sexta-feira, 11 de setembro de 2015

A crise dos imigrantes ilegais e refugiados na Europa -- europeus colhem hoje o que semearam ontem

O mundo -- mais precisamente a Europa -- presencia hoje a maior crise de deslocamentos humanos forçados desde a Segunda Grande Guerra. E o pior é que a situação, na melhor das hipóteses, tem viés de se manter grave sem nenhuma perspectiva de solução.


Mapa sobre a invasão ilegal de imigrantes na Europa até 1 de setembro de 2015, elaborado pela Organização Internacional para Migração, da ONU

Nos últimos anos, a Europa recebeu a maioria dos refugiados no mundo, que deixaram suas terras para escapar principalmente de conflitos, como a guerra civil na Síria e na Líbia, ou de dificuldades econômicas. De acordo com Alto Commissariado da ONU para Refugiados (Acnur), cerca de 219 mil pessoas cruzaram o mar em busca de uma vida melhor na Europa no ano passado, quase 4 vezes mais pessoas que em 2013, quando 60 mil chegaram do outro lado da travessia.

Em 2014, os eritreus e sírios representaram os maiores grupos étnicos de refugiados que chegaram à Europa. Um dos países mais jovens da África, a Eritreia viveu em guerra civil por décadas e a população sobrevive praticamente com agricultura de subsistência.

Em 4 anos de guerra, mais de 215 mil pessoas morreram na Síria e 11,4 milhões fugiram de suas casas. E a situação piora, segundo o Acnur, que cita as atrocidades cometidas em particular pelo grupo Estado Islâmico (EI). Em 2014, os sírios lideraram as solicitações de asilo no mundo inteiro, com mais de 149.600 demandas. E a tendência não deve sofrer mudanças, segundo o órgão da ONU. Outro país afetado pelas ações do Estado Islâmico é o Iraque, cujos pedidos de asilo político cresceram 84% em 2014.

A Líbia é atualmente um dos principais portos de saída da África, pela proximidade e pelos conflitos recentes. A União Europeia estuda ações com os países vizinhos para bloquear as rotas utilizadas pelos migrantes.


Rotas para uma vida melhor - Principais rotas de migração para a Europa, saindo da África e do Oriente Médio - Cidades com rotas de migração - Principais centros de migração - Rotas de migração (África Ocidental / Mediterrâneo Ocidental / Mediterrâneo Central / Mediterrâneo Oriental / África Oriental / Outros) - Fontes: Centro Internacional para Política Migratória / Reuters

A análise do mapa acima é reveladora, pois revela os países de origem das levas de migrantes ilegais que vêm invadindo a Europa. São eles: Líbia, Argélia, Mauritânia, Nigéria, Sudão, Egito, Etiópia, Quênia, Síria, Iraque, Irã, Ucrânia e Eritreia. Vejamos rapidamente alguns deles

Líbia

Os protestos contra Muammar Kadhafi, que estava no poder desde 1969, começaram no mês de fevereiro de 2011. Logo no mês de março, foi aprovada uma Resolução da ONU que justificava uma intervenção estrangeira no país em defesa da população civil a fim de evitar um massacre. Com isso, a OTAN, tratado militar criado pelos Estados Unidos, organizou uma coalizão contra o regime de Kadhafi, liderada por norte-americanos, ingleses e franceses. Foi nítido o interesse dos europeus em romper com o até então benquisto Kadhafi no intuito de manter seus acordos comerciais (a Líbia é um importante fornecedor de petróleo para a Europa).

A intervenção militar na Líbia começou em 19 de março de 2011, quando as forças armadas de vários países intervieram na Guerra Civil na Líbia, apoiando à oposição do país que tentava derrubar o governo de Muammar Kadhafi e com o objectivo de criar uma zona de exclusão aérea no espaço aéreo líbio, seguindo a Resolução 1973 do Conselho de Segurança das Nações Unidas de 17 de março de 2011. A zona de exclusão aérea foi proposta para impedir que a força aérea líbia atacasse as forças rebeldes.

