sábado, 28 de setembro de 2013

A arte maravilhosa de Manabu Mabe

Depois de Di Cavalcanti, de Almeida Júnior, de Aldemir Martins, de Victor Meirelles, e de Cândido Portinari, dou sequência hoje à galeria de pintores brasileiros no blogue com alguns exemplos da maravilhosa arte de Manabu Mabe (1924-1997). Para esta postagem, usei como referências o livro "Manabu Mabe", n° 13 da série Coleção Folha - Grandes Pintores Brasileiros (2013) e pesquisas minhas na Internet.

Manabu Mabe (1924-1997) - (Foto: Google).
Manabu Mabe nasceu no Japão em 14 de setembro de 1924, na localidade de Takara, Vila de Shiranui, Município de Udo, Província de Kumamoto, atualmente cidade de Shiranui. Manabu Mabe emigrou para o Brasil no ano de 1934, então com dez anos, a bordo do Navio La Plata Maru.

Trabalha na lavoura de café no interior do Estado de São Paulo. Em 1941, reside na cidade de Lins, onde realiza desenhos a crayon e aquarelas. Dedica-se a essa atividade apenas nos dias de chuva – quando não pode trabalhar – e aos domingos. Adquire suas primeiras tintas a óleo em 1945. Naquele ano, uma intensa geada arruinou toda a plantação de café e fomos forçados a descansar. Vi uma caixa de tinta numa livraria da cidade e não resisti à vontade de experimentar. Em pouco tempo pintei avidamente paisagens e naturezas-mortas em papelões e tábuas de madeira, dissolvendo a tinta em querosene.  Nesse período, recebe orientação artística do pintor e fotógrafo Teisuke Kumasaka.

Em 1947, em uma viagem a São Paulo conhece o pintor Tomoo Handa, que o incentiva a ter a natureza como fonte de inspiração. No ano seguinte, estuda com o pintor Yoshiya Takaoka, que lhe transmite ensinamentos técnicos e teóricos sobre pintura. Nesse período, participa do Grupo Seibi e integra o Grupo 15, com Yoshiya Takaoka, Shigueto Tanaka e Tomoo Handa, entre outros. Dedica-se ao estudo do nu artístico, pinta paisagens e naturezas-mortas, primeiramente em estilo mais conservador e depois aproxima-se progressivamente do impressionismo e do fauvismo.

Na 1ª Bienal Internacional de São Paulo, em 1951, toma contato com obras de artistas da Escola de Paris, como Jean Claude Aujame, André Minaux, André Marchand e Bernard Lorjou, experiência que, segundo o próprio artista, modifica sua forma de pensar e a atitude perante a pintura. No começo da década de 1950, apresenta em suas telas formas geometrizadas, aproximando-se do cubismo, e figuras contornadas por grossos traços negros. Sua produção dialoga com a obra de Pablo Picasso e de Candido Portinari, pelos quais mantém forte admiração, como podemos observar em Carregadores ou Colheita de Café, ambas de 1956. Gradualmente, adere à abstração e, em 1955, pinta sua primeira obra abstrata Vibração-Momentânea. De 1956 a 1957, inicia os trabalhos não figurativos, mas a administração do cafezal estava tornando-se um peso demasiado para ele, pois absorvia todo o seu tempo. Finalmente, vendo-se às voltas com grandes dívidas e cada um de seus irmãos tornando-se independente, vendeu o cafezal e foi para São Paulo determinado a viver como pintor.

Em 1951, casa-se com Yoshino, com quem tem três filhos. Em 1955, começa a ganhar prêmios no Salão Paulista de Arte Moderna durante anos consecutivos. Em 1959 se consagra, recebendo o Prêmio Leirner de Arte Contemporânea, com as pinturas abstratas Grito e Vitorioso, ambas realizadas em 1958. Ainda em 1959, participa da 5ª Bienal Internacional de São Paulo, com as obras Composição Móvel, Pedaço de Luz e Espaço Branco, todas daquele ano, e recebe o prêmio de Melhor Pintor Nacional. As pinturas destacam-se pelas grandes manchas cromáticas, executadas em gestos rápidos e largos, em que se percebe o equilíbrio entre a espontaneidade e a contenção. Nessas telas, encontramos referências à tradicional arte da caligrafia japonesa. Consagra-se, no mesmo ano, nacional e internacionalmente: é premiado na 1ª Bienal dos Jovens de Paris; a revista Time dedica-lhe um artigo, intitulado The year of Manabu Mabe [O ano de Manabu Mabe]; e, no ano seguinte, é premiado na 30ª Bienal de Veneza. Torna-se assim um dos artistas mais destacados do abstracionismo informal brasileiro. Realiza exposições individuais e participa de mostras coletivas na América Latina, Europa e nos Estados Unidos.

