quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Os vazamentos de Edward Snowden e a hipocrisia que campeia mundo afora

Talvez o melhor dos efeitos dos vazamentos feitos por Edward Snowden tenha sido o de botar nua em pelo a hipocrisia reinante mundo afora no quesito bisbilhotice. De repente, baixou um chilique generalizado pelo planeta, como se todos acreditassem piamente que as relações entre países fossem virgens de comportamento irrepreensível e jamais suscetíveis a qualquer violação de qualquer espécie. Afinal, vivemos num mundo civilizado ... 

Em artigo hoje no Globo, Benito Paret põe o dedo na ferida: as denúncias de Snowden reforçam o que se sabe há muito tempo. Achar que os EUA não espionam ou não deveriam espionar quem lhes interessa é acreditar em Papai Noel e na inocência do NPA (Nosso Pinóquio Acrobata, Lula). Além disso, os dirigentes da NSA afirmaram que parte das informações que colheram sobre cidadãos e políticos europeus vieram das agências de inteligência dos países afetados -- não vi ninguém contestando isso até agora.

É claro e compreensível que o governo americano não goste de ser exposto em praça pública nessa área, muito menos com o zoom e o detalhamento com que a coisa se fez. Até aí, morreu Neves. É igualmente claro e compreensível que a chanceler alemã Angela Merkel fique pau da vida ao saber que os sobrinhos de Tio Sam ouviam e acompanhavam todos os chucrutes que falava em seu celular. Até aí, morreu outro Neves. Todo mundo que foi identificado publicamente como espionado fez o esperneio de praxe, p'ra salvar as aparências, inclusive o Nosso Pinóquio de Saias, Dona Dilma. Lá se foi o terceiro Neves.

Enquanto Obama estava contra as cordas e sozinho na berlinda, a turma se fartou em deitar-lhe o sarrafo. Aí, começaram a surgir os malfeitos de uns e outros. Vamos começar pela nossa furibunda ex-guerrilheira, que rodou a baiana na Assembleia-Geral da ONU contra os EUA por ter sido espionada. Agora mesmo, logo depois dela ter feito uma dobradinha com Angela Merkel com uma proposta conjunta germano-brasileira para "enquadrar" as atividades de espionagem, ela acaba de levar uma rasteira dentro de casa com a revelação de que a Abin - Agência Brasileira de Inteligência "monitorou" -- o falso puritanismo petista não gosta do verbo espionar -- diplomatas de Irã, Iraque e Rússia em 2003 e 2004. Nada de espantar -- outro Neves -- não fosse o estardalhaço anterior da madame. Aí, ela mesma e seu ministro da Justiça se apressaram a explicar a mancha de batom no colarinho e a emenda ficou pior que o soneto. Entre outras tolices, disseram que aquilo havia sido feito "cumprindo estritamente as leis brasileiras" e que era completamente "diferente" do que fizeram os americanos. Vejamos: - i) os espiões da Abin seguiram as leis brasileiras e os dos EUA, por acaso seguiram as leis do Afeganistão ou de Marte? -- ii) é evidente e ululante que qualquer espionagem nossa é completamente diferente de qualquer uma feita pelos americanos, não é preciso ser nenhum Freud para entender que isso é pura e simplesmente questão de competência e tecnologia. Cada um espiona quem pode, como pode. 

Detalhe omitido pela amnésia seletiva de Dilma NPS: durante a ditadura militar o Brasil espionou os países vizinhos.  

Vejamos duas outras historiazinhas interessantes nessa área da bisbilhotice entre países:

  • o prestigioso jornal inglês The Independent acaba de revelar que a embaixada britânica em Berlim teria sido usada para espionar o governo alemão, o que deixa a chancelaria alemã mais exposta que as vitrines das casas de luz vermelha de Amsterdã;
  • não é segredo para ninguém que Israel espiona a CIA, que considera os israelenses sua maior ameaça de contrainteligência no Oriente Médio.
Em artigo interessante no Financial Times de 31/10 Jan Techau, diretor da Carnegie Europe, diz que a "Alemanha tem que parar com moralismos e aderir à espionagem", argumentando que a nação mais poderosa da Europa tem que aceitar que ter influência tem seu preço, e que a era de se ficar à margem dos acontecimentos globais já passou. Tenho minhas sérias dúvidas com relação à premissa do autor de que a Alemanha não bisbilhota ninguém, nem investe nisso.

Para mim, fica cada vez mais evidente que tem muita gente -- incluindo obviamente Dilma NPS -- que está transformando um cavalo em cavalaria de batalha para tirar os olhos do mundo global e local dos problemas sociais, econômicos e financeiros que criaram e/ou herdaram e ampliaram. 




    

Nenhum comentário:

Postar um comentário