Quase metade dos pacientes (46,6%) que tomam remédios contra hipotireoidismo não controla a doença.
Esse é o resultado preliminar do primeiro levantamento em grande escala
no Brasil sobre o tratamento da doença, apresentado no Congresso da
Sociedade Latino-Americana de Tireoide em Lima, no Peru, neste mês.
O estudo foi feito com 1.231 pacientes com idade média de 53 anos,
acompanhados em hospitais de quatro universidades: UFRJ (Universidade
Federal do Rio de Janeiro), Unicamp, Universidade Federal do Paraná e
Universidade Federal do Ceará.
O hipotireoidismo é um distúrbio caracterizado por uma menor atividade
da glândula tireoide, que produz hormônios responsáveis por estimular o
metabolismo e o trabalho celular. Segundo o coordenador do estudo, Mario Vaisman, professor de
endocrinologia da UFRJ, o problema é que muitas pessoas tomam o remédio
fora do intervalo correto (30 minutos antes do café da manhã) ou o tomam
junto com outros remédios, o que prejudica a absorção do hormônio.
Mas o grande problema, de acordo com Laura Ward, presidente do
departamento de tireoide da Sbem (Sociedade Brasileira de Endocrinologia
e Metabologia), é a falta de adesão ao tratamento.
A principal causa disso, diz a médica, é um dos sintomas da doença: o
esquecimento. "O que vemos na prática é pessoas que tomam um dia sim e
três não. Como não sentem dor, não levam a sério".
O problema, no entanto, pode ter consequências graves a longo prazo, como insuficiência cardíaca.
Estudos apontam que há um aumento no número de casos de doenças da tireoide no mundo todo.
Um deles é um estudo italiano que mostra que, entre 1988 e 2007, o
número de casos de tireoidite de Hashimoto foi multiplicado por 90. A
doença autoimune é a principal causa de hipotireoidismo. "Um dos fatores é o aumento de consumo de sal e, consequentemente, de iodo, pela população", diz Ward.
Mas, afirma, há outros fatores que têm comprovada relação com esse
aumento. Entre eles estão a maior exposição à radiação ionizante (como a
de raio-X).
No entanto, Ward diz que não há dados que mostrem que devemos reduzir o
consumo de iodo, mesmo porque um estudo recente da USP de Ribeirão Preto
mostrou que gestantes ingerem menos iodo do que o recomendado, o que
aumenta o risco de o bebê ter retardo mental. "Deveria haver uma
campanha para reduzir o consumo de sal, principalmente dos produtos
industrializados, e não de iodo", afirma a endocrinologista.
Em novembro, o Ministério da Saúde deve divulgar os resultados de um
estudo nacional sobre a quantidade de iodo ingerida pela população e,
dependendo dos resultados, poderá reduzir o nível da substância no sal
de cozinha.
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