Em 12 de março, a Liga Árabe pediu ao Conselho de Segurança das Nações Unidas para impor uma zona de exclusão. A 15 de março, o embaixador libanês Nawaf Salam propôs o pedido como resolução, que foi apoiada pela França e o Reino Unido. A 17 de março, o Conselho de Segurança votou a com dez votos a favor contra nenhum contra para aprovar uma zona de exclusão aérea através da Resolução 1973. Houve cinco abstenções vindas do BrasilRússiaÍndiaChina (BRICs) e da Alemanha.

Os Estados Unidos comandaram as operações militares até o dia 27 de março, quando passou formalmente o comando da operação para a OTAN. Para seguir a Resolução 1973 do Conselho de Segurança das Nações Unidas, vários países participaram das operações militares para ajudar os rebeldes que lutavam contra as forças leais ao ditador Muammar Kadhafi. Os Estados Unidos lançaram a Operação Amanhecer da Odisséia, a França a Operação Harmattan, o Canadá a Operação MOBILE, o Reino Unido com a operação Ellamy e a OTAN comandou a chamada Operação Unified Protector (Protetor Unificado). Kadhafi foi capturado e morto  em outubro de 2011. A OTAN anunciou formalmente o fim das operações militares na região em 31 de outubro de 2011. 

Após a queda de Kadhafi, o Ocidente abandonou a Líbia à própria sorte, os conflitos armados internos prosseguiram e o país se encontra hoje dividido, com um governo organizado pela Câmara dos Deputados "exilado" em Tobruk (que é o reconhecido pela comunidade internacional), perto da fronteira leste da Líbia , e os islamitas têm seu governo sediado em Trípoli sob a égide de um Conselho Nacional Geral. 

Aproveitando-se da instabilidade na Líbia, o Estado Islâmico, que se apoderou de vastos territórios na Síria e no Iraque, posicionou-se ano passado na Líbia, onde controla sobretudo trechos da região de Syrte, a leste de Trípoli. O grupo extremista já assumiu autoria em uma série de ataques e abusos, incluindo a decapitação de 21 cristãos e um atentado contra um hotel na capital Trípoli.

É fácil entender portanto porque a Líbia está tão direta e profundamente envolvida no fluxo de migrantes ilegais para a Europa, e a responsabilidade desta mesma Europa (assim como dos EUA e do Canadá) nesse imbróglio. Refugiados dos conflitos cruzam o Mar Mediterrâneo em direção à Itália, usando o país como uma ponte para chegar a outros destinos da Europa. O governo italiano já resgatou centenas de imigrantes do norte da África neste ano.


Imigrantes aguardam resgate em um bote de borracha a cerca de 32 km da costa da Líbia.  (Foto: Darrin Zammit Lupi/Reuters)

Iraque

O Iraque é um dos mais requintados exemplos da crônica incapacidade dos EUA em entender regimes políticos e religiosos completamente diferentes dos seus, assim como as reiteradas propensão e capacidade dos americanos em provocar o caos onde intervêm (geralmente manu militari).

A chamada Guerra do Iraque durou praticamente 10 anos e foi oficialmente "encerrada" por Obama em 12/12/2011, com a retirada das tropas americanas no país. Ela começou em março de 2003, quando George W. Bush (EUA) e Tony Blair (Grã-Bretanha) ordenaram a invasão militar do país para derrubar Saddam Hussein. Custou US$ 1 trilhão e matou 4.474 militares americanos e dezenas de milhares de iraquianos. Pelo menos 1,5 milhão de iraquianos tornaram-se refugiados a partir de 2003, fugindo da violência sectária entre árabes xiitas e sunitas que tomou grande parte do país e prosseguiu até 2009.

O conflito entre xiitas e sunitas, acrescentando-se ainda a entrada em cena dos curdos e do Estado Islâmico, o que provoca a possível divisão do país em três áreas (xiita, sunita e curda) ou até mesmo em três países independentes. Quanto ao denominado Estado Islâmico, são absolutamente espantosas e incompreensíveis a inércia e a apatia do Ocidente, extremamente belicoso e ativo contra Hussein e Kadhafi (entre outros), contra essa facção radicalmente violenta, dizimadora de vidas e de patrimônios culturais valiosíssimos.

