quinta-feira, 10 de setembro de 2015

O latim na nossa vida (V) (N)

Ver postagem anterior. O que estiver entre colchetes e em itálico é de minha responsabilidade.

Natura non facit saltum (ou saltus) -- "A Natureza não dá saltos" (Raoul Fournier, Do Estudo da Língua Latina). Aforismo para enunciar que não existem, na natureza, espécimes ou gêneros completamente separados, havendo sempre um elo que os liga.

Navigare necesse (est), vivere non necesse -- "Navegar é necessário; viver, não". Tradução latina das palavras gregas pronunciadas por Pompeu em resposta aos marinheiros que o queriam dissuadir de embarcar durante uma tempestade (Plutarco, Vida de Pompeu, 50). Citadas em relação a um dever imperioso. mais importante do que a própria vida. A tradução portuguesa é refrão de uma música de Caetano Veloso, intitulada "Os Argonautas". [Cneu Pompeu ou Pompeio Magno (em latimCnaeus Pompeius MagnusAscoli Piceno29 de setembro de 106 a.C. — Egito29 de setembro de 48 a.C.) foi um general e político romano, conhecido também em português como Pompeu, o Grande (tradução de seu nome latino Magnus). Embora sendo um privatus (um homem que não detém um cargo político do, ou associado ao, cursus honorum) devido à idade, Pompeu manteve os seus comandos sob a administração de Sula e revelou-se um general talentoso. O ditador confiava nos seus instintos e enviou-o em perseguição dos apoiadores de Marius, entrincheirados nas províncias da Sicília e África. A Sicília era estrategicamente muito importante, uma vez que era a origem dos cereais que abasteciam Roma. Pompeu varreu a ilha com as suas legiões, acabando com a resistência, mas ao mesmo tempo provocando desagrado das populações locais, que responderam com queixas. 'Não me falem em leis, nós estamos armados!' foi a sua célebre resposta. Em África obteve igual sucesso e no fim da campanha foi aclamado imperator (diferente de imperador) pelas suas fiéis tropas. De acordo com a tradição, Pompeu requereu ao senado o direito de celebrar uma parada triunfal, apesar de não ter estatuto consular, nem sequer senatorial. Os senadores recusaram o pedido do que consideravam um miúdo nem sequer oriundo de boas famílias, mas Pompeu estacionou as tropas à saída de Roma, recusando-se a conceder-lhes licença enquanto o seu desejo não fosse concedido. O ditador Sula acabou por intervir e conceder-lhe o triunfo, mais para fazer a vontade ao genro que por medo. É também nesta altura que Pompeu adquire o cognome Magnus, "o Grande", que segundo uma das versões foi atribuído pelo próprio Sula com uma certa dose de sarcasmo.]

Nec me pudet ... fateri quod nesciam -- "Não me envergonha confessar não saber o que ignoro" (Cícero, Tusculanas, Livro I, 15).

Nec pluribus impar -- "Não inferior a muitos". Divisa de Luís XIV, da França.

Nec plus ultra -- "Não mais além". Segundo a mitologia antiga, estas palavras teriam sido gravadas por Hércules nas colunas que levantara em Calpe (Gibraltar) e Ábila (Ceuta), para indicar os confins do mundo. Essa tradição, não atestada pelosautoresantigos (que entretanto falam nas "Colunas de Hércules"), talvez seja de origem bizantina. O mesmo que Non plus ultra.

Nemo potest dominis pariter servire duobus -- "Ninguém pode servir igualmente a dois amos". Verso proverbial, ampliação das palavras de Jesus. Nemo potest duobus dominis servire, na tradução da Vulgata (Mateus, 6, 24).

Nihil obstat -- "Nada obsta". Fórmula com que a censura eclesiástica autoriza a publicação dos livros que lhe são submetidos, e contra os quais não exista objeção doutrinal. 

Nihil sub sole novum -- "(Não há) nada de novo sob o sol" (Eclesiastes, Prólogo, na tradução latina da Vulgata). "E nem a mim me mete medo dizer Salomão, que não há cousa nova debaixo do Sol: Nihil sub Sole novum, porque a matéria de que hoje hei de tratar, não é debaixo do Sol, senão do mesmo Sol e acima dele". Padre Antônio Vieira, Sermão da Conceição Imaculada, I.

