sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Veja os carros que saíram de linha em 2012

O ano de 2012 foi marcado por muitos lançamentos, mas vários modelos também saíram de linha ao longo deste ano.  Alguns foram substituídos por uma nova geração ou por um veículo diferente. Para outros, a idade simplesmente pediu a conta. A Chevrolet, em ano de renovação de portfólio, foi a campeã de aposentadorias.

A Volvo parou de fabricar o C30 com o lançamento do V40, o modelo chega so Brasil em 2013  - (Foto: Divulgação).

A Chevrolet deixou de importar o Omega, que no Brasil era vendido apenas na versão Fittipaldi, de motor 3.6 V6 com injeção direta e 292 cv- (Foto: Divulgação).

A Chevrolet fez em 2012 sua maior renovação de linha. Com a chegada da minivan Spin, Meriva (à esq.) e Zafira foram outros dois modelos que foram aposentados - (Foto: Divulgação).

Lançada em 1982, a veterana Volkswagen Parati foi oficialmente descontinuada neste ano; na foto, uma versão de 2006 - (Foto: Divulgação).

O Peugeot 307 (hatch e sedã) foi substituído pela nova geração, o 308 - (Foto: Renato Sockler/Folhapress).

A Citroën aposentou a minivan Xsara Picasso - (Foto: Anna Carolina Negri/Folhapress).

Com lançamentos como o Onix e Cobalt, o Chevrolet Corsa sedã também saiu de cena em 2012 - (Foto: Raphael Falavigna/Folhapress).

O Prisma foi outro modelo da Chevrolet que deu adeus neste ano - (Foto: Divulgação).


Raios brasileiros são piadas, decretou Dona Dilma

Revelando uma expertise até então insuspeita, nossa supersimpática Dona Dilma decretou: os raios brasileiros são benéficos à nossa saúde por serem fontes de gargalhadas, além de serem bons também para os reservatórios de usinas hidrelétricas porque, segundo ela (atentem bem para a ênfase), quando há raio há chuva, e chuva é crucial porque enche reservatórios. Ninguém, até hoje, na história da eletricidade conseguiu ser tão sintético em definir petreamente o que são os raios (pelo menos os brasileiros).

Ganhamos todos, pois. O povão pode ficar tranquilo, relaxar e se preparar para boas gargalhadas neste verão. Nossos humoristas e cartunistas foram aquinhoados com uma fonte inesgotável de boas risadas. Só ficou incômodo para os especialistas do MME e do ONS que cometeram a gafe de atribuir a raios alguns de nossos melhores apagões no governo da nossa terna ex-guerrilheira. Foi-me grato também saber uma razão a mais para a felicidade irradiante de meus conterrâneos mineiros: é que em Minas cai muito raio.

Em 28 de agosto de 2012, o Congressional Research Service dos EUA [Serviço Parlamentar de Pesquisas, em tradução livre] emitiu um relatório assinado por um especialista em política energética, Richard J. Campbell, com o título Weather-Related Power Outages and Electric System Resiliency  ["Interrupções Elétricas de Origem Climática e a Capacidade de Recuperação de Sistemas Elétricos", em tradução livre].

Na Tabela 1 ("Grandes Apagões nos Estados Unidos -- Estatísticas para as Categorias de Causas das Interrupções"), pág. 3 desse relatório (disponível em formato pdf), está indicado que, no período de 1984 a 2006, os raios foram a causa de 11,3% dos grandes apagões nos EUA. A tabela resume um estudo efetuado pela Universidade da Virgínia, com base em dados da NERC - North-American Electric Reliability Corporation [Corporação Norte-Americana de Confiabilidade Elétrica, em tradução livre]. 

O renomado EPRI (Electric Power Research Institute - Instituto de Pesquisas de Energia Elétrica) afirma que as descargas provocadas por raios são a causa mais frequente das interrupções em linhas de transmissão, e emite um guia específico para proteção dessas instalações contra esses fenômenos.

Diante dessas notícias alarmantes e preocupantes, nossa afável ex-guerrilheira agiu com a rapidez e o bom humor que lhe são característicos e determinou energicamente à ABIN - Agência Brasileira de Inteligência e à FAB que impeçam a todo custo a entrada de raios americanos no espaço aéreo brasileiro.

Fica então acertado: se algum raio provocar algum apagão ou apaguinho no nosso sistema elétrico, trata-se de piada de mau gosto e como tal deve ser descartado e execrado. PT, saudações.

 

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Portugal conclui as grandes privatizações exigidas pelo resgate financeiro da UE

Portugal concluiu hoje as grandes privatizações exigidas por seu resgate financeiro pela União Europeia (UE), com a venda da empresa nacional de aeroportos ao grupo francês Vinci por mais de 3 bilhões de euros. Esta operação, somada à venda das participações do governo no setor de energia por quase 3,3 bilhões de euros no início do ano, permitirá ao país cumprir com folga as metas de receitas por privatizações e de redução do deficit fiscal exigidas pela UE e pelo FMI (Fundo Monetário Internacional).

Ainda que o governo conservador de Pedro Passos Coelho tenha todavia que se desfazer da empresa aérea TAP, de alguns estaleiros, dos correios, de várias ferrovias, de serviços de água e esgoto, e da RTP (Rádio e Televisão de Poprtugal) a receita esperada para esses ativos não deverá ultrapassar algumas centenas de milhões de euros.

A venda da ANA - Aeroportos de Portugal celebrada hoje pelo Conselho de Ministros entrega à francesa Vinci, por 3,080 bilhões de euros, a gestão dos aeroportos de Lisboa, Porto, Algarve e Açores e de outros terminais menores durante cinquenta anos. Um porta-voz governamental informou que a proposta francesa não apenas foi a mais elevada, como também foi a que oferecia melhores condições para o desenvolvimento e a promoção internacional dos aeroportos lusos. Foram descartados os lances, de menor valor, de EAMA, liderada pela Corporación América da Argentina, e das operadoras dos aeroportos de Frankfurt e Zurique, esta última associada à empresa brasileira CCR [concessionária no Brasil de rodovias, da Ponte Rio-Niterói, e do transporte aquaviário entre Rio e Niterói]. [Talvez nossa supersimpática Dona Dilma devesse ter uma conversinha com o primeiro-ministro português, para aprender a privatizar aeroportos.]

A francesa Vinci, presente em uma centena de países, opera uma dezena de aeroportos, em sua maioria franceses, e em Portugal é acionista majoritária (com 37%) da Lusoponte, concessionária das duas grandes pontes de Lisboa -- a Vasco da Gama e a 25 de abril.

A venda da empresa de aeroportos propiciou ao Estado português a maior receita das privatizações exigidas pelo resgate de 78 bilhões de euros que a UE e o FMI lhe proporcionaram no ano passado.

O principal partido da oposição em Portugal, o PS - Partido Socialista, criticou imediatamente o processo de privatização dos aeroportos do país, classificando-o de "obscuro" pela falta de um concurso de caráter público, com requisitos claros sobre taxas aeroportuárias ou investimentos pelo comprador.

O produto da venda da ANA será um alívio para as necessidades de financiamento de Portugal, cuja dívida equivale já (dados de setembro último) a 120% do PIB. Apesar do resgate financeiro, a economia portuguesa continua mergulhada em uma crise grave, com um desemprego de 16% (que duplicou em apenas três anos) e uma queda de 3% no PIB em 2012.

A regulamentação da Internet no Brasil

[O texto abaixo é da autoria de Luciano Martins Costa e foi publicado hoje no site Observatório da Imprensa. O fato de publicá-lo não implica minha concordância absoluta e integral ao seu conteúdo e ao modo como é apresentado, e visa tão somente estimular o debate sobre o tema.]

A discussão sobre a proposta de regulamentação da internet, que tem como relator o deputado Alessandro Molon (PT-RJ), ainda não ganhou o devido espaço nos jornais. Embora tenha na sua origem o DNA da Creative Commons, organização social nascida nos Estados Unidos para incentivar a inovação no ambiente digital baseada no compartilhamento de ideias, a proposta de criar uma “constituição” brasileira para o chamado ambiente virtual corre o risco de ser abduzida pelos interesses de grandes empresas e deixar em segundo plano a natureza da rede e os direitos dos usuários.

Uma das evidências de que os argumentos estão sofrendo um processo de reducionismo – o que é sempre um sinal de distorção em favor de uma das forças em litígio – é a constante comparação com exemplos do mundo físico.

A questão da cobrança ou não de tarifas diferenciadas para usuários comuns e clientes de grande porte leva representantes das operadoras de telefonia, por exemplo, a comparar o tráfego na rede mundial de computadores com o pedágio em estradas de asfalto: para essas corporações, uma motocicleta não deveria pagar o mesmo que uma carreta, segundo artigo de um de um de seus representantes publicado na edição de quarta-feira (26/12) no Globo.

