sábado, 1 de dezembro de 2012

Brasil, China, Índia e Rússia serão os mercados varejistas dominantes no futuro, diz a The Economist (I)

[A Unidade de Inteligência da (The) Economist acaba de publicar um interessante relatório prospectivo sobre a evolução do mercado varejista no mundo, denominado "Varejo 2022" (Retail 2022), que aponta Brasil, China, Índia e Rússia como os mercados dominantes nesse setor na próxima década. É impressionante a revolução causada pelos avanços na Tecnologia da Informação. O relatório está disponível em formato pdf para quem é assinante do site. Reproduzo esse relatório em três partes, com a primeira delas a seguir.] 

Visão geral
  • Mercados do futuro -- China, Índia, Brasil e Rússia se tornarão os mercados varejistas dominantes.
  • África, a última fronteira -- à medida que as oportunidades diminuam nos Brics, os varejistas verão a África como uma geradora de crescimento.
  • Mercado virtual -- e-commerce, m-commerce e s-commerce provocarão uma transformação no panorama global do varejo.
  • As lojas de varejo físicas contra-atacarão do modo como varejistas tradicionais respondem a mudanças, fazendo a integração das ofertas online com as ofertas das lojas físicas.
  • As lojas de conveniência prevalecerão, com a evolução dos hábitos de compra para uma abordagem via canais múltiplos, em vez do comércio do tipo "uma parada para compras" ("one-stop shopping").

Dez anos são um tempo longo em termos de varejo, especialmente tendo em conta as mudanças tecnológicas e o crescimento de mercados emergentes, que continuam a forçar uma evolução nos hábitos de consumo. Uma década atrás, telefones celulares eram algo que você usava para fazer chamadas. Em 2002, a Amazon havia apenas começado em termos de lucratividade. Não havia Facebook. Não havia nem mesmo um Myspace, embora pioneiros como os Friends Reunited (Amigos Reunidos) e Frendster estivessem lançando as bases para o êxito futuro do formato das redes sociais. As ruas de comércio varejista estavam crescendo no Reino Unido (RU), e esses comerciantes estavam a meio caminho de uma política agressiva de longo prazo de expansão via grandes lojas de varejo que reformataram o panorama do comércio de compras. Em 2002, o PIB nominal da China valia menos de 15% do PIB dos EUA, mal chegando a 3% em termos per capita.


O mundo é hoje um lugar muito melhor conectado. Os pontos de venda para consumidores se expandiram das ruas específicas e shoppings para qualquer lugar onde exista hoje um telefone ou um sinal de Wi-Fi. As redes sociais foram muito além de serem pontos de contatos entre amigos, para se tornarem um front de comércio e de adesão a marcas. As ruas de varejo do RU estão em crise, com vítimas famosas, enquanto em termos globais os varejistas estão mudando de direção, saindo do esquema "big-box" [grandes lojas de varejo] para lojas de conveniência e canais online. Enquanto isso, o PIB da China vale hoje metade do PIB dos EUA e continua crescendo.


A Unidade de Inteligência da Economist vê os hábitos de consumo continuando a acelerar nesse caminho rumo a 2022. Embora haja um caráter cíclico nas retrações econômicas e na redução da confiança do consumidor, os efeitos colaterais da crise de 2007 têm sido um catalisador de mudanças e podem dar suporte a tendências de longo prazo. O crescimento dos mercados emergentes definirá o panorama do varejo do futuro, não apenas em termos de demanda mas também exercendo um papel aquisitivo crescente nos mercados do Ocidente, o que pode levar a que algumas marcas familiares se tornem propriedades chinesas ou indianas.


Mercados do futuro


Neste ano vimos a China ultrapassar os EUA como o maior mercado mundial de alimentos e do comércio do tipo mercearias e minimercados (grocery). Em 2013, a China deverá ultrapassar o Japão como o maior mercado mundial de artigos de luxo, e em 2016 deverá ultrapassar os EUA como o maior mercado varejista do planeta. Enquanto o crecimento do varejo é moderados em mercados ocidentais já maduros, o crescimento rápido do consumo de varejo em mercados emergentes continuará a criar um panorama global de varejo bastante diferente em 2022.

Em 2022, a China deverá ser responsável por um quarto das vendas globais de varejo geradas pelos 60 maiores mercados, o dobro da parcela americana. 

Dimensão de mercados de varejo (em milhão de US$)

País/região                           2012          2016               2022
China                               2.311.226     4.207.729       8.345.813
EUA                                 3.389.633     3.961.146       4.470.376
Índia                                  845.676     1.877.429       3.822.770
Japão                              1.691.548     1.496.789       1.628.421
Rússia                               658.961        932.014        1,482.362
Brasil                                500.338        768.459        1.155.286
Mundo (60 países)          17.011.998    23.357.957      33.471.288

Fonte: Economist Intelligence Unit.

