quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Etanol brasileiro, mais uma promessa dos governos petistas que vai para o ralo

[O fracasso do etanol brasileiro como combustível automotivo é mais uma lambança a ser incluída na lista de promessas não cumpridas pelos dois governos petistas, o do NPA (Nosso Pinóquio Acrobata, Lula) e o de Dilma NPS (Nosso Pinóquio de Saias). Já em julho de 2011 abordei esse assunto, na postagem "Etanol brasileiro: um pepino, um abacaxi ou ambos?" -- o que ali está permanece inteiramente válido. A reportagem abaixo, de Felipe Vanini, foi publicada em 09/12 na versão em português do jornal espanhol El País, com o título "Fim do sonho doce do etanol brasileiro".]


Plantação de cana de açúcar para produção de etanol - (Foto: Nils Andreas/Ünica - Fonte: El País).


O projeto do Brasil de transformar o etanol numa fonte de energia renovável consumida no mundo inteiro virou um pesadelo. O país não conseguiu deslanchar a produção do combustível à base de cana-de-açúcar, uma forte quebra da safra em 2011 levou os preços do álcool combustível às alturas e hoje nem mesmo o consumidor brasileiro, que foi incentivado nos últimos anos a abastecer com o produto em consequência da popularização dos veículos bicombustíveis, ou flex, quer saber do etanol.

A crise aguda que o setor sucroalcooleiro enfrenta tem vários motivos. Quando o ex-presidente Lula da Silva, que governou o Brasil entre 2002 e 2010, levantou a bandeira do etanol como uma commodity made in Brazil, as cotações do barril de petróleo subiam vertiginosamente nas Bolsas de Londres e de Nova York, referências na negociação da matéria-prima da gasolina e de outros derivados.

Nesse contexto, os Estados Unidos buscavam emplacar sua própria produção de biocombustíveis e, com a aprovação em 2005 da Energy Bill, uma lei que estipulou metas crescentes de consumo de etanol até 2020, os norte-americanos superaram a produção brasileira pela vez em 2006. No ano passado, o abismo entre a produção dos dois países já era mais do que o dobro, com 50 bilhões de litros de etanol produzidos nos Estados Unidos, contra 23,6 bilhões de litros produzidos no Brasil.

E há um detalhe: os norte-americanos usam como matéria-prima de seus biocombustíveis principalmente o milho, enquanto os brasileiros adotam a cana-de-açúcar, cujo rendimento na produção de álcool é maior do que o da oleaginosa. “O que aconteceu foi a falta de visão estratégica do governo, que não percebeu que os Estados Unidos, quando adotam uma lei, cumprem. A nossa produção estagnou enquanto a deles disparou”, afirmou Daniele Siqueira, analista de mercado da Agência Rural.

A descoberta do pré-sal também é apontada como uma das razões da decadência do etanol. O volume assombrador de reservas de petróleo encontradas em profundidades de até 7000 metros tendeu a atrair os investimentos internacionais em energia. “De 2005 a 2009, havia muitos investidores interessados no etanol e chegamos a viabilizar vários negócios. Mas, depois disso, a área esfriou”, disse André Segadilha, sócio-diretor de estruturação de operações da boutique de investimentos 5S Participações.

Mas a área sucroalcooleira não só esfriou. Ela congelou. Entre os anos de 2007 a 2010, 76 usinas de cana-de-açúcar foram construídas no Brasil. Mas, de 2011 a 2012, 27 unidades produtoras fecharam as portas ou entraram em recuperação judicial. E até o final do ano-safra 2013/14, terminologia adotada na agricultura que representa o ciclo dos cultivos, a União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), que representa os usineiros, prevê que mais 12 usinas encerrem suas atividades ou peçam na Justiça alívio para quitar suas dívidas.

No entanto, enquanto isso não acontece, a Unica tenta reconquistar os consumidores perdidos. Uma campanha publicitária que tinha como mote a frase Abasteça com Etanol, o combustível completão, foi a cartada dos usineiros. De acordo com Antonio de Padua Rodrigues, diretor-técnico da Unica, o resultado foi “positivo”. “Conseguimos deixar o recado para quem não se lembrava mais que o etanol é uma alternativa ambientalmente consciente. Isso sem focar no preço, apenas dizendo que é competitivo”, avalia Padua.

Porém, a política da presidenta Dilma Rousseff, que foi ministra das Minas e Energia de 2003 a 2005 na gestão de Lula, não está empolgando os empresários do setor. Em maio, o Governo anunciou uma plano setor que zerou a cobrança do imposto PIS/Cofins e aumentou a mistura de álcool na gasolina de 20% para 25% diante da expectativa de uma safra melhor. Além disso, o pacote incluiu uma linha de crédito com juros subsidiados de 4 bilhões de reais para incentivar o plantio de canaviais.

Para Gláucio de Oliveira, sócio-diretor da ADN Corretora, especializada em álcool, no entanto, a política do Governo para o setor é equivocada. “Quem é que vai querer investir com o teto de preços que o Governo impõe aos combustíveis. Do modo como é hoje, a remuneração ao setor é sufocada”, diz ele.

A crítica também é feita por Maurílio Biagi Filho, presidente do Grupo Maubisa, do ramo do agronegócio. “Esse último reajuste de gasolina que a Petrobras autorizou sepultou o setor sucroenergético, além de ter impactado muito negativamente nas ações da própria estatal”, afirmou ele, cujo pai, Maurílio Biagi, foi um dos empresários, junto com Orlando Ometto, da Cosan, entre outros, que convenceu o ex-presidente Ernesto Geisel, da junta militar, a adotar o Programa Nacional do Álcool (Pró-alcool) em 1975.

O Pró-alcool surgiu na esteira da crise do petróleo de 1973 e visava a substituição da frota brasileira movida a gasolina pelo biocombustível. Da época da implantação até meados dos anos 1990, sucessivos problemas de desabastecimento de cana-de-açúcar, ou quebras de safra, tiveram como consequência a falta do combustível nas bombas. E essa experiência foi traumatizante para muitos brasileiros que, com o advento dos carros flex, sentiram-se mais confiantes para comprar veículos que usam tanto a gasolina quanto o álcool. Quando o preço do álcool corresponde a menos de 70% do valor da gasolina é mais vantajoso abastecer com o biocombustível. Por ora, no entanto, a maioria dos brasileiros tem ficado com a gasolina, apesar de 60% da frota, ou 20 milhões de veículos, serem da categoria flex, ou seja, podem ser abastecidos com um ou outro combustível.

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