Vida digital

Parece óbvio, mas não é. Empresas de telecomunicações, por sua própria natureza, operam com objetivos oligopolistas e precisam ser constantemente vigiadas pelos órgãos de controle da isonomia econômica. A frequência com que resistem a normas de defesa do consumidor e sua presença permanente entre os mais recorrentes objetos de queixas por mau atendimento aconselham a tomar com cautela suas ponderações.

No entanto, outros protagonistas desse cabo-de-guerra, como as grandes empresas de mídia, entram na discussão usando o discurso da necessidade de salvaguardar a democracia da rede como disfarce para a garantia de vantagens no futuro. Porém, a própria evolução da tecnologia tem feito com que uns e outros mudem de posição conforme se alteram as condições reais de funcionamento da rede.

O processo colaborativo para a construção das regras da internet no Brasil foi lançado oficialmente, pelo Ministério da Justiça, em outubro de 2009. De lá para cá, o próprio ambiente em que se processam as comunicações digitais mudou tanto que os analistas consideram ter sido inaugurada uma nova era na internet.

Aliás, mesmo expressões consolidadas como “cultura cibernética”, “conexão online” e “internet” vêm caindo em desuso, dada a nova natureza do mundo digital: antes as pessoas buscavam “acesso à internet” – hoje e cada vez mais, elas estão imersas no ambiente que ainda chamamos de virtual. De maneira acelerada, também essa ideia de “virtualidade” perde sentido, na medida em que certas características da vida social digital passam a dominar as relações reais entre os indivíduos.

Uma boa pauta

Os problemas para a criação de um “marco civil” são muitos e de variadas origens. O principal deles é o fato de se tentar legislar sobre uma questão ainda em desenvolvimento, e que se transforma rapidamente, aos saltos, gerando sucessões de rupturas.

Como tratar de mutações na estrutura arcaica do Congresso?

A imensa maioria dos parlamentares que deverá aprovar a proposta final é composta de analfabetos digitais. Entre os parlamentares dotados de conhecimento razoável sobre o assunto, não será raro encontrar os que estão comprometidos com este ou aquele setor da economia com grande interesse no assunto, por conta dos financiamentos de campanha eleitoral e outras práticas menos explícitas de convencimento.

Se, de um lado, disputam o predomínio organizações poderosas no campo minado do Parlamento, de outro lado o assunto parece não importar muito aos grandes interessados.

É certo que os usuários, dispersos em suas individualidades, ainda não deram mostras de organização suficiente para influenciar na decisão. As muitas audiências públicas realizadas pelo Brasil afora desde o lançamento da proposta do “marco civil” atraíram microempreendedores, representantes das grandes empresas de comunicação e até delegados da Federação Brasileira de Bancos, mas ainda não se chegou a um modelo que satisfaça a todos os que se manifestaram.

O ponto central da discórdia parece ser a definição do que venha a ser a neutralidade da rede. Todos a defendem, mas a maioria dos protagonistas quer uma “neutralidade” a seu favor.

Uma reportagem que atualize o público sobre o estado desse debate, com o esclarecimento de todos os interesses envolvidos, é uma boa pauta para esses dias de pouca notícia.

Três mil vetos e uma grande omissão

[O texto abaixo é da autoria de Alberto Dines e foi publicado no dia 24/12 no site Observatório da Imprensa. Ele aborda, com muita propriedade, mais uma palhaçada protagonizada por nossos parlamentares, no espetáculo deprimente do simulacro da votação a jato de mais de 3.000 vetos presidenciais que mofam no Congresso, alguns há mais de década. O mofo é a característica marcante da mentalidade e da papelada de um Congresso que envergonha nossa democracia. Dines, corretamente, denuncia também veementemente a imprensa omissa que não policiou mais essa demonstração de incompetência e inutilidade de nossos parlamentares.]

Três mil vetos e uma grande omissão

Alberto Dines -- Observatório da Imprensa (24/12/2012)

Quando há duas semanas descobriu-se que havia mais de três mil vetos presidenciais na fila para serem examinados pelo Congresso – alguns datados de 1994! – flagrou-se a natureza e dimensões do leviatã burocrático nacional.

A surpresa foi geral, mas a reação do responsável por este formidável atentado ao Estado de Direito foi kafkiana. Para permitir a urgência na apreciação do veto de Dilma Rousseff à distribuição dos royalties do petróleo, o chefe de Legislativo, o inventivo e sempiterno José Sarney, determinou que os vetos fossem examinados simultaneamente: mandou imprimir um catatau de quase 500 páginas para ser distribuído a cada um dos deputados e senadores onde seriam anotados os respectivos votos, item por item, e depois depositados em “urnas” de madeira, verdadeiras caçambas que os funcionários carregariam nos ombros.

A farsa merecia ser incluída numa novela em quadrinhos sobre a República dos Equívocos. Não deu tempo: os chargistas estão assoberbados, nossos melhores satiristas já se foram, outros estão de licença médica e o recesso natalino não pode ser atrasado. Fica para a próxima.

Escancarou-se simultaneamente a incapacidade da nossa mídia em exercer a sua função fiscalizadora. Aquele que foi chamado de Quarto Poder e hoje se comporta como se fosse o undécimo, não conseguiu enxergar a gigantesca ilegalidade que está sendo praticada consecutivamente há 18 anos. Nem se esforçou.

Ícones da inépcia

Três mil vetos presidenciais pendurados, sem solução, constituem uma aberração institucional que não pode ser varrida para debaixo do tapete. Se nossos repórteres políticos já não cobrem o Congresso, por que continuam ser credenciados para esta missão?

É óbvio que há em Brasília profissionais conscientes, ansiosos para exercer a vigilância sobre um poder que no passado foi o principal aliado da imprensa na denúncia de abusos. Os porteiros das redações é que desistiram do jornalismo de formiguinha, teimoso, tinhoso, anônimo e eficaz.

Os editores querem aparecer, brilhar, produzir manchetes espetaculosas, de preferência sopradas ou vazadas pelas autoridades ou arapongas. Não têm tempo nem ânimo para estimular as novas gerações de repórteres a meter a mão na papelada, devassar os “atos secretos” e driblar os arrogantes assessores de imprensa a serviço do mau jornalismo.

Não se cobrem as sessões, não se cobra assiduidade dos representantes do povo, não se examinam os relatórios produzidos pela descomunal burocracia a serviço das duas casas do Parlamento.

Os três mil vetos em suspenso são os ícones de um Legislativo inepto e viciado. São também um atestado de uma imprensa desnorteada, desfibrada, alheia ao seu compromisso de servir a sociedade e a democracia.

Hospital brasileiro testa prontuário digital que prevê piora do paciente

A troca dos prontuários hospitalares de papel para os arquivos digitais vai mudar mais do que o suporte no qual estão anotadas as informações dos pacientes.

Ferramentas desenvolvidas para analisar os dados contidos nesses arquivos podem ajudar os médicos a controlar a prescrição de remédios, a equacionar filas de pacientes para procedimentos em hospitais públicos e até a saber qual dos internados pode tem maior risco de piorar nas horas seguintes. 

O Hospital Santa Catarina de Blumenau (SC) vai começar a testar, a partir de fevereiro de 2013, um algoritmo usado em nove hospitais americanos para prever o prognóstico do paciente, saber quais têm mais chance de voltar a ser internados caso recebam alta e quais devem ser priorizados nas rondas dos médicos e enfermeiros.

Indicadores

De acordo com o cardiologista Luiz Haertel, diretor médico de um programa de prontuários eletrônicos usado no hospital, o algoritmo leva em conta resultados de exames como pressão, frequência cardíaca, hemogramas e testes de função renal, além de observações da enfermagem, como a aceitação do paciente à comida e o seu risco de queda.  "O algoritmo dá um peso a cada uma dessas variáveis. Se uma piorou, a curva vai começar a cair, ainda que o paciente não sinta nada".

A ferramenta, chamada de Índice Rothman, vai ser avaliada por um ano no hospital de Blumenau. O objetivo é saber se vai haver mudança na conduta dos médicos e se o atendimento vai melhorar.  "A junção de informações que estão separadas no prontuário pode virar um novo conhecimento e dar pistas de diagnóstico e tratamento".


Domínio do papel


O alcance da digitalização ainda é baixo no Brasil. Segundo Marco Antonio Gutierrez, presidente da Sbis (Sociedade Brasileira de Informática em Saúde), menos de 10% dos hospitais no país têm algum tipo de prontuário eletrônico, somando cerca de 600 instituições. Na atenção básica, como em postos de saúde e ambulatórios, os sistemas se limitam a controlar agendamento de consultas. O paciente só vai ter seus dados registrados em um prontuário se chegar a um dos hospitais que já aderiram ao sistema.

O Incor (Instituto do Coração do HC de São Paulo) é um deles. O instituto tem um departamento de informática, dirigido por Gutierrez, que desenvolveu o programa usado ali há cerca de dez anos.  "O sistema nunca termina. Estamos aumentando o número de ferramentas de apoio ao diagnóstico, saindo de uma fase de registro de dados e entrando num sistema mais ativo", diz o engenheiro.

