Elevado do Joá e o PIB do IBGE, dois bons exemplos de comportamento estranho de nossas autoridades

Uma coisa recorrente, irritante e irresponsável na vida pública brasileira é o comportamento autoritário, monocrático e absolutista com que as autoridades públicas deste país -- do presidente da República ao presidente da câmara de vereadores (com um bando de zémanés de entremeio) -- tomam decisões que nos afetam direta e profundamente, sem qualquer preocupação com o que pensamos e com o que poderemos sofrer. O cidadão comum para essas figuras é pura e simplesmente um chato conveniente, burro e masoquista que os elege, paga e sustenta apesar de por eles permanentemente enganado e maltratado.

Temos dois exemplos recentíssimos desse comportamento doentio: o elevado do Joá e o PIB do IBGE.

Elevado do Joá

Uma via de deslocamento de 1 km, parte da autoestrada Lagoa-Barra, de vital importância para a cidade do Rio de Janeiro. Foi inaugurado em 1972 -- tem pois 40 anos --, construído pela Rossi Engenharia S.A. com base em projeto estrutural da Proenge Engenharia de Projetos S.C. Ltda.

Elevado do Joá - (Foto: Pedro Kirilos/O Globo).

Situado à beira-mar, sofre ataque intenso e permanente da maresia e da salinidade de seu percurso. Os danos à sua estrutura são visíveis a olho nu. Preocupada com isso, a prefeitura do Rio, do Sr. Eduardo Paes, encomendou estudo de análise estrutural do elevado à Coppe/UFRJ (Coordenação dos Programas de Pós-Graduação em Engenharia), que o realizou através de seu Programa de Engenharia Civil. O Globo de ontem publicou (pág. 14) a foto de dois trechos do relatório da Coppe (com o timbre da Fundação Coppetec), que dizem:

"É nosso entendimento, após análise das condições de segurança frente ao processo de degradação por corrosão que progride no viaduto e, em especial, diante das incertezas sobre as reais condições de segurança dos dentes Gerber, que a solução definitiva deve considerar a demolição dos tabuleiros superior e inferior e sua substituição por novas estruturas. A impossibilidade de assegurar a recuperação completa dos dentes Gerber nos indica que o caminho a ser percorrido deve considerar a substituição das superestruturas do viaduto". 

[...]

"a) É grave o estado de degradaçãoestrutural dos dentes de apoio das vigas. O estado de degradação dos dentes pelo avanço da corrosão compromete a segurança do viaduto e exige serviços de reparo a serem executados com a maior urgência".

Maiores detalhes do diagnóstico da Coppe podem ser encontrados no site Planeta Coppe.  Aí, o que faz o douto prefeito do Rio? Através de seu secretário de Obras, Alexandre Pinto, decide que o parecer da Coppe não pode ser considerado conclusivo. Bem, tendo em vista o que está escrito acima e no site do Planeta Coppe, temos as seguintes hipóteses, nenhuma delas abonadoras de Eduardo Paes e sua trupe: - i) o pessoal da prefeitura, aí incluídos o prefeito e seu secretário, não entende o que lê, porque mais conclusivo o relatório da Coppe não poderia ser; - ii) Paes et caterva não confiam na Coppe -- por que então lhe pediram um parecer?!

O bizarro dessa história, p'ra ficar no respeitoso, é que o mesmíssimo homem que tem a corajosa e elogiável atitude de demolir o elevado da Perimetral, que é um monstrengo mas não apresenta problemas estruturais evidentes, fica tergiversando p'ra interferir num outro elevado quase em estado terminal como o do Joá. Certamente o cidadão Eduardo Paes não precisa passar pelo elevado do Joá todos os dias, e aparentemente não está muito preocupado com as vidas daqueles que por ali transitam diariamente.

Guido Mantega e o PIB do IBGE

Em postagens anteriores já abordei a enorme facilidade com que o ministro Mantega erra em suas opiniões e prognósticos sobre nossa economia -- o homenzinho deve estar com a mão esquerda (ou direita, não sei se é canhoto) inchadíssima e imprestável, porque não acerta nenhuma no prego. O alvo agora da cisma do vidente cego da nossa economia é o último dado de PIB divulgado pelo IBGE.

Aí temos um confronto indigesto: um instituto de pesquisas estatísticas respeitadíssimo, usado como referência em nossa economia, e um ministro tatibitati. Um ministro de Estado da Fazenda fazer de público um questionamento ao IBGE do cálculo do PIB do último trimestre e pedir-lhe para revisá-lo, em tom de quem não confia no que foi feito, só acontece em governo petista. Guido Mantega tem todo o direito de pedir que o IBGE lhe explique ao pé do ouvido como chegou ao tal PIB, ou porque não entende do assunto (hipótese mais plausível) ou porque a coisa está mesmo obscura (o que é possível, embora pouco provável -- não sei se Mantega compreende essa dualidade), mas como homem de governo não pode em hipótese alguma passar ao público, interno e externo, a impressão de que podemos seguir o exemplo burro da Argentina que transformou seu IBGE (o Indec) em letra morta, manipulando seus cálculos e estatísticas.

Para Armando Castelar, economista da FGV (Fundação Getúlio Vargas), a declaração do ministro da Fazenda [de que os dados do IBGE sobre educação e saúde são "estranhos"] pode reduzir a confiança dos investidores estrangeiros nos números da economia brasileira e favorecer uma comparação do Brasil com a Argentina, onde os dados econômicos do governo não têm credibilidade. "Não podemos fazer isto. O investidor estrangeiro pode achar que o Brasil está seguindo o caminho da Argentina", disse o economista após palestra na UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro). 

Por que nossa sempre sorridente e bem humorada ex-guerrilheira permite esses rompantes de baixo QI de seu ministro da Fazenda? Ter um Mantega como alter ego é dose!

[PS - Comunicado emitido ontem pelo IBGE:

Nota à imprensa

Em relação aos resultados das Contas Trimestrais divulgados no dia 30 de novembro, o IBGE informa que não ocorreram mudanças metodológicas nem de fontes de informação no cálculo do PIB, para o qual são seguidas as recomendações internacionais.

Além disso, os procedimentos técnicos de revisão adotados pelo IBGE estão devidamente documentados nas notas metodológicas disponíveis no site do instituto, no seguinte endereço:
http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/indicadores/pib/srmtrimestrais.pdf.

O IBGE tem como princípios a transparência e o rigor técnico, e segue as recomendações da Organização das Nações Unidas adotadas pelos principais institutos oficiais de estatística do mundo.

Comunicação Social
04 de dezembro de 2012

Pelo visto, o problema de Mantega é mesmo o de não entender o que o IBGE fez, já que os procedimentos técnicos que levaram ao  PIB que ele contesta constam do site do instituto. Vixe Maria, tá feia a coisa!...]