terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Agressão ambiental: porto de Eike Batista ameaça desertificar região do Rio, diz estudo

[O megaporto Açu, da LLX Logística S.A. de Eike Batista, é um empreendimento gigantesco no norte do Estado do Rio cercado de muita propaganda e outro tanto de mistério. Recentemente, trabalhadores dessa obra foram flagrados em condições subumanas e Eike Batista lavou as mãos, dizendo que isso era problema da empresa que os contratara diretamente. Sócia de Eike Batista na mineradora MMX, a siderúrgica estatal chinesa Wuhan Iron and Steel Corporation (Wisco) arquivou sua participação no complexo siderúrgico de porto do Açu, alegando que o lado brasileiro não construiu a infraestrutura necessária para o projeto.

Hoje, a Folha de S. Paulo publica reportagem gravíssima, que reproduzo a seguir, sobre a ameaça de desertificação de região do Estado do Rio decorrente desse porto.]

A construção do porto do Açu, da empresa LLX, de Eike Batista, provocou a salinização da água doce usada no trabalho de agricultores e de pescadores de São João da Barra (RJ), de acordo com estudo da Uenf (Universidade Estadual do Norte Fluminense) [estranhamente, esse estudo não aparece no site da Uenf]. A principal suspeita é de que a areia dragada do mar e depositada às margens da lagoa de Iquiparí tenha provocado o aumento da salinização das águas. Segundo pesquisadores da universidade, se nada for feito, um processo de desertificação da região poderá ser iniciado.

Essa é a primeira consequência ambiental direta detectada após o início das obras no empreendimento. Os Ministérios Públicos federal e estadual instauraram inquérito para apurar o caso.  A dragagem é feita para aumentar a profundidade do mar e do canal aberto pela empresa, a fim de permitir o acesso de grandes navios. A licença ambiental emitida permite a retirada de 65,2 bilhões de litros de areia do mar -31 bilhões de litros já foram depositados em solo. O problema, apontam pesquisadores da Uenf, é que o material retirado traz consigo grande volume de água do mar. Depositado próximo à água doce usada por agricultores, a salinização foi a consequência. "A areia vem misturada com água. E ela escorre para algum lugar. A gravidade faz com que ela encontre outras regiões", disse o biólogo Carlos Rezende. [Esses dados são chocantes! Como é que se autoriza essa dragagem gigantesca e se permite que essa areia toda seja colocada em terra firme, sem que um dos milhares de nossos sábios em meio ambiente (esta é, inequivocamente, a área técnica brasileira com maior concentração por centímetro quadrado de pessoas que se autoproclamam sumidades) investigue previamente o que vai acontecer nesse solo após receber essa quantidade enorme de sal, iodo e o que mais a água do mar tenha?! O que é que o performático Carlos Minc -- o homem dos coletes coloridos --, titular da SEA - Secretaria de Estado do Ambiente do RJ e o Ibama têm a dizer?! Aliás, o site da SEA traz um um documento com o título bombástico "A Realidade do Licenciamento do Porto do Açu", datado de junho de 2011, que é um modelo de contorcionismo untuoso e de jogo de empurra com o Ibama.]

A LLX afirma que tem um sistema de drenagem que faz com que a água salgada retorne para o mar e não se misture à água da lagoa. Mas afirmou estar aberta a analisar os dados da Uenf. O Inea (Instituto Estadual do Ambiente) não se posicionou até a conclusão desta edição. [Bem, a menos que a LLX disponha de equipamento e tecnologia para enxugar cada grão de areia, e ainda conte com a ajuda do Sol para uma senhora evaporação da umidade residual salgada da montanha de areia depositada em terra firme, não vejo em minha santa e bendita ignorância como evitar a salinização desse solo. A questão é medir o que é limítrofe para esse fenômeno, para não degradar definitivamente o solo. É bom lembrar que essa areia, dado seu volume, certamente está acumulada em monte(s) de tamanho razoável, o que dificulta sua secagem e prolonga a infiltração.]

Sinais

Os primeiros sinais do problema foram identificados no fim de outubro, quando o agricultor João Roberto de Almeida, 50, o Pinduca, viu parte de sua plantação de abacaxi nascer queimada. "Sempre usei essa água e nunca tive problemas. Não sou contra o desenvolvimento. Mas o que está acontecendo é desrespeito".

Parte dos abacaxis de Pinduca está com a folhagem torrada. Na região é possível ver também pastos queimados inundados de água com uma espuma branca. Onde está seco, um pó branco, como sal, brilha. A principal fonte de abastecimento dos agricultores é o canal Quitingute. Caracterizado como de água doce pelo estudo de impacto ambiental, tem atualmente 2,1 de salinidade -o adequado para irrigação é, no máximo, 0,14. "A própria LLX descreve o canal como de água doce. Mas, com esse índice, ele não é mais", afirmou a pesquisadora Marina Suzuki.

Salinidade é histórica na região, diz a LLX

O diretor de sustentabilidade da LLX, Paulo Monteiro, afirmou que a salinização das águas da região próxima ao porto do Açu, em São João da Barra, antecede as obras no local [ou seja, os abacaxis do Pinduca estão de porre e a água do Quitingute está de molecagem].  Mas afirmou estar aberto a receber informações sobre eventuais problemas causados pela intervenção.

Segundo ele, a construção do porto tem sistema de drenagem que impede o vazamento de água do mar para o exterior do empreendimento.  Pesquisadores apontaram que a obra causou a salinização de pontos de água doce de um distrito da cidade, prejudicando produtores rurais. "A água com areia retorna ao mar por canais de drenagem. Não vai para o lado do [canal do] Quitingute. Tudo foi calculado para jogar a água para o canal interligado com o mar", diz Monteiro.

O diretor da LLX disse que um dos indícios de que a salinidade da água do local sempre foi alta é o número de pessoas hipertensas na região, que é "muito forte". "A água superficial sempre foi salobra. Tem que ir mais fundo para buscar água potável".  Os pesquisadores da Uenf apontam que já havia salinidade em alguns pontos, mas que ela subiu consideravelmente após as obras. Afirmam ainda que a região contava também com água doce, como o canal do Quitingute. Monteiro diz que qualquer agricultor pode procurar a LLX para receber assistência técnica ou ser ressarcido, caso seja esse o caso. Ele negou que haja a possibilidade de desertificação na região.

 A desertificação do Açu (clique na imagem para ampliá-la) - (Ilustração: Editoria de Arte/Folhapress).

Agricultor mostra abacaxis danificados de sua plantação; eles acusam a obra de porto de Eike Batista de causar o processo de sanilização- (Foto: Daniel Marenco/Folhapress).

Agricultor mostra plantação de quiabo morta devido ao processo de salinização em São João da Barra (RJ) - (Foto: Daniel Marenco/Folhapress).

 Agricultor mostra plantação de quiabo morta devido ao processo de salinização em São João da Barra (RJ) - (Foto: Daniel Marenco/Folhapress).

Plantação que foi prejudicada pela salinização; suspeita é que obra de Eike Batista tenha provocado o processo  - (Foto: Daniel Marenco/Folhapress).

 Agricultor mostra os abacaxis de sua plantação; suspeita é que obra de Eike Batista tenha provocado o processo - (Foto: Daniel Marenco/Folhapress).


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