A fila de cirurgia, por exemplo, é formada de acordo com um indicador de risco gerado pelo prontuário eletrônico, usando dados como idade, sexo e resultados de exames. "É um método objetivo".  O sistema também gera alertas caso o médico receite remédios que possam ter uma interação perigosa.

Economia

O Icesp (Instituto do Câncer do Estado de São Paulo Octavio Frias de Oliveira) também tem um sistema de prontuário, que tem sido útil, entre outras coisas, para acelerar a fila de cirurgias. 

Kaio Jia Bin, diretor de operações e tecnologia de informação do instituto, afirma que hoje, se um paciente desmarcar sua operação por qualquer motivo, é possível aproveitar a mesma equipe de cirurgia para outro doente, evitando que equipamentos e profissionais fiquem ociosos --isso se a desistência for avisada em um prazo de 24 horas. "Consigo substituir o paciente em 94% dos casos. Só com essa gestão, economizamos R$ 3 milhões entre 2010 e setembro de 2012 e agilizamos a fila".

Mas o médico faz ressalvas ao uso de cálculos matemáticos para estabelecer quais doentes devem ter prioridade. "Quanto mais automatizado é o atendimento, menos médicos você vai ter. Um algoritmo pode baratear o custo e piorar o atendimento".

Para Haertel, o uso dessas ferramentas vai ajudar a tornar mais justa a escolha dos que precisam de mais atenção. "Ninguém quer ser um número num hospital, mas todo mundo é. A vocação do prontuário eletrônico é corrigir os erros assistenciais". 

Conselheiro Digital - Programas ajudam médico a obter estatísticas sobre desempenho de pacientes e do hospital (clique na imagem para ampliá-la) - (Ilustração: Alex Argozino/Editoria de Arte/Folhapress).

Arquivo público da Bahia funciona há três anos sem luz

[Há certas coisas que acontecem neste país que são simplesmente inacreditáveis! O que a Folha de S. Paulo descreve é uma vergonha para a Bahia e o país!  É bom não esquecer que a Bahia está sob governo do PT desde 1 de janeiro de 2007, nas mãos de Jacques Wagner, que é portanto o grande responsável por esse crime contra a história e a cultura baiana e brasileira. Sendo judeu, Jacques Wagner envergonha também a tradição judia de extremo apego à história.]

Sob risco iminente de curto-circuito, o Arquivo Público da Bahia funciona há quase três anos sem luz na maior parte das instalações. O arquivo é considerado por especialistas um dos mais importantes do país.

Do início de 2010 ao final de 2011, o corte de energia elétrica foi total, obrigando pesquisadores a disputar mesas junto a janelas, em busca de claridade e ventilação.  Hoje só há energia na sala de consulta -- reduzida a nove mesas -- e na direção.

O arquivo ainda convive com goteiras, infiltrações e forro comprometido pela umidade, entre outros problemas constatados pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) em novembro.

Construído no século 16 para ser morada de jesuítas, o espaço é tombado desde 1949. Guarda a memória da primeira capital brasileira, com o equivalente a 23 quilômetros de papéis e documentos raros, contemplados com o Diploma de Memória do Mundo pela Unesco (braço da ONU para a educação). O arquivo, diz o historiador norte-americano Richard Graham, usuário do acervo, contém a "base fundamental" da economia, da política e da sociedade brasileira nos últimos séculos.

De acordo com o historiador João José Reis, o arquivo que serve de referência até para especialistas em história da África "está morrendo de morte lenta, com perigo de morte súbita".  "As condições são as piores possíveis, até constrangedoras para a própria direção e pesquisadores estrangeiros em lugares como o toalete", diz Consuelo Sampaio, chefe do Centro de Memória da Bahia de 2003 a 2011. Segundo Sampaio, as inadequações já causaram perda de material, tanto que a instituição precisou recorrer à Universidade de Chicago (EUA) para obter cópia de documento do século 19 de seu próprio acervo.[Sem comentários!]

Apesar disso, para a instituição responsável pelo espaço, o arquivo continua em "bom estado de conservação", afirma Andréa Montenegro, diretora em exercício da Fundação Pedro Calmon. Ela diz que as obras elétricas, previstas para setembro, estão em fase final, ao custo de R$ 520 mil. A próxima será a reforma do telhado e do teto, orçada em R$ 1 milhão. Montenegro reconhece não haver espaço para documentos atuais no local, descumprindo a Lei de Acesso à Informação, e diz que a única saída é uma nova sede.

Trabalhando diariamente no acervo, o pesquisador Urano Almeida atua em casos de disputa de terras e processos de reconhecimento de nacionalidade, outras áreas primordiais do arquivo.  "Esse prédio é o meu ganha pão", afirma.

O promotor Ulisses Campos, do núcleo de defesa do patrimônio do Ministério Público da Bahia, diz que irá expedir recomendação para que o governo do Estado faça a recuperação do espaço. Em caso de descumprimento, ameaça acionar a Justiça.

[Vejam vídeo sobre o Arquivo Público da Bahia: http://r7.com/_GGY ]

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Atraso ameaça planos para os transportes durante a Copa

[Cada vez se aproxima mais da realidade a possibilidade de termos nós caóticos nos transportes nas sedes da Copa de 2014, sem falar em outros vexames na organização e na realização dos jogos. É o que informa reportagem de hoje do jornal Valor Econômico, reproduzida abaixo. Estamos vivendo a crônica da bagunça anunciada.]

A Copa do Mundo de 2014 terá estádios novos - dois já estão prontos e outros cinco devem ser entregues até junho - e alguns aeroportos modernizados, mas a movimentação dos torcedores pelas cidades ficará complicada. A 18 meses da Copa, levantamentos de diferentes órgãos mostram que os principais projetos de mobilidade urbana prometidos como legado ainda não saíram do papel.

Conforme previa a matriz de responsabilidade de 13 de janeiro de 2010, documento assinado como compromisso dos governos municipais, estaduais e federal, após anúncio das 12 cidades-sede, as obras de mobilidade urbana tinham previsão para começar ainda em 2010 e a maior parte terminaria até dezembro deste ano, com algumas sendo concluídas no primeiro semestre de 2013.  Mesmo com regime diferenciado de contratação, que garante maior celeridade aos processos de licitação, o prazo de dois anos para término das obras não se mostrou suficiente. A maior parte delas está atrasada, algumas foram descartadas para a Copa e outra parte começou a ser executada fora do prazo inicial e só será concluída depois de julho de 2014.

Obras, gastos e Copa - Previsões de custos nas cidades-sede aumentaram - em R$ milhões (clique na imagem para ampliá-la) - (Ilustração: Valor Econômico).

Em relação aos estádios, alguns atrasos também estão confirmados. No fim de 2011, o Ministério do Esporte previa que, até dezembro deste ano, nove estádios seriam entregues. No entanto, apenas dois estão prontos: Castelão, em Fortaleza, e Mineirão, em Belo Horizonte. Atrasos de um ano para outro também foram verificados em obras de aeroportos e portos, segundo levantamento do Tribunal de Contas da União (TCU).

Para os estádios de Manaus, Recife, Brasília, Rio e Salvador, a previsão é que as obras estejam concluídas até o fim do primeiro semestre de 2013. Os casos mais complicados estão em Natal, que até outubro só tinha avançado 39% nas obras, Porto Alegre e Curitiba. Nas últimas duas cidades, os trabalhos de reforma têm pouco mais de 50% do cronograma cumprido. A Arena da Floresta, em Cuiabá, é uma das que apresentam maior defasagem entre o previsto e o concretizado. No site do Ministério do Esporte, a previsão de entrega continua fixada para dezembro de 2012, mas o texto sobre o andamento da obra aponta para apenas 50,3% dos trabalhos concluídos.

A estimativa de gastos nos 12 estádios aumentou cerca de R$ 900 milhões de um ano para o outro, e agora está em R$ 7,5 bilhões. Em um ano, a arena Mané Garrincha, em Brasília, teve o custo estimado elevado em 21%. Hoje, a obra está orçada em R$ 812 milhões. Cuiabá, por outro lado, teve o preço reduzido de R$ 596 milhões para R$ 518 milhões. O Itaquerão, em São Paulo, com 60% das obras prontas continua com estimativa de entrega para o fim de 2013.

A maior dificuldade para cumprir os prazos inicialmente previstos nos projetos de mobilidade, de acordo com as secretarias municipais e estaduais envolvidas nas obras que foram ouvidas pelo Valor, foi a falta de projeto executivo. Com elaboração dos projetos, a matriz começou a ser revisada em 2011, aumentando o prazo para término dos projetos e substituindo algumas obras por outras. Ao todo, a matriz de responsabilidades lista 50 obras de mobilidade nas 12 cidades-sede, com orçamento estimado em R$ 11,48 bilhões. Manaus, São Paulo e Brasília, no entanto, já assumiram que não conseguirão terminar as grandes obras de mobilidade previstas.

