quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Zeus, o pegador

[Para esta postagem usei como referências: - [1] "Teogonía, Trabajos y Días, Escudo, Certamen" - Hesíodo ((El Libro de Bolsillo, Alianza Editorial, Madrid, 1986) ); - [2] "Guia Visual da Mitologia no Mundo" - National Geographic Brasil (Editora Abril, 2010); - [3] "Mitologia"- Edith Hamilton (Martins Fontes, 1999); - [4] pesquisas pessoais na Internet. -- Os números eventualmente citados no texto correspondem a essas referências.]

As mitologias em geral são exemplos notáveis da criatividade humana, da inventividade do imaginário coletivo, mas a mitologia grega tem relevo especial nesse universo por seu caráter antropomórfico -- a retratação dos deuses como seres humanos. Os gregos se espalharam por muitos outros territórios e encontraram tantas culturas diversas que a sua religião e sua visão de mundo tornaram-se mais complexas. 

Estudiosos apontam para o papel importante que as influências culturais desempenharam na mitologia grega. Os mitos refletiam também como os gregos enxergavam a complexa realidade do mundo natural e espiritual. No grego antigo, mito não significava "história"e sim uma sequência de eventos e ações unificados, cuidadosamente construídos. Era a palavra usada para descrever a trama, e não a história em si. Como essas histórias tinham sido transmitidas oralmente durante séculos, possuíam centenas de variações. As primeiras e principais fontes literárias dos mitos gregos eram os poemas épicos dos séculos 7 e 8 a.C. de Homero (a Ilíada e a Odisseia, sobre a guerra deTroia e as aventuras do herói Ulisses) e Hesíodo (a Teogonia, uma detalhada genealogia dos deuses) [2], [1].

Para compreender a tendência para o antropomorfismo e avaliar os aspectos mais chocantes da mitologia grega -- a carreira de Zeus como conquistador (o pegador de mulheres mortais e deusas) e estuprador em série, e o egoísmo e a irracionalidade inerentes aos deuses, sem mencionar os atos de incesto e canibalismo, bem como o hábito de devorar os próprios filhos -- é necessário situar os mitos no contexto das competições de música e das cenas de teatro para o qual foram criados. Plateia e juízes exigiam histórias vívidas, com técnicas de narrativa ousadas -- quanto mais colorida e memorável a história, maior a probabilidade de o autor voltar para casa campeão, com a coroa de folhas de oliveira ou de louro. As histórias sobre os escândalos dos deuses serviam ainda para outro propósito: espalhar a dúvida sobre o poder e os exemplos éticos dos deuses. Isso levou ao surgimento da filosofia como uma procura para outros princípios da vida e do mundo, encontrados tanto na natureza quanto na razão da humanidade [2].

Esta postagem se limitará a reproduzir exemplos da engenhosidade de Zeus (Júpiter, para os romanos) nas suas conquistas amorosas, não apenas por seu aspecto lúdico mas também e principalmente por suas implicações sobre (ou correlações com) o comportamento humano. O mais majestoso dos deuses apaixonava-se por uma mulher atrás da outra, e recorria a todos os subterfúgios possíveis para conseguir seus objetivos e, ao mesmo tempo, evitar que a mulher (Hera) soubesse de sua infidelidade. Há quem diga [3] que a explicação de tais atos se deve ao fato de o Zeus das canções e histórias ter sido criado pela combinação de muitos deuses. Quando seu culto chegava onde já havia um governante divino aos poucos os dois terminavam por se fundir, e a mulher do deus primitivo também era transferida para Zeus. O resultado, porém, não foi muito bom e os gregos das gerações seguintes não viram com bons olhos essas intermináveis aventuras amorosas.

Antes de entrar no cerne da postagem, cabe uma referência rápida à mitologia romana, que às vezes tende a ser considerada como uma réplica da grega, o que não seria verdade [2]. A mitologia romana sofreu grande influência dos etruscos e dos habitantes das colônias de língua grega que viviam ao longo da costa leste da Itália e na Sicília, estes últimos com suas crenças politeístas e seus ricos relatos de deuses e heróis. Os romanos adicionaram muitas divindades gregas ao seu panteão, como Júpiter (Zeus) e Juno (Hera) e outros, mas a paixão grega pela mitologia como a encontrada nos poemas de Homero e Hesíodo inicialmente não criou raízes em Roma. Os romanos não se interessavam muito pela mitologia [2] porque não concebiam seus deuses à semelhança dos seres humanos -- por isso, as divindades não eram nomeadas. Na maior parte das vezes, o culto romano se resumia a fazer oferendas ao "deus do lugar", sem nenhuma outra designação. O que importava mesmo era invocar a "presença" daquela divindade, a fim de que garantisse o sucesso em todos os empreendimentos. Outro aspecto da mitologia romana foi a deificação dos imperadores, uma prática herdada do helenismo de influência ocidental, a partir do arquétipo de Alexandre, o Grande. Inicialmente, os imperadores eram deificados apenas após a morte. Mais tarde, César e Augusto tiveram o culto imperial estabelecido ainda em vida. A deificação, porém, referia-se mais à ordem estatal que o imperador representava do que à sua pessoa. O culto ao deus imperador era exigido como prova da aliança de um indivíduo com Roma.

As conquistas amorosas de Zeus, o pegador

Depois de destituir o pai, Crono, Zeus passou a governar o mundo todo -- os deuses e a humanidade. Caracterizado pela ordem e pela justiça, o reinado de Zeus mantinha a disciplina nas pólis, as cidades-Estado gregas, e seu nome era dado como garantia em juramentos. Como rei dos reis, protegia a realeza e era o deus do céu e do trovão -- o raio e a águia, lado a lado, eram seus símbolos mais significativos, representando força e justiça.

