A Zara, uma das marcas de roupas do grupo espanhol Inditex, foi denunciada pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) por uso de mão de obra escrava em oficinas de costura "quarteirizadas". As investigações
iniciadas em maio levaram os fiscais a duas casas na periferia de São
Paulo, onde 16 bolivianos recebiam R$ 2 por peça produzida, num ambiente
insalubre e sem condições mínimas de trabalho, segundo o relatório.
Embora as oficinas fossem contratadas por uma empresa intermediária da
Zara no País - a AHA -, a multinacional foi responsabilizada pelas
irregularidades. "Essa empresa terceirizada não existiria no mundo
econômico sem a Zara", diz Luis Alexandre de Faria, auditor fiscal da
Superintendência Regional do Trabalho em São Paulo. "As ordens de
costura, definição de peças piloto e até a escolha de tecidos vinham
diretamente da matriz, na Espanha."
Os auditores fiscais lavraram 48 autos de infração contra a rede
espanhola e estipularam uma multa de R$ 1 milhão. A denúncia ainda será
julgada. A empresa também corre o risco de ser incluída na chamada
"lista suja" do Ministério do Trabalho, que, entre outras penalidades,
bloqueia financiamentos. O primeiro indício de que roupas da Zara estavam sendo fabricadas em
oficinas irregulares veio da cidade de Americana (SP). Numa operação
local, fiscais encontraram um lote de peças com etiquetas da marca
espanhola. A partir daí, o MTE fez uma auditoria na sede da Zara em
Barueri e começou a investigar o mais suspeito de seus 30 fornecedores
brasileiros. "A AHA chamou a atenção por seu volume de produção e falta
de estrutura."
As diligências foram feitas em duas das 33 oficinas de costura da
empresa. Lá, os fiscais encontraram 16 bolivianos adultos e cinco
crianças, que viviam e trabalhavam no mesmo ambiente: sem ventilação,
com fiação elétrica exposta, cômodos apertados e sujos. O chuveiro não
tinha água quente e as cadeiras usadas pelos costureiros eram
improvisadas com espuma e almofadas. Sem registro, os trabalhadores eram submetidos a jornadas diárias de 14 a
16 horas. Segundo as investigações, a AHA pagava à oficina, em média,
R$ 6 por peça. As anotações encontradas no local mostram que esse valor
era dividido em partes iguais para o costureiro, o dono da oficina e
para a manutenção da casa.
Na oficina irregular flagrada em Americana, onde a investigação começou,
também foram encontrados produtos de outras marcas, que também terão de
prestar esclarecimentos, segundo a procuradora do Trabalho, Fabíola
Zani. Entre o ano passado e este, o MTE também identificou uso de mão de
obra escrava em oficinas de costura que produziam para as redes Marisa,
Pernambucanas e Collins.
Em nota divulgada nesta quarta-feira, 17, à imprensa brasileira, o grupo
Inditex disse ter exigido de seu fornecedor acusado de usar mão de obra
escrava a imediata regularização. A empresa também se comprometeu a
reforçar a fiscalização do sistema de produção no País. Com faturamento
mundial de 12,5 bilhões no ano passado, o grupo Inditex tem 30 lojas no
Brasil, além de 50 fornecedores fixos que empregam cerca de 7 mil
pessoas. No comunicado, o grupo garantiu que fiscaliza mais de mil
fornecedores por ano no mundo.
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