quinta-feira, 11 de agosto de 2011

América do Sul tem de dobrar capacidade energética até 2030 para evitar apagão

A América do Sul só ficará livre da ameaça de um apagão se dobrar sua capacidade energética até 2030, segundo estimativas da Comissão Econômica para América Latina e Caribe (Cepal). "São necessários aproximadamente mais 200 gigawatts de capacidade de geração de energia. No total, incluindo as linhas de transmissão, este pacote custaria mais de US$ 500 bilhões", disse à BBC Brasil o engenheiro e economista uruguaio Beno Ruchansky, responsável pela Divisão de Recursos Naturais e Infraestrutura da Cepal.

Segundo ele, essa expansão na oferta de energia poderá evitar um problema de abastecimento na região, em um momento de forte expansão das economias da América do Sul. "A energia pode chegar a ser um obstáculo para o desenvolvimento da região se a produção energética não acompanhar o aumento da demanda gerada pelo crescimento econômico", disse Ruchansky. Pelos cálculos da Cepal, em função deste crescimento econômico, o consumo de energia elétrica na América do Sul aumentou 40% entre 2001 e 2010.

Para o especialista, neste período de expansão econômica, a oferta ficou "apertada" somente nas etapas de seca (na região onde estão as hidrelétricas). "Sabemos que não existe varinha mágica, mas também sabemos que este debate é importante para que os avanços necessários sejam realizados", disse o especialista.

Para a Cepal, a ampliação deste potencial energético deve atender "a toda a dimensão" da cadeia energética–social, com a ampliação da distribuição de energia para os que ainda vivem sem luz, além das preocupações com meio ambiente, e que as iniciativas sejam política e economicamente "viáveis", para que o consumidor "possa pagar" pelo serviço. Na opinião do engenheiro, não basta apenas se discutir a questão financeira: "É preciso se debater e se chegar a um consenso para que os projetos avancem. Em muitos casos, eles estão geram polêmicas por questões ambientais, por exemplo", disse.

É o caso das usinas de Belo Monte, no norte do Brasil, e de HydroAysen, no sul do Chile. "A América do Sul baseia sua energia elétrica principalmente em hidrelétricas. Ou seja, energia limpa. Mas em alguns casos, o problema não é só a velocidade do crescimento econômico, mas a falta de redes de distribuição", disse. Para ele, é preciso aumentar a oferta para evitar apagões como os que ameaçam países vizinhos do Brasil.

Na semana passada, o governo peruano do presidente Ollanta Humala anunciou que deverá ter de importar energia elétrica do Equador para atender à demanda do norte do país. O ministro de Minas e Energia do país, Carlos Herra Descalz, anunciou o racionamento de energia no norte do Peru, que inclui a cidade de Piura, e disse ainda que o problema não é a escassez de energia, mas como distribuí-la do centro para o norte do país.

Ao mesmo tempo, também na semana passada, o presidente da Bolívia, Evo Morales, fez um apelo para que os bolivianos racionem o consumo de energia elétrica. "Devemos ter mais cuidado com o uso da nossa eletricidade", disse Evo. Ele reconheceu que a principal hidrelétrica do país, Guaracachi, está "sobrecarregada", e que ficou difícil atender à demanda de eletricidade principalmente pelas indústrias do país.

No Chile, o diretor do Centro de Economia dos Recursos Naturais e Meio Ambiente da Universidade do Chile, o economista Eugenio Figueroa, disse que a economia local cresce a um ritmo de cerca de 5% anual nos últimos 20 anos.
"Precisamos tirar projetos, como o HidroAysen, do papel para evitar que a energia seja problema para nossa expansão”, disse. Mas reconheceu que o projeto gera críticas dos ambientalistas. Para ele, “de forma exagerada".

Na visão do especialista da Cepal, superar impasses será uma forma de realizar obras necessárias e afastar o horizonte do corte de luz elétrica.
Canteiro de obra da usina de Belo Monte (Foto: BBC Brasil).

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