Era particularmente adorado nas cidades de Olímpia e Dodona, a casa de um antigo oráculo. E, embora fosse o deus máximo, possuía qualidades quase humanas, especialmente a predileção pelo sexo feminino.  Para a irritação de sua segunda esposa, Hera, Zeus teve muitos casos com deusas, ninfas e mortais, dos quais sempre resultaram filhos, o que o tornou pai de uma prole numerosa. Como estratégia de sedução, usava sua habilidade para se transformar em outros seres.  Apesar de seus muitos amores, Zeus casou-se apenas duas vezes. A primeira esposa, Métis, filha do titã Oceano, foi forçada ao casamento. Ela assumiu vários disfarces para se esconder, mas Zeus por fim a encontrou.  A filha favorita de Zeus, Atena, nasceu da cabeça de Zeus depois que ele engoliu Métis, grávida de Atena. A segunda esposa, Hera, deusa da fidelidade matrimonial, lutou contra as amantes de Zeus. Seu ciúme era famoso.

Como um  Don Juan de alta estirpe e poderoso, Zeus foi democrata em suas conquistas e teve amantes em todos os quadrantes: divindades, semi-divindades e mortais. A lista é impressionante: pela Wikipédia, teriam sido 23 amantes divinas (que lhe deram 60 filhos) e 45 amantes semidivinas e mortais (com as quais teve 65 filhos). A lista abaixo, obviamente, é apenas uma amostra dessas conquistas do deus dos deuses.

Amantes divinas [2], [4]

Maia

Maia era a mais velha e a mais bonita das filhas de Atlas. Era inevitável que Zeus a notasse. Para evitar que Hera descobrisse, ele furtivamente a deixou dormindo e foi ter com Maia. Desta união nasceu Hermes, o mais desonesto e sagaz de todos os deuses [2]. Serviu o pai e outros deuses como mensageiro, além de guiar as almas dos mortos ao submundo. Talvez o ato de bravura mais famoso de Hermes tenha sido o assassinato de Argos, um animal de 100 olhos, para libertar Io, amante de Zeus (ver adiante). Se Maia não tivesse escapado à vingança de Hera, provavelmente Hermes não teria existido.

Deméter

Filha de Crono e Reia, era portanto irmã de Zeus, que se tornou seu amante -- por sinal, um amante um tanto ciumento. Dessa união nasceram Perséfone e Zagreu. Deméter era a deusa do milho, do cultivo e das árvores, sendo responsável também por dar início às estações -- era a Ceres dos romanos. Ela teve também uma vida amorosa agitada, tornando-se amante entre outros de Iásio (filho de Zeus com Electra, ver adiante). Conta-se que, quando descobriu o caso, Zeus matou Iásio com um raio.

Leto

Filha de Febe e Céos e deusa do anoitecer, era prima de Zeus, com quem teve os gêmeos Apolo e Ártemis (Diana, para os romanos). Quando engravidou dos dois, Leto vagou pelo mundo em busca de um lugar onde pudesse tê-los, porque Hera, enciumada e furiosa com mais essa aventura amorosa de Zeus, proibiu que a Terra acolhesse a parturiente. Temendo a cólera da rainha dos deuses, nenhuma região ousou recebê-la. Foi então que a estéril e flutuante ilha de Ortígia, por não estar fixada a parte alguma e portanto não pertencer à Terra, não tendo assim o que temer de Hera, abrigou a amante de Zeus.

Mnemósine

Quando a titã  Mnemósine, deusa da memória, dormiu com Zeus por nove noites deu à luz nove filhas chamadas de musas (Calíope, Clio, Erato, Euterpe, Melpômene, Polimnia, Terpsícore, Tália e Urânia). Cada uma delas tinha uma função especial na vida cultural do Olimpo.

Nêmesis

Deusa grega da segunda geração, Nêmesis era -- segundo Hesíodo [1] --  uma das filhas de Nix, a deusa da noite. Tão bela como Afrodite, era geralmente representada sob a forma alada.  Certa feita, Zeus apaixonou-se perdidamente por sua beleza e resolveu possuí-la de qualquer jeito.  Ela tentou evitar unir-se com ele transformando-se numa gansa, mas Zeus transformou-se num cisne e uniu-se a ela. Nêmesis pôs um ovo, fruto dessa união, e o abandonou. Alguns pastores o encontraram e o entregaram à rainha Leda, para que o chocasse junto com sua ninhada -- e desse ovo nasceram Helena (de Troia) e Pólux.

Amantes semidivinas e mortais

Egina

Filha do rei-rio Asopo. Zeus se apaixonou por ela e se transformou numa águia para capturá-la. Asopo ficou furioso e procurou pela filha por toda a Grécia, mas Zeus pôs fim a essa caça atingindo-o com raios. Levou Egina para uma ilha isolada, onde ela concebeu seu filho Éaco. Depois do nascimento do filho Egina abandonou a ilha, mas pediu a Zeus que a povoasse -- ele atendeu-a, e depois deu seu nome à ilha.

Europa

Um dia Zeus viu uma garota mortal, Europa, recolhendo flores. Inflamado de desejo, transformou-se em um touro e se aproximou dela com a boca cheia de flores de açafrão. Zeus então a sequestrou e a levou para Creta, onde se deitou com ela. Tiveram três filhos: Sarpédon, o rei da Lícia; Radamanto, que se tornou um dos juízes do submundo depois de morrer; e Minos, o rei de Creta.

Io

Certa vez, Zeus dormiu com Io, sacerdotisa de Hera. Antes que a esposa o acusasse de infidelidade, ele transformou Io numa vaca com a qual presenteou Hera, que a pôs sob a guarda de Argos ("com uma centena de olhos"). Enviado por Zeus, Hermes matou Argos e libertou Io. Hera então a atormentou com uma mosca, fazendo-a fugir. O mar Jônico (ou Iônico) e o estreito de Bósforo -- cujo nome significa "passagem da vaca" -- têm esses nomes em homenagem às várias perambulações de Io.

Leda

Outra mulher desejada por Zeus foi Leda, rainha de Esparta, esposa do rei Tíndaro. Para evitar o ciúme de Hera e de Tíndaro, Zeus se transformou em um cisne e se deitou com Leda. A história dessa união coincide exatamente com a de Zeus com Nêmesis (ver acima) [2], deixando dúvida sobre qual dessas histórias é a "verdadeira".  

