terça-feira, 2 de agosto de 2011

Investimentos diretos brasileiros na Argentina disparam

Os investimentos diretos do Brasil na Argentina dispararam e se diversificaram nos últimos seis anos e a perspectiva é de que eles continuem crescendo em diversos setores industriais, segundo dados reunidos pelo setor comercial da embaixada do Brasil em Buenos Aires.

O crescimento econômico argentino (9% anual), a desvalorização do peso frente ao real (R$ 1 igual a $ 2,6), a possibilidade de escapar das barreiras comerciais, a chance de atender a demanda local e exportar para o Brasil e outros mercados são os motivos que levam empresas brasileiras de diferentes setores a se instalarem na Argentina, segundo economistas, autoridades de governo e empresários do país vizinho ouvidos pela BBC Brasil.

A estimativa de estoque de investimentos globais brasileiros no país vizinho, entre 1997 e o primeiro semestre de 2011, é de US$ 11,2 bilhões. Deste total, segundo dados da embaixada, quase US$ 8 bilhões (US$ 7,7 bilhões) foram investidos entre 2005 e 2011. Sendo, por exemplo, 25% correspondentes ao setor industrial, 18,5% ao petróleo e gás e 10,9% à mineração.

A projeção de investimentos, não incluídos neste estoque, conta, por exemplo, com a instalação de uma fábrica do Grupo Moura, de baterias, com US$ 30 milhões até 2015, conforme anúncio realizado pela companhia no ano passado. A empresa Randon, do setor de veículos, também informou em maio deste ano que investirá US$ 8 milhões na ampliação da sua fábrica no país até 2012. E a Vale prevê investimentos de cerca de US$ 3,5 bilhões no projeto de extração de potássio na província de Mendoza, que envolverá obras também nas províncias de Buenos Aires, Neuquén e de Rio Negro, com a construção de um porto e de uma ferrovia.

As operações da Vale em Mendoza tinham sido suspensas, mas foram retomadas em julho, segundo a assessoria de imprensa do governo de Mendoza. Este promete ser o maior investimento brasileiro já feito na Argentina, superando a compra realizada pela Petrobras da Perez Companc (Pecom) em 2002, com cerca de US$ 2 bilhões. A Vale pretende vender o produto no mercado interno e no mercado brasileiro, segundo assessores do governo de Mendoza. Interlocutores da empresa contaram que a companhia já teria investido US$ 1,5 bilhão deste total de US$ 5 bilhões previstos.

Na semana passada, a presidente da Argentina, Cristina Kirchner, anunciou que a Camargo Correa investirá US$ 75 milhões para ampliar sua fábrica de cimento no país. "A Camargo Correa bate recorde de produção no país. A Argentina cresceu 10,9% nos primeiros cinco meses deste ano, superando o recorde de 2010 e o cimento tem papel fundamental, ligado ao crescimento e a construção", disse a presidente ao lado de representantes da companhia. Segundo ela, as empresas "não têm por que temer a Argentina".

Na opinião do economista Bernardo Kosacoff, ex-diretor da Cepal (Comissão Econômica para América Latina), a Argentina é um "destino natural" das empresas brasileiras que podem então exportar para outros mercados e adquirir "know-how" de companhia internacional. Para ele, outro "fator natural" é a "complementação" desta cadeia industrial. No caso dos automóveis fabricados na Argentina, por exemplo, eles contam com peças do Brasil e são exportados, quando prontos, para o mercado brasileiro, principalmente.

O economista Diego Giacomini, da consultoria Economia e Regiões, de Buenos Aires, observou que os custos ainda compensam para o investidor que desembarca do Brasil na Argentina. "Os custos de energia elétrica e de gás no Brasil são seis ou sete vezes maiores do que na Argentina", disse. Giacomini acha, porém, que o Brasil é "mais seguro e confiável" hoje para um investidor, já que "as regras não mudam como na Argentina".

Outros setores têm aumentado a presença na Argentina, como o têxtil, em áreas de produção de algodão, como observou o embaixador do Brasil em Buenos Aires, Enio Cordeiro, durante entrevista com jornalistas brasileiros. Neste caso, elas têm procurado principalmente a região norte do país vizinho. Para o embaixador, o comércio bilateral deverá bater este ano o recorde de cerca de US$ 40 bilhões, mesmo quando setores reclamam das barreiras comerciais argentinas e quando exportadores argentinos do setor automotivo se queixam de veículos parados na fronteira brasileira.
A Vale prevê investimentos bilionários em minas de potássio na Argentina (Foto: BBC Brasil).

A desvalorização do peso frente ao real é uma das razões do aumento dos investimentos brasileiros na Argentina (Foto: BBC Brasil).

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