[Em outra postagem, abordei ao mau uso do dinheiro do contribuinte pela Caixa Econômica Federal. Ao redigí-la, lembrei-me de uma coluna recente da Miriam Leitão no Globo que aborda justamente a displicência, a bizarrice e a irresponsabilidade -- para dizer o mínimo, educadamente -- com que o governo vem utilizando as instituições financeiras estatais. Reproduzo a seguir o texto da coluna da Miriam.]
A conta sempre chega
Miriam Leitão - O Globo, 13/12/2012
Diariamente, há notícias estranhas. Todas somadas, são assustadoras. A
Caixa comprou debêntures de frigorífico, o BNDES perdeu R$ 1 bilhão por
não converter seus papéis em ações de outro frigorífico. O Tesouro
emitiu mais R$ 20 bilhões para o BNDES. Diretores de agências
reguladoras são apanhados em escândalos. Surgiu dúvida nova sobre um
braço já extinto do Banco do Brasil.
Só nesses casos acima há vários absurdos com os quais os brasileiros têm
se acostumado. As agências reguladoras deveriam ser independentes e ter
quadros com capacidade técnica. São fundamentais para que haja um
ambiente confiável e estável para os investimentos. Quando o PT assumiu,
em 2003, as agências foram criticadas por representarem a
"terceirização" de funções governamentais. Agora se vê que a verdadeira
"terceirização" foi a entrega de cargos fundamentais, como diretorias,
para a Rose e seus Vieiras.
É estapafúrdio que a Caixa Econômica Federal vire sócia de frigorífico.
Não faz sentido. Ela está a um passo disso: comprou integralmente as
debêntures da holding do JBS, o J&F, o mesmo grupo que foi
beneficiado por compras de debêntures pelo BNDES, em operação
semelhante. A empresa fez, anos atrás, emissão de papéis que foram
totalmente comprados pelo banco público e depois convertidos em ação.
Hoje, o BNDES tem 40% do capital do frigorífico. Além disso, o mesmo
grupo recebeu empréstimos subsidiados em volume exorbitante. No caso da
Marfrig, foi pior. O BNDES decidiu perder R$ 1 bilhão porque se fosse
exercer seu direito contratual viraria dono da empresa. Os benefícios
concedidos por este governo ao setor de carne são inexplicáveis. Agora,
passou a ajudá-los através da Caixa Econômica Federal.
O Banco do Brasil criou, em dezembro de 2003, uma subsidiária cuja
função supostamente seria emprestar para a população de baixa renda. O
infeliz Banco Popular do Brasil (BPB) existiu por pouco tempo e enquanto
durou fez a alegria de Marcos Valério, dono da conta publicitária. No
primeiro ano de existência, o BPB gastou com publicidade um valor
superior às operações de crédito que havia concedido. Segundo o jornal
"Estado de S.Paulo", no depoimento que o publicitário - condenado por
corrupção a mais de 40 anos de cadeia - concedeu ao Ministério Público,
ele contou que tinha que pagar mesada ao PT por algumas contas de
publicidade que recebeu. Uma delas, a do finado Banco Popular do Brasil.
Detalhe é que não houve uma licitação específica do Banco Popular. O
então presidente da instituição, Ivan Guimarães, disse que era normal
gastar bastante com publicidade no início, porque depois os gastos
cairiam. O problema é que não houve o depois. Permanentes são apenas os
ecos daquela estranha operação bancária nunca devidamente explicada.
Cada um desses eventos acontece separadamente. Se fossem casos únicos já
seriam preocupantes, mas, somados, mostram a cara de um país que está
cometendo erros demais. Um deles o de colocar em aventuras os bancos
públicos para beneficiar as empresas privadas favoritas. Outro, o de
desmoralizar a função de órgãos que foram criados para regular áreas
estratégicas.
O Brasil este ano está com um desempenho econômico pífio. O PIB está
estagnado e a inflação está alta. Mas essa conjuntura pode ser revertida
no ano que vem. O problema é que os erros que vêm sendo cometidos
deixam herança. Como o Brasil aprendeu dolorosamente no passado, não se
brinca com a saúde financeira dos bancos públicos porque eles têm um
dono: o Tesouro. Sobre as costas dos contribuintes é que cairá a conta
quando ela chegar. Na economia, a conta sempre chega.
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