Alcmene

Alcmene era uma simples mortal -- e casada. Mas, se recusou a consumar o casamento até que seu marido Amphytrion completasse um ato de vingança para ela. Zeus disfarçou-se como seu marido, dizendo-lhe que havia retornado depois de cumprida com êxito sua missão de vingança. Alcmene acolheu Zeus em sua cama, acreditando que fosse seu marido. Uma das versões desse mito diz que Zeus ordenou ao deus sol que tirasse uma folga, para que sua noite de amor fosse mais longa. O Amphytrion de verdade não ficou nada contente em retornar para uma mulher que dizia já ter dormido com ele, mas como seu amante havia sido Zeus não havia nada que um humilde mortal pudesse fazer. Da união Zeus - Alcmene nasceu o famoso herói Hércules.

Calisto

Os mitos variam quanto à filiação de Calisto -- alguns dizem que ela era filha do rei de Arcadia, outros que seu pai era o rei de Tebas. Há ainda outros que dizem que ela era uma ninfa da floresta. Todas as versões concordam no entanto em que era uma acompanhante de Ártemis e que fizera um voto de castidade, como era obrigatório para todas as acompanhantes de Ártemis. Zeus, porém, se apaixonou por ela -- e aí, já se sabe o que acontece.  Como Calisto fizera voto para permanecer virgem, evitando a companhia de qualquer homem, Zeus teve que se disfarçar de Ártemis para se aproximar dela. O plano funcionou, e Zeus conseguiu o que queria. Quando Calisto estava grávida de seu filho com Zeus, Arcas, Ártemis descobriu a quebra do voto de castidade e, como castigo, transformou-a em um urso (que matou mais tarde, segundo uma das versões desse mito).

Dânae

Era filha de Acrísio, rei de Argos, que recebeu de um oráculo a profecia de que Dânae daria à luz um filho que o mataria, não importava onde se escondesse. Acrísio tentou desesperadamente evitar que isso ocorresse, e para evitar que Dânae engravidasse a aprisionou em uma torre de bronze, com apenas uma pequena abertura para entrada de ar e comida. Zeus, no entanto, apaixonou-se perdidamente pela jovem e penetrou na cela por essa abertura como uma chuva de prata, e caiu em seu colo fecundando-a.

Electra

Há vários mitos envolvendo Electra, filha de Atlas, mas nenhum deles dá detalhes de como Zeus a seduziu. Mesmo não havendo uma história com detalhes desse caso amoroso, essa união foi importante -- Dárdano, um de seus filhos (os outros foram Iásio e Harmonia), foi o fundador da casa real de Troia.

Ganymede

Ninguém estava a salvo da luxúria de Zeus, nem mesmo os rapazes jovens. Ganymede era um príncipe da família real troiana. Alguns mitos dizem que ele era o mais bonito de todos os mortais, entre homens e mulheres -- quando Zeus o viu, foi amor à primeira vista. Mandou então uma águia -- ou ele mesmo se transformou nessa ave -- para levar o jovem para o Monte Olimpo. Lá, ele passou a servir vinho aos deuses (especialmente a Zeus), substituindo Hebe nessa função.








quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

"Terra nascente", uma das fotos mais importantes da história da humanidade

[O texto traduzido abaixo foi publicado em 22/12 no site The Verge ("A Margem" ou "A Borda", "O Limite", em tradução direta). O que estiver entre colchetes e em itálico é de minha responsabilidade.]



Terra Nascente (1968) - (Fotos: William Anders/Nasa).

"Terra Nascente" [ou "O Nascer da Terra"- Earthrise], considerada por muitos uma das fotos mais importantes já tiradas, foi até hoje apenas uma foto. Mas, para o 45° aniversário da missão Apollo 8 que originou a foto, a Nasa recriou digitalmente o momento em que o astronauta William Anders capturou a imagem utilizando o sistema de imagem  [CG imagery] e de som gerado por computador a partir do interior da própria cápsula. "O vídeo permite que qualquer um possa acompanhar virtualmente os astronautas e experimente a mesma sensação de assombro que tiveram com a visão à sua frente", escreve a Nasa em seu blogue de anúncio do vídeo.

Levará ainda alguns anos até que Elon Musk [ver aqui] e Richard Branson [ver aqui] --  [ambos envolvidos em projetos de viagens espaciais] -- nos levem à Lua em viagens de fins de semana, mas até lá o vídeo mais recente da Nasa é o mais próximo a que você pode chegar do lago escuro da Lua -- com a Terra Nascente esperando-o do outro lado. [Não se esqueça de checar o volume do som do vídeo.]


segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Constatada fraude no protetor solar Australian Gold fator 30

[A notícia abaixo é da PROTESTE. O que estiver entre colchetes e em itálico é de minha responsabilidade.]

A PROTESTE Associação de Consumidores pediu, no dia 9/12, providências ao Ministério Público do Espírito Santo e de São Paulo, Procons dos dois Estados e Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa)  após constatar crime nas relações de consumo, com relação ao protetor solar Plus Gel Spray Australian Gold, fator 30, importado dos Estados unidos, e distribuído no Brasil pela Frajo Internacional de Cosméticos Ltda. 

Foi fraudada a data de validade do produto original ao sobrepor a embalagem em português nos lotes 00601 e 01288 à venda. Foram encontrados no mercado em São Paulo, produtos com validade vencida embora as rotulagens em português informem que venceria apenas em 04/2016. Também foi encontrado o produto a venda com validade original de 03/2014 que foi estendida na rotulagem brasileira até 04/2016.

“Trata-se de prejuízo direto à saúde dos consumidores que depositaram confiança na marca e em sua procedência. Um protetor solar vencido perde sua eficácia na proteção contra a radiação solar, expondo o usuário, que se acreditava protegido, a uma série de danos, como queimaduras ou eritemas, manchas e envelhecimento prematuro da pele, câncer de pele”, observa Maria Inês Dolci, coordenadora institucional da PROTESTE. Configuram-se risco imediato à saúde do consumidor e violação ao Código de Defesa do Consumidor, à Constituição Federal, e à legislação sanitária vigente. 

Além de ineficaz na proteção solar, a utilização do produto vencido causa risco à saúde, porque deixa de ser estável, e não é mais possível garantir a eficiência do conservante que evita o crescimento de microrganismos. A adulteração ou venda com prazo de validade expirado representa um risco à saúde pública, e os responsáveis estão sujeitos às penas previstas em lei.

