quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Atraso ameaça planos para os transportes durante a Copa

[Cada vez se aproxima mais da realidade a possibilidade de termos nós caóticos nos transportes nas sedes da Copa de 2014, sem falar em outros vexames na organização e na realização dos jogos. É o que informa reportagem de hoje do jornal Valor Econômico, reproduzida abaixo. Estamos vivendo a crônica da bagunça anunciada.]

A Copa do Mundo de 2014 terá estádios novos - dois já estão prontos e outros cinco devem ser entregues até junho - e alguns aeroportos modernizados, mas a movimentação dos torcedores pelas cidades ficará complicada. A 18 meses da Copa, levantamentos de diferentes órgãos mostram que os principais projetos de mobilidade urbana prometidos como legado ainda não saíram do papel.

Conforme previa a matriz de responsabilidade de 13 de janeiro de 2010, documento assinado como compromisso dos governos municipais, estaduais e federal, após anúncio das 12 cidades-sede, as obras de mobilidade urbana tinham previsão para começar ainda em 2010 e a maior parte terminaria até dezembro deste ano, com algumas sendo concluídas no primeiro semestre de 2013.  Mesmo com regime diferenciado de contratação, que garante maior celeridade aos processos de licitação, o prazo de dois anos para término das obras não se mostrou suficiente. A maior parte delas está atrasada, algumas foram descartadas para a Copa e outra parte começou a ser executada fora do prazo inicial e só será concluída depois de julho de 2014.

Obras, gastos e Copa - Previsões de custos nas cidades-sede aumentaram - em R$ milhões (clique na imagem para ampliá-la) - (Ilustração: Valor Econômico).

Em relação aos estádios, alguns atrasos também estão confirmados. No fim de 2011, o Ministério do Esporte previa que, até dezembro deste ano, nove estádios seriam entregues. No entanto, apenas dois estão prontos: Castelão, em Fortaleza, e Mineirão, em Belo Horizonte. Atrasos de um ano para outro também foram verificados em obras de aeroportos e portos, segundo levantamento do Tribunal de Contas da União (TCU).

Para os estádios de Manaus, Recife, Brasília, Rio e Salvador, a previsão é que as obras estejam concluídas até o fim do primeiro semestre de 2013. Os casos mais complicados estão em Natal, que até outubro só tinha avançado 39% nas obras, Porto Alegre e Curitiba. Nas últimas duas cidades, os trabalhos de reforma têm pouco mais de 50% do cronograma cumprido. A Arena da Floresta, em Cuiabá, é uma das que apresentam maior defasagem entre o previsto e o concretizado. No site do Ministério do Esporte, a previsão de entrega continua fixada para dezembro de 2012, mas o texto sobre o andamento da obra aponta para apenas 50,3% dos trabalhos concluídos.

A estimativa de gastos nos 12 estádios aumentou cerca de R$ 900 milhões de um ano para o outro, e agora está em R$ 7,5 bilhões. Em um ano, a arena Mané Garrincha, em Brasília, teve o custo estimado elevado em 21%. Hoje, a obra está orçada em R$ 812 milhões. Cuiabá, por outro lado, teve o preço reduzido de R$ 596 milhões para R$ 518 milhões. O Itaquerão, em São Paulo, com 60% das obras prontas continua com estimativa de entrega para o fim de 2013.

A maior dificuldade para cumprir os prazos inicialmente previstos nos projetos de mobilidade, de acordo com as secretarias municipais e estaduais envolvidas nas obras que foram ouvidas pelo Valor, foi a falta de projeto executivo. Com elaboração dos projetos, a matriz começou a ser revisada em 2011, aumentando o prazo para término dos projetos e substituindo algumas obras por outras. Ao todo, a matriz de responsabilidades lista 50 obras de mobilidade nas 12 cidades-sede, com orçamento estimado em R$ 11,48 bilhões. Manaus, São Paulo e Brasília, no entanto, já assumiram que não conseguirão terminar as grandes obras de mobilidade previstas.