Em Manaus, o monotrilho que ligaria a região norte ao centro da cidade foi retirado da matriz da Copa. A obra estava orçada em R$ 1,3 bilhão e deveria ter começado em março de 2010, com conclusão em dezembro de 2013, mas não saiu do papel. A capital do Amazonas teve outra obra retirada dos compromissos fixados para o mundial, a do BRT [Bus Rapid Transit, em inglês], que custaria R$ 290 milhões e também não começou, de acordo com o TCU. As duas obras serão executadas agora com verba do Programa de Aceleração de Crescimento (PAC) e devem ficar prontas até o fim de 2015.

Em Brasília, o veículo leve sobre trilhos (VLT), que iria ligar o aeroporto e o terminal da Asa Sul, também foi excluída da matriz de responsabilidades. O projeto teria custo de R$ 270 milhões foi alvo de questionamento judicial. As obras estavam previstas para terminar em março de 2012 e depois janeiro de 2014, mas nunca começaram.  Na capital federal, as intervenções para a Copa, que chegariam a R$ 1,8 bilhão, agora ficarão em torno de R$ 1,6 bilhão. Além disso, ampliação da rodovia DF-047, com investimento de R$ 103 milhões, prevista para começar em agosto de 2012, ainda não foi iniciada.

Em São Paulo, a construção do monotrilho, que vai ligar o Aeroporto de Congonhas ao bairro do Morumbi, com custo estimado de R$ 2,8 bilhões, estava prevista para começar em julho de 2010 e terminar em março de 2013, mas os atrasos fizeram com que a obra fosse retirada da matriz da Copa. Agora será executada apenas pelo governo de São Paulo e está prevista para o fim de 2014.

Em Cuiabá, o projeto de VLT terá que ganhar fôlego nos próximos meses para conseguir ficar pronto até julho de 2014. Depois de ser suspensa pela Justiça, a previsão de término da obra é 31 de março de 2014. O VLT vai ligar o aeroporto de Várzea Grande ao bairro do CPA, na zona sul da cidade. A outra linha vai do bairro do Coxipó, na zona oeste, ao centro. A obra vai custar R$ 1,4 bilhão e ainda precisa vencer um complicado processo de desapropriação de comerciantes em área do centro da cidade.  Em agosto, o projeto foi questionado pela Justiça, que identificou "uma série de irregularidades" -desde a escolha do modal de transporte urbano até o estudo de viabilidade adequado. A ligação inicialmente seria feita por BRT e custaria R$ 323,8 milhões. Segundo a primeira matriz de responsabilidade, o projeto deveria ter sido entregue em dezembro de 2011.

Em Salvador, o BRT previsto para garantir o acesso do estádio ao aeroporto, foi substituído por metrô e retirado da matriz da Copa. O BRT custaria R$ 567,7 milhões e seria entregue em agosto deste ano. Já o projeto de metrô deve sair por R$ 3,5 bilhões e estará apenas parcialmente pronto em 2014. De acordo com a Secretaria Estadual para Assuntos da Copa, a extensão da linha 1 será entregue até o mundial, mas o acesso do aeroporto à região norte de Salvador, que seria garantido pela linha 2, não ficará pronto a tempo.

Não há nenhuma nova obra de transporte público de massa prevista em Natal. A cidade, que se comprometeu com a abertura de duas novas avenidas, adiou o prazo de entrega de dezembro deste ano para março de 2014.

Em Recife, parte do complexo viário norte-sul, previsto para a Copa, só fica pronto em 2015. No Sul, as obras de três corredores de ônibus e do BRT de Curitiba só começam o ano que vem e devem terminar em maio de 2014. Em Porto Alegre, Belo Horizonte, Fortaleza e Rio, os projetos para Copa sofrerão atraso de um ano em relação ao prazo inicial, mas os governos garantem que as principais obras de mobilidade ficam prontas até julho de 2014.




Brasil repete para Copa de 2014 mesmos erros da Copa de 1950

Obras atrasadas, sedes escolhidas por motivos políticos e incertezas até o último momento. Essa poderia ser a história da Copa de 2014. Mas, na realidade, são acontecimentos que marcaram a outra Copa do Mundo que ocorreu no Brasil, a de 1950, símbolo do esforço de um país para se projetar pela primeira vez internacionalmente. Um levantamento realizado por quatro pesquisadores e jornalistas - Beatriz Ferrugia, Diego Salgado, Gustavo Zucchi e Murilo Ximenes - revela como o Mundial de 1950 foi preparado, suas intrigas políticas e desafios. O futebol era outro. O Brasil certamente também era outro e a própria Fifa não é a megapotência que hoje controla o maior esporte do planeta.

Há 60 anos, o Mundial contou com 13 seleções, após muitas delas desistirem ou esnobarem o Brasil. A Argentina, provavelmente a melhor seleção do mundo na década de 40, optou por não jogar. Segundo a pesquisa, a Copa custou ao País menos de R$ 500 milhões, transformando para valores atuais. A conta do Mundial de 2014 ficará por US$ 29,2 bilhões. Portanto, comparar o evento semiamador de 1950 e o ultraprofissional de 2014 não seria adequado. Marcada pela dramática derrota do Brasil na final contra o Uruguai, a parte inicial do Mundial e sua própria preparação foram sendo esquecidas da memória coletiva. Mas o fato é que, mesmo com seis décadas de diferença, a pesquisa revela como os acontecimentos em 50 guardam inesperadas semelhanças com os desafios atuais.

Assim como ocorreu para a Copa de 2014, em 1950 o Brasil praticamente não teve concorrente na disputa por sediar o Mundial. O País foi escolhido para ser o anfitrião da quarta Copa do Mundo em 1946, um ano depois da Segunda Guerra Mundial que havia deixado um continente inteiro de joelhos. A Fifa, assim como várias outras organizações esportivas, voltava a ter suas atividades regulares e buscava formas de retomar seus torneios. A última Copa havia ocorrido em 1938. A opção dos cartolas foi a de levar o Mundial para a América do Sul, longe dos conflitos. Nenhum país europeu tinha condições financeiras e nem emocionais para sediar o evento. Mesmo em 1950, várias seleções europeias desistiram de participar, seja por falta de recursos, por não ter retomado o futebol ou por terem se aliado ao Nazismo. A própria Copa teria um ano de atraso. Em 1946, quando a Fifa anunciou que a Copa ocorreria no Brasil, a previsão era de que ela fosse em 1949. Mas, em setembro de 47, a Fifa decidiu adiar o projeto para 50.

Sedes. Mas nem o adiamento serviu de alívio para o Brasil. Se poucos eram os países que tinham condições de realizar um Mundial, dentro do Brasil a disputa foi acirrada entre as cidades para que fossem escolhidas como sede. Não havia um número predeterminado de cidades e, para chamar a atenção da Fifa e de autoridades no Rio de Janeiro, políticos por todo o País começaram a promover jogos de futebol.  Mesmo tendo quatro anos para se preparar, o Brasil só começaria a definir as sedes um ano antes da Copa e em praticamente todas as cidades os atrasos nas obras marcaram a preparação.

Numa vistoria ao Pacaembu, os delegados da Fifa indicaram 23 dias antes do início do Mundial de 1950 que o estádio paulista não estava totalmente dentro dos padrões internacionais. O então inspetor da entidade, o italiano Ottorino Barassi, pediu uma ampliação do gramado e a criação de um local para a imprensa.

Mesmo a escolha das sedes se transformaria em uma novela que chegaria às vésperas do evento. Ao final de inúmeros debates, a decisão foi a de realizar o Mundial no Rio de Janeiro, Belo Horizonte, São Paulo e Curitiba. Outras duas - Porto Alegre e Recife - acabariam sendo incluídas na programação faltando semanas para o evento. No caso da capital gaúcha, interesses pessoais de alguns políticos garantiram a inclusão de último momento na agenda da Fifa. O presidente da CBD na época, Rivadávia Meyer, fazia há meses uma forte pressão sobre políticos gaúchos para conseguir dinheiro público para colocar um dos estádios de Porto Alegre em condições para receber o evento. Mas, para sediar jogos do Mundial, o Estádio dos Eucaliptos precisaria ter 35 mil lugares - 15 mil a mais que a capacidade naquele momento. Também precisaria de uma dimensão mínima de 106 m x 89 m para o campo, além da construção de túneis para vestiários e novos alambrados.

Mas já era janeiro de 1950 e o governo do estado se recusava a abrir os cofres. Foi então quando o prefeito da cidade, Ildo Meneghetti, um torcedor fanático do Inter e com interesses de garantir a seu time um estádio melhor, liberou 500 mil cruzeiros - o equivalente a R$ 715 mil hoje - para a obra. Em um decreto, alegou que ampliar o estádio era "uma das necessidades mais clamorosas" de Porto Alegre. Outro argumento: a Copa iria projetar a cidade internacionalmente. O estádio seria inaugurado oito dias antes da Copa começar. Mas a passagem do Mundial pela cidade não seria nada do que o político havia prometido e os 15 mil lugares extras jamais foram usados, já que os jogos não conseguiram atrair grande público.