A PROTESTE notificou a empresa pedindo a promoção de recall de todos os protetores Australian Gold cuja data de validade tenha sido alterada, com a entrega de filtros solares com correta indicação da data de expiração ou a devolução do valor pago, monetariamente corrigido, conforme a escolha de cada consumidor. E ao MP foi pedido para investigar o problema e responsabilizar civil ou penalmente a empresa.

O problema foi detectado após a realização de teste comparativo em 10 marcas de protetores e bloqueadores solares da linha “Família” com FPS 30, dentre os quais o Plus Gel Spray Australian Gold. Os resultados das análises já repassados aos fornecedores foram publicados na revista ProTeste Saúde nº 26 (dez/13).

Abaixo seguem  fotos da três contraprovas, duas já estão vencidas (06/2013), embora as rotulagens em português informem validade até 04/2016, e na terceira a validade original de 03/2014 é estendida na rotulagem brasileira até 04/2016:



Amostra 1- (Foto: PROTESTE).


Amostra 2 - (Foto: PROTESTE).


Amostra 3 - (Foto: PROTESTE).

No dia 9/12, a PROTESTE foi novamente ao mercado para adquirir novas amostras e verificar se a adulteração continua. Mais uma vez localizou o produto na rede de drogarias Onofre, na unidade da Av. Paulista, nº 2408. Constatou que o protetor recém adquirido também apresenta a fraude denunciada e também pertence ao lote 00601, demonstrando que o consumidor continua exposto a risco de dano à saúde e assim permanecerá se nada for imediatamente feito:


Amostra 3 - Adquirida em 09/12/13


Amostra 3 - Adquirida em 09/12/13


O Código de Defesa do Consumidor (Lei 8078/90), elencou, entre os direitos básicos do consumidor, a proteção da vida, saúde e segurança contra os riscos provocados por práticas no fornecimento de produtos e serviços considerados perigosos ou nocivos. Além disso, o direito básico à informação clara, adequada e verdadeira é um dos pontos altos dessa lei, que estimula o respeito à boa fé e o equilíbrio entre as partes nas relações de consumo.

[Uma coisa irritante no Brasil é a burocracia que permeia tudo que é formal -- produto fraudado como esse, que afeta a saúde de quem o usa, deveria ser objeto de repressão sumária e imediata, com retirada incontinente do mercado e punição também imediata dos responsáveis por sua comercialização.]





Quem conhece mais e melhor o Recife: Renan Calheiros ou Eduardo Campos?

Na semana passada, o cidadão Renan Calheiros se deslocou até Recife na sua empresa aérea favorita, a FAB (na qual é campeão de milhagens), para fazer um implante de 10.000 fios de cabelo. O homenzinho é vaidoso, e como não há cirurgião plástico que resolva sua deformação moral o jeito é tentar arranjar um arremedo de juba. Melhor faria se arranjasse também um bom marceneiro para cuidar da sua cara de pau.

Exatamente na mesma semana, a mídia divulgou fotos do governador pernambucano e candidato à presidência da República, Eduardo Campos, escoltando Dilma NPS (Nosso Pinóquio de Saias) na visita oficial desta ao seu estado. Aí, percebe-se que o político pernambucano ostenta no cocuruto uma teimosa clareira capilar (ver foto abaixo) -- quem for muito emotivo é melhor precaver-se, porque a cena é linda e comovente. Dois grandes atores da comédia política nacional dando o melhor de si por conta do espírito natalino. A legenda é dúbia -- não se sabe se a plataforma P-62 é só de petróleo, ou se manipula também assuntos políticos.


A presidenta Dilma Rousseff e o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, na entrega da plataforma P-62, na terça-feira  - (Foto: Hans Von Manteuffel / Agência O Globo).

Olhando-se a foto acima, a gente é assaltado -- aqui também, pô?! -- por uma dúvida cruel: será que Renan Calheiros levou sua divergência política com Eduardo Campos à baixaria de negar-lhe o nome e endereço de seu implantador de cabelos no Recife?! 

domingo, 22 de dezembro de 2013

Harmonização comida-vinho: o que beber com o foie gras?

[O artigo traduzido abaixo é de autoria de Enrico Bernardo e foi publicado em 17/12 na seção "Vin" ("Vinho") do jornal francês Le Figaro. O italiano Enrico Bernardo foi eleito o melhor sommelier do mundo em 2004 e é proprietário do restaurante Il Vino, no 7° arrondissement (distrito) em Paris, classificado com uma estrela do guia Michelin. O texto derruba o mito do casamento único e indissolúvel  "foie gras - Sauternes". O que estiver entre colchetes e em itálico é de minha responsabilidade.]




Foie gras semicozido, foie gras frito (poêlé) [antes que chefs e gourmands(es) caiam na minha pele, vou substituir o "frito" por "tostado/grelhado na frigideira"...] ou foie gras trufado ... É sua a opção de escolher qual deles participará de sua mesa de boas festas.  Em compensação, para sublimar esse prazer, será sua a responsabilidade de encontrar o vinho que harmonize completamente com eles -- siga então o guia.

Se a alimentação abundante dos palmípedes migratórios é um fenômeno natural -- eles "criam suas reservas" antes de uma longa viagem -- parece que a adaptação disso à criação dessas aves remonta à civilização egípcia, como o testemunham os afrescos encontrados em Saqqarah [o autor se refere à superalimentação forçada de patos e gansos para a produção de foie gras, que sofre forte oposição de ambientalistas e já provocou atritos entre alemães e franceses e determinou a proibição de venda e consumo desse produto na Califórnia].  Parece que a tradição dessa "gordura" ("gras") atravessou países e séculos graças às comunidades judias da Europa central: privadas do azeite de oliva e impedidas de recorrer à banha de porco por motivos religiosos, elas cozinhavam à base da gordura de ganso. Hoje, a França é de longe o maior produtor mundial desse produto, e desenvolveu inúmeras receitas para ele. Reservei três delas, bastante diferentes entre si para justificar escolhas diferentes na adega para acompanhá-las.

A primeira, a terrina de foie gras semicozido, eu a acompanharei com um pouco de marmelo, cuja acidez relativa equilibrará o lado gorduroso. E procurarei um vinho Vouvray suave (os há também secos) com 3 a 5 anos, cuja uva Chenin propõe aromas de maçã-reineta ... e de marmelo. Nessa apelação, tenho um fraco pelo [Domaine] Clos Naudin: Phillippe Foureau, terceiro de uma verdadeira dinastia de viticultores, que produz vinhos muito reveladores desse terroir um pouco desconhecido.

