O Vaticano e os Iluminados

[Traduzo a seguir um artigo de Nicola Bonnal, publicado na versão digital inglesa do jornal russo Pravda ("Verdade") no dia 13 p.p. Todos os links indicados no texto e o que estiver entre colchetes e em itálico são de minha responsabilidade. A apresentação do artigo é feita por ele me parecer digno de conhecimento e análise, mas não significa minha concordância absoluta com tudo o que nele está dito.]

O Vaticano e os Iluminados

Nicolas Bonnal - Pravda (12.02.13)

Parece um episódio das sagas de Dan Brown, envolvendo sociedades secretas, conspirações, a Opus Dei e as profecias de Malaquias, que previu a renúncia do Papa e uma crise terminal na já caótica história da Igreja Católica. Estarão os dias do Armagedon finalmente próximos, especialmente depois da decepção Maia de 2012?

Na noite passada [12 de fevereiro], um raio atingiu um domo na cidade do Vaticano. Teria sido uma conspiração do HAARP ou o sinal de um céu raivoso? Obviamente, poderia ser considerado um sinal dos Iluminados, um dia após a renúncia do Papa, que deixou desesperados muitos dos católicos tradicionalistas que acreditavam nele como sua última chance.

Católicos dominantes não diferem, na realidade, das sociedades submissas modernas. Aceitam qualquer coisa, simplesmente com medo de não serem politicamente corretos, e vivem "de acordo com o espírito dos tempos". Vão algumas vezes à igreja; aceitam os sacramentos mas se lixam para o futuro da fé e da cristandade europeia. Se o próximo Papa for um africano, de acordo com a vontade da mídia dominante, e pedir que a Europa aceite cem milhões de africanos a mais, esses cristão ficarão felizes de se mostrarem submissos e aceitarem sua destruição e sua submersão. Quem correria o risco de ser chamado de racista?

Neste momento os católicos tradicionalistas franceses estão por sua própria conta em sua luta contra a adoção homossexual de crianças no país [também sou contra essa adoção]. Como sempre, o clero francês nada fez para ajudá-los. Eles reuniram uma multidão de um milhão de pessoas em Paris, no Campo de Marte, conseguiram as assinaturas de meio milhão de pessoas mas, é claro, tudo isso é inútil. Numa democracia, um movimento de massas é sempre não levado em consideração, especialmente se ele quiser defender e ilustrar um ponto de vista ético e cristão -- há talvez um país no qual o ponto de vista cristão ainda esteja operando e, paradoxalmente, esse país é a Rússia [o autor se mostra um tremendo russófilo, mas o que diz acontece e se repete no Brasil -- as paradas gays e pró-gays arrastam multidões, enquanto as contra a corrupção (o "não roubarás" do sétimo mandamento) não enchem nem um quarteirão]. Chesterton usou propositadamente o linguajar ortodoxo para defender os ideais de cristandade que já eram condenados no começo do século passado. Ciência e livre-arbítrio, viés antirreligioso e indiferença global (especialmente das multidões católicas) aceleraram um processo no qual a tradição ocidental é ela mesma separada do corpus da sociedade. Os cristãos são hoje uma minoria apenas tolerada na França. Você pode ser muçulmano, ateu, pagão, judeu, agnóstico, politeísta, qualquer coisa, menos cristão. Eu quero dizer que você pode ser um cristão se não for um cristão -- é o catolicismo orwelliano.

Ontem [12 de fevereiro], em Paris, um grupo de garotas seminuas e tatuadas foi xingar, gritar e profanar a igreja de Notre Dame e ninguém se atreveu a pará-las -- obviamente, foram filmadas por uma câmara luxuosa e ávida. Não foi a primeira vez em que isso ocorreu, mas uma vez mais não houve reação -- me refiro a reação física ou legal. A multidão católica não está preparada para lutar ou morrer por seus ideais, tampouco os políticos conservadores que se servem de seus votos. Assim, o show anticristão pode continuar  -- não estamos na Rússia. [O autor é um forçador de barra -- a intolerância do governo russo em relação às garotas do Pussy Riot não o torna absolutamente, a meu ver, mais "cristão" que o governo francês. No caso da Notre Dame de Paris, se não houve dano à catedral e a Igreja não reclamou da manifestação, resta-nos torcer para que as moçoilas não se resfriem seminuas no inverno europeu.]

O balanço de Bento XVI (o número do desastre no baralho de tarô) terá sido patético e deplorável em termos de imagens ou projetos. Antes de o esquecer e desconsiderá-lo, a mídia que pelo menos respeitava seu antecessor (ele havia "ganho a multidão") o terá humilhado com tudo o que quiseram: camisinhas, pedofilia ou escândalos de negação do Holocausto. O Papa, quantas divisões? Eles sabem que os novos rebanhos não valem os anteriores, por isso não os temem.