Aos poucos a presidente Dilma Rousseff vai revelando os meandros de sua peculiaríssima concepção de ética na política, ou fora dela. Com um raciocínio extremamente contorcionista, de flexibilidade de fazer inveja ao melhor artista do Cirque du Soleil, Dª Dilma declarou que os atos de que é acusado o ministro Fernando Pimentel não têm nada a ver com o que ele faz no governo e, portanto, ele não tem que se explicar à sociedade e, muito menos, ao Congresso. Para reforçar sua espantosa argumentação, declarou que o ex-ministro Antonio Palocci -- objeto do mesmíssimo tipo de acusação que agora cai sobre Pimentel -- saiu do governo "porque quis"...
A presidente mostra assim, inequivocamente, a mesma safadeza de raciocínio que tem permeado a reação do Congresso Nacional, quando paira a ameaça de processar um par por corrupção ou qualquer outro crime que possa causar a perda de mandato: o passado não condena ninguém, seja ele (o passado) qual for. No caso do Planalto, com um aditivo: se for afilhado e indicação da chefe então, nem se fala.
Pelo pensar que campeia nos poderes Executivo e Legislativo nacionais, Fernandinho Beira-Mar se sair hoje da cadeia poderá perfeita e tranquilamente assumir um ministério ou um mandato -- certamente vai aparecer um purista legal dizendo que, tecnicamente, isso é perfeito. OK, por causa desses puristas espalhados na justiça tupiniquim, com destaque para o STF - Supremo Tribunal Federal, e no Congresso, somos obrigados a conviver com figuras do calibre de Jader Barbalho, Jacqueline Roriz, e outras peças do mesmo quilate -- ou então assistir o acinte de ver um médico que, condenado pelo estupro de mais de 200 pacientes, fugiu para o Líbano beneficiado com um habeas-corpus tecnicamente perfeito do Sr. Gilmar Mendes. O nosso grande problema é que temos uma legião de excelentes ténicos legais, vitimados de miopia e/ou catarata éticas e sociais irreversíveis. E, certamente, nessa linha de raciocínio, Fernandinho ganharia ou o ministério da Justiça, ou a presidência da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara de Deputados, dada sua vasta experiência nessa área -- se ele tiver feito o curso de Direito na prisão, melhor ainda.
Dª Dilma já deixou inequívoco: aos amigos, tudo, aos inimigos, a lei e a ira dilvina. Neguinho p'ra derrubar Fernando Pimental vai ter que rebolar. Aí, a gente consulta as pesquisas e vê que a presidente está com prestígio popular maior que de FHC e de Lula, com o mesmo período de governo. A história é implacavelmente repetitiva: cada povo tem o governo e o(a) presidente que merece.
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