Uma tendência fundamental na China será o crescimento de cidades, não de centros de irradiação como Shanghai, Beijing e cidades litorâneas mas de cidades de terceiro e quarto níveis, situadas mais para o interior.  São essas cidades que são vistas como as forças motrizes para o crescimento do país rumo a 2022. A classe consumidora chinesa será principalmente urbana. Rendas mais altas significam que cidades litorâneas de primeira linha já oferecem ambientes de consumo sofisticados que provocarão o crescimento do varejo na maior parte da presente década. Entretanto, as vendas de varejo crescerão mais rapidamente -- embora a partir de uma base menor -- em cidades do interior, que presenciarão um crescimento salarial mais rápido e esforços capitaneados pelo governo para estimular o consumo. Uma prática amplamente utilizada de informar receitas domésticas inferiores à realidade sugere que a demanda do consumidor possa exceder expectativas já elevadas, particularmente no que se refere a bens de preço médio ou luxuosos.

Megalópoles: proporção de população urbana ganhando acima de  30.000 Rmb (%) (*)

Área urbana                                           2002      2012      2020

Grande Shanghai                                      4,4        52,7       72,4  
Grande Shenyang                                     0,2        19,1       46,0
Chang-Zhu-Tan                                        1,3        31,7       60,3
Chongqin                                                 0,9        15,8       49,4
Grande Xi'an                                            1,2        34,6       69,1
                           
Fonte: Economist Intelligence Unit.
(*) Rmb = renminbi = moeda oficial chinesa, cuja unidade de referência é o yuan, que é dividido em 10 jiăo -- 1 yuan reminbi = 0,16 US$

A China não é o único mercado emergente no varejo a ser enfocado como um líder global em 2022, embora seja o maior. Índia, Brasil e Rússia estão também saindo da sombra de seus vizinhos ocidentais para se transformarem em forças do varejo. Em 2022, esses mercados emergentes serão quatro dos seis maiores mercados do mundo nessa área em termos de dólares americanos, e talvez cinco entre os sete maiores caso a Indonésia continue a crescer. No espaço de dez anos o mercado indiano, sozinho, poderá comparar-se em tamanho a todo o mercado da Europa ocidental!

Vista de uma perspectiva varejista, a oportunidade já está bem estabelecida  em mercados emergentes. Os "quatro grandes" varejistas globais -- Walmart, Carrefour, Metro AG e Tesco -- têm uma florescente presença na China. Outros mercados chaves, como Brasil, Vietnam, Indonésia e Índia, permanecem centros de muita atenção. A eliminação de dificuldades na regulação para investimentos estrangeiros será um fator preponderante para o comportamento desses mercados na próxima década.

Empresas de bens de luxo já disputam entre si para ganhar espaço nesses mercados, especialmente na China, a tal ponto que investidores, repetidamente, têm expressado seus receios de que empresas de artigos de luxo como Burberry, PPR e LVMH possam ficar superexpostas no caso de haver uma desaceleração no crescimento chinês. No curto prazo isso pode ser um fator mas, considerando o peso que tais mercados terão dentro de uma década, pode haver muito mais a perder se não se investir neles agora. Embora seja difícil manter um crescimento de dois dígitos em artigos de luxo na virada da década, em 2022 existirá nesses mercados novos uma sólida plataforma para lojas de artigos de luxo em cidades grandes e de porte médio, vendendo dessas mercadorias para uma base de consumidores ávida e opulenta.

PIB nominal (em US$ bi)

País/região                                    2012           2016          2022

China                                           8.188         14.134        24.960
EUA                                            15.679        18.584        24.470
Índia                                            1.921          4.406          6.970
Japão                                           5.930          5.374          6.060
Brasil                                           2.354          3.254          5.084

Fonte: Economist Intelligence Unit

Assim como influenciando domesticamente o crescimento global do varejo, 2022 presenciará mercados emergentes influenciando mercados ocidentais de maneira mais direta. No momento, o investimento em varejo por parte de mercados emergentes está grandemente concentrado em mercados domésticos ou regionais. Mercados emergentes têm investido pesadamente em mercados ocidentais, mas principalmente nos setores primário e de manufaturas. Isso, no entanto, será alterado, com um número crescente de empresas de mercados emergente atentas agora a oportunidades com o consumidor. Dois conglomerados indianos, Tata e United Breweries, um grupo chinês da área de alimentos, Bright Foods, e a empresa Hutchison Whampoa, listada na bolsa de Hong Kong, avançaram sobre mercados consumidores ocidentais. A Hutchison é dona da AS Watson, uma varejista global líder nas áreas de saúde e beleza. Em 2022, o fluxo atual de fusões e aquisições expansionistas a partir de mercados emergentes se converterá em uma inundação, com conglomerados chineses, brasileiros e indianos endinheirados buscando participar em mercados ocidentais menos "excitados", especialmente na Europa, onde a fraqueza do varejo pode proporcionar negócios melhores.

Um fator que pode contrabalançar isso é a falta de disposição de governos europeus em permitir que empresas de países emergentes se apoderem de suas "jóias da coroa" ou de empresas familiares. Há pouca chance de que isso se altere em 2022, assim atores chaves domésticos e internacionais como os quatro grandes citados acima permanecerão em poder do ocidente. Em vez disso, cadeias menores servirão de trampolim para que varejistas orientais conquistem uma fatia do mercado em 2022.

[continua]























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