sábado, 16 de novembro de 2013

Meio ambiente: Japão se recusa a reduzir emissões, apoiando-se no caso Fukushima

[A notícia traduzida parcialmente a seguir foi publicada em sua íntegra ontem no jornal espanhol El PaísO que estiver entre colchetes e em itálico é de minha responsabilidade.]

O Japão colocou ontem uma pedra a mais no difícil caminho traçado pelas Nações Unidas para alcançar um grande pacto global contra a mudança climática em 2015. O governo japonês anunciou que não reduzirá suas emissões em 25% para 2020, como havia prometido, mas ao contrário as aumentará em 3% em relação aos níveis de emissão em 1990, a data de referência estabelecida pelos países signatários do protocolo de Kioto para que as reduções sejam homologáveis. Por que o Japão abandonou esse compromisso? O acidente na usina nuclear de Fukushima [ver postagem anterior], provocado por um terremoto e um tsunami em 2011, obrigou o país a paralisar suas 50 usinas nucleares e a emissões dispararam. 

O Japão é o quinto entre os países que mais contaminam a atmosfera. A mudança na sua matriz energética fez com que sua geração com usinas nucleares passasse de 30% para apenas 0,7% no final de 2012. Para compensar essa redução, o país aumentou suas importações de petróleo, carvão e gás liquefeito, aumentando bastante sua carga de contaminação. O primeiro-ministro Shinzo Abe defende o retorno à energia nuclear, ainda que assegure que com o tempo se reduzirá a dependência do Japão desse tipo de energia. 

Em uma reunião como a 19ª Conferência de Cúpula do Clima da ONU em Varsóvia [ver aqui], em que mais de 190 países se reúnem sob a Convenção Marco das Nações Unidas para a Mudança Climática (UNFCCC, na sigla em inglês) para chegar a compromissos cada vez mais ambiciosos na luta contra as mudanças climáticas, o anúncio do Japão contribuiu para baixar as expectativas em um ambiente já um tanto desanimado. A reunião está tensa, porque se busca avançar em um pacto global a ser aprovado dentro de dois anos na Reunião do Clima 2015 em Paris. É muito ambicioso, mas necessário, lograr um acordo com os principais países emissores.

Com um consenso de 95%, os cientistas têm cada vez mais claro que o homem é o principal agente da mudança climática e advertiram que os efeitos das emissões -- subida do nível dos mares, acidificação dos mares e derretimento das geleiras -- se manterão durante séculos senão se tomarem medidas agora.

(...) As organizações conservacionistas foram as mais críticas em relação ao Japão. Prenunciaram que a atitude japonesa terá uma "repercussão negativa grave" nas negociações, que terão seu momento mais importante na semana que vem com a presença dos ministros dos países participantes. "Retirar-se da ação pelo clima é como dar uma bofetada na cara dos que sofrem os efeitos das mudanças climática, como os filipinos", declarou Wael Hmaidan, diretor da Rede de Ação pelo Clima, uma coalizão de organizações que  promove políticas contra as mudanças climáticas em mais de 100 países.

O Japão ganhou ontem [14/11] o Prêmio Fóssil, um prêmio de caráter negativo que as ONGs concedem diariamente, e que nesta semana foi agraciado por duas vezes à Austrália também por suas desanimadoras políticas climáticas. Seu primeiro-ministro, Tony Abbot, revogou uma lei que taxava as empresas por suas emissões de carbono e que estava em vigor havia apenas um ano, e rechaçou financiar os mecanismos de compensação por perdas e danos que agiriam como um paliativo de urgência para os efeitos das mudanças climáticas nos países em desenvolvimento.

Japão e Austrália pertencem a um grupo de negociação da Cúpula do Clima denominado de guarda-chuva, de natureza conservadora. As emissões da Austrália correspondem a 1,5% das emissões globais, mas o país tem uma das mais altas emissões per capita do planeta. Nesse mesmo grupo se encontram também os EUA e o Canadá, que aplaudiu alguns dos anúncios da Austrália.

Quem já passou por várias reuniões dessa natureza vê nesses anúncios uma estratégia para baixar as expectativas dos países mais exigentes, e assim lograr acordos mais modestos. Apesar de já se estar no meio da duração da reunião de Varsóvia, nem o presidente da cúpula -- o ministro polonês Martin Korelec -- nem a secretária executiva da UNFCCC Christiana Figueres nada adiantaram das negociações, que esta semana tiveram caráter técnico. Manifestaram seu apoio a que não se perca o espírito da reunião, e se siga buscando o consenso sobre todos os assuntos sobre a mesa. "Não estamos aqui para nos envergonharmos de políticas individuais, mas sim para buscar consensos", disse Korelec. 



Nenhum comentário:

Postar um comentário