No início de sua trajetória no campo da abstração, Manabu Mabe explora em suas obras o empastamento, a textura e o traço, e se revela um colorista de porte. Em meados da década de 1960, começa a aproximar-se também de certos aspectos do tachismo.  A partir da década de 1970, cristaliza seus procedimentos anteriores – que reaparecem estilizadamente em quase toda sua produção --, incorpora em seus quadros figuras humanas e formas de animais, apenas insinuadas ou sugeridas, mas que em geral são representadas em grandes dimensões. Paralelamente, as grandes massas transparentes e etéreas com que vinha trabalhando adquirem um aspecto de solidez. Em 1970, realiza sua primeira exposição individual no Japão, na Galeria de Arte Takashimaya (Tóquio), e em 1978 faz sua grande retrospectiva em museus importantes do Japão -- as obras dessa mostra desapareceram em um desastre de avião.

Nos anos 1980 pinta um painel para a Pan American Union em Washington, Estados Unidos; ilustra O Livro de Hai-Kais, tradução de Olga Salvary e edição de Massao Ohno e Roswitha Kempf; e elabora a cortina de fundo do Teatro Provincial, em Kumamoto, Japão.Realiza, em 1986, uma retrospectiva no Museu de Arte de São Paulo (Masp) e lança um livro com 156 reproduções de seu trabalho com textos em português, inglês e japonês. Escreve, em 1994, a autobiografia Chove no Cafezal, em japonês, cujo texto original foi publicado em capítulos semanais no jornal Nihon Keizai Shinbum, de Kumamoto, sua região natal. Esse mesmo livro é lançado em português em 1998.

Em 1996 viaja ao Japão para uma grande mostra retrospectiva de sua obra. Em 1997, alguns meses antes de falecer Manabu Mabe participou de uma vinheta interprogramas pintando o logotipo da extinta Rede Manchete de televisão. No mesmo ano, por causa da diabetes, Mabe morre em São Paulo por complicações decorrentes de um transplante de rim. Suas obras encontram-se nos Museu de Arte Contemporânea de São Paulo, de Arte Moderna do Rio de Janeiro, de Arte Contemporânea de Boston e de Belas Artes de Dallas, entre outros. No Museu Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro, encontra-se uma de suas pinturas mais expressivas, uma Natureza-Morta (óleo sobre tela).

Clique em cada imagem abaixo para ampliá-la.

Paisagem de Lins (1949). Óleo sobre tela (50 x 60 cm) - (Foto: Google).

Autorretrato (1949). Óleo sobre papel cartão (50 x 40 cm). Coleção particular. - (Foto: Google).

Natureza-morta e boneca (1950). Óleo sobre tela (60 x 73 cm). - (Foto: Enciclopédia Itaú de Artes Visuais).

Natureza-morta (1952). Óleo sobre tela (50,5 x 60,1 cm). Museu Nacional de Belas Artes (Rio de Janeiro). - (Foto: Google).

Natureza-morta (1952). Óleo sobre tela (46 x 55 cm). Coleção particular. - (Foto: Enciclopédia Itaú de Artes Visuais).

Carregadores (1953). Óleo sobre tela (130 x 162 cm). Coleção Gilberto Chateaubriand, MAM - RJ. - (Foto: Paulo Scheuenstuhl - Fonte: Enciclopédia Itaú de Artes Visuais).

Peixes, pomba e frutas (1954). Óleo sobre tela (46 x 55 cm). - (Foto: Enciclopédia Itaú de Artes Visuais).

Ternura (1955). Óleo sobre tela (92 x 73 cm). - (Foto: Enciclopédia Itaú de Artes Visuais).

Vibração momentânea (1955). Óleo sobre tela (60 x 73 cm). Coleção particular. - (foto: Google).

Composição abstrata (1969?). Óleo sobre madeira (51 x 51 cm). - Foto: Google).

Colheita de café (1956). Óleo sobre tela (150 x 125 cm). Obra perdida em acidente de avião em 1979. - (Foto: Google).

Composição B (1956). Óleo sobre tela (120 x 120 cm). - (Foto: Enciclopédia Itaú de Artes Visuais).

Sem título (1958). Mista sobre papel (64 x 46 cm). - (Foto: Google).

Sinfonia pastoral (1958). Óleo sobre tela (130 x 162 cm). - (Foto: Enciclopédia Itaú de Artes Visuais).

Grito (1958). Laca sobre tela (130 x 162 cm). Coleção particular. - (Foto: Enciclopédia Itaú de Artes Visuais).

Mãe e filho (1958). Laca sobre tela (100 x 60 cm). - (Foto: Enciclopédia Itaú de Artes Visuais).

Profeta I (1959). Óleo sobre tela (110 x 130 cm). Obra perdida em acidente de avião em 1979. - (Foto: Enciclopédia Itaú de Artes Visuais).

