O diretor-técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos
Socioeconômicos (Dieese), Clemente Ganz Lúcio, afirmou nesta
quarta-feira, 24, que a crise financeira internacional já mudou o comportamento tradicional do desemprego no País. Segundo Clemente, a
taxa de crescimento da ocupação nas sete regiões metropolitanas
pesquisas pela entidade caiu, nas comparações com o mesmo mês do ano
anterior, de um ritmo de 5,5% em 2010 para menos de 2% este ano.
"A tendência é de que o desemprego ainda caia neste segundo semestre,
mas não com a mesma intensidade dos últimos anos", analisou. "Em junho,
por exemplo, tivemos o terceiro mês consecutivo de estabilidade na taxa
de desemprego, o que não é normal. Tradicionalmente, ela deveria estar
caindo nesta época do ano", afirmou o diretor-técnico do Dieese, ao
participar de um ciclo de seminários sobre "Progressividade da
Tributação e Desoneração da Folha de Pagamento", realizado na capital
paulista.
Segundo Clemente, o fato de a População Economicamente Ativa (PEA) não
estar crescendo contribuiu para que o desemprego se mantivesse estável.
"Considerando esse quadro, o desemprego deveria estar caindo, já que não
está havendo uma pressão da PEA", disse. "O mercado de trabalho já está
observando os impactos da crise", admitiu. Clemente explicou que, para que a taxa de desemprego se mantenha
estável, o nível de ocupação deve crescer por volta de 2,5% na
comparação com o mesmo período do ano anterior. "Embora a ocupação
esteja crescendo a um nível inferior, o desemprego ainda se mantém
estável porque a PEA não está crescendo e, portanto, não está
pressionando o mercado de trabalho", afirmou.
Outro dado relevante citado por Clemente é a renda, que parou de crescer
e em alguns setores já está caindo. "Parte disso se deve à aceleração
da inflação, mas o fato é que o valor nominal da renda também não tem
crescido", afirmou. "Podemos ter surpresas nos próximos meses."
O presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea),
Marcio Pochmann, concorda que os impactos da crise financeira
internacional no País atingirão o emprego ainda neste ano. Pochmann
lembra que o segundo semestre costuma ter um resultado, em termos de
geração de empregos, sempre melhor que o primeiro semestre. "O segundo
semestre conjunturalmente é melhor que o primeiro, então talvez ele não
apresente sinais tão evidentes (de desaceleração)", observou. "Mas os
dados do comércio e da indústria já mostram um ritmo de crescimento do
emprego muito próximo a zero."
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