[A MP 579 continua gerando estragos no setor elétrico, com consequências que em nada contribuem para a saúde financeira de seus agentes, e muito menos para a sua já combalida confiabilidade. Nossa sempre sorridente e afável ex-guerrilheira está lançando os alicerces de um sistema elétrico B&B (não é "bed & breakfast", é "barato & bagunçado") -- pagaremos tarifa menor (em termos, porque o Tesouro Nacional entrará com uma grana preta p'ra bancar isso), em troca de um sistema cada vez mais interruptível -- a estimativa é que a MP 579 custe da ordem de R$ 7 bi aos cofres públicos. Vejam a seguir a reportagem de ontem do jornal Valor Econômico.]
Fabricantes de equipamentos para hidrelétricas temem pelo futuro dos
investimentos nas usinas com as incertezas criadas pelo embate entre
governo e empresas em torno da renovação das concessões. A Alstom, como
antecipou o serviço de tempo real do
Valor, o Valor
PRO, informou ter R$ 160 milhões congelados só de sua parte em um
contrato para reforma dos equipamentos da usina São Simão, da Cemig. O consórcio, com participação também da Orteng, de máquinas e
equipamentos, e da Camargo Corrêa,
estava responsável por reformar os equipamentos de geração e transmissão dessa usina.
O
presidente da Alstom, Marcos Costa, disse que há dúvidas quanto à
decisão das concessionárias de repotencializar as usinas. Outra reforma
suspensa da Cemig é a da usina de Volta Grande. O investimento total
estava orçado em R$ 321 milhões. A licitação havia sido feita no início
de setembro, com um contrato de R$ 248 milhões vencido pela Voith Hydro.
As obras de modernização começaram em dezembro de 2011 e foram
paralisadas em outubro, quando a primeira unidade geradora da usina (ao
todo, ela tem seis) estava prestes a parar de operar para ser reformada.
O investimento previsto pela Cemig, em São Simão, era de R$ 370,9
milhões, em um trabalho que levaria, em média, um ano para cada unidade
geradora reformada.
"É uma preocupação [a possibilidade de cancelamento de contratos], pois
não está claro para os investidores a intenção dos concessionários em
repotencializar as usinas", disse o presidente da Alstom,
Marcos Costa. O
executivo afirmou que o governo precisa definir com maior clareza como
compensará as elétricas pelos investimentos que serão feitos, se não
quiser atrasar demais as obras do setor no país.
A médio prazo, Costa diz ter uma visão otimista para retomada de aportes
e afirma acreditar que as empresas vão se adequar à nova realidade.
"Passado este momento, acho que as empresas vão se adaptar ao novo
cenário e acredito que voltarão a investir".
Outra reforma suspensa pela Cemig é a da usina de Volta Grande. O
investimento nessa usina estava orçado em R$ 321 milhões. A licitação
havia sido feita no início de setembro, com um contrato de R$ 248
milhões vencido pela Voith Hydro. A licitação estava em fase de recursos
dos perdedores e os contratos seriam assinados em breve, contou o
superintendente da Coordenação Executiva para Reforma e Modernização de
Usinas da Cemig, Wantuil Dionísio Teixeira.
A Voith preferiu não se pronunciar sobre Volta Grande, mas comentou o
cenário atual. "A MP 579 gerou uma incerteza aos investidores,
ocasionando um impacto direto no segmento de modernização de usinas.
Neste sentido, há a necessidade de que o governo e as empresas do setor
encontrem o equilíbrio adequado para que os investimentos necessários na
manutenção e melhoria do parque instalado continue a acontecer e que
não corramos o risco da deterioração dos ativos do setor", informou por
e-mail o presidente da companhia, Osvaldo San Martin.
Assim como a Alstom, a Voith ressaltou que, apesar dos problemas de
atrasos com leilões do governo e da expectativa em torno de futuros
investimentos, mantém perspectivas positivas para 2013 e para os anos
seguintes. A operação no Brasil, afirmou a empresa, representou de 20% a
40% do faturamento da Voith Hydro no mundo, de € 1,3 bilhão em 2011. No
caso da Alstom, o faturamento com projetos ligados a energia também é
relevante. Apenas a parte de geração de energia respondeu por mais da
metade do faturamento no Brasil em 2011, de R$ 2,6 bilhões. A divisão
inclui projetos de hidrelétricas e de parques eólicos.
Do plano de investimentos da Cemig para os próximos 15 anos, que previa
R$ 1,6 bilhão em reformas, haviam sido aprovados ainda pelo conselho da
empresa R$ 90 milhões para reformar a usina de Salto Grande. Os serviços
seriam licitados no fim deste ano, mas o processo também foi congelado.
"É um problema para os dois lados [concessionárias e fabricantes]; como
não temos segurança que os próximos investimentos serão reconhecidos,
eles acabam suspensos", disse Teixeira, da Cemig.
Teixeira afirmou que a decisão sobre possível retomada dos contratos de
modernização não será tomada antes de a MP 579 ser aprovada no Congresso
Nacional e promulgada pela Presidente da República. Segundo ele, a
Cemig entende que não ficou claro como se dará a "revisão tarifária",
mencionada pelo governo e que compensaria investimentos nessas usinas,
cujas concessões não foram renovadas e vencem entre 2015 e 2017.
O executivo considera importante os trabalhos de reforma e conservação
das três usinas. "São usinas com mais de 30, 40 anos; existe a
necessidade de modernização, pois a tecnologia fica obsoleta", afirmou,
lembrando que o presidente da Agência Nacional de Energia Elétrica
(Aneel), Nelson Hübner, admitiu que o apagão que atingiu Estados do
Nordeste na sexta-feira foi, em parte, causado pela falta de
investimentos em renovação de equipamentos. A usina de São Simão começou
a operar em 1978, Volta Grande, em 1974, e Salto Grande, em 1955.
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