Com renda de R$ 7 mil e gastos perto dos R$ 10 mil mensais, a analista
de administração de pessoal V.F.R., 30 anos, e seu marido usam
frequentemente o limite do cartão de crédito. Dos habituais R$ 2,3 mil
que faltam no orçamento todo mês, a analista estima que, em agosto, o
rombo será de R$ 3 mil, valor necessário ao pagamento das parcelas de
automóvel e moto mais os juros acumulados no cartão. 'Estou trocando a
Cola-Cola pela Tubaína', brinca. O dinheiro gasto na reforma de sua
cozinha, em junho, e a aquisição de novos móveis, aliados aos juros
bancários, só pioraram a situação, conta V.F.R., que pretende economizar
em gastos gerais, como refeição fora de casa, e nos produtos comprados
para o lar.
Os altos juros que complicam a situação financeira da analista são
também a realidade de muitos brasileiros que dependem do crédito para
fechar as contas do mês. Somente no primeiro semestre, o pagamento de juros corroeu em R$ 85,2 bilhões o poder de consumo das famílias, um
aumento de 75,6% ante o que foi desembolsado pelas pessoas físicas em
igual período de 2010 (R$ 48,5 bilhões). Segundo cálculos da Fecomércio,
esse total representa uma fatia de 65,9% do total gasto pelas famílias
com juro em 2010 (R$ 129,3 bilhões). A conta é feita considerando o
estoque de crédito e o juro médio cobrado nos seis primeiros meses do
ano, sem a inadimplência.
De janeiro a junho, o juro médio para pessoa física passou de 40,6% para
45,4% ao ano, aumento que resultou sozinho em R$ 7,8 bilhões adicionais
em pagamento de juros. Visto de outra forma, o gasto é de R$ 1,3 bilhão
a mais por mês, valor superior ao total das transferências sociais em
todo o ano de 2009, como as do programa 'Bolsa Família', segundo a
Pesquisa de Orçamento Familiar (POF) do IBGE.
No caso das pessoas jurídicas, o desembolso com juros somou R$ 65,1
bilhões nos primeiros seis meses do ano (6% a mais do que 2010). Esse
total já é 62% dos R$ 105 bilhões gastos por empresas ao longo de todo o
ano passado. Juntos, consumidores e empresas já desembolsaram R$ 150
bilhões em 2011.
O aumento do volume de empréstimos explica, em parte, o maior desembolso
dos brasileiros em juros. Mas a alta da taxa Selic e as medidas
macroprudenciais adotadas pelo governo foram as que mais contribuíram
para o encarecimento do crédito, diz a entidade. A expectativa é de que
com a crise a inflação perca fôlego e o juro possa diminuir. Mesmo
assim, a previsão é de que o comprometimento da renda com juro deve
prejudicar o desempenho do varejo neste ano.
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