Em Manaus, o monotrilho que ligaria a região norte ao centro da cidade foi retirado da matriz da Copa. A obra estava orçada em R$ 1,3 bilhão e deveria ter começado em março de 2010, com conclusão em dezembro de 2013, mas não saiu do papel. A capital do Amazonas teve outra obra retirada dos compromissos fixados para o mundial, a do BRT [Bus Rapid Transit, em inglês], que custaria R$ 290 milhões e também não começou, de acordo com o TCU. As duas obras serão executadas agora com verba do Programa de Aceleração de Crescimento (PAC) e devem ficar prontas até o fim de 2015.

Em Brasília, o veículo leve sobre trilhos (VLT), que iria ligar o aeroporto e o terminal da Asa Sul, também foi excluída da matriz de responsabilidades. O projeto teria custo de R$ 270 milhões foi alvo de questionamento judicial. As obras estavam previstas para terminar em março de 2012 e depois janeiro de 2014, mas nunca começaram.  Na capital federal, as intervenções para a Copa, que chegariam a R$ 1,8 bilhão, agora ficarão em torno de R$ 1,6 bilhão. Além disso, ampliação da rodovia DF-047, com investimento de R$ 103 milhões, prevista para começar em agosto de 2012, ainda não foi iniciada.

Em São Paulo, a construção do monotrilho, que vai ligar o Aeroporto de Congonhas ao bairro do Morumbi, com custo estimado de R$ 2,8 bilhões, estava prevista para começar em julho de 2010 e terminar em março de 2013, mas os atrasos fizeram com que a obra fosse retirada da matriz da Copa. Agora será executada apenas pelo governo de São Paulo e está prevista para o fim de 2014.

Em Cuiabá, o projeto de VLT terá que ganhar fôlego nos próximos meses para conseguir ficar pronto até julho de 2014. Depois de ser suspensa pela Justiça, a previsão de término da obra é 31 de março de 2014. O VLT vai ligar o aeroporto de Várzea Grande ao bairro do CPA, na zona sul da cidade. A outra linha vai do bairro do Coxipó, na zona oeste, ao centro. A obra vai custar R$ 1,4 bilhão e ainda precisa vencer um complicado processo de desapropriação de comerciantes em área do centro da cidade.  Em agosto, o projeto foi questionado pela Justiça, que identificou "uma série de irregularidades" -desde a escolha do modal de transporte urbano até o estudo de viabilidade adequado. A ligação inicialmente seria feita por BRT e custaria R$ 323,8 milhões. Segundo a primeira matriz de responsabilidade, o projeto deveria ter sido entregue em dezembro de 2011.

Em Salvador, o BRT previsto para garantir o acesso do estádio ao aeroporto, foi substituído por metrô e retirado da matriz da Copa. O BRT custaria R$ 567,7 milhões e seria entregue em agosto deste ano. Já o projeto de metrô deve sair por R$ 3,5 bilhões e estará apenas parcialmente pronto em 2014. De acordo com a Secretaria Estadual para Assuntos da Copa, a extensão da linha 1 será entregue até o mundial, mas o acesso do aeroporto à região norte de Salvador, que seria garantido pela linha 2, não ficará pronto a tempo.

Não há nenhuma nova obra de transporte público de massa prevista em Natal. A cidade, que se comprometeu com a abertura de duas novas avenidas, adiou o prazo de entrega de dezembro deste ano para março de 2014.

Em Recife, parte do complexo viário norte-sul, previsto para a Copa, só fica pronto em 2015. No Sul, as obras de três corredores de ônibus e do BRT de Curitiba só começam o ano que vem e devem terminar em maio de 2014. Em Porto Alegre, Belo Horizonte, Fortaleza e Rio, os projetos para Copa sofrerão atraso de um ano em relação ao prazo inicial, mas os governos garantem que as principais obras de mobilidade ficam prontas até julho de 2014.




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