desenvolvimento como Brasil e Índia ocupem esse espaço.
Para os participantes da indústria eólica, é o financiamento que é mais importante. E, para aqueles que têm o dinheiro, volatilidade significa muito simplesmente um risco maior. Até comentários de alto nível que servem como um contraponto político podem significar a perda de milhões de euros em custos adicionais para um único projeto novo. "Se você quer atrair investimentos", disse Kjaer, "você não pode emitir sinais confusos".
Um futuro mais negro para a energia eólica no mundo? - (Foto: DPA).
Amigo VASCO:
ResponderExcluirA energia eólica só vai para a frente quando alguem 'inventar' um meio de tributar o VENTO!!!!!!
Abraços - LEVY