Em 10 anos no país, os EUA foram incapazes de deixar o Iraque minimamente preparado para andar com as próprias pernas. A situação do país é caótica. Os cristãos são historicamente perseguidos no Iraque, e sua situação atual é de autêntico genocídio

Os Estados Unidos invadiram o Iraque e tiraram Saddam Hussein do poder em 2003, sob o argumento de que o país possuía armas de destruição em massa. Com a saída de Hussein, se instalou um governo controlado pelos xiitas. Insatisfeitos, os sunitas começaram a protestar pacificamente em 2012, mas poucas concessões foram feitas, porque os xiitas acreditavam que se tratavam não de pedidos de reforma, mas de uma busca por retomar o poder.

A marginalização fez com que parte dos  sunitas iraquianos começassem a se aproximar do Estado Islâmico. Após a retirada das tropas americanas do Iraque em 2011, o grupo jihadista, que ganhou força na sua atuação no conflito da Síria e conquistou territórios por lá, passou a avançar sobre o norte iraquiano.

violência da atuação do grupo extremista no Iraque pode ser colocada em números: somente em 2014, o Iraque registrou 10 mil mortes - quase um terço de todos os mortos no mundo em atentados terroristas. Outras milhares de pessoas se refugiam em países europeus, sendo a Turquia um dos principais destinos para os iraquianos, com cerca de 200 mil no país.

Síria

A Síria moderna foi estabelecida após a Primeira Guerra Mundial durante o Mandato Francês e era o maior Estado árabe a surgir na região do Levante, que antigamente era dominada pelo Império Otomano.

Mais de 240 mil pessoas morreram na Síria desde 2011, ano em que estourou uma guerra civil no país, e, dentro desse número, estão 12 mil crianças. Em 2015, a guerra na Síria completou quatro anos de conflitos entre tropas leais ao regime, vários grupos rebeldes, forças curdas e organizações jihadistas, entre elas, o Estado Islâmico. Digo eu e não o site G1: o Ocidente vem pisando em ovos com relação ao genocídio que vêm ocorrendo na Síria, porque Rússia e China -- que têm poder de veto no Conselho de Segurança da ONU -- se opõem a uma intervenção militar externa na Síria, apesar da intervenção arrasadora do Estado Islâmico no país. Ver também postagem anterior sobre a posição do Brasil  em relação à guerra civil na Síria

Estimativas da ONU apontam que mais de 7 milhões de sírios abandonaram suas residências dentro do país e quase 60% da população vive na pobreza. Os trágicos números refletem na alta taxa de emigração do país – seriam 4 milhões de refugiados sírios, a maior população de refugiados do mundo.

O principal destino dos sírios é a Turquia, que já recebeu 1,8 milhão de refugiados desde o início da guerra civil na Síria, Iraque, Jordânia, Egito e Líbano. Um relatório da ONU aponta que, somente no primeiro semestre deste ano, 44 mil pessoas saíram da Síria com destino à costa europeia.

Na semana passada, o mundo inteiro ficou chocado com a imagem de um garoto sírio de 3 anos morto afogado na praia de Bodrum, na Turquia.


Um refugiado sírio reza após chegar a ilha grega de Kos em um barco bote que atravessou o Mar Egeu da Turquia para a Grécia. (Foto: Yannis Behrakis/Reuters)

Refugiados curdos da Síria passam atravessam a fronteira com a Turquia, perto da cidade de Kobani, em foto de junho de 2015 (Foto: UNHCR / I. Prickett)