Nisi utile est quod facimus, stulta est gloria -- "Não sendo útil o que fazemos, é tola a (nossa) glória" (Fedro, Fábulas, Livro III, 17, 12). [Fedro foi um fabulista romano (século I d. C.) nascido na MacedôniaGrécia. Filho de escravos, foi alforriado pelo imperador romano Augusto1 . Seu nome completo era Caio Júlio Fedro (latim: Gaius Iulius Phaedrus). A fábula, por ser uma pequena narrativa, serve para ilustrar algum vício ou alguma virtude e termina, invariavelmente, com uma lição de moral. A grande maioria das fábulas retrata personagens como animais ou criaturas imaginárias (criaturas fabulosas), que representam de forma alegórica os traços de caráter (negativos e positivos), de seres humanos. Coube a Fedro, quando iniciou-se na literatura, enriquecer estilisticamente muitas fábulas de Esopo, a quem se referia como criador do gênero da fábula . Todas essas fábulas não estavam escritas, mas transmitidas oralmente, com o objetivo de promover o ensino, a fixação e a memorização dos valores morais do grupo social. Deste modo, Fedro, como introdutor da fábula na literatura latina, redigia suas fábulas, normalmente sérias ou satíricas, tratando das injustiças, dos males sociais e políticos, expressando as atitudes dos fortes e oprimidos, mas ocasionalmente breves e divertidas, explicando-nos, todavia, porque teve tanto sucesso, séculos depois, pela sua simplicidade, na Idade Média. Fabulista da época dos imperadores Tibério e Calígula, no primeiro século da era cristã, e seguidor de Esopo, Fedro fez a sátira dos costumes e das personagens de sua época. Por isso, com o grande incômodo que causaram as suas críticas, acabou sendo exilado. Nesta época, com a morte de Augusto, em 14 d.C., e a ascensão de Tibério, a monarquia tornou-se um verdadeiro despotismo, sufocando toda a aspiração de literatura e de independência. Publicou cinco livros de fábulas esópicas, com prováveis alusões aos acontecimentos de sua vida.]

Nocte latent mendæ -- "De noite os defeitos se ocultam"; "de noite todos gatos são pardos" (Ovídio, A Arte de Amar, Livro I, 249). [Públio Ovídio Naso, conhecido como Ovídio nos países de língua portuguesa (Sulmona, 20 de março de 43a.C. -- Constança, Romênia (Sulmona20 de março de 43 a.C. — ConstançaRomênia, 17 ou 18 d.C.) foi um poeta romano que é mais conhecido como o autor de HeroidesAmores, e Ars Amatoria, três grandes coleções de poesia eróticaMetamorfoses, um poema hexâmetro mitológicoFastos, sobre o calendário romano, e Tristia e Epistulæ ex Ponto, duas coletâneas de poemas escritos no exílio, no mar Negro.]

Nomina stultorum existant undique locorum -- "Os nomes dos tolos aparecem em tudo quanto é lugar". Provérbio medieval para troçar dos indivíduos que têm a mania de rabiscar o nome nas paredes de monumentos, edifícios famosos, etc. Outro verso de igual sentido é Nomina stultorum semper parietibus haerent, "Os nomes dos tolos sempre estão pegados às paredes". [Pelo visto, pichadores não são uma praga recente ou "moderna".]

Non ducor, duco -- "Não sou conduzido, conduzo". Divisa de São Paulo, de autoria de Guilherme de Almeida, e que inspirou um soneto a Emilio de Menezes.

Non scholæ, sed vitæ discimus -- "Não estudamos para a escola, e sim para a vida". Frase derivada de um trecho de Sêneca (Epístolas, 44, 2), que escreveu na verdade Non vitæ, sed scholæ discimus, "Não estudamos para a vida, e sim para a escola", criticando a instrução de seu tempo; sob a forma geralmente usada, a frase constitui não já umacrítica, mas um preceito.

Nota bene -- "Observa bem" (abreviado N.B.). Frase com que se chama a atenção para o trecho que segue.




Nenhum comentário:

Postar um comentário