O foie gras fresco frito [ver observação acima sobre o "frito"] é apreciado quente, evidentemente. À gordura natural soma-se então uma verdadeira untuosidade que pede um acompanhamento um pouco acidulado, como suco de mirtilo ou compota de ruibarbo por exemplo. Aí, vejo com bons olhos um vinho da Alsácia, mas preferencialmente a um Gewurztraminer -- que não teria vivacidade para resistir ao confronto -- escolheria antes um Riesling de colheita tardia que, com seus toques citronados, irá equilibrar a gordura dominante. Penso principalmente na produção de Frédéric-Émile do Domaine Trimbach, em Ribeauvillé -- um templo do vinho riesling, especialmente na faixa de idade de 4 a 5 anos.

A terceira receita é a do foie gras trufado, que se encontra tanto em conserva quanto em terrina. A presença da melanóspora [tipo de fungo existente nas trufas] irá evidentemente modificar a competição dos sabores, não tanto por sua intensidade e sua persistência -- o caráter crocante e o grelhado das torradas de pão de campanha (pain de campagne) são os fatores que, sobretudo, influenciarão a escolha do vinho. E desta vez, sem qualquer hesitação, minha escolha é a de um grande champanhe, brut millésime ou de produtor de prestígio. Penso particularmente no Bollinger Grande Année 2002,  bastante rico e vinoso para fazer frente à trufa enquanto sua efervescência e sua frescura se opõem à gordura do fígado. Suas notas amanteigadas e seus toques de frutas secas criarão uma tonalidade outono-inverno que se harmonizará bem com a trufa e o pão grelhado.

sábado, 21 de dezembro de 2013

Renan Calheiros usa aeronave da FAB para ir a Recife fazer implante de cabelo

[Renan Calheiros, presidente do Senado Federal, ocupa lugar de amplo destaque no universo das figuras absolutamente abjetas de nossa política. Seu currículo tem o DNA de um prontuário policial e sua ficha não á apenas suja, é encardida e infecta. Ele é inteiramente incompatível com qualquer conceito de higiene ética e moral, e em sua infelizmente longeva carreira pública tem invariavelmente tornado imunda sua caminhada por onde passa -- na entrada, no trajeto e nas efêmeras saídas que teve que fazer -- como em 2007, quando teve que renunciar à presidência do Senado por denúncias de corrupção. Por duas vezes escapou de ter cassado seu mandato, graças ao espírito quadrilheiro que reina naquela casa do Legislativo. Seu extremado apego ao lado pocilga da política o faz prazerosamente reincidir em todo o tipo de imundície no exercício do cargo, como no caso de reutilização de jato da FAB para uso inteiramente pessoal denunciado hoje pela Folha de S. Paulo, repetindo o que já fizera no primeiro semestre deste ano.]

De cabelo em pé O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), usou aeronave da FAB (Força Aérea Brasileira) para viajar na noite de quarta-feira ao Recife, onde, no dia seguinte, submeteu-se a uma cirurgia para implantar 10 mil fios de cabelo. É a segunda vez neste ano que Renan usa avião da FAB para fins particulares. Em junho, foi a Trancoso (BA) para o casamento da filha do colega Eduardo Braga (PMDB-AM). Depois que esta coluna revelou o fato, reembolsou R$ 32 mil à União.

Outro lado Procurada pela coluna, a assessoria de imprensa do presidente do Senado não se manifestou sobre o uso da aeronave. A agenda oficial publicada no site da Casa não registra compromissos do peemedebista na capital pernambucana.

Tônico 1 Antes de viajar para a cirurgia anticalvície, Renan gravou pronunciamento para a TV, em que faz balanço positivo do primeiro ano de sua gestão na Casa.

Tônico 2 Na mensagem, o congressista anuncia que o Senado economizou cerca de R$ 260 milhões em 2013. Ele pretende entregar um cheque simbólico ao Executivo nesse valor. Não se sabe se também vai reembolsar o novo voo.


Renan Calheiros (PMDB-AL) e seu estilo costumeiro de saudar seus seguidores e a nação em geral. Observe-se como a limpeza da unha compõe à perfeição a higiene lato sensu desse político ímpar - (Foto: Google).

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Brasil participará da conferência de paz sobre a Síria em janeiro

[A notícia abaixo foi publicada hoje no jornal Estadão. O que estiver entre colchetes e em itálico é de minha responsabilidade.]

O Brasil participará da conferência de paz sobre a Síria, no dia 22 de janeiro na Suíça. A confirmação foi dada pela ONU, após uma reunião nesta sexta-feira, 20, em Genebra entre os governos dos EUA e da Rússia com o mediador da Nações Unidas para o conflito na Síria, Lakhdar Brahimi.

No último sabado, 14, o Estado revelou com exclusividade que o Brasil havia sido sondado para participar da negociação. Moscou insistia na participação completa dos Brics, como forma de garantir uma "legitimidade internacional" ao processo de paz que poderá ser iniciado, mas também como maneira de contrabalançar a presença de um amplo número de países que consideram que a conferência de paz deve ser um instrumento para retirar o governo de Bashar Assad do poder.

A lista final de participantes foi fechada hoje. Ela inclui todos os membros do Conselho de Segurança da ONU e também outros 26 governos. A maioria é da região do Golfo ou de influência no mundo muçulmano, como Argélia, Turquia, Egito, Jordânia, Líbano, Catar, Emirados Árabes e Arábia Saudita. Entre os europeus, a lista inclui Alemanha, Itália, Espanha, Suíça, Dinamarca e Noruega.