O acordo com a CBD era de que, com a reforma, Porto Alegre receberia três jogos da Copa. Antes mesmo de começar o evento, um dos jogos seria cancelado. A França se recusou a viajar ao Brasil, alegando que a tabela era inaceitável. Pela programação, o time de Paris jogaria em Porto Alegre e, quatro dias depois, no Recife contra a Bolívia. Assim, Porto Alegre ficou com apenas dois jogos, um dos 3,5 mil pagantes - 10% do estádio - e outro com 11 mil.

Uma frustração similar seria registrada em Curitiba. A arena havia sido construída aos poucos e pelos próprios funcionários de uma empresa ferroviária. Durante anos, os trabalhadores, loucos pelo esporte, paravam os trens que passavam pela região e pediam sobras do material que carregavam. Essas madeiras, metais e pedras acabariam sendo usados para erguer o estádio. Com a decisão de ter a Copa no Brasil, o governo do Paraná deu 300 mil cruzeiros (R$ 430 mil atuais) para permitir que o estádio do Ferroviário fosse ampliado para 30 mil pessoas, uma exigência da Fifa mesmo numa cidade que na época tinha uma população de 180 mil pessoas. Segundo a pesquisa, os dois jogos do Mundial disputados na capital paranaense foram um fracasso de público. Na partida Espanha 3 x 1 EUA, apenas 9 mil pessoas acompanharam o jogo. No segundo - Suécia x Paraguai -, não havia sequer 8 mil pessoas na arquibancada.

Trena. Uma das disputas mais acirradas ocorreu no Nordeste. Faltando 39 dias para a abertura do Mundial, o Brasil ainda não sabia qual seria a sede dos jogos na região. Fortaleza, Recife e Salvador disputavam a vaga. Num espelho perfeito do que era o processo de seleção dos organizadores da Copa, um dos enviados mediu o campo da Ilha do Retiro com sua própria trena. Dias depois, indicou que Recife seria a vencedora para sediar os jogos. 

Mas os desafios estavam apenas começando. Para estar pronto para o Mundial, 20 dias depois de ser confirmado, os sócios do time do Sport se mobilizaram para reformar o estádio. Superada essa dificuldade, veio a ducha de água fria. A seleção da Suíça se recusou a jogar no calor nordestino, Portugal abandonou a ideia da Copa e a França se negou a viajar ao Brasil. A capital pernambucana ficaria com apenas um jogo, entre Chile e Estados Unidos, partida assistida por Jules Rimet. Mas o jogo ainda seria marcado pela queda de energia do estádio, o que impediu que a partida fosse transmitida pelas rádios ao restante do Brasil e do mundo.

Maracanã. A partir de fotos da época, documentos e relatos, a pesquisa ainda revela como uma disputa política particular seria travada nas obras do Maracanã, a maior da Copa e que se transformou em uma síntese do que foi o Mundial de 50. Carlos Lacerda, líder da oposição, e o prefeito do Rio, Mendes de Morais, travaram uma batalha na determinação do local, cada qual lutando para ser o pai da obra. 

A história do Maracanã começa em 1941. Um certo Oscar Niemeyer chegou a apresentar dois projetos para o estádio, ambos recusados. Naquele momento, brigas políticas enterraram a ideia de um estádio para a capital. Foi só mesmo em 1946, quando o Brasil foi escolhido para sediar a Copa, que o projeto se transformaria realidade. O prefeito insistia em erguer o estádio ao lado do rio Maracanã, enquanto Lacerda o queria em Jacarepaguá. Para justificar, Morais usou até mesmo o argumento de que a urbanização da região ajudaria a evitar as inundações do rio. Depois de uma disputa intensa na Câmara de Vereadores, o prefeito acabou prevalecendo. O Maracanã seria oficialmente chamado de "Estádio Mendes de Morais".

Mas a briga teve seu preço e as obras sofreram importantes atrasos. O Maracanã não seria entregue nem no prazo e nem no orçamento estimados originalmente. Apesar de a construção ter sido iniciada em 1948, a pesquisa encontrou fotos do jogo de inauguração ocorrido apenas uma semana antes da Copa e que mostravam a presença ainda de andaimes nas arquibancadas no dia 16 de junho de 1950, entre a Seleção Paulista e a Seleção Carioca. A concretagem não tinha sido concluída. Na realidade, até a inauguração havia sido adiada. A ideia era de que a partida de abertura ocorreria no dia 28 de maio. 

Oito dias depois, a Copa seria aberta no mesmo estádio, o maior da história até então. Para aquele jogo entre Brasil e México, as estruturas de apoio já haviam sido retiradas e o Exército foi convocado para ajudar a limpar a área. Mas, ao chegarem ao estádio, os torcedores se depararam com barro, lama e material de construção espalhado pelo local.

Pilar de um projeto de autoafirmação da capacidade de um país em desenvolvimento sediar um evento internacional, o Maracanã custou o equivalente hoje a R$ 215 milhões. Após a dramática derrota do Brasil na final, o busto de Mendes de Morais que havia sido colocado na entrada do estádio foi destruído pelos torcedores. O estádio deixou de levar o nome do prefeito.  Nos seis meses que se seguiram, o coronel Herculano Gomes, engenheiro principal das obras, seria cobrado por auditores a explicar os atrasos e inflação no orçamento, colocando praticamente um fim à sua carreira.

A seleção só entraria em campo dois anos depois do drama de 1950 e sua camisa jamais seria a mesma. Nem a história do futebol brasileiro.

Estados Unidos querem usar celulares para monitorar terremotos

Uma equipe de pesquisadores do laboratório sísmico da Universidade da Califórnia em Berkeley anunciou a intenção de usar telefones celulares para monitorar terremotos.  O objetivo é usar os acelerômetros presentes nesses dispositivos para criar uma rede ultrarrápida de compartilhamento de informação em tempo real sobre os tremores. Para tornar a ideia realidade, os cientistas estão desenvolvendo um aplicativo que registre os abalos e, em seguida, envie os dados para um servidor central através da rede de telefonia móvel. [Ver o site que originou esta reportagem.]

Com o grande número de smartphones em circulação, os estudiosos afirmam que poderão obter detalhes sobre onde e quando os terremotos foram sentidos. Trata-se, segundo os pesquisadores, de uma informação muito útil para elaborar um plano de risco e evitar catástrofes. Tais dados, acrescentam os cientistas, também podem ter um papel importante no sistema de alerta de terremotos da Califórnia.

Acelerômetros

"Atualmente, os telefones inteligentes contêm todos os tipos de sensores, e nós podemos usá-los de maneiras inéditas", disse o pesquisador Qingkai Kong.  "No momento, só podemos detectar terremotos de magnitude superior a 5,0 mas com os acelerômetros em futuros smartphones, esperamos poder levantar informações sobre os pequenos", disse ele à BBC.

O pesquisador da Universidade da Califórnia em Berkeley explicou o seu projeto na reunião de outono da União Geofísica Americana (AGU, na sigla em inglês), a maior reunião anual de cientistas no campo.

Kong conta que ele e seus colegas não tinham certeza de que os telefones celulares seriam adequados para servir de sismógrafos de bolso. Por essa razão, decidiram selecionar e testar um número determinado de dispositivos em laboratório, numa espécie de mesa que simulava os tremores. O equipamento, explica Kong, simula diferentes graus de terremoto e é comumente usado para verificar a robustez de técnicas de construção, e, assim, assegurar que os edifícios não caiam. Os resultados demonstraram claramente que os acelerômetros utilizados em tais telefones para rodar o sistema operacional, poderiam detectar a vibração dos abalos.

Ruído

O problema, no entanto, é que os telefones raramente são deixados em uma superfície plana, sendo carregados junto de seus proprietários.  Mas a equipe liderada por Kong acredita que pode resolver tal problema, e desenvolveu um algoritmo que eliminaria o "ruído" relativo ao seu uso pelo ser humano. "O padrão de reconhecimento dos algoritmos detecta atividades humanas como caminhar, correr e dirigir, e usa essa informação para excluí-las dos sinais do terremoto", disse Kong. Esse algoritmo, acrescentou, raramente pode ser "enganado".

O projeto ainda se encontra em estágio inicial e a equipe espera em breve começar a recrutar mais funcionários para aprofundar a pesquisa.  O objetivo é testar o aplicativo com milhares de voluntários em toda a baía de São Francisco no próximo ano. A razão é simples. São Francisco possui um histórico de tremores. Um de magnitude 7,9 ocorreu em 1906 e destruiu a região. O Estado da Califórnia está localizado sobre a falha de San Andreas e é muito propenso a abalos sísmicos.

Já Berkeley está localizada na falha de Hayward, local, estimam os cientistas, do próximo tremor californiano.

Vários celulares são conectados à mesa sísmica do Laboratório Sismológico da Universidade da Califórnia Berkeley - (Foto: Divulgação).

