sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Dois anos depois, Grécia continua longe de uma solução fiscal

Há dois anos, em 14 de dezembro de 2009, o primeiro-ministro grego George Papandreou prometeu que seu país mergulhado em dívida "atacaria e resolveria, de uma vez por todas, problemas profundamente enraizados que têm impedido o progresso do país".  Como se para marcar esse "aniversário", o FMI (Fundo Monetário Internacional) publicou um relatório cuja principal conclusão é que a Grécia não apenas não está fazendo reformas em velocidade suficiente, mas "está atrasada em relação a uma gama de políticas".

Em vez de diminuir, o deficit orçamentário grego está aumentando. e, em vez de crescer no ano que vem, como o FMI previu uma vez, a economia grega se contrairá novamente. Resumindo, enquanto os líderes europeus voltam sua atenção para a ratificação de um plano de longo prazo para a disciplina fiscal dos 17 países da zona do euro, eles não têm ainda uma solução para o problema que inicialmente mergulhou o continente numa crise -- e que pode ainda deflagrar um colapso maior.

O que deu errado? Basicamente, a recessão que castiga a Grécia está frustrando os esforços para restabelecer um equilíbrio fiscal através de impostos mais altos e cortes de despesas. De fato, o relatório do FMI alude a "problemas de cumprimento de metas" que estão minando a geração de receita -- o que soa como se os gregos estejam tentando sustentar suas próprias finanças através da evasão de impostos. Agora, mesmo o ponta de lança do FMI para a Grécia, Poul Thomsen, admitiu que há não há muito mais redução de dívida a se obter através de aumentos de impostos que impedem o crescimento do país. Enquanto isso, as autoridades [gregas] não implementaram medidas que poderiam melhorar o desempenho da economia a longo prazo, tais como a privatização de bens públicos e mais flexibilidade no mercado de trabalho.

O sucessor de Papandreou, Lucas Papademos, desfruta de um alto índice de aprovação. Mas, está numa luta inglória pois a Grécia não dispõe de moeda própria para desvalorizar, e a única opção do país é seguir as regras de austeridade do FMI, da União Europeia, e do Banco Central Europeu.

Se a estratégia é aproveitar qualquer chance para reduzir a dívida grega a um nível sustentável por volta de 2020 -- a meta oficial -- investidores privados que detêm cerca de US$ 260 bilhões da dívida grega têm que perdoar metade desse valor, como prometeram aos líderes europeus em outubro. Os detalhes estão, no entanto, sendo negociados e o previsível ponto de impasse é quanto de juros esses investidores conseguirão para os bônus novos gregos que substituirão os velhos.  Se a taxa for muito alta, onerará o crescimento futuro da Grécia; se for muito baixa, os investidores privados não subscreverão a troca de dívida [velha por nova].

É melhor que os gregos e seus banqueiros não pechinchem por muito tempo, porque a confiança dos investidores na Europa diminui a cada dia. Ambos os lados precisam ser lembrados pelo FMI e pelas autoridades europeias de quão altos são os riscos em jogo. Se a Grécia terminar entrando em default e saindo do euro, o resultado seria uma contração de 5% na sua economia no ano que vem, no meio a corridas aos bancos, desemprego maciço, uma rápida depreciação de sua nova moeda, e um surto inflacionário, de acordo com uma projeção recente da PricewaterhouseCoopers [através da reportagem que serve de referência a esta postagem é possível acessar, em formato "pdf",  o relatório muito detalhado e elucidativo da Pricewaterhouse]. "Enquanto isso", diz o relatório, "os líderes europeus têm que agir de maneira decisiva para impedir que o pânico se espalhe com a perspectiva de que outros países vulneráveis deixem o euro".

Se os líderes europeus puderem, de fato, agir dessa maneira decisiva, a Europa como um todo sofreria apenas uma recessão menor. O que o relatório deixa implícito é a calamidade que ocorrerá, caso esses líderes não ajam decisivamente e continuem atuando como até agora.

Nenhum comentário:

Postar um comentário