Afeganistão
No final do século XIX, o Afeganistão tornou-se um Estado tampão no grande jogo entre os impérios britânico e russo. . Essa circunstância histórica, combinada com o terreno montanhoso do país, impediu o domínio de potências imperialistas sobre o país, mas também resultou em pouco desenvolvimento econômico . Depois da Terceira Guerra Anglo-Afegã e a assinatura do Tratado de Rawalpindi em 1919, o país recuperou o controle de sua política externa com os britânicos.Após a revolução marxista de 1978 e a invasão soviética em 1979, uma guerra de 9 anos teve lugar entre as forças rebeldes dos mujahidin apoiadas pelas forças armadas dos Estados Unidos e pelo governo pró-soviético do Afeganistão, em que mais de um milhão de afegãos perderam a vida, principalmente devido a minas terrestres. Isto foi seguido, na década de 1990, pela Guerra Civil do Afeganistão e pela ascensão e queda do governo extremista talibã e pela Guerra do Afeganistão. 
Em dezembro de 2001 o Conselho de Segurança das Nações Unidas autorizou a criação da Força Internacional de Assistência para Segurança para ajudar a manter a segurança no Afeganistão e ajudar a administração do presidente Hamid Karzai.O país foi invadido em 2001 pelos Estados Unidos, logo após o ataque às Torres Gemêas em 11 de setembro daquele ano. Osama bin Laden, líder da rede Al-Qaeda, assumiu a autoria dos atentados e se refugiava no país. Mas, antes disso, o Afeganistão já estava dominado pelo Talibã, grupo militante radical. Expulso do poder, o Talibã lutou constantamente ao longo dos anos contra as tropas americanas. Estudos apontam que, desde 2001, mais de 150 mil pessoas morreram no Afeganistão e no Paquistão.Dados da ONU, indicam que, juntamente com a Síria e a Somália, o Afeganistão somou 7,6 milhões dos refugiados de 2014. Somente no primeiro semestre deste ano, 1.592 civis morreram em conflitos no Afeganistão.Os refugiados afegãos estão presentes em mais de 80 países, mas um relatório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur) aponta que somente dois deles concentram 96% dessa população: Irã e Paquistão.


Foto de maio mostra barco com imigrantes afegãos chegando à costa da Grécia. Eles atravessaram o Mar Egeu entre a Grécia e Turquia (Foto: Angelos Tzortzinis/AFP)

Eritreia
Dos imigrantes que cruzam o Mediterrâneo em direção ao sul da Itália, boa parte vêm da Eritreia. Segundo a BBC, um dos motivos para cidadãos desse país no Chifre da África decidirem emigrar é o serviço militar obrigatório -- comparável a um regime de escravidão.  Grupos de defesa dos direitos humanos também afirmam que o país vive forte repressão política.

A história da terra onde, hoje em dia, localiza-se a Eritreia, é associada aos seus quase 1.000 km de litoral pelo Mar Vermelho. Do outro lado do mar, vieram vários invasores (e colonizadores), como os árabes sauditas vindo da área que hoje em dia corresponde ao Iêmen, os turco-otomanos, os Portugueses de Goa - (Índia), os egípcios, os britânicos e, no século XIX, os italianos. Ao longo dos séculos, invasores também vieram dos países vizinhos da África, como os etíopes do sul e os sudaneses pelo oeste. No entanto, o local foi altamente afetado pelos invasores italianos no século XIX. Na era da corrida das potências europeias para a África e as tentativas de estabelecer uma base de reabastecimento para seus navios após a abertura do canal de Suez (1869), a Itália invadiu a Eritreia e a ocupou. Em 1º de janeiro de 1890, a Eritreia tornou-se oficialmente uma colônia da Itália. Em 1936, ela tornou-se uma província da África Oriental Italiana, junto com a Etiópia e a Somália Italiana. As forças armadas britânicas repeliram as forças armadas italianas em 1941 e tomaram a administração do pais, que havia sido criado pelos italianos, para si. Os britânicos continuaram a administrar o território sob um mandato da ONU até 1951, quando a Eritreia foi unida à Etiópia pela resolução da ONU 390(A), sob o impulso dos Estados Unidos, adotado em dezembro de 1950; a resolução foi aprovada após um referendo para consultar a população da Eritreia.