[Essa reportagem do Estadão e a da BBC que a originou vendem essa ideia de monitoramento de terremotos por smartphones como uma grande novidade, mas não é bem assim. Já em dezembro de 2010, o site Geospace informava a existência da mesmíssima ideia, na mesma universidade, com base em um trabalho liderado por Shideh Dashti (uma iraniana, formada em engenharia civil nos EUA) -- os testes iniciais disso foram publicados no paper "Engaging Citizens In the Collection of Earthquake Observations Using the Internet II" ("Engajando Cidadãos na Coleta de Observações de Terremotos Usando a Internet II", em tradução direta). O aplicativo para iPhone com esse objetivo está disponível no site iShake. O trabalho de Dashti et al. está disponível em iShake: Using Personal Devices to Deliver Rapid Semi- Qualitative ... 
A Dra. Dashti terá publicado em 2013 o paper: Dashti, S., Bray, J.D., Reilly, J., Glaser, S., Bayen, A., Ervasti, M. (2013). “Evaluating the Reliability of Mobile Phones as Seismic Monitoring Instruments,” Earthquake Spectra Journal, Earthquake Engineering Research Institute (accepted and in press) --("Avaliando a confiabilidade de telefones celulares como instrumentos de monitoramento sísmico" -- Jornal de Espectros de Terremotos, Instituto de Pesquisas de Engenharia sobre Terremotos -- aceito e a ser publicado).

Há um outro artigo sobre o mesmo tema, feito em 2011 por uma equipe do Caltech (Instituto de Tecnologia da Califórnia) chefiada por Matthew Faulkner :
 

The Next Big One: Detecting Earthquakes and other Rare ...

Apenas a título de curiosidade, sem vínculo direto com o tema desta postagem, apresento a ilustração abaixo, que mostra a impressionante quantidade de estações de medições de intensidades sísmicas no Japão.

Instalações com medidores de intensidade sísmica no Japão, situação em 5 de janeiro de 2012 - (Fonte: link citado acima).

Seria exagerado pedir ao governo do Estado do Rio um mapinha com a indicação dos postos de medição/alerta de riscos de desmoronamentos de encostas na região serrana?... Fico com receio de que o governador Sérgio Cabral, no afã de ser prestativo, acabe se enganando e emita uma carta do nível de assoreamento no rio Sena, na região de Paris, que lhe é tão familiar.]  

 

Acelera-se o aquecimento da Antártica

[Enquanto os cientistas não se entendem sobre as razões disso, o clima do planeta continua cada vez mais doido e preocupante. O desaparecimento do gelo da Groenlândia e do Ártico está começando a deixar de ser só uma profecia apocalíptica para assumir contornos de trágica realidade. Os países dominantes da Terra, e seus cientistas, vão esperar até quando?!]

A Antártica vem dando muito trabalho aos cientistas do clima, quando se trata de determinar o efeito do aquecimento global sobre ela e sua evolução futura. Mas, pouco a pouco vão se acumulando estudos e dados que mostram que, também no continente branco, estão aumentando as temperaturas médias e, em algumas de suas zonas, isso se faz muito rapidamente. De fato, na região ocidental do continente branco foi registrado um aumento de 2,4 graus centígrados desde 1958 até agora, o que significa quase o dobro do que se havia estimado para essa zona e o triplo da média do planeta, de acordo com uma pesquisa recente que conseguiu reproduzir a evolução da temperatura do ar da região no último meio século. O valor máximo ocorreu no verão austral de 2005.

"Nosssos registros sugerem que o aquecimento estival continuado na Antártica ocidental pode alterar o equilíbrio da massa superficial da capa de gelo, de tal modo que a região poderia contribuir ainda mais do que agora para o aumento do nível do mar", explica David Bromwich, cientista da Universidade de Ohio (EUA), que chefiou a nova pesquisa, apresentada na edição de 23 de dezembro corrente da revista Nature Geoscience.  Seu colega, Andrew Nomaghan, do Centro Nacional para Pesquisa Atmosférica, dos EUA, (NCAR, em inglês), também americano, enfatiza que esses dados situam a região entre as de mais rápido aquecimento da Terra, como assinala a Universidade de Ohio.

O ANO MAIS QUENTE NA ANTÁRTICA OCIDENTAL
Temperatura média em janeiro na estação antártica Byrd, em graus centígrados

Fonte: G. Picard (LGGE)/El País

Bromwich e seus colegas pesquisaram a região ocidental, frente ao mar de Amundsen, baseando-se nos dados meteorológicos registrados na base Byrd, situada a uns 1.100 km do Polo Sul.

Sabia-se que a península antártica, apelidada de o Caribe do continente branco, é uma zona de aquecimento rápido, com um incremento de temperatura superior a 2,5 graus no último meio século, segundo dados do IPCC (sigla inglesa para Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas). Entretanto, as coisas não estão tão claras em outras zonas. O problema é que a complexa circulação oceânica que circunda a Antártica dificulta muito a pesquisa e a modelagem da mudança climática que ocorre ali, a ponto de ser essa a região do planeta em relação à qual os cientistas têm mais incertezas. Mas, os estudos estão avançando em bom ritmo e foram obtidos resultados importantes nos últimos anos, de modo que uma boa parte do próximo relatório do IPCC, o AR5, é dedicada ao continente branco, reduzindo-se as incertezas de maneira expressiva.

Os registros meteorológicos na estação Byrd começaram em 1958, com o Ano Geofísico Internacional. O problema é que, desde então, as medições não têm sido contínuas, já que a base não tem sido permanente o tempo todo (ocupação no inverno e no verão) e os equipamentos automáticos de registros de dados  têm às vezes sofrido defeitos [a estação Byrd operou como estação de pesquisa o ano todo até 1972, quando passou a operar como tal apenas no verão; foi usada até 2004-2005, e em 2009 deu-se início à sua retomada como centro de pesquisas].  O que Browich e seus colegas fizeram foi restabelecer toda a série de medições de temperatura do ar próximo à superfície na zona, completando a informação através da interpolação de dados com registros de outras estações.

"Há provas inequívocas  de que a capa gelada da Antártica ocidental está contribuindo para a subida do nível do mar -- entretanto, as mudanças na temperatura em décadas recentes continuam padecendo de incertezas", escrevem os pesquisadores na Nature Geoscience, apresentando o problema. Explicam que a região provavelmente se aqueceu desde 1950, "mas não há acordo [entre os especialistas] sobre a magnitude, a sazonalidade e o alcance espacial desse aquecimento".  Sua conclusão, após a pesquisa, é que a zona está efetivamente sofrendo um aumento da temperatura, que é significativo durante o verão austral, particularmente em dezembro e janeiro, a temporada de degelo máximo.

A região estava sob suspeita dos especialistas climáticos, já que ali, na costa do mar de Amundsen, vem aumentando a perda de gelo no mar nos últimos anos devido à diminuição da espessura e ao derretimento da capa de gelo, o que desencadeia o aumento na temperatura da água. Mas, havia dúvidas quanto à temperatura do ar. A pergunta que Bromwich e seus colegas se fazem é se a Antártica ocidental está a ponto de ficar parecida à Groenlandia, no que se refere a degelo. "O aquecimento máximo registrado em 2005 é uma manifestação dessa transição?", perguntam.

Por enquanto, os dados desses especialistas mostram que entre 1958 e 2010 houve naquela região um aquecimento de 0,47 graus centígrados por década, acumulando um aumento de 2,44 graus em 52 anos. Além disso, os cientistas chamam a atenção para a necessidade de se ter na região uma boa rede para fazer observações meteorológicas de longo prazo.

Termostato do planeta

As regiões polares são como um termostato global que regula o sistema climático da Terra, explica o órgão Pesquisa Antártica Britânica (BAS, na sigla inglesa). As superfícies geladas ajudam a resfriar a atmosfera ao refletir para a atmosfera a radiação solar que é absorvida pelas águas escuras dos oceanos. As águas geladas são cruciais no sistema de correntes oceânicas que distribuem o calor por todo o planeta, e o oceano austral que rodeia o continente branco é um absorvedor natural de dióxido de carbono.

"A maior parte das séries grandes de medições das estações de pesquisas da Antártica mostram que não há uma tendência significativa nem para o aquecimento nem para o resfriamento, e as temperaturas na maior parte do continente [antártico] têm sido relativamente estáveis na última década",  assinalam os especialistas do BAS. Mas, enfatizam que a situação é totalmente diferente na Península Antártica, em cuja costa ocidental as temperaturas aumentaram quase 3 graus centígrados nos últimos 50 anos, "umas 10 vezes a média global", um aumento só igualado no Alasca e na Sibéria  [e pensar que está previsto o incremento de perfurações em busca de petróleo no Alasca ...]. E, advertem aqueles especialistas, as águas da corrente circumpolar antártica estão se aquecendo mais rapidamente que o resto do oceano global. Agora, a recente pesquisa de David Browich e seus colegas parece estender à Antártica ocidental a zona de aquecimento particularmente alto.

[O Estadão publica outros detalhes das pesquisas de Bromwich & equipe. O professor David Bromwich, da Ohio State University, acredita que o estudo revela que o planeta ultrapassou um limite crítico. "O fato de que as temperaturas estão aumentando no verão significa que a WAIS vai se derreter não só a partir da parte de baixo, como já observamos hoje, mas também a partir da parte de cima (WAIS = sigla inglesa para "placa de gelo da parte ocidental da Antártica")".

