segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Inacreditável: Treinamento militar para crianças nos EUA

Que o americano é um povo violento e belicista é mais que evidente. Os assassinatos em massa e em público, em igrejas, escola, supermercados, etc, por cidadãos comuns ou ex-militares estão nas manchetes diariamente. Os EUA estão engajados em missões militares e têm bases militares em todas as regiões do planeta que, a seu exclusivo critério, são consideradas estratégicas e têm que ser tratadas por hard power (por intervenção econômica e/ou principalmente por força militar). As disputas armadas do Velho Oeste e a Guerra da Secessão deixaram marcas profundas e dificílimas de erradicar no povo americano. E isto tem seríssimas implicações para o mundo inteiro.

O que é pouco ou nada divulgado é o treinamento militar organizado e sistemático que os EUA dão às suas crianças e adolescentes, algo  que se esperava acontecer apenas com fundamentalistas muçulmanos. Em artigo intitulado Navy Training for Teens (Treinamento da Marinha para Adolescentes) no site Military.com o autor Stew Smith cita uma carta que recebeu de um adolescente de 15 anos que lhe diz que desde os 10 anos queria ser da Marinha e lhe pede orientação sobre como chegar ao Navy SEAL (os Sea, Air and Land Teams - comandos militares dos EUA para operações marítimas, aéreas e terrestres) ou a ser um piloto de helicóptero. 

Stew lhe recomenda preferencialmente buscar ser um líder através do esporte. Mas, lhe informa que para realmente conhecer o que é a Marinha e ter um gostinho do treinamento SEAL mesmo para a idade dele ele deveria dar uma olhada no Corpo de Cadetes Navais da Marinha e no Corpo de Cadetes da Liga Naval. Ali, diz Stew, ele será tratado não apenas como um estudante do SEAL, mas receberá treinamento de membros ativos e da reserva dos SEALs da Marinha durante programas de treinamento de verão. Stew diz que é indispensável conhecer as outras áreas da Marinha e que os Cadetes Navais ensinarão ao rapaz disciplina, trabalho de equipe e outras atividades que aprenderá depois mais profundamente quando estiver na Marinha.

Stew informa que desde 1958 o Corpo de Cadetes Navais da Marinha está dedicado a propiciar à juventude americana (de 11 a 17 anos) um ambiente livre de drogas e álcool para estimular sua capacidade de liderança, alargar seus horizontes via treinamentos reais e guiá-los para que se tornem adultos jovens maduros (o grifo é meu). 


Treinamento da Marinha americana para adolescentes - (Foto: Military.com)

Há um denominado "Grupo de Sobrevivência do Norte da Flórida" que se intitula "um lugar onde patriotas se juntam e ensinam uns aos outros as ferramentas necessárias para garantir a sobrevivência de nossa nação e de nossas famílas" (no Google: North Florida Survival Group: Home 
northfloridasurvival.webs.com/ Traduzir esta página Place for Patriots to gather and teach each other the tools necessary to ensure survival of our nation and families) que faz treinamento militar para crianças, como mostram as fotos a seguir.

Brianna, de 9 anos, do Grupo de Sobrevivência do Norte da Flórida carrega um rifle AK-47 retirado do caminhão do líder do grupo antes de se dirigir para exercícios de contato com o inimigo um treinamento de campo em Old Town, Flórida, em 08/12/2012 - (Foto: Reuters/Brian Blanco)

A mesma Brianna, de 9 anos, entrega o rifle AK-47 para Jim Foster (57 anos), o líder do Grupo de Sobrevivência do Norte da Flórida antes de realizar os exercícios citados na foto anterior. O grupo treina tanto crianças quanto adultos no manuseio de armas em áreas selvagens ou desabitadas - (Foto: Reuters/Brian Blanco)


Um membro do Grupo de Sobrevivência do Norte da Flórida coloca uma máscara (igual à que usa) em seu filho enquanto se preparam para realizar exercícios de contato com o inimigo em uma área de matas em Old Town, Flórida, em 08/12/2012. O Grupo apaixonadamente apoia o direito dos cidadãos americanos de portar armas e em seu website afirma que seu objetivo é "ensinar patriotas a sobreviver para proteger e defender nossa Constituição contra todas as ameaças inimigas" - (Foto: Reuters/Brian Blanco)

Um membro do Grupo de Sobrevivência do Norte da Flórida ajuda sua filha a colocar um equipamento tático (semelhante ao usado em paraquedas) enquanto se preparam para realizar exercícios de contato com o inimigo em uma área de matas em Old Town, Flórida, em 08/12/2012 - (Foto: Reuters/Brian Blanco)

Um membro do Grupo de Sobrevivência do Norte da Flórida e seu filho (um garoto) apanham seus rifles antes de se dirigirem para os exercícios de navegação em terra e contatos com o inimigo durante um treinamento de campo em Old Town, Flórida, em 08/12/2012 - (Foto: Reuters/Brian Blanco) - Observem que o pai é o mesmo da foto anterior.

