sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Paris acusa as agência de classificação de seguirem critérios políticos

O CEO do Banco da França e membro do Conselho de Governança do Banco Central Europeu (BCE), Christian Noyer, carregou ontem nas tintas contra as agências de qualificação, ante a possibilidade de que cumpram suas ameaças e rebaixem a nota de solvência da segunda economia do euro [a francesa], por contágio da crise da dívida. Segundo afirmou Noyer, o rebaixamento é "injustificável", já que a única maneira de explicá-lo seria por critérios de natureza política. Em realidade, assegurou, se tivessem critérios estritamente econômicos as agências deveriam programar-se primeiro para "rebaixar a nota do Reino Unido, que apresenta deficit maior, dívida maior e crescimento menor". [À parte a veracidade ou não disto, aflora aqui a rivalidade entre França e Reino Unido (RU), exacerbada pela inédita decisão do RU de torpedear a união fiscal da zona do euro proposta por franceses e alemães.]

"Não me parece que o  rebaixamento esteja justificado quando analisamos os dados econômicos", afirma Noyer em uma entrevista concedida ao diário Le Telegramme de Brest, na qual assegura que "os argumentos usados pelas agências são mais políticos que econômicos".

Além disso, Noyer acusa as agências, e especialmente a Standard & Poor's, de atuar de maneira "incompreensível e irracional", pelo que o banqueiro questiona o papel atual das agências como guias de investimento. "Fazem ameaças, apesar dos países terem tomado decisões firmes e positivas (...). O que vejo é que esses organismos foram capazes, através de seus comentários críticos, de solapar a sensação positiva que existia no mercado após a cúpula de Bruxelas", acrescentou.

Por outro lado, o CEO do Banco da França defende a solvência dos bancos franceses depois dos recentes rebaixamentos das principais instituições [financeiras] do país. "Estão muito bem capitalizados, sobretudo em comparação com seus com seus homólogos europeus e americanos. Não devemos exagerar a importância desse rebaixamento de classificação (...). O certo é que os bancos franceses têm capital mais que suficiente, tendo em conta o sistema bancário mundial em sua totalidade", explica Noyer.

[A reação francesa está em sintonia com um movimento já em gestação na União Europeia contra o poder exagerado das agências de classificação.]

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