Nigéria
Por muito tempo a sede de inúmeros reinos e impérios, o Estado moderno da Nigéria tem suas origens na colonização britânica da região durante final do século XIX a início do século XX, surgindo a partir da combinação de dois protetorados britânicos vizinhos: o Protetorado Sul e o Protetorado Norte da Nigéria). Os britânicos criaram estruturas administrativas e legais, mantendo as chefias tradicionais. O país tornou-se independente em 1960, mas mergulhou em uma guerra civil, vários anos depois. Desde então, alternaram-se no comando da nação governos civis democraticamente eleitos e ditaduras militares, sendo que apenas as eleições presidenciais de 2011 foram consideradas as primeiras a serem realizadas de maneira razoavelmente livre e justa.

A insurgência islâmica na Nigéria é um conflito armado entre grupos militantes islâmicos jihadistas e o governo da Nigéria. Trata-se de um fenômeno social recente que contrapõe o fanatismo islâmico e o governo central nigeriano, o primeiro para a inclusão da "sharia" em todos os estados da Nigéria e de maioria não-muçulmana e o segundo pela luta contra o que consideram "avanço avassalador da violência anti-cristã". Segundo alguns relatos, a violência teria matado mais de 15 mil pessoas, e vários milhares deslocados pela devastação em cidades devidos a confrontos e tumultos.

O grupo militante islâmico Boko Haram está travando hoje uma das campanhas mais mortíferas de insurgência na África, capturando uma grande porção de território na Nigéria e também realizando ataques no vizinho Camarões. Autoridades estimam que cerca de três milhões de pessoas são afetadas pela crise humanitária causada pela insurgência na região nordeste da Nigéria.

Em janeiro de 2015, um grupo de 2.536 refugiados nigerianos foram repatriados para a Nigéria pela Argélia. Em março de 2015, como consequência dos ataques perpetrados pelo Boko Haram no nordeste da Nigéria, milhares de pessoas cruzaram a fronteira rumo ao Chade, reunindo-se em um campo de refugiados e com membros da comunidade. Segundo estimativas oficiais, cerca de 18 mil refugiados buscaram abrigo na região do Lago Chade


Sudão

Até 2011, o Sudão era o maior país da África e do Mundo árabe, quando o Sudão do Sul se separou em um país independente, após um referendo sobre a independência. O Sudão é hoje o terceiro maior país da África (após a Argélia e a República Democrática do Congo) e também o terceiro maior país do mundo árabe (depois da Argélia e Arábia Saudita). 

Grande parte da história do Sudão é marcada por conflitos étnicos, além de dois conflitos internos em andamento (um na região sul e outro na região de Darfur) e duas guerras civis, entre 1955 e 1972 e 1983 e 2005. Há inúmeros casos de limpeza étnica e escravidão no país. 

Buscado há cinco anos pelo Tribunal Penal Internacional (TPI) sob acusações de genocídio e crimes de guerra, o presidente do Sudão, Omar al-Bashir, fugiu em junho de 2015 da África do Sul - onde participava de uma conferência da União Africana - após a emissão de uma ordem judicial que o impedia de deixar o país.

Bashir é acusado de crimes de guerra e contra a humanidade cometidos durante o conflito em Darfur - região no oeste do Sudão na qual, segundo a ONU, cerca de 300 mil pessoas morreram e mais de 2 milhões foram forçadas a fugir de seus lares desde década passada.

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Pelo exposto acima, vê-se claramente a responsabilidade de europeus, americanos e canadenses (entre outros) -- como colonizadores e/ou interventores militares -- na estruturação sociopolítica e econômica de praticamente todos os países que ainda hoje são palco de sérios conflitos internos e são focos de refugiados e de imigrantes ilegais. É relevante frisar o papel importante dos EUA -- como mentor da OTAN -- nos grandes conflitos regionais na África e no Oriente Médio (tendo quase infalivelmente o Canadá, entre outros, como parceiro). Para ele, a situação é cômoda: os conflitos que geram, estimulam e executam dão-se a milhares de quilômetros de seus territórios, e os problemas daí resultantes não os afetam diretamente.

