Volta e meia a gente é apanhado com uma notícia de que algum de nossos países vizinhos está nos passando a perna, ou nos chantageando, ou ambas as coisas. Em qualquer das hipóteses, fica-se com a inequívoca e desagradável impressão de que somos os bobos da corte. A notícia mais recente nesse sentido vem do Mercosul, conforme reportagem do Estado de S. Paulo que reproduzo abaixo. Quando é que vamos tomar vergonha na cara?!
Vários setores estão sofrendo com a concorrência de empresas que se
instalam no Mercosul para utilizar brechas nas regras do bloco e pagar
menos imposto. O objetivo é vender no Brasil, mas transferir parte da
produção aos vizinhos garante vantagens que tornam o produto mais
competitivo que o fabricado localmente.
Ao se estabelecer na Argentina, no Uruguai ou no Paraguai, empresas
brasileiras e multinacionais obtêm benefícios como importar insumos sem
pagar tarifa de importação e isenção de Imposto de Renda. Além disso,
aproveitam a guerra fiscal no Brasil e trazem o produto por portos que
cobram menos ICMS.
Como os países do Mercosul integram um mercado comum, os produtos
circulam sem pagar impostos. Também há reclamações contra Chile, Bolívia
e México, nações com as quais o Brasil mantém acordos que permitem a
movimentação de mercadorias sem taxas aduaneiras. O Estado apurou que o esquema se repete nos setores
químico, automotivo, têxtil, siderúrgico e máquinas. São máquinas da
Argentina, carros do Uruguai, lençóis do Paraguai, chapas de aço do
México. Um dos casos mais delicados em investigação pela Receita Federal
é a importação de veículos montados no Uruguai pela chinesa Lifan.
O governo está investigando e punindo fraudes na origem do produto
quando ocorre "maquiagem" - o valor agregado dentro do Mercosul é menor
que o exigido. No entanto, se as empresas utilizam brechas do bloco, o
Brasil fica de mãos atadas. Três brechas técnicas no Mercosul são as mais usadas: regras de origem,
drawback e ex-tarifários. As regras de origem determinam se um produto
pode ser considerado fabricado no Mercosul. Criadas em 1994, as regras
variam conforme a mercadoria. Em geral, preveem um porcentual de valor
agregado e/ou mudança na nomenclatura.
Segundo a Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit), tecidos da
China, Paquistão e Índia recebem uma costura no Paraguai e se tornam
lençóis, entrando no Brasil sem tarifa de importação. Na confecção, a
regra de origem é "frouxa" e diz que basta o produto mudar de nome para
ser "made in Mercosul". De janeiro a julho, o País importou 250 toneladas de lençóis paraguaios,
63% mais que nos primeiros sete meses de 2010. Em lençóis de fios
sintéticos (especialidade asiática), o volume saiu de zero para 120
toneladas. "Está na hora de uma profunda revisão nas regras de origem do
Mercosul", diz Aguinaldo Diniz Filho, presidente da Abit.
A segunda brecha é o drawback, que permite importar insumos sem
tarifa desde que o produto final seja exportado. No Mercosul, o
benefício vale mesmo que o destino seja outro país do bloco. Na União
Europeia, só vale se o destino for extrazona. Segundo uma empresa do setor químico, resinas termoplásticas estão sendo
importadas sem pagar tarifa em regime de drawback no Uruguai e
Paraguai. As resinas são processadas nesses países por empresas que
gozam de isenção de IR e os produtos chegam ao Brasil por portos com
incentivos fiscais.
A terceira brecha é falta de harmonização nas exceções à Tarifa Externa
Comum (TEC). A Argentina possui mais de 600 concessões para importar
insumos sem tarifa. É o caso do aço inox, que os fabricantes de máquinas
trazem da Europa. "As máquinas pesadas argentinas, como reatores, já
tomam o lugar das brasileiras ", diz Nelson Deoduque, diretor da
Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq).
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