A única dúvida é em relação a participação do Irã, defendida por russos e pela ONU, mas rejeitada pelos EUA e pelos europeus. "Não temos um acordo sobre isso ainda", declarou Brahimi. "Não é um segredo que nós na ONU defendemos a participação do Irã. Mas nossos parceiros nos EUA não estão convencidos de que seja coisa correta a ser feita".
A oposição síria ainda não definiu uma delegação para o processo que começa no dia 22 e não tem data para acabar. Para diplomatas, essa negociação é a última esperança de um acordo que interromperia a guerra civil que já matou mais de 120 mil pessoas na Síria.
[Pelo visto, a presença do Brasil nessa conferência é fruto de pressão da Rússia, segundo o jornal Estadão de 14/12: "A ideia de incluir os brasileiros vai além da presença de uma grande comunidade síria local ou da crescente influência do Brasil no Oriente Médio. A principal motivação dos russos seria equilibrar a relação de forças na conferência de paz e evitar que Moscou fique isolado diante de americanos, europeus e países do Golfo, que exigem a imediata renúncia de Bashar Assad. Com seu discurso de defesa do diálogo e oposição à ingerência externa, o Brasil poderia servir para reforçar uma resistência contra aqueles que querem o fim do regime sírio como precondição para que a negociação avance". 
Essa inclusão do Brasil, assim como outras iniciativas que têm praticamente direcionado os entendimentos sobre o conflito sírio, relegando os EUA a segundo plano, seria mais uma demonstração do crescente protagonismo internacional da Rússia sob o comando de Vladimir Putin. Também o caso do asilo "temporário" a Edward Snowden, contra toda a enorme pressão americana, foi mais um golpe de mestre do judoca faixa preta Putin contra Obama. Até na lista da revista americana Forbes dos homens mais poderosos do mundo em 2013 Putin garantiu o primeiro lugar, deslocando Obama para o segundo posto. 
A guerra civil na Síria, que vai completar seu terceiro ano de carnificina, é mais uma aberração do cenário político internacional e uma criminosa omissão das principais potências mundiais e da ONU com relação a um conflito extremamente violento e sangrento, que vem dizimando a vida de milhares de civis inocentes, incluindo crianças. Essa reunião sobre um projeto de paz para a Síria, a realizar-se em 22/01/2014 na cidade suiça de Montreux  desde já não se configura animadora. Juntar quase 30 países em uma reunião de apenas um dia, para discutir um conflito de 3 anos que depende essencialmente dos 5 países do Conselho de Segurança da ONU -- com nível de entendimento praticamente nenhum sobre ele -- soa mais como um teatro lamentável. A relação nominal completa dos países convidados para tal reunião -- que inclui o Brasil -- é apresentada em vídeo da entrevista coletiva de Lakhdar Brahimi sobre esse evento em Montreux, no site BBC News World.]

União Europeia tem nota rebaixada pela Standard & Poor's

[As agências de classificação de risco são um desses paradoxos mais incríveis dos chamados "tempos modernos". Com um poder impressionante e até agora incontestado, essas instituições derrubam países com uma canetada, tornaram-se superpoderes supranacionais e não são fiscalizadas ou reguladas por ninguém.  Se alguém duvidava ainda do poderio dessas agências, perdeu de vez essa dúvida quando em agosto de 2011 a Standard & Poor's (S&P) rebaixou a nota dos EUA de AAA para AA+, fato inédito na economia mundial. O governo americano acusou a S&P de fraude nesse rebaixamento e acionou-a na justiça em fevereiro deste ano de 2013, exigindo uma indenização de US$ 5 bilhões.  Do outro lado do Atlântico, a União Europeia tenta desde 2011 reduzir o poder dessas agências. E, não bastasse esse aspecto, há ainda um conflito ético e de interesses subjacente a esse poder classificatório, porque essas agências são pagas por empresas e instituições que analisam e classificam.

Demonstrando novamente sua força e sua absoluta indiferença ao choro e ranger de dentes que provoca, uma dessa agências -- a mesmíssima S&P que rebaixou os EUA -- acaba de baixar a nota da União Europeia (UE), como nos revela a notícia abaixo da Folha de S. Paulo de hoje.]

A agência de classificação de risco Standard & Poor's rebaixou a nota da União Europeia por riscos crescentes nas negociações sobre os orçamentos dos países membros do bloco.

As notas concedidas pelas agências de classificação são uma espécie de selo de qualidade que indicam os riscos de uma economia dar calote. A União Europeia tinha a melhor nota na escala da agência, "AAA". Agora passa a ser avaliada no segundo degrau de risco: "AA+".

A Standard & Poor's já havia colocado a economia do bloco em perspectiva negativa desde 2012. Desde então, já reduziu as notas de classificação da França, Itália, Espanha, Malta, Eslovênia, Chipre e Holanda.

A agência cita uma piora da coesão entre os países e o risco de recusa em cumprir as regras do bloco para os orçamentos. "Em nossa visão, as negociações orçamentárias se tornaram mais acirradas, sinalizando o que consideramos ser riscos crescentes ao apoio da UE provenientes de alguns países-membros".


Notas de Risco - Escala de ratings globais das agências (clique na imagem para ampliá-la) - (Ilustração: Editoria de Arte/Folhapress).


Vale a pena comprar um carro novo neste fim de ano?

[O artigo abaixo é de Julia Wiltgen e foi publicado no site Exame.com em 18/12.]

Elevação do IPI em janeiro e obrigatoriedade de airbag e ABS em carros zero quilômetro a partir de 2014 se somam à sazonalidade para baratear veículos agora.

Com o iminente aumento do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) em janeiro do ano que vem, muita gente pode estar pensando em comprar um carro novo neste final de ano. Segundo especialistas, pode até ser uma boa, desde que seja possível obter um bom desconto. Mas a estratégia requer alguns cuidados.

Dezembro já é um mês em que as montadoras costumam conceder descontos para os modelos fabricados naquele ano, ainda que sejam modelos zero quilômetro do ano que vem. A ideia é liquidar os estoques para dar espaço aos modelos fabricados no ano seguinte. Ou seja, neste ano, um modelo 2014 fabricado em 2013 (os chamados modelos 13/14) deverá ganhar um desconto frente ao mesmo modelo 2014 já fabricado no ano que vem (os modelos 14/14). Isso acontece porque um carro 13/14 tende a desvalorizar mais, na hora da revenda, que um carro 14/14 do mesmo modelo, por exemplo.