No tocante à África, A divisão do continente africano teve seu início na segunda parte do século XIX. Porém, foi um pouco depois, na Conferência de Berlim (1884 – 1885) que a delimitação das fronteiras da África atingiu seu ponto máximo. Nesta conferência foram decididas normas a serem obedecidas pelas potências colonizadoras. Apesar do intuito inicial da reunião ter sido o de acertar os limites de interesse econômicos destes países na região, não foi possível alcançar um equilíbrio entre as ambições imperialistas de cada nação. A partilha da África foi decidida por Rússia, EUA e 14 países da Europa.

Esta divisão, feita de acordo com os interesses coloniais, criou conflitos na sociedade africana, problemas étnicos, econômicos e políticos. Nenhum regime político funcionou no continente. O socialismo não foi eficiente e os estados capitalistas tornaram-se tristes exemplos do mau funcionamento da economia liberal. A miséria que toma a população do continente tem origens na dívida externa que cresce a cada ano.




A Inglaterra dominou o norte do Mar Mediterrâneo até o sul do continente africano, onde se encontra o Cabo da Boa Esperança. Um importante nome britânico neste processo foi o de Benjamin Disraeli, que conseguiu tomar o Canal de Suez do completo domínio francês e egípcio. Este canal encurtava a distância entre os centros da indústria européia e as áreas de colonização da Ásia, além disso, ligava o mar Mediterrâneo ao Mar Vermelho. Disraeli adquiriu ações do governo egípcio, fazendo com que o canal de Suez e todo Egito tivessem dupla administração: inglesa e francesa. Já em 1904, o governo inglês apoiou a França na conquista do Marrocos, tendo como moeda de troca o abandono dos franceses das terras egípcias. Por fim, em 1885, a Inglaterra ainda anexou o Sudão, país ao Sul do Egito. Fizeram parte do Império Britânico na África: Egito, Sudão, Gana, Nigéria, Somália, Serra Leoa, Tanzânia, Uganda, Quênia, Malawi, Zâmbia, Gâmbia, Lesoto, Maurícia, Suazilândia, Seicheles, Zimbábue.



A França, apesar de ter perdido o Egito para os britânicos, dominava Argélia, Tunísia, ilha de Madagascar, Somália Francesa, Marrocos, Tunísia, Guiné, Senegal, Benin, Niger, Burkina Faso, Costa do Marfim, Chade, Congo (Congo Francês ou Congo Brazzaville), Gabão, Mali, Mauritânia, Argélia, Comores, Djibouti, República Centro-Africana  e Sudão (depois dominado pela Inglaterra) desde 1830.

A Alemanha dominava a região que atualmente é conhecida como República dos CamarõesTogo, sudeste e oriente da África [incluindo Tanganica (Zanzibar), Ruanda Burundi (estes dois últimos países só foram entregues à Alemanha em 1890, numa conferência em Bruxelas, em troca do Uganda e da ilha de Heligoland). Já a Itália deteve a África Oriental Italiana, a Tripolitânia (atual Líbia), Somália Italiana (parte da atual Somália), Eritréia, Abissínia. A Bélgica ficou com o Congo (República Democrática do Congo  ou Congo Belga, ou Congo-Kinshasa ou Zaire).





















Um comentário:

  1. Muito bom o resumo histórico, possível de ser aprofundado, claro, à raízes mais antigas, de antes de cristo. De fato, a questão dos refugiados (fazendo vir à tona todas estas causas) é, atualmente, na minha opinião, um dos maiores problemas a envolver o nosso planeta. As nações ricas, com o apoio de emergentes, em particular o Brasil, se tivessemos um Governo que, ao invés de omitir-se, toma posições contrárias ao interesse maior dos refugiados, têm que focar em soluções nos próprios territórios de onde fogem pessoas famintas, sem esperanças em seus países, e não em soluções paliatiativas que, parecem, estão esgotadas. Como? Não sei, só sei que é urgente que façam isto!!!

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