Atividade humana ou mudança natural?

Estudos anteriores publicados na revista científica Nature indicavam que a temperatura da WAIS estava aumentando devido ao aquecimento do oceano, mas a nova pesquisa indica que a atmosfera também está desempenhando um papel importante.  "Estamos observando um impacto mais dinâmico que ocorre devido às mudanças climáticas que acontecem em outros lugares do globo e aumentam o acúmulo de calor na WAIS", diz Monaghan. 

A pesquisa não revela o grau de influência da atividade humana no aquecimento registrado na Antártida.  "Esta questão ainda está em aberto. Este estudo não foi feito. Minha opinião é de que provavelmente existe [impacto da atividade humana no aquecimento da Antártida], mas não posso dizer isso com certeza". Para o professor Bromwich, um estudo para determinar esta questão específica precisa ser feito agora. 

Um dos temores dos cientistas é que aconteça desabamentos de grandes pedaços de geleiras, como ocorreu em 2002 com o segmento conhecido como Larsen B. Em apenas um mês, o Larsen B se desprendeu da massa de gelo do continente. "Essa é uma preocupação do derretimento constante do oeste da Antártida, se os padrões de temperatura continuarem assim no verão". (Vejam o vídeo do maior rompimento de iceberg já filmado no Ártico.)]

Área com degelo superficial, em janeiro de 2005 [sin deshielo = sem degelo; - días con deshielo = dias com degelo] - clique na imagem para ampliá-la - (Fonte: G. Picard(LGGE)/El País).

Imagem de satélite mostra região oeste da Antártica que está se aquecendo (em amarelo) - (Foto: NASA).


segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Paulo de Tarso Venceslau não tem motivos para duvidar da ameaça a Marcos Valério

[O texto abaixo é da autoria de Augusto Nunes e foi publicado ontem em sua coluna na revista Veja.]

Um dos fundadores do PT, Paulo de Tarso Venceslau foi expulso do partido e demitido do cargo de secretário de Finanças da prefeitura de São José dos Campos depois de ter revelado a Lula delinquências envolvendo bandidos de estimação do chefe supremo. Esse foi um dos muitos episódios que lhe permitiram ver de perto a face escura de Paulo Okamotto, iluminada por um artigo publicado no blog do Ucho. Confira dois trechos do texto reproduzido na seção Feira Livre.: 

"Okamotto costumava circular pela prefeitura de São José em busca de lista de empresários credores. Ele não ocupava qualquer cargo no paço. Era evidente que buscava recursos paralelos, com a anuência da então prefeita Ângela Guadagnin. No mesmo dia em que a auditoria externa encerrou seus trabalhos e me enviou o relatório, fui exonerado sumariamente a pedido de Paulo Okamotto e Paulo Frateschi, segundo me relatou a própria prefeita.

O administrador do sindicato, Sadao Higuchi, era quem encaminhava os recursos vindos do exterior a Okamotto. Em 13 de junho de 1998, em plena campanha eleitoral, Sadao morreu “afogado” numa represa localizada nas proximidades de Bragança Paulista. (…)  Morreu afogado, mas tinha uma contusão na cabeça. Ele teria caído n’água e o barco teria se chocado com ele. Pequeno enorme detalhe: tratava-se de um bote inflável".

Coisa de direitista delirante? Mais uma da elite golpista? Invencionice da mídia conservadora? É difícil enquadrar nesses clichês o economista Paulo de Tarso Venceslau. Paulista de Santa Bárbara d’Oeste, hoje com 69 anos, Venceslau se engajou na luta armada como ativista da Ação Libertadora Nacional (ALN), participou em setembro de 1969 do sequestro do embaixador americano Charles Burke Elbrick, foi capturado dias depois pela polícia política, passou cinco anos na cadeia e ligou-se a um dos grupos que fundariam o PT. Não é loiro. Nem tem olhos azuis.

Anos depois de ouvir ameaças de morte berradas por torturadores decididos a fazê-lo falar, Venceslau voltou a ouvi-las sussurradas por companheiros decididos a fechar-lhe a boca. Na prisão, poderia ter morrido por insistir em mentiras. No PT, quase morreu por ter contado a verdade.

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[Íntegra do artigo de  Paulo de Tarso Venceslau (*): "Paulo Okamotto, um filme déjà vu".]

O nome de Paulo Okamotto nas manchetes de jornais não é novidade. A imprensa insiste em mantê-lo nos cadernos políticos quando deveria confiná-lo nas páginas policiais. É a minha opinião por tudo o que conheci, e pelo meu convívio com essa  misteriosa figura. Entre outras coisas, Okamotto é responsável pela administração das contas pessoais do ex-presidente desde o tempo em que Lula presidiu o Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo. A leitura do Estadão de 11 de dezembro provocou-me a sensação de estar vivendo de novo uma experiência já vivida. O chamado déjà vu.

Em 1979, durante a greve dos metalúrgicos do ABC, Okamotto fazia parte de um esquema paralelo. Seu nome constava de uma lista de dirigentes sindicais que deveriam assumir clandestinamente o controle do sindicato caso a diretoria eleita fosse presa pela polícia política. Nessa mesma ocasião, eu era um dos coordenadores da parte financeira do Fundo de Solidariedade que funcionava na Assembleia Legislativa de São Paulo. Chegava muita grana do exterior. O euro ainda não existia. Mas os dólares, francos e marcos eram muito bem recebidos. O administrador do sindicato, Sadao Higuchi, era quem encaminhava os recursos vindos do exterior a Okamotto.


Em 13 de junho de 1998, em plena campanha eleitoral, Sadao morreu “afogado” numa represa localizada nas proximidades de Bragança Paulista. Lula fez questão de suspender todas as atividades para participar das buscas. Quem conhece a represa, como eu conheço, não consegue entender o que aconteceu. Sadao morreu afogado, mas tinha uma contusão na cabeça. Ele teria caído n’água e o barco teria se chocado com ele. Pequeno enorme detalhe: tratava-se de um bote inflável.

Em 1992, o PT elegeu vários prefeitos no estado. Indicado por José Dirceu e Aloisio Mercadante, assumi a secretaria de Finanças de São José dos Campos. A empresa CPEM, representada pelo advogado Roberto Teixeira, compadre de Lula, era a maior credora da prefeitura então comandada pela futura bailarina Ângela Guadagnin. A auditoria externa que contratei comprovou uma série de irregularidades. Informado pessoalmente por mim, Lula convocou Okamotto e ordenou-lhe que me acompanhasse numa conversa com seu compadre. Ou seja, enviou-me para conversar pessoalmente com o acusado.

Okamotto costumava circular pela prefeitura de São José em busca de lista de empresários credores. Ele não ocupava qualquer cargo no paço. Era evidente que buscava recursos paralelos, com anuência da então prefeita Ângela Guadagnin. No mesmo dia em que a auditoria externa encerrou seus trabalhos e me enviou o relatório, fui exonerado sumariamente a pedido de Paulo Okamotto e Paulo Frateschi, segundo me relatou a própria prefeita.

Algumas semanas antes da exoneração, sofri um atentado na então Rodovia dos Trabalhadores, hoje Ayrton Senna. O carro ocupado por três homens enormes tinha chapa fria, conforme informou a Polícia Civil onde registrei o boletim de ocorrência. Detalhe: o carro em que me encontrava era dirigido por um funcionário de carreira da prefeitura que, literalmente, urinou nas calças.

Quando Lula foi eleito em 2002, pensei seriamente em pedir asilo político em algum país europeu. Cheguei a ter pesadelos. Sonhava que Okamotto era chefe da Polícia Federal. Fui dissuadido por Lupércio Marques de Assis, meu sogro e advogado brilhante, que morreu logo após a posse do governo petista. Em 2006, durante a CPI dos Bingos, defrontei-me com Paulo Okamotto em uma acareação realizada no Congresso Nacional. Na ocasião, entreguei formalmente aos congressistas uma vasta documentação. Duvido que alguém tenha lido. O que mais me chamou a atenção foi o olhar de ódio com que Okamotto me encarava.

Faço esse breve relato para registrar que não tenho nenhum motivo para por em dúvida o depoimento de Marcos Valério, um dos responsáveis pelo mensalão que o levou a ser condenado a mais de 40 anos de prisão. Parece que foi para mim que Okamotto disse: “Tem gente no PT que acha que a gente devia matar você. (…) Ou você se comporta, ou você morre".

(*) Paulo de Tarso Venceslau, ex-petista e ex-secretário de Finanças da prefeitura de São José dos Campos, é economista e diretor de redação do Jornal Contato.

 Paulo Okamotto e Lula (o NPA) - (Foto: Veja).

Paulo de Tarso Venceslau - (Foto: Veja).
  