O último mês do ano também é uma época de descontos em modelos que vão sofrer modificações no ano seguinte, como um “facelift” – uma mudança no visual e nos equipamentos de fábrica e opcionais, o que pode ser mais ou menos radical – ou mesmo sair de linha.  Assim, essa época costuma ser boa para comprar carros zero quilômetro menos atualizados com desconto, desde que a promoção seja boa o suficiente para superar a possível desvalorização daquele veículo.

Mas segundo Paulo Garbossa, professor de Gestão Automotiva da Fundação Educacional Inaciana (FEI), normalmente não é preciso correr para fechar a compra ainda em dezembro. “Há uma série de descontos que começam em dezembro e com quase certeza continuam em janeiro. As vendas de novembro, neste ano, foram inferiores ao esperado. As montadoras fazem promoções para desovar os estoques e atingir as metas de vendas”, diz o professor, que acrescenta que as promoções costumam ir aproximadamente até 20 de janeiro.

Desconto precisa superar depreciação

Para valer a pena, o desconto no preço de um veículo mais desatualizado deve superar a sua possível depreciação após um ano de uso, que é quando os carros costumam perder mais valor para uma revenda. A depreciação de um veículo depende muito do modelo. Modelos mais populares e de fácil revenda costumam desvalorizar cerca de 10% ao longo de um ano, enquanto que modelos mais caros ou beberrões, como SUVs, podem depreciar cerca de 20% no período.

Para um modelo 2014, mas fabricado em 2013, por exemplo, um desconto de 10% no preço já pode ser bem interessante. “Um percentual de 15% a 20% para um sedã ou um hatch é um bom desconto, pois dificilmente esse tipo de carro deprecia tanto assim. Um desconto de apenas 5% dificilmente vai ser vantajoso para qualquer modelo”, diz Milad Kalume Neto, gerente de desenvolvimento de negócios da consultoria automotiva Jato Dynamics.

Kalume acrescenta ainda que os descontos tendem a ser maiores quanto maiores forem os estoques de modelos fabricados em 2013. “Em janeiro e fevereiro costuma haver descontos maiores para modelos fabricados no ano anterior, porque o estoque já está menor e as montadoras querem se livrar dele”, diz.  Já se o modelo for sair de linha ou sofrer um “facelift” no ano seguinte, o desconto já deve bater os 15%, no mínimo, diz Paulo Garbossa.

Existem outras vantagens em comprar um veículo zero quilômetro que vai sair de linha no ano seguinte. Além do preço, os modelos costumam vir mais equipados, o que é ideal para quem vai comprar o primeiro carro, por exemplo, mas precisa de um modelo superior por algum motivo. Pode ser mais difícil encontrar peças de reposição para carros que saíram de linha. Mas se o término da produção for recente, ao menos nos primeiros anos não é tão complicado.

IPI pode ter efeito limitado

O próximo mês de janeiro trará consigo duas questões que podem aumentar o preço dos veículos zero quilômetro: o aumento do IPI e a obrigatoriedade de airbag duplo e freios ABS em todos os carros novos vendidos no Brasil.

No caso do aumento do IPI, o governo já assegurou que ele será apenas parcial, mas ainda não foram divulgadas as novas alíquotas. Sabe-se apenas que não será um retorno aos percentuais originais. Essa incerteza torna difícil estimar qual vai ser o real impacto da elevação do imposto nos preços dos carros. Para Milad Kalume Neto, a alta do IPI deve ser pequena, dado que 2014 é um ano de eleição presidencial. “Se o IPI aumentar muito, haverá uma perda grande de volume de vendas, demissões etc. Deve ser simplesmente um pequeno ajuste”, crê Kalume.

Ele lembra que o impacto do IPI é importante, pois se trata do último imposto da cadeia produtiva. Cada ponto percentual de aumento no IPI se traduz em cerca de 1% de aumento no preço do carro. Atualmente, o IPI é de 2% para veículos de até mil cilindradas; 7% para veículos flex entre mil e 2 mil cilindradas; 8% para veículos a gasolina entre mil e 2 mil cilindradas; e de 2% para veículos utilitários. Originalmente, as alíquotas eram de 7%, 11%, 13% e 8%, respectivamente.

Airbag e ABS

A obrigatoriedade de duplo airbag e freios ABS de série nos carros novos vendidos no Brasil em 2014deve encarecer aqueles modelos que ainda vêm “pelados” da fábrica. Segundo Milad Kalume Neto, o preço do conjunto para o consumidor final é de 1.100 reais, mas pode ser diluído com o ganho de escala da produção. Além disso, o governo fala em reduzir o IPI sobre esses componentes, de forma a não onerar demais as montadoras. Mas ainda não há certeza quanto a isso.

Por isso, embora possa haver um aumento no preço dos carros, ainda não se sabe ao certo de quanto ele seria. “O problema é justamente não sabermos de quanto vai ser o aumento. A estratégia mais conservadora para o consumidor é: se tiver dinheiro no bolso para comprar à vista, qualquer momento é bom para comprar, porque ele não vai se enfiar em uma dívida”, orienta Paulo Garbossa. “Se a pessoa não tem dinheiro para comprar à vista agora, mas vai ter esse dinheiro em março, é melhor comprar o carro em março à vista com aumento de preço do que comprá-lo agora com desconto, mas financiado”, completa o professor.

Quem optar por comprar carros que não venham com esses itens de série ainda neste ano pagará mais barato, uma vez que o mesmo modelo, ainda que básico, deverá encarecer no ano que vem por conta dos itens de segurança. Contudo, esse consumidor ficará com uma espécie de “mico” nas mãos: um carro que vai depreciar mais do que o normal, e ainda por cima, bem menos seguro. Vale pesar os prós e os contras.


Projeção -- carros que podem ficar mais caros com airbag e ABS

Veja quais carros podem ficar mais caros ao oferecer airbag e ABS de série, itens que passarão a ser obrigatórios segundo exigências do Contran


Chevrolet Celta - Versões: 1.0L Flexpower - Preço: R$ 25.040,00 - Não traz airbag nem ABS de série.


Chevrolet Agile - Versões: 1.4 Econoflex LT - Preço: R$ 37.020,00 - Não traz freios ABS de série, mas oferece airbags de série.


Effa M100 - Versões: 1.0 8V - Preço: R$ 24.980,00 - Não traz freios ABS nem airbag de série.


