Aconteceu um pouco antes das 14h. A zeladora de primatas K. C. Braesch estava de pé a poucos metros quando Iris emitiu um grito alto e gutural, conhecido pelos cientistas como "vocalização de irritação" (belch vocalizing), e foi para o topo de seu cercado. Braesch se afastou e examinou a área para ver o que poderia ter provocado a agitação do macaco. Teria sido o macho, Kiko? Embora seja normalmente pesadão e meio abobalhado, Kiko às vezes fica de cabeça quente e começa a arremessar coisas -- mas ele estava recostado, tranquilo. Então, de repente -- isso tudo durou uns cinco segundos -- Braesch sentiu o terremoto.
"Os animais parecem saber disso", ela disse na quarta-feira. "A gente sempre ouve isso como uma piada, mas pela primeira vez pude observar isso".
Orangotangos, gorilas, flamingos, e lêmures [primatas africanos] de colarinho vermelho se comportaram estranhamente antes que os humanos detetassem o histórico terremoto de magnitude 5,8. Agora, a pergunta que paira sobre o zoo é: o que é que os animais perceberam, e quando o perceberam? Aí reside um mistério científico, em que fatos concretos e sólidas observações se misturam com crenças e lendas. Sempre houve, ao longo dos anos, uma conversa sobre misteriosos campos eletromagnéticos gerados por falhas geológicas em colapso. Tem havido especulação sobre sons inaudíveis para os ouvidos humanos, e inclinações sutis em formações rochosas, e ainda a liberação de vapores que as pessoas não conseguem cheirar.
Mas, pode haver menos mistério do que parece -- os fatos estranhos no zoo podem simplesmente servir de lembrete para o fato de que os animais estão muito mais atentos à natureza do que os humanos. O zoológico documentou uma ampla faixa de comportamento animal antes, durante e depois do terremoto que começou na parte central da Virginia e sacudiu boa parte do leste americano. Por exemplo, uma gorila, Mandara, guinchou, agarrou seu filhote Kibibi e correu para o topo de uma estrutura em exatos poucos segundos antes que o chão começasse a sacudir dramaticamente. Dois outros macacos -- um orangotango, Kyle, e um gorila, Kojo -- já tinham deixado cair sua comida e escalado para locais mais altos.
Os 64 flamingos pareciam ter sentido também o tumulto com alguns segundos de antecipação, agrupando-se nervosamente antes que o terremoto surgisse. Um dos elefantes do zoo emitiu um som de baixa intensidade, como se quisesse se comunicar com dois outros elefantes. E os lêmures de colarinho vermelho emitiram um grito de alarme bem uns 15 minutos antes do tremor, informa o zoológico.
Durante o tremor, a área do zoo se encheu de uivos e gritos. As serpentes, normalmente inertes no meio do dia, se contorciam e deslizavam. Os castores ficaram apoiados em suas patas traseiras e então pularam em um pequeno lago. Leões, que estavam descansando, ficaram de pé de repente e olharam fixamente para as instalações que os abrigavam, enquanto as paredes tremiam. Alguns animais permaneceram agitados pelo resto do dia, não comeram e não dormiram como normalmente.
Flamingos do Zoológico Nacional dos EUA, em Washington (Foto: Zoológico Nacional).
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