Taxas bancárias: você pode estar pagando o que não deve

A cobrança de taxas de serviços e a venda de produtos “embutidos” em boletos bancários são proibidas por lei e por resolução do Conselho Monetário Nacional (CMN). Entretanto, empresas de diversos segmentos mantêm a prática abusiva. Ao consumidor, portanto, cabe redobrar a atenção para evitar gastos desnecessários com pagamentos não obrigatórios.

A analista de sistemas Cláudia Carvalho passou seis meses de 2012 pagando, junto com o valor do aluguel, um seguro no valor de R$ 4,50 que não havia solicitado. Por pura falta de atenção, segundo ela. "Aluguei um apartamento em fevereiro e fiz o seguro obrigatório, além de outro que escolhi, contra danos a terceiros. Os boletos foram chegando e fui pagando normalmente. Até que um dia tive um problema, entreguei um cheque a um amigo e pedi para que fosse ao banco pagar algumas contas. Foi ele quem percebeu e chamou minha atenção: havia um tal seguro facultativo que pagava sem perceber. Depois disso, passei a pedir ao caixa que desconte aquele valor ", conta.

Prejuízo na tentativa de ganhar tempo

Na avaliação do advogado José Alfredo Lyon, especializado em direito do consumidor, casos como o de Cláudia são muito frequentes. Como, em geral, os valores cobrados são baixos, as pessoas acabam pagando taxas, seguros e outros produtos que não solicitaram para não perder tempo nem se aborrecer. "É comum empresas de administração de imóveis colocarem em seus boletos uma taxa de cobrança e, além disso, um seguro de conteúdo. O seguro não é obrigatório e nem a taxa de cobrança, mas para não pagar os dois valores, normalmente, o condômino deve se deslocar até a administradora e pagar em seu balcão. A pessoa não tem tempo para ir até o tal escritório e acaba arcando com esses acréscimos, efetuando o pagamento no banco ou pela internet", diz Lyon.

O advogado explica que a obrigação de arcar com os serviços bancários é de quem os contratou - a administradora de imóveis, por exemplo. Essa taxa não pode ser repassada ao consumidor. "O Conselho Monetário Nacional, na Resolução 3919, de 25/11/2010 estendeu aos bancos a proibição de cobranças na forma de tarifas ou de ressarcimento de despesas, do sacado, em decorrência da emissão de boletos ou faturas de cobrança, carnês ou assemelhados, relativos aos pagamentos de parcelas de operação de crédito ou de arrendamento mercantil (leasing)", acrescenta o especialista.

Decisões positivas para o consumidor

José Alfredo Lyon ressalta ainda que o Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor (DPDC) do Ministério da Justiça também já se manifestou sobre o assunto através da Nota Técnica, 777/2005, “no sentido de que a cobrança das despesas de emissão de boleto bancário do consumidor, contraria o disposto no artigo 39, inciso V (exigir do consumidor vantagem manifestamente excessiva ) e no artigo 51 (são nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de produtos e serviços que estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o consumidor em desvantagem exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-fé ou a equidade) do Código de Defesa do Consumidor (CDC).
 
"O Superior Tribunal de Justiça considera abusiva cláusula de contratos bancários que obrigam o consumidor a ressarcir os custos de cobrança de sua obrigação para com a instituição com a qual contraiu financiamento. Quem deve ficar responsável é a entidade que contrata a instituição financeira e não o consumidor", afirma o especialista. Além do CDC, segundo Lyon , as decisões do Judiciário estão sendo positivas para os consumidores, tendo em vista que a cobrança ainda é praticada por muitos fornecedores.

"Tanto faz mudarem a denominação, utilizar nomes diferentes para a mesma prática tais como, tarifa de manutenção, taxa por fatura emitida, tarifa para recebimento de boleto, tarifa para recebimento de ficha de compensação. Isso não inibe a proibição. A obrigação do consumidor é pagar a dívida principal, e não criar mecanismos para gerenciar a forma de cobrança e pagamento",  destaca o advogado.


Anvisa volta a negar registro de droga contra câncer

A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) voltou a negar, na semana passada, o registro da lenalidomida no país. O imbróglio sobre a droga, usada no tratamento do mieloma múltiplo -- câncer na medula óssea -- tem mais de três anos e coloca em lados opostos médicos e pacientes e técnicos do governo.

Aprovada em cerca de 80 países, incluindo os EUA, a droga é considerada um dos principais tratamentos do mieloma. A doença é incurável mas pode ser controlada. A Anvisa já havia negado o registro do medicamento antes, em setembro de 2011.

"Hoje, um paciente que já não responde à talidomida e ao bortezomibe [drogas liberadas no Brasil] fica sem opção", diz Angelo Maiolino, diretor da Associação Brasileira de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular e membro da Fundação Internacional do Mieloma, que reúne especialistas na doença.  A entidade, que tem entre os seus patrocinadores o laboratório que fabrica a droga, faz uma movimentação pública para a aprovação da lenalidomida. Em 2011, a fundação entregou à Anvisa um abaixo-assinado com mais de 22 mil nomes pedindo a liberação do medicamento.

Na internet, a movimentação dos pacientes continua. Uma petição on-line já tem quase 26 mil assinaturas, e há uma campanha dos pacientes em fóruns e blogs. Segundo Maiolino, há 30 mil pessoas em tratamento no país. Os casos de mieloma correspondem a 1% de todos os tipos de câncer.

O diretor-presidente da Anvisa, Dirceu Barbano, afirma que o registro não foi concedido porque a empresa não apresentou um estudo clínico comparando o produto a outro com igual indicação terapêutica já no mercado.  "Você não pode aprovar um produto se ele tem um perfil clínico inferior a outro disponível." Segundo Barbano, a decisão foi sobre um recurso de um pedido já negado e, nesse intervalo, a empresa poderia ter apresentado os estudos demandados.

"Não é bom reprovar produtos que possam ter utilidade. Mas não é bom para as pessoas que um produto seja registrado sob dúvida". Outro problema, afirma, é que a lenalidomida é semelhante à talidomida. Assim, é necessário que a empresa apresente um plano de minimização de riscos, como de nascimento de crianças com malformação. Maiolino diz, no entanto, que o mieloma atinge mais os idosos, por isso dificilmente a droga seria usada por mulheres em idade fértil. "Há algo de errado com a decisão da Anvisa. Todos os países que já usam o remédio estão errados? E os maiores especialistas do mundo na doença? O tipo de comparação exigido pela Anvisa é desnecessário", diz o médico.

Custo alto

Enquanto o governo e a indústria travam a queda de braço, pacientes precisam recorrer à Justiça para ter acesso à lenalidomida importada. O preço é proibitivo: o tratamento custa cerca de R$ 200 mil ao ano.

Dorival Urino, 68, foi um dos beneficiados por decisões judiciais. Há quatro meses, seu convênio médico é obrigado a fornecer a droga.  "Cheguei a ficar na cama, sem condições de levantar. Agora, consigo fazer quase tudo. Inclusive cuidar das minhas dez gaiolas de passarinho e dos quase 40 vasos de planta", diz o aposentado.

O aposentado Dorival Urino, 68, recebe o medicamento contra mieloma por meio de seu convênio após decisão judicial - (Foto: Lucas Lima/Folhapress).

Apesar dos bons resultados, o uso de lenalidomida não é isento de riscos. Estudos apontam a maior chance de desenvolver outros cânceres em alguns usos do medicamento. Especialistas em mieloma, porém, dizem que o benefício supera os riscos.

Há menos de duas semanas, a FDA (agência reguladora de remédios nos EUA), anunciou a liberação da pomalidomida, terceira geração do princípio ativo.

[Esse é o tipo de assunto que exige um autocontrole enorme na hora de se escrever sobre ele. Acho a história mal contada nas duas pontas. A indústria farmacêutica está longe de ser um grupo de anjinhos, e não acredito que entre a caixa registradora e o paciente ela fique com o último.  Qual é a dificuldade da Fundação dirigida pelo Sr. Maiolino em atender às exigências da Anvisa nesses 3 anos?! E o laboratório que fabrica a lenalidomida, o que alega sobre isso?! Pelo que a Anvisa afirma, existe no mercado brasileiro um outro medicamento que, segundo a agência, é "clinicamente superior" à lenalidomida -- por que o Sr. Maiolino só defende este último? Será que o outro fabricante não é patrocinador da Fundação que ele preside?...

Considerando que briga de laboratório farmacêutico é briga de cachorro grande, chama a atenção o fato da posição da Anvisa se sustentar por três anos, o que permite acreditar que: - i) a argumentação da Anvisa está bem fundamentada e/ou - ii)  o fabricante do concorrente da lenalidomida tem peso e/ou - iii) o patrocinador do Sr. Maiolino não consegue superar as barreiras (clínicas e outras) do adversário. -- A mídia só aborda dois dos três lados da questão: Anvisa e lenalidomida -- e o terceiro lado desse triângulo nada amoroso, o outro remédio e seu fabricante? Ele é mais caro ou mais barato que a lenalidomida? Ele atende nosso mercado? Em caso afirmativo, em que proporção?

O que é inadmissível é o contribuinte doente, aposentado ou não, ser prejudicado nessa briga.]