Pedaço de luz (1959). Óleo sobre tela (130 x 130 cm). Obra perdia em desastre de avião em 1979. - (Foto: site do pintor).

Poema do Rio (1960). Óleo sobre tela (60 x 130 cm). Acervo do Banco Itaú S.A. (São Paulo, SP). - (Foto: Enciclopédia Itaú de Artes Visuais).

 
Sem título (1960). Óleo sobre tela. - (Foto: Google).

A Fome (1961). Óleo sobre tela (250,2 x 200 cm). Acervo Artístico-Cultural dos Palácios do Governo do Estado de São Paulo. Palácio dos Bandeirantes (SP)- (Foto: Enciclopédia Itaú de Artes Visuais).

Asa dourada (1962). Óleo sobre tela. - (Foto: Google).

Contrição (1963). Óleo sobre tela (180 x 200 cm). - (Foto: Enciclopédia Itaú de Artes Visuais).

Caminho para o Outono (1963). Óleo sobre tela (190 x 190 cm). - (Foto: Enciclopédia Itaú de Artes Visuais).

Melancolia do Outono (1965). Óleo sobre tela (130 x 110 cm). - (Foto: Enciclopédia Itaú de Artes Visuais).

Alvorada da Indústria (1966). Óleo sobre tela (130 x 150 cm). - (Foto: James Lisboa/Escritório de Arte).
Abstracionismo (1967). Óleo e verniz sobre tela (180,3 x 200 cm). Acervo da Pinacoteca do Estado de São Paulo. - (Foto: Google).

Sentimento de Outono (1967). Óleo sobre tela (126 x 126 cm). MAM-SP. - (Foto: MAM-SP).


Nascente (1968). Óleo sobre tela (200 x 230 cm). - (Foto: Enciclopédia Itaú de Artes Visuais).

Silêncio (1968). Óleo sobre tela (127 x 102 cm). - (Foto: Enciclopédia Itaú de Artes Visuais).

Sonho do meio-dia (1969). Óleo sobre tela (200 x 240 cm). - (Foto: Enciclopédia Itaú de Artes Visuais).

Destino (1969). Óleo sobre tela (110 x 160 cm). - (Foto: Enciclopédia Itaú de Artes Visuais).

New York (1970). Óleo sobre tela (121,9 x 101,5 cm). MAM-SP. - (Foto: MAM-SP).

Nº 110 (1970). Óleo sobre tela (152,6 x 122 cm). MAM-SP. - (Foto: MAM-SP).

Sem título (1971). Acrílica sobre tela (180 x 200 cm). - (Foto: Enciclopédia Itaú de Artes Visuais).

Família (1971). Óleo sobre tela (180 x 200 cm). - (Foto: Enciclopédia Itaú de Artes Visuais).

Sem título (1972). Óleo sobre tela. - (Foto: Google).

Clímax (1973). Óleo sobre tela (180 x 200 cm). Coleção Particular. - (Foto: site do pintor).

Equador n°2 (1973). Óleo sobre tela (180 x 200,7 cm). Coleção Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (RJ). - (Foto:Romulo Fialdini - Fonte: Enciclopédia Itaú de Artes Visuais).


Monólogo (1977). Óleo sobre tela (51 x 56 cm). - (Foto: Enciclopédia Itaú de Artes Visuais).

O tempo passa (1979). Acrílica e óleo sobre tela (180 x 200 cm). - (Foto: Enciclopédia Itaú de Artes Visuais).

Marcha da Humanidade (1980). Acrílica e óleo sobre tela (200 x 600 cm). - (Foto: Enciclopédia Itaú de Artes Visuais).

Poema Pastoral (1988). Óleo sobre tela (152 x 191 cm). Coleção particular. - (Foto: Google).

Abstrato (1988). Óleo sobre tela. - (Foto: Google).

Noite de primavera (1988). Óleo sobre cartão (27 x 40 cm). - (Foto: Google).

Esperança (1993). Serigrafia. - (foto: Google).

Vento Vermelho (1997). Mural da Capela de Santo Amaro (20 m² de área) da Fortaleza da Barra Grande, na entrada da barra de Santos (SP). - (Foto: Google).

Sem título (19??). - (Foto Google).

Sem título (19??). Óleo sobre tela. - (Foto: Google).

Sem título (1994). Óleo sobre papel (50 x 70 cm). - (Foto: Google).

Kaze (1995). Gravura em serigrafia (70 x 66 cm). - (Foto: Google).

Sem título (1997). Uma das últimas pinturas de Mabe. Óleo sobre tela (102 x 127 cm). Coleção particular. - (Foto: Google).

Autorretrato (1997), pintado no ano em que o pintor morreu. Óleo sobre tela (50 x 40 cm). Coleção particular. - (Foto: Google).

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