O mesmo garoto da foto anterior segue seu grupo para o treinamento mencionado também na foto anterior - (Foto: Reuters/Brian Blanco)

Um membro adulto do Grupo de Sobrevivência do Norte da Flórida levanta seu rifle AR-15 ao se unir a outros membros do grupo para realizar exercícios de contato com o inimigo durante um treinamento de campo em Old Town, Flórida, em 08/12/2012 - (Foto: Reuters/Brian Blanco) 

Jim Foster, líder do Grupo de Sobrevivência do Norte da Flórida, se comunica por rádio com membros do grupo para checar sua situação enquanto realizam um exercício de navegação em terra durante um treinamento de campo em Old Town, Flórida, em 08/12/2012 - (Foto: Reuters/Brian Blanco)

Jim Foster (centro), líder do Grupo de Sobrevivência do Norte da Flórida, faz uma avaliação crítica do desempenho dos membros do grupo em um exercício de contato com o inimigo durante um treinamento de campo em Old Town, Flórida, em 08/12/2012 - (Foto: Reuters/Brian Blanco)

Um membro do Grupo de Sobrevivência do Norte da Flórida mostra à filha de outro membro do grupo como liberar o pente de balas de um rifle SKS durante um treinamento de campo em Old Town, Flórida, em 08/12/2012 - (Foto: Reuters/Brian Blanco)


Um garoto se senta em um brinquedo de criança e se mostra aborrecido porque sua irmã ficou como rifle que ele gostaria de ter quando os membros do Grupo de Sobrevivência do Norte da Califórnia se reúne para um treinamento de campo em Old Town, Flórida, em 08/12/2012 - (Foto: Reuters/Brian Blanco)


Membros do Grupo de Sobrevivência do Norte da Flórida, incluindo seu líder Jim Foster (à esquerda com as crianças) descansam em seu acampamento durante uma curta pausa nos exercícios de navegação em terra e contato com o inimigo durante um treinamento de campo em Old Town, Flórida, em 08/12/2012 - (Foto: Reuters/Brian Blanco)

Membros do Grupo de Sobrevivência do Norte da Flórida esperam com seus rifles antes de se dirigirem para os exercícios de contato com o inimigo durante um treinamento de campo em Old Town, Flórida, em 08/12/2012 - (Foto: Reuters/Brian Blanco)


Brianna, de 9 anos, espera com seu rifle enquanto se prepara para se juntar a adultos e outras crianças para realizar exercícios de contato com o inimigo durante um treinamento de campo em Old Town, Flórida, em 08/12/2012 - (Foto: Reuters/Brian Blanco)

Em 2008, o site Global Research deu eco a uma declaração da União Americana de Liberdades Civis (ACLU, em inglês) que afirmava que, violando seu compromisso com a ONU de não recrutar crianças para o serviço militar, "o Pentágono regularmente mira crianças/adolescentes de menos de 17 anos". Segundo a ACLU, "o Pentágono faz forte recrutamento em escolas de nível médio, visando estudantes tão cedo quanto possível e geralmente sem limite de idade para as crianças com as quais faz contato", afirma a ACLU em um relatório de 46 páginas com o título "Soldados do Infortúnio". 

Uma das demonstrações mais chocantes do militarismo americano são os chamados "Extreme Brat Camps", acampamentos de concepção e atuação militares para crianças altamente problemáticas (o termo inglês "brat" se refere a esse tipo de criança), com idade de até 5 anos! Pais de crianças desse tipo voluntariamente entregam seus filhos a esses acampamentos, declarando-se incapazes de lidar com eles! As imagens são chocantes. A longa versão em inglês pode ser vista aqui. A versão compacta, traduzida para o português, apresentada no programa "Fantástico" da TV Globo pode ser vista aqui. Observem que o garoto gordinho que responde soluçando a uma ordem de um militar é o mesmo garoto que aparece na sequência de fotos do Grupo de Sobrevivência do Norte da Flórida.

As fotos abaixo, tiradas em um dos mais famosos acampamentos "brat" dos EUA, o  Camp Consequence ("Acampamento de Importância/Distinção", em tradução livre), em Jacksonville, Flórida, do ex-fuzileiro naval Glen Ellison (é esse acampamento que é mostrados nos vídeos citados acima) chama logo a atenção por um detalhe: as crianças são praticamente todas negras ou de aparência latina.







A cada fim de semana, 17 recrutas novos chegam ao acampamento "brat" denominado "Exercícios/treinos de fins de semana" de Keith "Sargento" Gibbs. Nesse acampamento, crianças de 5 a 14 anos passam por uma série de exercícios militares que frequentemente se estendem à noite, seguidos por longas marchas feitas sob gritos de "Dis-ci-pli-na, Res-pei-to". "Disciplina é algo que falta a esses garotos", diz Keith. "Se fosse presidente dos Estados Unidos, cada garoto deveria passar por um acampamento militar". E ele acrescenta, satisfeito: "das mais de 10.000 crianças que passaram pela minha vida sou abençoado por poder dizer que muitos deles agora querem ser como eu".

Acampamentos militares como o do "Sargento" tornaram-se tão famosos, que a chamada "indústria da intervenção em crianças" (child intervention industry) nos EUA movimenta hoje mais de US$ 2 bilhões por ano e gerou um ramo de negócios sob a forma de empresas que se especializam em acolher ou recolher crianças problemáticas e distribuí-las em acampamentos militares.

Em agosto de 2014, o site Stimson denunciou que os EUA continuavam fornecendo armamento e assistência militar a governos corruptos ou a governos que desrespeitam princípios democráticos -- incluindo governos que utilizam, ou apoiam o uso de, crianças como soldados. O Departamento de Estado dos EUA identificou seis governos africanos nessas condições, assim como três outros governos não africanos ao redor do mundo. Os EUA prestam assistência militar a sete desses nove governos e a cinco dos seis governos africanos identificados. 

Com esse pano de fundo fica fácil entender (mas jamais aceitar) o belicismo arraigado dos americanos e o porquê das frequentes tragédias de assassinatos em massa que os atingem, assim como a interminável sequência de conflitos e intervenções militares que promovem e de que participam. 


























Um comentário:

  1. Recebido por email de Raimundo Pinheiro em 21/9/2015:

    Vasco. O curioso de tudo isso é que, o Brasil, onde o porte e mesmo a posse de uma arma de fogo é quase proibido, desfruta de um índice de criminalidade (+ ou - 26 homicídios/ano) de cerca de 5 vezes o índice dos Estados Unidos. Raimundo Pinheiro.

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