Fiat Mille - Versões: 1.0 Fire Flex Way Economy (3 e 5 portas) / 1.0 Fire Flex Economy (3 e 5 portas) - Preços: R$ 22.050,00 (Way Economy 3 portas); R$ 22.540,00 (Economy 3 portas); R$ 24.330,00 (Way Economy 5 portas); R$ 24.880,00 (Economy 5 portas) - Não traz freios ABS nem airbags de série.


Ford Fiesta - Versões: 1.0 Rocam Flex S; 1.0 Rocam Flex S Plus; 1.0 Rocam Flex SE; 1.6 Rocam Flex SE - Preços: R$ 26.990,00 (Flex S); R$ 29.300,00 (Flex S Plus); R$ 29.990,00 (Flex SE); R$ 33.990,00 (Flex SE 1.6) - Não traz freios ABS nem airbags de série.


Ford Fiesta Sedan - Versões: 1.6 Rocam Flex Sedan SE - Preço: R$ 36.490,00 - Não traz freios ABS nem airbags de série.


Ford Focus - Versões: 1.6 16V Tivct S; 1.6 16V Tivct S Powershift - Preços: R4 60.990 (Tivct S); R$ 66.990,00 (Powershift) - Não traz freios ABS, mas traz airbags de série.


Ford KA - Versões: 1.0 Rocam Flex S; 1.0 Rocam Flex SE; 1.0 Rocam Flex SE Plus - Preços: R$ 24.200,00 (S); R$ 26.700,00 (SE); R$ 28.600,00 (SE Plus) - Não traz freios ABS, mas traz airbags de série.


Honda City - Versões: 1.5 16V Flex DX - Preço: R$ 50.990,00 - Não traz freios ABS, mas traz airbags de série.


Honda Fit - Versões: 1.4 16V Flex DX - Preço: R$ 47.930,00 - Não traz freios ABS, mas traz airbags de série.


Hyundai HB20 - Versões: 1.0 Comfort e 1.0 Comfort Plus - Preços: R$ 33.295,00 (Comfort) e R$ 35.295,00 (Comfort Plus) - Não traz freios ABS, mas traz airbags de série.


Hyundai HB20S - Versões: 1.0 S Comfort Plus - Preço: R$ 38.995,00 - Não traz freios ABS nem airbags de série.


Kia Picanto - Versões: 1.0 Flex J318 e 1.0 Flex Auto J368 - Preços: R$ 37.900,00 (J318) e R$ 41.900,00 (Auto J368) - Não traz freios ABS, mas tem airbags de série.


Mitsubishi Pajero - Versões: 2.0 16V Flex - Preço: R$ 66.990,00 - Não traz freios ABS, mas traz airbags de série.


Nissan March - Versões: 1.0 16V Flex; 1.0 16V Flex S; 1.0 16V Flex Rio 2016; 1.6 16V Flex Rio 2016 - Preços: R$ 27.690,00 (1.0 16V); R$ 32.890,00 (1.0 16V S); R$ 33.890,00 (Rio 2016); R$ 37.090,00 (1.6 Rio 2016) - Não traz freios ABS, mas traz airbags de série.


Nissan Tilda - Versões: 1.8 Flex S - Preço: R$ 49.190,00 - Não traz freios ABS, mas traz airbags de série.


Peugeot 207 - Versões: 1.4 Flex Blue Lion; 1.4 Flex XR; 1.4 Flex Active; 1.4 Flex XR Sport - Preços: R$ 26.990,00 (Blue Lion); R$ 30.990,00 (XR e Active); R$ 33.990,00 (XR Sport) - Não traz freios ABS nem airbags de série. Apenas a versão Blue Lion traz airbags de série.



Peugeot 207 Sedan - Versões: 1.4 Flex Active Sedan; 1.4 Flex XR Sedan; 1.4 Flex Allure Sedan; 1.4 Flex XR Sport Sedan - Preços: R$ 33.490,00 (Active e XR); R$ 36.490,00 (Allure e Sport) - Não traz freios ABS nem airbags de série. Apenas as versões Active e Allure trazem airbags de série.



Renault Clio - Versões: 1.0 16V Hi-Power Authentique (3 e 5 portas); Hi-Power Expression - Preços: R$ 24.400,00 (Authentique 3 portas); R$ 25.300,00 (Authentique 5 portas); R$ 26.100,00 (Expression) - Não traz freios ABS nem airbags de série.



Renault Duster - Versões: 1.6 16V Hi-Flex; 1.6 16V Hi-Flex Expression - Preços: R$ 50.790,00 (1.6 16V)e R$ 53.650,00 (Expression) - Não traz freios ABS nem airbags de série. Apenas a versão 1.6 16V traz airbags de série.



Renault Logan - Versões: 1.0 16V Hi-Flex Authentique - Preço: R$ 27.500,00 - Não traz freios ABS nem airbags de série.



Renault Sandero - Versões: 1.0 16V Hi-Flex Authentique - Preço: R$ 28.370,00 - Não traz freios ABS nem airbags de série.



Suzuki Jimny - Versões: 1.3 4 AII 4WD; 1.3 4Sun 4WD; 1.3 4Sport 4WD - Preços: R$ 55.990,00 (4AII); R$ 59.990,00 (4Sun); R$ 61.990,00 (4Sport) - Não traz freios ABs nem airbags de série.



TAC Stark - Versões: 2.3 TDI AWD - Preço: R$ 98.780,00 - Não traz freios ABS nem airbags de série.


Toyota Corolla - Versões: 1.8 Dual VVT-I Flex; 1.8 Dual VVT-I Flex XLI Auto - Preços: R$ 60.820,00 e R$ 64.640,00 (XLI Auto) - Não traz freios ABS, mas traz airbags de série.


Toyota Etios - Versões: 1.3 T-Flex - Preço: R$ 29.990.00 - Não traz freios ABS, mas traz airbags de série.


Volkswagen Gol - Versões: 1.0 8V (3 e 5 portas); 1.0 8V Total Flex Ecomotion (3 e 5 portas) - Preços: R$ 25.760,00 (Total Flex e Total Flex Ecomotion 3 portas); R$ 27.810,00 (Total Flex e Total Flex Ecomotion 5 portas) - Não traz freios ABS nem airbags de série.