[O texto abaixo é da revista americana Time.]
Albert Einstein (1879-1955), cujas teorias explodiram e reformularam nossas ideias sobre o funcionamento do universo, morreu em 18 de abril de 1955 em Princeton (EUA) vítima de um aneurisma da aorta abdominal, aos 76 anos. Seu funeral e sua cremação foram cerimônias completamente privadas, e apenas um fotógrafo conseguiu registrar os eventos desse dia extraordinário: Ralph Morse, da revista Life.
Armado com sua câmara e uma caixa de uísque -- para abrir portas e soltar línguas -- Morse fez calmamente um registro intenso da morte de um ícone do século 20. Mas, à exceção de uma foto hoje famosa -- do gabinete de trabalho de Einstein exatamente como ele o deixou, tirada poucas horas depois de sua morte -- as demais fotos que Morse tirou naquele dia nunca foram publicadas. A pedido do filho de Einstein, que pediu que a privacidade da família fosse respeitada enquanto eles o velavam, os editores da Life decidiram não publicar a reportagem completa, e por mais de cinco décadas as fotos de Morse ficaram esquecida nos arquivos da revista.
A história de como Morse conseguiu as fotos, entretanto, é um exemplo típico de tenacidade e rapidez de raciocínio.
Depois de receber uma chamada de um editor da Life naquela manhã de abril, dizendo-lhe que Einstein havia morrido, Morse agarrou sua câmara e dirigiu as noventa milhas de sua casa ao norte de Nova Jersey até Princeton. "Einstein morreu no hospital de Princeton", Morse disse à Life.com, "então, foi para lá que fui primeiro. Mas lá estava um caos -- jornalistas, fotógrafos, curiosos. Fui então para o gabinete de trabalho de Einstein. No caminho, parei e comprei uma caixa de uísque. Eu sabia que as pessoas poderiam estar relutantes para falar, mas a maioria das pessoas fica contente em ganhar um trago em vez de dinheiro em troca por sua ajuda. Fui então para o prédio [do escritório de Einstein], procurei o zelador, dei-lhe uma garrafa de uísque e num instante ele abriu o escritório".
Ao entardecer, o corpo de Einstein foi transferido por um curto espaço de tempo do hospital para uma funerária em Princeton. O caixão simples com o corpo, já autopsiado, ficou na funerária por uma hora ou pouco mais. Morse foi para lá, e logo viu dois homens colocando um caixão num carro funerário. Pelo que sabia, Morse viu que o enterro de Einstein era iminente. Esperando conseguir um lugar perto da sepultura, ele foi rapidamente para o cemitério de Princeton. "Fui para lá para descobrir onde Einstein seria enterrado", recorda Morse. "Mas, pelo visto devia haver dezenas de sepulturas sendo cavadas naquele dia! Vi um grupo cavando uma sepultura, lhes ofereci uma garrafa de uísque e lhes perguntei se sabiam de alguma coisa. Um deles me disse: "Ele será cremado dentro de cerca de vinte minutos, em Trenton!" - "Dei-lhes então o resto do uísque, peguei meu carro e cheguei ao crematório de Trenton pouco antes dos amigos e familiares de Einstein aparecerem".
"Não tive que dizer a ninguém de onde era", disse Morse sobre o tempo que passou tirando fotos naquele dia. "Era o único fotógrafo lá, e era tido como certo que se houvesse um fotógrafo no local as chances eram grandes de que ele fosse da Life".
Em algum momento, no começo do dia, Hans, o filho de Einstein, perguntou a Morse seu nome. Uma pergunta aparentemente insignificante e amistosa que, em poucas horas, mostraria ter implicações importantes. "À medida que o dia ia terminando, eu estava muito excitado", lembra-se Morse, "porque sabia que era a única pessoa ali com aquelas fotos. Isso era um grande furo! Einstein era uma enorme figura pública, mundialmente famoso, e tínhamos essa história fesquinha". Morse partiu para Manhattan e para os escritórios da Life, certo de que seria festejado por seu furo.
"Cheguei a Nova Iorque com o filme, e havia lembretes por toda parte no escritório: "Ralph, fale com Ed!". Ed Thompson era o editor-chefe da Life. Um grande jornalista. Ed disse: "Ralph, ouvi dizer que você tem uma danada de uma notícia exclusiva". Respondi: "É, acho que tenho". Ele disse "Bem, não vamos publicar isso". Fiquei chocado. Aconteceu que Hans, o filho de Einstein, ligou para a revista enquanto eu estava a caminho e pediu-lhe que não publicasse a notícia e respeitasse a privacidade da família. Assim, Ed decidiu matar o assunto. Você não pode tocar uma revista sem um editor que tome esse tipo de decisão, e Ed havia tomado a sua. Então pensei "Bem, assim é", e parti para minha tarefa seguinte. Imaginei que as fotos jamais fossem ver a luz do dia, e as esqueci completamente".
Aqui, quase 60 anos depois, Life mostra uma seleção das fotos daquele dia -- fotos que captam a cena em uma manhã de primavera em Nova Jersey, quando Ralph Morse se viu correndo em uma cidade da Ivy League [Liga de Hera, em tradução literal -- designação dada a um grupo de oito universidades privadas do nordeste dos EUA, entre as quais se inclui a Universidade de Princeton] tentando descobrir o destino do falecido, grande Albert Einstein ...
Para finalizar: a história do cérebro de Einstein, mais estranha do que a ficção -- que o Dr. Thomas Harvey (que aparece na última das fotos) polemicamente retirou durante a autopsia, cuidadosamente o cortou em fatias, e cuidadosamente o guardou durante anos para ser pesquisado. As histórias há longo tempo associadas a esse órgão são complicadas para serem abordadas aqui. Entretanto, Ralph Morse, no dia em que Einstein morreu, conseguiu tirar uma fotos rápidas do Dr. Harvey no hospital. Morse diz ter certeza de que o cérebro que aparece na última foto da série, sob o bisturi do médico, não é o cérebro de Einstein.
Então, após uma pausa, Morse diz: "Você sabe, isso foi há cinquente e cinco anos atrás. Não me lembro de cada detalhe. Portanto, o que quer seja que ele esteja cortando ali ...". Suas palavras pairam no ar. Então, maliciosamente, Morse sorri.
[Recentemente, surgiram novas constatações sobre o cérebro de Einstein. Um estudo com 14 novas fotografias do cérebro do físico Albert Einstein
chegou à conclusão de que a massa cinzenta daquele que é considerado um
dos maiores gênios de todos os tempos era diferente em diversos
aspectos. Pesquisadores da Universidade do Estado da Flórida, nos
Estados Unidos, analisaram as imagens e as compararam aos padrões
estruturais de outros 85 órgãos semelhantes separados em outros
trabalhos.
os homens, passam, mas as equações são eternas.
ResponderExcluirSempre os Grandes Homens morrem primeiro
ResponderExcluirSempre os grandes homens morrem primeiro
ResponderExcluirGostei muito
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