A saúde reprodutora do homem médio está em forte declínio -- este foi o resultado a que chegou o maior estudo já feito no mundo sobre qualidade e concentração de espermatozoides.
Entre 1989 e 2005, as contagens médias de espermatozoides sofreram redução de um terço no estudo de 26.609 homens, aumentando seu risco de infertilidade. A quantidade de espermatozoides saudáveis também se reduziu na mesma proporção. Esses resultados confirmam pesquisas nos últimos 20 anos, que mostraram declínio na contagem de espermatozoides em muitos países do mundo. Razões para isso, desde cuecas apertadas a toxinas no meio ambiente, têm sido apresentadas para explicar essa queda mas ainda não se encontrou a causa definitiva para esse fato.
O declínio ocorreu progressivamente ao longo do período de 17 anos, o que sugere que ainda esteja em progressão. A pesquisa mais recente foi realizada na França, mas especialistas britânicos dizem que ela tem implicações globais. Os cientistas disseram que os resultados constituem um "sério alerta de saúde pública", e que o vínculo disso com o meio ambiente "precisa, em especial, ser determinado".
A queda mundial na contagem de espermatozoides tem sido acompanhada por um aumento de câncer testicular -- as taxas dobraram nos últimos 30 anos -- e verificada em outras desordens sexuais masculinas como a criptorquidia [falha na descida do escroto para a bolsa escrotal], que são indicativos de um "padrão preocupante", dizem os cientistas. Há uma necessidade urgente para que se defininam as causas disso, acrescentam eles, para que medidas possam ser tomadas para impedir mais danos.
Richard Sharpe, professor de saúde reprodutiva na Universidade de Edimburgo e um especialista internacional em toxinas no meio ambiente, disse que o estudo foi "enormemente impressionante" e respondeu aos céticos que duvidavam se o declínio global era real. "Agora, resta pouca dúvida de que seja real e é hora de agir. Alguma coisa no nosso estilo de vida, nas dietas ou no meio ambiente de hoje está provocando isso, e a situação vem piorando progressivamente. Ainda não sabemos quais são os fatores mais importantes, mas os mais prováveis são uma dieta de alto nível de gorduras e a exposição a produtos químicos ambientais", diz ele.
Pesquisadores do Instituto de Vigilância Sanitária St. Maurice utilizaram dados de 126 clínicas de fertilidade na França, que haviam coletado amostras de esperma de parceiros masculinos de mulheres que não tinham as tubas uterinas [trompas de Falópio] ou as tinham bloqueadas. Os homens, cuja idade média era de 35 anos, não tinham problemas pessoais de fertilidade e foram por isso considerados representativos da população masculina geral. Os resultados, apresentados na revista Human Reproductions, mostraram que a concentração de espermatozoides por mililitro de sêmen caiu progressivamente em 1,9% ao ano ao longo dos 17 anos -- de 76,3 milhões de espermatozoides por mililitro em 1989 para 49,9 milhões/ml em 2005. A proporção de espermatozoides normais/saudáveis também diminuiu em 33,4% no mesmo período.
"Deficiências na qualidade dos gametas podem estar relacionadas com os efeitos ambientais, tais como substâncias que alteram o sistema
endócrino. Os gametas são as células mais básicas do organismo humano, e
algumas teorias apontam que sua exposição pode ter um impacto na vida
adulta", avaliou Joëlle Le Moal, epidemiologista especializada em saúde
ambiental do Instituto de Vigilância Sanitária, na França.
Embora a contagem média de espermatozoides dos homens estivessem bem acima do valor definido como fronteira da infertilidade masculina -- que é de 15 milhões/ml --, estava abaixo do limiar de 55 milhões/ml definido pela Organização Mundial de Saúde (OMS) para prolongar o período de capacidade de fertilização. Outros estudos europeus mostraram que um em cada cinco homens possui contagem de espermatozoides baixa o suficiente para causar problemas de fertilização.
Combinado com outras tendências sociais como o aumento da idade de gestação, que reduz a fertilidade feminina, o declínio na contagem de espermatozoides pode sinalizar uma crise para casais que sonham em ter uma família.
Diretor da Clínica Primordia, Márcio Coslovsky afirmou que a baixa qualidade do esperma dificulta e alonga o tempo para se chegar à gravidez. Coslovsky ressaltou, inclusive, que outra consequência da
diminuição da qualidade do esperma é o de problemas no processo de
divisão celular do embrião, o que pode levar a abortamentos espontâneos.
O especialista ainda lembrou que a idade tem seu papel na fertilidade
humana. "Já é amplamente comprovado que a fertilidade da mulher cai abruptamente
com a idade. Mas o que vemos na prática é que nos homens a piora se dá
por década. Notamos empiricamente que a fertilidade dele é diferente aos
20, 30, 40 anos, tanto em qualidade quanto na quantidade de
espermatozoides ", afirmou o especialista brasileiro.
Antioxidantes, como vitaminas C, E e ácido fólico, podem aumentar a
fertilidade. Mas o acompanhamento médico é necessário, já que o uso
prolongado de alguns deles pode levar a problemas de saúde.
Contagem de espermatozoides -- como aumentá-la
1. Usar cuecas mais largas -- para produzir espermatozoides saudáveis os testículos precisam estar a uma temperatura inferior à do corpo.
2. Consumir comida de baixo nível de gorduras saturadas.
3. Evitar fumar, beber, usar drogas e tornar-se obeso.
4. Reduzir a exposição a produtos químicos industriais, como os utilizados na fabricação de plásticos -- eles podem imitar o hormônio feminino estrogeno e contrapor-se ao hormônio masculino.
5. Proteger as mulheres em processo de gestação -- há indícios crescentes de que o declínio na contagem de espermatozoides possa originar-se de alterações no útero.
6. Evitar antidepressivos -- em situações ou casos raros podem reduzir a contagem de espermatozoides.
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